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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27094: Felizmente ainda há verão em 2025 (10): As nossas férias na Nazaré (Juvenal Amado, ex-1º Cabo CAR do BCAÇ 3872)



AS NOSSAS FÉRIAS

As férias eram assunto esperado todo o ano. Até ir para a tropa as minhas férias tinham preliminares logo desde Maio com futeboladas no areal, seguida de banhos nas águas ainda frescas da Nazaré e S. Martinho do Porto ali tão perto.

Depois, as férias oficiais eram rotativas durante os meses de Junho Julho e Agosto na secção de pintura da Crisal. Por vezes faziam-se trocas que favorecessem ambas as partes. Sendo trabalhador,  não tendo assim ligação directa no dia a dia com os outros jovens do meio estudantil, mantive boas relações com o grupo. E sendo eu o único trabalhador sindicalizado,  nunca me sentido excluído.

Era comum passarmos 15 dias na Nazaré quando se podia lá alugar casa,  longe dos preços praticados hoje, que ultrapassam os do Algarve. Dias na praia, noites na moina, que implicavam a ida à padaria volta das três da manhã onde comíamos pão quente com manteiga. Essa era a hora que os pescadores se aviavam de pão para ir para os meus turnos no friso de traineiras no horizonte e de onde regressavam os do turno anterior com o pescado. 

De notar, que nesse tempo não havia porto de abrigo e estas manobras eram por vezes arriscadas e punham em perigo os ocupantes das barcaças a remos. Quando o mar estava picado,  era comum as mulheres e as mães juntarem-se no areal numa moldura trágica com rezas envoltas dos seus xailes negros.

Talvez com os meus 18 anos comecei a ir para o Algarve. Os parques de campismo, a vida ao ar livre, os relacionamentos eram o que nos aproximavam dos perfumes do movimento Flower Power que marcaram que aqueles anos também por cá. Paz & Amor, façam amor e não a guerra e o relacionamento com jovens vindas de países onde não existiam os tabus vigentes da nossa sociedade, mostravam-nos um Mundo que nem sabíamos que existia. As férias era assim um prémio para um ano de trabalho e a recordação que nos acompanharia até às próximas.

Mas veio o serviço militar que interrompeu tudo de forma a não deixar dúvida durante os três anos seguinte. Não foi por falta de calor mas voltei a fazer as férias da praxe de 35 dias que gozei praticamente no Invern,  por isso fiquei longe do mar. Foram umas férias estranhas pois tive sempre a sensação de nem cá estar, nem lá estar. Quando embarquei no avião de regresso numa noite chuvosa e fria,  fiquei sem dúvida uma vez que não havia escolhas.

Regressei, casei, nasceu a minha filha e voltei a fazer férias no campismo, visitando praias, apreciando um bocadinho das recordações da juventude sem cabelos compridos nem camisas compradas nos Porfirios e calças de ganga de candonga que vinham das Canárias.

Hoje as férias são passadas em função da minha utilidade, onde o descanso é o mais apreciado no alvorecer deste mundo novo, onde ideia luminosa prevê vir a comprar férias e onde tantas regalias ganhas com luta estão em perigo.

04/08/2025
Juvenal Sacadura Amado

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Nota do editor

Último post da série de 5 de Agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27092: Felizmente ainda há verão em 2025 (9): Tu comeste batatada de peixe seco... ontem, na Ventosa do Mar, freguesia da Marquiteira, Lourinhã.. Mas, bolas, Eduardo, João, Rui, amigos, camaradas, como é difícil, em agosto, juntar a gente toda de quem a gente gosta!... (Luís Graça)

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bela crónica, Juvenal. Faz-me recuar mais de 60 anos... E a gente a pensar que iríamos ter sempre as férias grandes de verão!... Julho, agosto, setembro!...O que é bom acaba de depressa. Para os pobres, os filhos dos pobres... Que éramos todos, nesse tempo.

António Graça de Abreu disse...

Como é que tu, meu caro Juvenal, naquele tempo do fascismo, filho dilecto da classe operária, eras tão feliz?

Anónimo disse...

Virgilio Teixeira (by email)
5 ago 2025 16:31

Bom texto Juvenal, além de relembrar as nossas vidas antigas, para mim vem renascer algumas passagens da minha vida. Por isso desde já os meus agradecimentos por estas passagens e parabens pela forma prática e saudável de as descrever.

Vou tirar alguma coisa desta terra, também de vento nortada como aqui.

1 - Quando vim a primeira vez de férias, em 28 de Junho de 1968, na TAP, aguardavam-me os pais 2 irmãos e a minha Santa Manuela, já o era antes de casarmos. Depois de umas passagens por Fátima, Alcobaça etc, fomos aportar à Nazaré, com um calor insuportável.
Já era tarde a fomos logo por os pés debaixo da mesa, num restaurante, que não me lembro o nome, virado mesmo para o mar, com ar condicionado fraco, mas ficamos melhor.

Não sei explicar mas as comidas pousadas na mesa, com toalhas aos quadradinho e elas a servirem com as suas 7 saias, não as contei, mas era assim, era tudo uma delicia, lembro me uns filetes de pescada impecáveis (porque já não me lembrava como eram, tantos meses sem os ver) e outras iguarias. Vinho Verde Aveleda, em garrafas tipo garrafão, que também as bebi na Guiné, fresquinho e ficamos por aqui).

Não, de sobremesa aquela bolo com chocolate aos fios, com massa tipo pão de ló, muito bom, mas nada que se chegue ao Pudim de chocolate em taça e todo gelado, do Solar dos Dez...

Depois umas horas na praia, brincar como meninos de coro, e eu feliz com a minha namorada, tinha eu 25 anos e ela 20. Há muitas fotografias que já foram postadas destas aventuras. Fui eu que paguei a conta mas não achei caro, pelo menos penso isso.

Quando o Comandante deu ordens de marcha, lá fomo apertadinhos num carrinho Fiat 850, a caminho do Porto por aquela estrada Nacional - EN1 - infindável.

Um dia memorável e os 35 dias que se seguiram....

(Continua)

Anónimo disse...

Continuação d0o comentário do Virgílio Teixeira

(...) 2 - Quando casamos em 25 Maio 70, em vez de irmos às Maldivas, ou Malvinas, ficamos por cá dentro de portas, lua de mel na estrada, já tinha comprado um Mini 1000 novo, em agosto de 69, e já tinha ido à oficinas de bate chapas várias vezes. Mesmo no dia do casamento, o amigo que conduzia o meu carro, bateu à porta da Igreja, inutilizando o carro dos padrinhos, e o meu sem farois e todo torcido, que deveria ir para a estrada no dia seguinte.

Quando cheguei a Vila do Conde, com uma monumental dor de cabeça, fui direito a uma oficina que já conhecia, expliquei a história e na manhã seguinte estava pronto mais ou menos para se fazer à estrada.

Antes, durante e depois do casamento, lá meti um rolo de 36, ma minha KONICA, e toca a fazer o filme, na mesma máquina onde fiz milhares de fotos, conhecia já muito bem.
Com estes acontecimentos, aconteceu o pior, ao fechar a máquina, o rolo não se prendeu, e já depois de ter batido mais do que 36 vezes, verifico que o rolo não andava e nenhuma foto tenho para recordação e mostrar depois do meu especial casamento. Ficaram as fotos do Fotografo da praxe, apenas das cenas do casamento, mas nada que mereça um louvor.

Dou por isso, precisamente na Nazaré para onde rumei, depois de Braga, Chaves - pernoitamos - , Bragança, Mirando do Douro - não ficamos por estar tudo cheio de espanholada - , Freixo de Espada à Cinta, Sao João da Pesqueira e Guarda - onde pernoitamos e ficamos uns dias no Grande Hotel da Guard - às 6 horas da tarde ainda tive de fazer quase 300 km até à Guarda, uma estirado do camanho...

Foi um desastre total, por causa das cobras na estrada, que estava sempre à espera que entrassem por ali dentro e mordessem os meus pés...

Na Nazaré, Hotel XYZ, estava cheio, eu nunca marcava nada, era à balda, mas arranjamos dormida e lá fui ao mesmo restaurante de 28JUNHO68.

Logo uns casais de Espanhóis toparam este par de noivos e logo nos disseram que estavamos ao Lua de Mel! Falamos a partilhamos um pouco o Bar, e boa noite Oh Freitas....

Era a ultima etapa, no dia seguinte, rumo a Vila do Conde, para junto da Nortada.
Esses caminhos cidades e estradas calcorreei tudo nas décadas seguintes, pouco ficou por explorar, excepto a Praia da Areia Branca na Lourinhã!

Não posso continuar mais, porque agora tenho de ir ao Hospital fazer um exame sobre Pneumologia, pois parece que os milhares de charutos que fumei até parar, devem ter deixado marcas, vamos a ver, um mal nunca vem só....
A
todos que não posso responder em direto, os meus abraços.

Tinha escrito um comentário ao António Graça Abreu, mas deu erro e não seguiu, fica aqui o meu apreço às suas aventuras por este mundo fora.

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Meu caro António consegui ser feliz porque nunca esqueci as minhas origens já outros filhos da burguesia entenderam liderar a luta de classes quando seu futuro era exactamente o contrário. Juvenal Amado

Anónimo disse...

António Abreu
O dr Adão Cruz tem um texto maravilhoso sobre a saúde do cérebro . Se não viste vai ver . Juvenal Amado

Anónimo disse...

Virgílio que não seja nada de cuidado. Um abraço juvenalAmado

Anónimo disse...

Virgilio Teixeira (by email)
5 ago 2025 19:51

Correção ao poste P27094 - Nazaré - Juvenal Amado


Luis desculpa,

Estive a ler agora com calma os meus comentários, e lembrou-me logo de duas coisas:

- O Bolo na Nazaré chamava-se 'Tarde de Noz' que todos conhecem.

2 - A delicia do Solar dos Dez, chama-se 'Mousse de chocolate' como todos conhecem quem lá foi jantar.

3 - O meu exame de corrida, correu bem estava tudo normal. Fata o de Quinta Feira.

4 - Ainda de consolo tive um grande abração, bem apertado, da Técnica, mulher de 36 anos, bonita, simpática etc. Casada sem filhos, e explicou-me como poe em prática as novas tecnologias anti-gravidezes....


O FCPORTO perdeu o seu maior ídolo, o Capitão de sempre e para sempre....

O Bicho como era carinhosamente chamado, finou-se hoje.

Abraço, Virgilio