Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > Quartel: legenda: A > Messe dos oficiais; B > Quartos: C > Campo de andebol; D > Piscina; E Horta; F> Loja do libanês Taufik Saad (Tufico).
Foto nº 2 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > Vista aérea parcial do quartel e tabanca
Foto nº 3 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > Vista aérea parcial do quartel
Foto nº 4 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > O fur mil Luis Borrega, já falecido a nadar de costas
Foto nº 5 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > c. 1971 > O Eduardo Teixeira Lopes, da CART 3332, desolado, junto à piscina, com rachas e vazia...
Fotos: recolhidas pelo Hélder Sousa, com a devida vénia ao blogue do BART 2857 (Piche, 1969/71), e editadas pelo blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023).
1. Mensagem de Hélder Valério Sousa (ex-fur mil trms, do STM, ribatejano a viver em Setúbal, cumpriu a comissão de serviço na Guiné entre 9 de novembro de 1970 e 10 de novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche, ao tempo do BCAV 2922, e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné; nosso colaborador permanente, provedor do leitor; tem mais de 190 referências no nosso blogue)
Hélder Sousa (ex-Fur Mil Trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72) |
Assunto - Piscina de Piche
Caros amigos
O texto que se segue não é de guerra. É mais de "lazer em tempo de guerra".
Aqui pretendo deixar registrado o que sei sobre essas duas piscinas.
Recentemente, as piscinas foram objeto de referências aqui no nosso Blogue. Alguém disse que em Farim havia uma piscina (creio que pública) e isso intrigou alguns dos nossos. Nessa ocasião tive oportunidade de reforçar essa ideia dando conta do que sabia, e como sabia, dessa existência.
Como já escrevi em tempos, do Curso de TSF iniciado com o 2º Ciclo do CSM em Setembro
de 1969, composto por 15 elementos, foram mobilizados 7 em rendição individual para a Guiné, precisamente no início de setembro de 1970. Com os atrasos de transporte e outras
dificuldades que, entretanto, ocorreram, 3 deles, onde me incluía, chegaram a Bissau em 9 de novembro, a bordo do cargueiro Ambrizete e os outros 4 chegaram no dia seguinte a
bordo do Carvalho Araújo.
Dos 7 “encaixaram-se” em Bissau 3 deles e os outros 4 começaram um estágio no Posto central do STM para adaptação/formação com vista a poderem depois ir chefiar postos em Unidades no interior, vulgo “mato”.
No início de dezembro o Comandante das Transmissões, o ainda Major ou já Tenente-coronel Ramos (não me recordo bem), no primeiro sábado desse mês de 1970, ao fazer a sua habitual/semanal “revista às tropas e às instalações”, não reconheceu o furriel Luís Dutra que estava de Sargento-de-Dia e ao inquirir quem era ficou a saber que se tratava de um dos 4 furriéis que estavam a “estagiar”.
Na sequência disso o tal Sargento-de-Dia, o furriel Luís Dutra, já falecido, procurou saber quais os destinos em causa e o que havia neles. Ao saber que em Farim havia uma piscina disse logo que era isso que escolhia. Seguiu-se o furriel Manuel Martinho que também depois de se inteirar do que havia, escolheu Tite, porque “era o que ficava mais perto de Bissau”.
Esta afirmação fez levantar dúvidas em alguns dos habituais leitores, dos que se manifestam,
embora creio que em alguns mais. Esquecem-se, muitas vezes, que a realidade não é só a que os nossos olhos veem. Muitas vezes a melhor forma de se referir a situações seria a de dizer “no meu tempo”, ou “quando estive por lá”, etc., pois a vida era dinâmica e as coisas mudavam. A piscina de (em) Piche não era pública, era do aquartelamento.
Não tenho, aqui e agora, elementos que possam determinar a data da sua construção, nem
da “inauguração”, mas sei que foi obra de elementos da CCS e da CART 2440 do BART 2857, portanto antes da chegada a Piche do BCAV 2922, que ocorreu, salvo o erro, em Junho de 1970 e onde eu estive adido.
Tenho ideia que tinha alguma utilização, embora comedida, pois os chamados “tempos mortos” era coisa que por lá não abundava. Aliás, como creio que acontecia um “muito” por todo o lado, já que as tarefas do pessoal em quadrícula eram abundantes e para isso o pessoal não era excedentário.
Usei a piscina aí umas 3 ou 4 vezes. Sei que terei por aí, algures, uma foto que me tiraram, mas não a consegui encontrar. Em compensação, envio uma outra (foto nº 4) onde se vê o falecido furriel Luís Borrega a “retemperar forças” a nadar de costas, sendo que ao fundo, encostado à parede, parece-me ser o furriel Fernando Boto, de uma das CCAV do BCAV 2922.
Na foto nº 2 vê-se (mal) em primeiro plano os espaldões de alguns obuses. Vê-se bem o ziguezag das valas de proteção e também alguns locais para abrigos. O edifício retangular mais
pequeno era a capela e à direita dela num pequeno quadrado posicionado para a abertura entre uma caserna, na vertical, e um outro edifício, na horizontal, que era do comando, ficava então o Posto do STM, que fui chefiar e que tinha acoplado uma viatura para as transmissões. Na parte mais em cima, sobre a esquerda e depois dos edifícios é que ficava a famosa piscina.
A foto parcial deste lado mais próximo do aquartelamento (foto nº 3 ) mostra melhor os
elementos que atrás referi.
A foto parcial da outra parte (foto nº 1) tem já a “piscinazinha” bem visível a meio da mesma.
Caros amigos
O texto que se segue não é de guerra. É mais de "lazer em tempo de guerra".
E vem a propósito de se ter falado, há uns "posts" atrás, (*) de haver estranheza quanto à existência de piscina em Farim e depois também em Piche.
Aqui pretendo deixar registrado o que sei sobre essas duas piscinas.
Também fui umas duas vezes à piscina do Clube de Oficiais em Santa Luzia mas sobre essa piscina não parece haver dúvidas.
As fotos que anexo não são de boa qualidade mas talvez possam servir para ilustrar melhor o pretendido.
Abraços, Hélder Sousa
Abraços, Hélder Sousa
As Piscinas
por Hélder Sousa
Recentemente, as piscinas foram objeto de referências aqui no nosso Blogue. Alguém disse que em Farim havia uma piscina (creio que pública) e isso intrigou alguns dos nossos. Nessa ocasião tive oportunidade de reforçar essa ideia dando conta do que sabia, e como sabia, dessa existência.
Como já escrevi em tempos, do Curso de TSF iniciado com o 2º Ciclo do CSM em Setembro
de 1969, composto por 15 elementos, foram mobilizados 7 em rendição individual para a Guiné, precisamente no início de setembro de 1970. Com os atrasos de transporte e outras
dificuldades que, entretanto, ocorreram, 3 deles, onde me incluía, chegaram a Bissau em 9 de novembro, a bordo do cargueiro Ambrizete e os outros 4 chegaram no dia seguinte a
bordo do Carvalho Araújo.
Dos 7 “encaixaram-se” em Bissau 3 deles e os outros 4 começaram um estágio no Posto central do STM para adaptação/formação com vista a poderem depois ir chefiar postos em Unidades no interior, vulgo “mato”.
No início de dezembro o Comandante das Transmissões, o ainda Major ou já Tenente-coronel Ramos (não me recordo bem), no primeiro sábado desse mês de 1970, ao fazer a sua habitual/semanal “revista às tropas e às instalações”, não reconheceu o furriel Luís Dutra que estava de Sargento-de-Dia e ao inquirir quem era ficou a saber que se tratava de um dos 4 furriéis que estavam a “estagiar”.
Imediatamente ordenou ao 1º Sargento Taveira, que chefiava o Posto central do STM, que deveriam ir “já p’ró mato! já p’ró mato!.
Na sequência disso o tal Sargento-de-Dia, o furriel Luís Dutra, já falecido, procurou saber quais os destinos em causa e o que havia neles. Ao saber que em Farim havia uma piscina disse logo que era isso que escolhia. Seguiu-se o furriel Manuel Martinho que também depois de se inteirar do que havia, escolheu Tite, porque “era o que ficava mais perto de Bissau”.
Chegou a minha vez e do furriel Nelson Batalha, sendo que o 1º Taveira nos informou das escolhas dos outros camaradas e que se não concordássemos fazia-se um sorteio. Dissemos que “escolheram, está escolhido” e para decidir dos nossos destinos jogámos à moeda calhando a sorte de Catió ao Nélson e Piche para mim.
Ora bem, até aqui fica confirmado que em Farim, no final de 1970 havia piscina. O que eu não sabia era que em Piche também havia uma, por essa altura.
Esta afirmação fez levantar dúvidas em alguns dos habituais leitores, dos que se manifestam,
embora creio que em alguns mais. Esquecem-se, muitas vezes, que a realidade não é só a que os nossos olhos veem. Muitas vezes a melhor forma de se referir a situações seria a de dizer “no meu tempo”, ou “quando estive por lá”, etc., pois a vida era dinâmica e as coisas mudavam. A piscina de (em) Piche não era pública, era do aquartelamento.
Não tenho, aqui e agora, elementos que possam determinar a data da sua construção, nem
da “inauguração”, mas sei que foi obra de elementos da CCS e da CART 2440 do BART 2857, portanto antes da chegada a Piche do BCAV 2922, que ocorreu, salvo o erro, em Junho de 1970 e onde eu estive adido.
Tenho ideia que tinha alguma utilização, embora comedida, pois os chamados “tempos mortos” era coisa que por lá não abundava. Aliás, como creio que acontecia um “muito” por todo o lado, já que as tarefas do pessoal em quadrícula eram abundantes e para isso o pessoal não era excedentário.
Usei a piscina aí umas 3 ou 4 vezes. Sei que terei por aí, algures, uma foto que me tiraram, mas não a consegui encontrar. Em compensação, envio uma outra (foto nº 4) onde se vê o falecido furriel Luís Borrega a “retemperar forças” a nadar de costas, sendo que ao fundo, encostado à parede, parece-me ser o furriel Fernando Boto, de uma das CCAV do BCAV 2922.
Envio também uma vista geral do aquartelamento de Piche (fotos nº 2 e 3), que retirei da página do nosso camarada João Pereira da Costa, com o “Batalhão Artilharia 2857”. Não estãp muito boa, têm má resolução, mas foi o que encontrei e serve para dar um aspeto geral.
Na foto nº 2 vê-se (mal) em primeiro plano os espaldões de alguns obuses. Vê-se bem o ziguezag das valas de proteção e também alguns locais para abrigos. O edifício retangular mais
pequeno era a capela e à direita dela num pequeno quadrado posicionado para a abertura entre uma caserna, na vertical, e um outro edifício, na horizontal, que era do comando, ficava então o Posto do STM, que fui chefiar e que tinha acoplado uma viatura para as transmissões. Na parte mais em cima, sobre a esquerda e depois dos edifícios é que ficava a famosa piscina.
A foto parcial deste lado mais próximo do aquartelamento (foto nº 3 ) mostra melhor os
elementos que atrás referi.
A foto parcial da outra parte (foto nº 1) tem já a “piscinazinha” bem visível a meio da mesma.
Quando deixei Piche, a meio de Maio de 1971, a piscina encontrava-se sem água por força de umas rachas que entretanto ocorreram e que originavam a sua fuga. Testemunho disso é a foto do Eduardo Teixeira Lopes, da CART 3332 (foto nº 5) que se mostra bem pesaroso na da piscina pela falta da água.
Não sei se depois a repararam ou se já não tinha cura.
Portanto, creio que fica mostrada e demonstrada a existência de piscina em Piche.(**)
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 3 de setembro de 2023> Guiné 61/74 - P24614: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (3): Bolama, lugar de passagem
(**) Último poste da série : 12 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24218: As nossas geografias emocionais (3): Fá Mandinga, o "Bairro da Paz", ao tempo do Pel Rec Daimler 1113 e do BCAÇ 1888 (1966/68)... Nunca foi atacado, uma das coroas de glória do "alfero Cabral"... Nem aqui viveu e trabalhou o outro Cabral, engenheiro agrónomo... Foi aqui que se formou a 1ª CCmds Africanos.
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 3 de setembro de 2023> Guiné 61/74 - P24614: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (3): Bolama, lugar de passagem
(**) Último poste da série : 12 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24218: As nossas geografias emocionais (3): Fá Mandinga, o "Bairro da Paz", ao tempo do Pel Rec Daimler 1113 e do BCAÇ 1888 (1966/68)... Nunca foi atacado, uma das coroas de glória do "alfero Cabral"... Nem aqui viveu e trabalhou o outro Cabral, engenheiro agrónomo... Foi aqui que se formou a 1ª CCmds Africanos.
5 comentários:
Caro Helder, as fotografias não enganam.
Uma das fotos até parece um resort com uma cubata de descanso
Piscina em Piche !!..., enquanto a nossa CART11 andou por Piche e arredores, piscina só se fosse dentro de um bidão da gasolina.
Pudera, "...foi obra de elementos da CCS e da CART 2440 do BART 2857, portanto antes da chegada a Piche do BCAV 2922, que ocorreu, salvo o erro, em Junho de 1970 ....", já a nossa CART11 estava de intervenção por Pirada, Paunca e nunca poderia ter mergulhado, nem que fosse de passagem, na piscina de Piche. O que não seria o Cunha com uma piscina quase encostada à cama, teria sofrido uma "porrada" por práticas excessivas de natação até calhando debaixo de fogo IN.
As fotografias aéreas mostram a tabanca em frente ao Quartel, o que se tornava complicado responder a ataques desse lado, que julgo não ter tropa instalada.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
No início de 1971 em Farim existia na realidade uma piscina com dimensões apreciáveis, espaldar para saltos em betão e um espaço envolvente que teria sido interessante, perto da margem do Cacheu. Havia um problema é que já só tinha àgua (pouca)na época das chuvas!
A piscina na altura era o rio Cacheu, malgrado a existência de uns "intrusos", o que não me impediu de alguns banhos!
José Carvalho
Tal como o José Carvalho e o Hélder Sousa referem, em Farim havia piscina pública. Em Dezembro de 1970, quando o meu grupo de combate desceu de Cuntima para Farim de modo a reforçar a CCaç 2549 comandada pelo, na altura capitão Vasco Lourenço, ainda tive oportunidade de lá ir pelo menos duas vezes.
Estava cheia e a água tinha bom aspecto.
Abraço
Eduardo Estrela
Com aquele clima agressivo para um pobre europeu, uma piscina era uma bênção!
No regime de "apartheid" em que vivíamos nos quartéis a ("nobreza,clero e povo"... apartados) devia ser de muito dificil gestão uma piscina (mesmo que "privativa")...
Piscina ou tanque ?..
Depois haveria questões técnicas complicadas: a água em quantidade e qualidade, o cloro, a limpeza, etc. A falta de água potável era evidente em muitos quartéis (que tinham de recorrer a reservatórios, Bambadinca, por ex.)...
Restavam as "praias fluviais" (Contuboel, Quinhamel, Saltinho, Udunduma...). Havia quem arriscasse a apanhar uma bilharziose ou um tiro... Por outro, devido às margens lodosas, tarrafo, etc...mas também pela eventual presenca de crocodilos, além do clima de guerra, não era convidativo e muito menos seguro nadar nos rios (a maior parte braços de mar).... Não era nada apetecível com aquelas águas sempre lamacentas...Mas sempre havia quem arriscasse...
Caros amigos e camaradas a propósito de piscinas na Guiné, em Quinhamel também havia uma piscina, da qual podem ver fotos que eu enviei e que estão publicadas no poste 10199 do nosso blogue. Como se pode ver a renovação da água é feita com uma tecnologia muito simples, prática e a custo zero. Era isto a que nós ainda hoje chamamos com muito respeito a piscina de Quinhamel, porque naquele tempo 2º semestre de 69 era o melhor que havia e julgo que só lá fui uma ou duas vezes. Um abraço
Manuel Carvalho
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