Guiné > Região de Gabu > Pirada > c. 1973/74 > "Na casa do célebre senhor Mário Soares. Acompanhando-o quatro alferes milicianos e um capitão miliciano".
Um dos alferes era Manuel Valente Fernandes, ex-Alf Mil Médico do BCAV 8323, Pirada, 1973/74, membro da nossa Tabanca Grande desde 17/10/2012. (,. o segundo, do lado esquerdo). Do anfitrião (o primeiro, a contar da direita) sabe-se que gostava de (e sabia) bem receber, qualquer que fosse as suas motivações. O nosso camarada Gil Moutinho reconheceu, de imediato, esta mesa, à volta da qual esteve sentado em 2/5/1972, comendo do bom e do melhor, enquantoi o patrão da PIDE/DGS, e homem da confiança de Spínola, conferenciava com o Mário noutro aposento... Pequena história da História Grande...
Foto (e legenda): © Manuel Valente Fernandes (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário do Gil Moutinho (ex-fur mil pil, BA12, Bissalanca,1972/73); um dos régulos da Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar) (*):
Ao ver a foto e a mesa, parece irrelevante, mas vi-me sentado ao seu redor e na altura, a 2 maio de 1972, chamou-me bastante a atenção, uma rodela de um tronco enorme e muito bem decorada com tudo do bom e melhor, o melhor presunto, outros enchidos, as melhores bebidas e muito mais.
Pois, na data acima, a minha missão foi transportar de Bissau o chefe da PIDE/DGS, o Fragoso Allas para Pirada, passando por Bambadinca na ida e regresso, talvez levando alguém de lá.
As peripécias desse vôo estão contadas no poste 1040 do blogue dos especialistas da BA12. (#)
Não tendo passado para o lado do Senegal por sorte (nem um mês de comissão eu tinha!), lá aterrei e aguardei que os passageiros conferenciassem com o Mário Soares. e, nos entretantos, fui obsequiado principescamente na famosa mesa e durante umas horas.
De facto o homem [, o Mário Soares, de Pirada] era importante!!!
Gil Moutinho
2. Reprodução com a devida vénia, da mensagem do Gil Moutinho, acima referida (#):
Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > 14 de junho de 2009 > Voo 1040: A minha primeira ida a Pirada. (Excerto)
(...) Vou escrever agora umas pequenas histórias da Guiné.
Felizmente que o armamento antiaéreo do IN também não era o melhor para nos atingir.
Já lá vai, Gil, e correu bem, por isso aqui estamos a recordar.
Postado por Especialistas da BA 12 às 23:08:00
3. Comentário do editor LG (*):
Gil, a tua informação é preciosa... Tu fizeste história!...
A primeira de como cheguei ao destino por acaso e a segunda de um companheiro fiel.
Como sabem na província só haviam duas estações no ano, a das chuvas e a seca, sendo que ambas eram quentes, na das chuvas o ar era limpo embora com trovoadas e muita nebulosidade (muitas vezes tínhamos que contornar os cúmulos-nimbos, para não partirmos o estojo); na [estação] seca, existiam permanentemente fumos e poeiras no ar que nos limitava a visibilidade como de nevoeiro se tratasse.
Como sabem na província só haviam duas estações no ano, a das chuvas e a seca, sendo que ambas eram quentes, na das chuvas o ar era limpo embora com trovoadas e muita nebulosidade (muitas vezes tínhamos que contornar os cúmulos-nimbos, para não partirmos o estojo); na [estação] seca, existiam permanentemente fumos e poeiras no ar que nos limitava a visibilidade como de nevoeiro se tratasse.
Na época seca, e era eu periquito com algumas semanas, foi-me destinada a missão, em DO 27, ,de transportar um elemento da PIDE/ DGS até Pirada, passando primeiro por Bambadinca para recolher correio.
Estas viagens eram pouco usuais por serem directas de Bissau ao Leste. Até Bambadinca foi fácil, seguindo o rio Geba, e é logo ali. A partir daí tinha que seguir a estrada até Nova Lamego, passando por Bafatá, e aí virar a Norte, tentando seguir a estrada (picada) e tentar acompanhar o rumo pela bússola.
Com a falta de visibilidade da época, tinha que praticamente ir a rapar. Pela bússola, se havia ventos laterais saíamos da rota, e aparentemente estávamos bem, pelo voo à vista e com a pouca visibilidade a estrada por vezes desaparecia entre as árvores e da minha vista.Também pela distância e pela velocidade se calculava o tempo de chegada com o rigor possível.
Pois!... O tempo passava e já não tinha a certeza se estava na picada certa, assim como o tempo previsto se esgotava e eu poderia ter passado Pirada e estar do lado de lá (são só 500 metros até à fronteira).
Nestes quase cagaços, vejo-me a passar rigorosamente por cima do edifício onde em letras garrafais dizia "PIRADA".
Ufff!.... Meia volta apertada, linha de descida e aterragem. Enquanto o passageiro conferenciava com o Mário Soares (é outro), fui obsequiado com mordomias impensáveis naqueles buracos.
O regresso foi fácil, bússola até ao Geba e depois Bissalanca.
A outra história fica para outra vez.
Um abraço
Gil Moutinho
A outra história fica para outra vez.
Um abraço
Gil Moutinho
Nota do Vítor Barata [, editor]: Hoje é bom recordar momentos interessantes vividos a 3,4 e 5 mil pés de altitude,e nós, Gil, que tantas vezes voamos juntos, quando o perigo era encarado pela ousadia da nossa juventude,como um "sorriso nos lábios". Nunca me canso de evidenciar a altitude máxima na Guiné, 300/400 m em Madina do Boé,o equivale a dizer que quando em velocidade cruzeiro, toda a província nos via.Não seria isto uma autêntica exposição ao perigo?
Felizmente que o armamento antiaéreo do IN também não era o melhor para nos atingir.
Já lá vai, Gil, e correu bem, por isso aqui estamos a recordar.
Postado por Especialistas da BA 12 às 23:08:00
3. Comentário do editor LG (*):
Gil, a tua informação é preciosa... Tu fizeste história!...
A 2 de maio de 1972 foste levar, em DO-27, o chefe da DGS, o inspector Fragoso Allas, a Pirada, para "negociações" com o Mário Soares, que, sabemo-lo hoje, foi intermediário no processo de contactos preliminares com o Leopoldo Senghor...
O comerciante Mário Soares foi uma "eminência parda nesta guerra" (**)... O seu testemunho seria precioso, se fosse vivo, o que é de todo improvável atendendo à idade que já teria nessa época...
Em 18 de maio, Spínola encontra-se com o Leopoldo Senghor em Cap Skiring, próximo da fronteira... É um facto histórico, Spínola explora as possibilidades de mediação do presidente senegalês entre as duas partes envolvidas no conflito, Portugal e o PAIGC... Mas Lisboa vai-lhe tirar o tapete...
Em 18 de maio, Spínola encontra-se com o Leopoldo Senghor em Cap Skiring, próximo da fronteira... É um facto histórico, Spínola explora as possibilidades de mediação do presidente senegalês entre as duas partes envolvidas no conflito, Portugal e o PAIGC... Mas Lisboa vai-lhe tirar o tapete...
_____________
Nota do editor:
(*) 21 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20884: (De)Caras (128): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte IV: Versões contraditórias sobre o "resto da história" deste português, de quem o ex-alf mil médico José Pratas (, BCAV 3864, Pirada, 1971/73) disse que foi "porventura o branco mais africano que conheci"
(**) Os "bons ofícios" do comerciante de Pirada foram reconhecidos pelo antigo chefe de gabinete do gen Spínola, o então alf mil Barata Nunes, que enverediu mais tarde pela carreira diplomática... Veja-se o poste :
15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20858: (De)Caras (125): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal ? Um "agente duplo" ? - Parte I (Depoimentos do embaixador Nunes Barata, e do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)
(*) 21 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20884: (De)Caras (128): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte IV: Versões contraditórias sobre o "resto da história" deste português, de quem o ex-alf mil médico José Pratas (, BCAV 3864, Pirada, 1971/73) disse que foi "porventura o branco mais africano que conheci"
(**) Os "bons ofícios" do comerciante de Pirada foram reconhecidos pelo antigo chefe de gabinete do gen Spínola, o então alf mil Barata Nunes, que enverediu mais tarde pela carreira diplomática... Veja-se o poste :
15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20858: (De)Caras (125): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal ? Um "agente duplo" ? - Parte I (Depoimentos do embaixador Nunes Barata, e do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)
(...) Depoimento do embaixador João Diogo Munes Barata:
[Alferes miliciano na Guiné (1970); secretário e, posteriormente, chefe de gabinete do Governador da Guiné, general António de Spínola (a partir de Maio de 1971); adjunto diplomático da Casa Civil do Presidente da República, António de Spínola (Maio a Setembro de 1974), tendo no desempenho deste cargo, colaborado no processo de descolonização; delegado do MNE na Junta de Salvação Nacional]
(...) Com essa ideia, portanto, com a ideia de avançar no processo de descolonização, o general tentou estabelecer contactos com o Governo senegalês e, através dele, com o PAIGC.
Os primeiros contactos foram feitos através do chefe da delegação da PIDE/DGS [em Bissau], o inspector Fragoso Allas e por Mário Soares. Mário Soares, não o Dr. Mário Soares, mas Mário [Rodrigues] Soares, um comerciante de Pirada, um homem que se chamava Mário Soares, mas que era comerciante em Pirada, uma povoação fronteiriça da Guiné com o Senegal. Esse comerciante ….
Eu lembro-me de um dia estar no meu gabinete no Palácio e de o senhor Mário Soares ir lá comunicar que já tinha estabelecido o contacto com o lado de lá e que, portanto, se podiam iniciar as negociações para uma ida, para um encontro do Governador com o presidente Senghor. Houve previamente um encontro. O general Spínola foi duas vezes ao Senegal (acompanhei-o em ambas as visitas).
A primeira, para um encontro com o ministro senegalês dos Assuntos Parlamentares, porque evidentemente o presidente Senghor, na altura, ainda não sabia bem quais eram as ideias do general Spínola e não quis, evidentemente, romper as exigências protocolares e, como chefe de Estado encontrar-se com o governador de uma província, de uma colónia. E mandou um ministro. (...)
2 comentários:
Gil: boa noite...
Chamou-me a atenção o teu comentário sobre obre Pirada e o comercianet Mário Sores. Foi bom lembrares-te da data (2/5/1972) e do passageiro especial que levavas no teu DO 28.
Fui recuperar também parte da mensagem que o Victor Barata publicou no blogue dos Especialistas da BA 12, em 2009. Aqui centraste-te mais nas peripécias do voo...Sobre a missão foste lacónico: levaste um agente da DGS que não identificas (em 2009). Mas ficaamos a saber que, "enquanto o passageiro conferenciava com o Mário Soares (é outro), fui obsequiado com mordomias impensáveis naqueles buracos"...
O criado do Mário Soares era o Demba...Deve ter sido ele que te serviu, enquanto fazias horas... Rconheceste de imediato a mesa na foto do dr. Manuel Valente Fernandes, que era alf mil médico do BCAV 8323, que esteve em Pirada, em 1973/74.
No teu comentário, mais recente, falas em "passagiros", no plural: "aguardei que os passageiros conferenciassem com o Mário Soares e, nos entretantos, fui obsequiado principescamente na famosa mesa e durante umas horas."
Deves ter ido de manhã e voltado à tarde... É isso ? Na tua caderneta de voo, deves ter as horas, de partida e chegada...
Quem seriam os passageiros, além do Fragoso Allas ? Não te lembras onde se reuniram ? Noutra parte de casa, por certo, não deve ter sido à tua frente... A missão ear secreta...
Pode ser que te lembres de mais pormenores... Desculpa estar-te a chatear com este pedido e com estes pormenores... Mas já deste uma grande ajuda... A tua ida no dia 2 de maio está ligada ao encontro do Spínola com o Senghor, duas semanas depois, em 18 de maio...
Boa saúde, bos sorte (para os teus negócios)...e até um próximo encontro na tua Tabanca dos Melros!...Temos de beber um copo à nossa!
Luís
Boa tarde Caro Luís Graça
Espero que estejas bem assim como restante família.
Os pormenores de quase 48 anos atrás,esbatem-se no tempo e nas memórias.
Vou tentar responder-te às questões que colocas.
Na minha caderneta de vôo,consta a data,o tempo total de vôo,o nº aterragens e os locais onde as executamos,não temos os horários, esses só no registo do livro do avião.
No post de 2009 nos especialistas da ba12,referi que passei por Bambadinca a pegar correio,mas não foi só, pois não faz sentido passar por lá e lá voltar no regresso,transportei FT também.
Estiveram reunidos em privado durante várias horas,até porque seria ultra confidencial atendendo às tuas suspeitas/certezas?
E até um dia destes,talvez na Tabanca dos Melros!!
abraço Gil Moutinho
Enviar um comentário