quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24650: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (1): Fiorde de Prins Christian Sund, Gronelândia, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Reino da Dinamarca > Gronelàndia >  Agosto de 2023


Fotos (e legendas): © Ant6ónio Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu: (i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; (ii) membro da nossa Tabanca Grande desde 5/2/2007; (iii) tem 325 referências no blogue; (iv) é escritor, autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); (v) no nosso blogue, é autor de diversas séries: 

  • Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo; 
  • Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (em coautoria com Constantino Ferreira);
  • Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983"; 
  • Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias; 
  • Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)


    Data - 11 set 2023, 10h58
    Assunto - Gronelândia Um

    Meu caro Luís,

    Consegues abrir, dá para publicar?
    Tenho mais sete ou oito textos sobre Gronelândia, Islândia e Berlin, tudo Agosto 2023.

    Abraço,

    António Graça de Abreu


Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (1)

por António Graça de Abreu


Eu sei que isto são mais coisas para o nosso camarada Zé Belo, alcandorado há uns bons cinquenta anos lá pelas faldas da Lapónia, com alces a rondar-lhe a casa, em Kiruna, na bravia e gelada Suécia, e uns saltos a Narwik, na primorosa Noruega.

Mas eu também nasci com passaporte de coelho, o que até deu direito, quase numa anterior reencarnação, a participar numa guerra quente na Guiné-Bissau. Agora, Agosto de 2023, aos 76 anos, viajei durante duas semanas pela Gronelândia e pela Islândia, terras frias, tal como a Lapónia, lá no topo do mundo (Fotos nº 1 e 2). Cruzei o círculo polar ártico, entretive-me a passear entre fiordes, icebergues e glaciares. Fiz bonitas fotografias, escrevi quase uma dúzia de esmerados textos. Se tiverem paciência, leiam, serão um contraponto fresco e pacífico aos calores bélicos que vivemos em África há cinquenta anos atrás. Aí vai:




Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6

Fiorde de Prins Christian Sund, Gronelândia


O nome do fiorde, Prins Christian (1786-1848) vem de um príncipe dinamarquês que, talvez num kayak real ou nos restos de uma nau meia viking, desbravou este mar, esta terra no início do século XIX. Tal como o senhor do reino da Dinamarca, mas agora num grande navio, viajamos de sul para as paragens mais frias do norte, avançamos por mal conhecidos caminhos, suspensos nos atalhos das rotas de antiquíssimos mares atlânticos.

De manhã cedo, entramos no fiorde do Prins Sund. Tudo ainda envolto em nevoeiro e brumas. No deslizar cuidadoso do navio, adivinham-se falésias altas e logo depois silhuetas de grandes montanhas de pedra subindo por ambas as margens do fiorde, esta espécie de braço de mar que avança por dentro da terra, recortando-a. O nevoeiro desaparece e o céu abre-se num azul desmaiado, claro. São mais de cem quilómetros de navegação pelo interior de um fiorde que corre e se desdobra entre cadeias montanhosas do extremo sul da Gronelândia e proporciona vistas de espantar, majestosas, neste globo inventado pelo infatigável Criador (Fotos nºs 3 a 6)

Desculpem-me a vaidade, mas recordo outros fiordes com glaciares mágicos que tive a sorte de conhecer, Geiranger, na Noruega, El Brujo, na Patagónia chilena e Milford Sound, na Nova Zelândia. Terras árticas, a norte, regiões quase antárticas, a sul. Fiordes, glaciares gigantescos na carícia do mar, abraçando a natureza, arrastando a serenidade dos séculos e o ribombar do trovão.

Aqui, Gronelândia, com o Prins Christian, a pedra da margem subindo aos 2.200 metros. Cascatas sibilantes caindo das alturas, mais à frente, pranchas, placas de gelo turquesa, icebergues descansando nas águas. A imensidão do céu, o passeio do olhar, a rocha, a água, a neve, os gelos.

Aparece uma aldeia perdida chamada Aappilattoq encaixada num recanto abrigado da margem, à sombra de uma gigantesca montanha. A aldeia tem igreja protestante, escola e centro de saúde, é habitada por 98 almas, esquimós da etnia inuite, que vivem da pesca e de algum raríssimo turismo (Foto nº 7).



Foto nº 7

Seis horas de navegação pelo leito do fiorde do Príncipe, Christian, liso como um lago e o navio regressa ao mar. Uma leve aragem fria por onde a alma flutua, o voltear do silêncio, a bênção serena.


© António Graça de Abreu (2023)

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, António. pela partilha. Os fiordes é uma coisa que a Alice e eu ainda gostávamos de poder fazer... Se os bons irãs ajudarem...

Ab, Luis (hoje e amanhã estamos a fazer a vindima grande em Candoz... Eu faço a APsico...)