sexta-feira, 3 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25473: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte IV




Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > A "menina dos olhos" do Rui Chamusco, a sua Escola (dele, da ASTIL)  de São Francisco de Assis... onde faltam professores para ensinar o português às crianças que vinham longe, na montanha...

Fotos (e legenda): © Rui Chamusco (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Rui Chamusco é um verdadeiro Dom Quixote, lutando contra os moinhos de vento da indiferença, da inércia, da burocracia... Está a 15 dias d regressar de Timor depois da sua quinta estadia, de 3 meses... E o Sancho Pança é o seu 'mano' Eustáquio, que resistiu e lutou nas montanhas contra a ocupação indonésia.  Mas até lá espera poder ultrapassar dificuldades burocráticas e falta de pessoal docente, problemas que afetam o funcionamento e o futuro da Escola São Francisco de Assis (ESFA), construída e apoiada pela ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste. Nesta crónica volta a abordar alguns aspetos da idiossincrasia timorense mas também das tremendas dificuldads que se depararam ao desenvolvimento da língua portuguesa, que é língua ofiicial, a par do tétum.

Recorde-se que o Rui Chamusco, em breve nosso novo tabanqueiro, tem 77 anos, é professor de educação musical reformado, do Agrupamento de Escolas de Ribamar, Lourinhã; natural de Malcata, concelho de Sabugal, é cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte IV



Rui Chamusco e o seu amigo e 'mano'
Gaspar Sobral. Em Dili, fica hospedado casa do Eustáquio,
irmão do Gaspar. Foto: LG (2017)
Quarta crónica, enviada de Timor Leste, em 16 de abril último, às 2:18, pelo Rui Chamusco, na sua 5ª estadia (fev/maio 2024).


 

02.04.2004, terça feira  - As “loucuras” do vizinho

O Felisberto é o nosso vizinho do lado direito que já, por diversas vezes, deu azo às notícias mais caricatas que podemos imaginar. O que ele fez durante o tempo da invasão indonésia é realmente de loucos, ou de espertos, 
que para se livrar de determinadas situações, 
como por exemplo quando era aprisionado, recorria às suas “táticas de guerra” que lhe traziam sempre bons resultados. (...)  

O Felisberto lê muito, anda quase sempre de bíblia ou lá o que é na mão ou debaixo do braço, recita versículos e capítulos para basear a sua argumentação, e nas conversas que procura praticamente só ele é que fala.

Debita palavras e as frases, em tétum português, com muita facilidade, e da sua figura profética saírem sermões que nunca mais acabam. Mas esta que ontem o Eustáquio me descreveu é que não lembra nem ao diabo. 

Segundo o Eustáquio, o Felisberto durante 40 dias recusou-se a comer e a beber fosse o que fosse. Cada dia dava mais sinais de debilitado e fraco, com olheiras impressionantes e a pele encostada aos ossos. E resistiu até que pode, parece que até ao trigésimo nono dia. E, faltando um dia para os quarenta,
foi-se abaixo, desmaiou. 

A recuperação foi rápida. Ao fim de três quatro dias, o Felisberto está de novo em forma para prosseguir a sua missão. Eu disse ao Eustáquio que não acredito que o Felisberto estivesse tanto tempo sem comer e sem beber, mas ele afirma a pés juntos que foi verdade, que ninguém sabe como aguentou mas é verdade.
E E agora? Acredite quem quiser...

03.04.2024, quarta feira   - Ora toma lá mais esta...

Já, por várias vezes referi que, aqui em Timor, as coisas vão-se fazendo. Nada de pressas, porque temos todo o tempo do mundo. Às vezes fazem-nos crer que é por falta de dinheiro que as coisas não se fazem, não avançam. Mas, cá para mim, é também já um jeito de ser. 

Também em Ailok Laran é assim. A casa de família do Eustáquio tem sempre obras em curso. Aos pouquinhos vai-se fazendo e acrescentando a casa mãe dos “Sobral” , que ressalta neste contexto habitacional. Desta vez a empreitada é para assentar os mosaicos em grande parte do piso rés do chão. Para tal o Zinon, embora ausente no estrangeiro, quis orientar este trabalho, dando instruções
ao pai Eustáquio que iria ajustar esta obra a um trabalhador que um seu amigo conhecia.

E assim se fez. Depois de visitar e ver o que tinha a fazer, combinaram o preço e mãos à obra. Ontem começaram os trabalhos. Entretanto, o Eustáquio que tinha ido a Boebau voltando à tardinha, viu o trabalho já feito e não gostou. Não estava a seu gosto nem como ele sabia fazer. Telefona ao Zinon dizendo o que se passa, resultando de tudo isso o cancelamento do contrato. 

E, logo hoje de manhã, ele mais o Tobias (seu “sobrinho”) metem mãos à obra, corrigindo o que não estava bem e prosseguindo a colocação dos referidos mosaicos. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou ouvindo os toques do martelinho de madeiro ou borracha assentando e ajustando cada mosaico. 

Ao almoço, em conversa informal ele revelou-me o segredo: “É preciso sentimento para fazer este
trabalho. O outro senhor assentava as peças mas não tinha sentimento.” E pronto. No final da obra vamos ter uma casa cheia de sentimentos.

03.04.2024, quarte feira  - Esta mocinhas novas...

A Adobe e as primas (Zaida e Mina) são umas moçoilas adolescentes que despertam para a vida. Muito unidas para tudo, com surpresas que nos encantam. Estão na fase das pinturas das caras e das unhas. Cada uma ajuda a outra, ou então só cada uma, aplicam os materiais apropriados, com toques e retoques, muitas miradas ao espelho, poses para a fotografia, etc... 

E então não é que elas ficam mesmo giras?! Pena é que logo a seguir desfaçam a beleza que conseguiram alcançar. Mas pouco importa, porque elas são mesmo lindas sem serem pintadas. Mas, lá que elas são muito vaidosas, ah lá isso são... “ Minina Bonita! “, como dizem por aqui.

04.04.2024, quinta feira  - Mentes espertas

Hoje a conversa com o Eustáquio deu nestas duas histórias que aconteceram por aqui mas que podemos encontrar em muitos outros lados. E tudo veio à baila de lhe ter contado a história do primo Manel Russo que, depois de concluir a Aliance Française, em Paris, foi pedir trabalho ao Institut du Vrai Portugais, cujo proprietário e diretor era o nosso conhecido ex-padre Zé Pedro. 

O Manel, qual professor, ficou agradecido porque lhe foi dito: “ Se quiseres podes começar a trabalhar já amanhã." E assim fez. Passou-se um mês de trabalho, e o novo professor, como o ordenado nunca mais era pago, foi junto do diretor e perguntou: “Alors, mon salaire?” O diretor olhou para ele e retorquiu: “ O teu salário?! Tu só me pediste para trabalhar!”. 

Então o Eustáquio riu, mas acrescentou duas histórias mais ou menos relacionadas com a que acabei de contar.

A primeira: Um senhor que vive nas montanhas teve de vir à capital para tratar dos seus assuntos. Chegada a hora do almoço procurou um restaurante onde pudesse comer. Entrou, sentou-se a uma mesa, e de pronto chegou um empregado que lhe perguntou: “O que quer comer?” E logo lhe fez uma lista do pretendido. 

Comeu e bebeu o que pediu e, para espanto geral, o senhor levantou-se para ir embora. Foi então que o empregado o atalhou e lhe disse: “ o senhor ainda não pagou”. Ao que o cliente respondeu: “você
perguntou-me só o que queria comer e beber. Porque é que agora tenho de pagar? O senhor ofereceu, não é?...”

A segunda é esta: Veio um senhor de longe num bis (espécie de autocarro) até à cidade. Chegou ao destino e pagou uma quarta (25 cêntimos) ao condutor. Depois, teve que alugar um táxi convencional para a casa onde iria ficar. Perguntou quanto era ao chauffeur e ele respondeu: “3 dólares”. E o viajante, espantado, comentou: “Eh!... então eu paguei uma quarta por um carro grande e agora por um pequenino são três dólares!

Não pode!... E assim funcionam estas mentes brilhantes...

06.04,2024, sábado - Impressionante!

Vamos lá a ver quem faz mais barulho, quem tem oa aparelhagem de som mais potente... Isto até poderia ser tomado com um concurso, mas não é bem assim. Neste sábado de fim de semana, ouvem-se músicas provenientes de todos os lados: vizinhos de trás, vizinhos da frente, vizinhos do lado, vendedores ambulantes, e até cá em casa se ouvem an canções que a Adobe está frequentemente cantando mas sem amplificação.

Isto é uma animação matinal fora de série. E não é por que haja festa na aldeia. É assim mesmo. Cada um à sua maneira curte a vida, mesmo que seja ouvindo as músicas preferidas em altos decibéis. Aqui ou a gente se deixa levar por toda esta agitação musical ou então é para ficar surdo. A lei do ruído não existe, e não podes recriminar ninguém pela utilização que faz dos sons. 

Neste contexto, há momentos que ouvi algo contraditório. Com o nível de som audível a centenas de metros, alguém cantava, acompanhado com guitarra e bateria, a mítica canção de Paul Simon “the souns of the silence”. Como é que o silêncio se pode ouvir ou cantar em altos berros, com ritmos
marcantes?! 

É uma amálgama de emoções. Calma, que agora aqui ao lado fez-se silêncio, e até já se ouvem os passarinhos a piar, os galos a cantar e as crianças a chamar, a rir, a chorar.

07.04.204, doingo,  - “Pancadas de Molière”

Cada dia, cada noite avança de surpresa em surpresa. Sem horas para começar ou acabar, vão-se fazendo as coisas conforme a disponibilidade e a vontade. Com-se quando há fome (e há para comer), dorme-se quando há vontade de dormir, trabalha-se quando há que trabalhar. Sem pressas, com sentimento e coração. E nós, os ocidentais, vamos lá a entender isto?!... 

Ontem o Eustáquio chegou estoirado das viagens às montanhas e, mesmo assim, não deixou para trás o que tem de fazer, a saber: assentamento de mosaicos nos rés do chão, como já antes descrevi. Ele e o Tobias agarraram-se à obra, e aí vai disto. Já eram duas horas da manhã e ainda se ouviam as pancadinhas nos mosaicos que, minuciosamente eram assentes e testados pelo nível de água e pelos sons que o martelo de borracha garantiam. Agora imaginem para alguém que aqui se deita pelas 22 horas e que tem bom ouvido o tormento destas “pancadinhas de Molière”. 

Mas, como um bom timorense, também direi.” Quem tem mesmo sono, dorme. Quem não tem sono, não precisa de dormir, só está na cama”. E o que mais me admira no meio de tudo isto é a resistência e o saber do Eustáquio que, onde mete a mão, as coisas são feitas mas bem feitas, demore o tempo que demorar. É um “homem dos sete(ou mais) ofícios” que qualquer patrão gostaria de ter, com pancadas ou sem “pancadas de Molière”.

08.04.2024, segunda fera  - Tanto para fazer!...

E lá vamos nós outra vez a Liquiçá, fazer o que temos que fazer: entregar o dossiê do processo da proposta de colaboração na Direção da Educação; apresentar cumprimentos ao novo Presidente da Administração Municipal; visitar o Cafe de Liquiçá. 

E começo a ser como os timorenses (grego com os gregos; troiano com os troianos). Não por conveniência, mas porque são mesmo assim. O diretor da educação disse-os logo que o processo irá ser demorado, porque têm de pedir o parecer jurídico, que por sua vez também será demorado, e só depois se apresentará ao ministério da educação para que seja tomada uma decisão final. Que ao menos seja a nosso favor! 

O encontro no município correu bem, embora tivesse sido escasso. No entanto, ficou um encontro marcado para o dia 22 de abril, no qual darei a conhecer o município de Sabugal, servindo-me das informações e materiais de que fui portador. E tudo isto porque há um acordo de colaboração entre os dois municípios Liquiçá e Sabugal que é preciso desenvolver.

A visita ao CAFE tinha como objetivo saber notícias da Maria que frequenta o pré-escolar e da Titânia que frequenta o 5º ano. Azar!... Os alunos estão de férias, porque é o final do 1º período, e os professores estão nas reuniões de avaliação. Felizmente que a professora Teresa, coordenadora da escola, nos dispensou o seu tempo para pormos a conversa em dia.

10.04.2024, quarta feira  - Gleno... Pleno

Um dia em cheio! A convite do amigo professor Mário Louro, fomos até ao grnde vale de Gleno, para a escola CAFE, onde alguns professores e alunos nos esperavam para nos apresentarem o trabalho em elaboração de um sketch sobre os 50 anos do 25 de Abril em Portugal. 

Quiseram ouvir as minhas dicas, sobretudo as relacionadas com a música (porque dizem que eu, como professor de música, sou especialista, e que humildemente tentei fazer) mas, confesso, que pouco ou nada pude acrescentar porque tudo estava já muito bem escolhido. Mais um pouco de performance e o trabalho ficaria cinco estrelas. 

Valeu a pena conhecer esta gente, estes amigos e poder partilhar com eles a maior parte das horas deste dia. E, já agora, muito sucesso para o fim a que se destina: contribuição do Cafe de Gleno para a celebração do 25 de Abril, a pedido da embaixada de Portugal. Valeu a pena subir montes, descer vales, serpentear caminhos e estradas.

Um facto interessante é que em Tibar, na ida e na volta, ao visitarmos a fraternidade dos Capuchinhos e a fraternidade das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, se tenha verificado o mesmo acontecimento: depois de batermos à porta ou tocarmos a campainha várias vezes, e já desistindo de sermos atendidos, aparece um capuchinho que nos atende e a carrinha das irmãs que, amavelmente nos saúdam. Em ambos os casos tivemos de voltar para trás, mas valeu bem a pena. A irmã Teresa, superiora da comunidade, depois de eu me apresentar perguntou-me logo: “Você é da Guarda?”... "Sim”... É que a irmã Rita, que vive na comunidade de Lautem e que também é da Guarda, perguntou por si. Na celebração do envio esteve com a sua mãe que lhe manda cumprimentos, beijos e abraços”. 

Ora aqui está uma grande confusão! Então a minha mãe já faleceu em 2004, e eu com 77 anos já bem feitos, como pode isso ser? Depressa me dei conta de todo este engano e retifiquei a situação. De qualquer forma, peno ainda estar com a irmã Rita e agradecer-lhe esta preciosa encomenda.

12.04.2024, sexta feira  - Mas o que é que Deus anda a fazer ?

Cada dia que passa enriquece-nos com conhecimentos vindos de histórias e casos que nos contam. Ontem foi a irmã Teresa que nos contou este caso. Havia num lar um senhor que fez 99 anos e todos os que com ele lidavam o animavam dizendo: “ Senhor José, vamos lá ter ânimo porque você é a pessoa mais idosa desta casa, e temos de festejar os seus cem anos.”

 E o tempo foi decorrendo, até que se soube da existência de uma senhora que já tinha feito os 100. Então a mesma pessoa que o animava chegou um dia à sua beira e disse: “Senhor José, afinal não é você a pessoa mais velha, porque há uma senhora que já fez os 100 anos”. Ao que o velhote retorquiu: “Mas o que é que Deus anda a fazer? Esqueceu-se de a levar?”... 

E ainda há quem queira morrer...Ai Costa! A vida Costa!...

12.04.2024, sexta feira  - Eustáquio, o “perfecionista”.

Já por várias vezes referi o zelo com que o Eustáquio faz e e cuida das coisas. Como ele diz: “Há-que fazer as coisas com sentimento”. Então não é que o artista que agora anda a assentar os mosaicos cá em casa, não seguiu a linha que lhe indicava a boa direção? E vai daí que o Eustáquio, já depois de se ir embora o trabalhador, se deu conta do desvio e procedeu ele mesmo ao alinhamento, como que a dizer “amanhã quando chegar vou mostrar-lhe o erro e vai ter que arrancar para pôr de novo”. 

Dito e feito. Esta manhã que já vai a meio, cá se ouvem as marteladas a desfazer o que já estava feito, para refazer como deve ser. Não sei não, mas se isto se desse com alguns portugueses, quem sabe se acatariam as ordens do Eustáquio sem barafustarem. Mas aqui em Ailok Laran, o Eustáquio é um homem de respeito que muitos procuram para resolver situações e, com certeza, ninguém se atreveria a contestar as suas ordens. E até porque ele tem razão.(...)
 

15.04.2024, segunda feira  - Mais uma voltinha...

Esta vida é um carrossel que, de volta em volta, faz a vida acontecer. A volta de hoje insere-se nos esforços que temos vindo a fazer para encontrar uma solução para a colocação de professores na escola São francisco de Assis. Hoje, por sugestão e influência do Dr. Dionísio Babo, anterior ministro da Justiça e atualmente embaixador de Timor Leste na ONU, vamos falar com o professor Roger Soares, coordenador das escolas CAFE neste país. 

Não sei o que isto vai dar, mas parece-me que pouco mais passará de uma apresentação. Ou então ficará tudo em promessas que nunca serão cumpridas, como já vai sendo habitual neste contexto.  Presencialmente louvam o que estamos fazendo, batem palmas a este projeto solidário, mas não passa daqui. 

Eu sei lá o que mais podemos fazer!? E eu gostava tanto que este assunto se resolvesse durante esta minha estadia em Timor. É que daqui a um mês, 15 de Maio, estarei de regresso a Portugal. E, com franqueza, não sei quando e se voltarei. As viagens e as condições de vida já fazem mossa neste corpo em envelhecimento. Mas o futuro só a Deus pertence...

15.04.2024, segunda feira  - De novo esta história...

Creio que já abordei esta história numa das crónicas das estadias anteriores, mas a sua graciosidade é tanta que hoje, ao coment-la com o Eustáquio, deu-me vontade de a reescrever. Então aqui vai. 

Conta-se que um rapaz, filho de gente de posses, foienviado para Portugal afim de fazer os estudos num seminário para vir a ser padre. (padre / amo é talvez das profissões mais estimadas e respeitadas, ainda hoje, aqui em Timor Leste). O rapaz foi para Portugal mas em vez frequentar os estudos do seminário
dedica-se a outras ocupações que derretiam o dinheiro enviado periodicamente pelo pai.

Entretanto, chegou a altura de ele regressar a Timor e este “falso estudante” do que se lembrou? Comprou o pano preto necessário e foi ao alfaiate mandar fazer uma batina. Quando o avião aterrou em Dili, tinha a família à sua espera que orgulhosamente acolhia o filho padre. E, como de padre não tinha nada, ía proferindo frases em “latim” para que acreditassem que ele tinha mesmo estudado para padre em Portugal. 

Uma das frases mais célebres é esta: “Ó canes como me pat lá sa me. Eu sou cá como te.” Ora,
quem percebe alguma coisa de latim, vê logo que não há na frase nada que se aproveite.
O resto da história não se sabe. Mas quem o ouvia afirmava: “Sim! Ele fala latim, como
os padres. E esta história acaba assim..

15.04.2024,  segunda feira - Isto dá que pensar...

Pátria! Pátria! Timor-Leste, nossa nação. Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação!” Quem não vibrou com a independência deste país irmão? Aqui ou no estrangeiro, e sobretudo em Portugal, foram momentos de emoção ao ouvirmos pela primeira vez o hino de Timor-Leste e ao vermos içar pela primeira vez a bandeira deste povo. Foi um momento muito esperado e muito vivido. 

De então para cá 23 anos já são decorridos e, como em qualquer país, há quem se pergunte sobre as vantagens e as desvantagens de ser um país independente ou de ser uma província da Indonésia. Ainda hoje ouvi um comentário de alguém que sofreu muito com a invasão: 

“No tempo dos indonésios havia estradas boas para todos os distritos, escolas também. Agora com a independência, há alguns que têm bons empregos, bons carros, boas escolas e outras coisas mais. Mas a maioria do povo o que é que tem? Se o referendo fosse hoje, se calhar não votaria a favor da independência.” 

Por outro lado, a língua bahassa ainda está muito arreigada na população. Muito mais que a língua portuguesa, que é a segunda língua oficial. E, apesar dos muitos esforços que os governos de Portugal e de Timor têm feito, não vai ser nada fácil fazer vingar a língua de Camões. Nas famílias, nos mercados e na maioria das escolas fala-se o tétum e o bahassa e não o português. É muito lindo querer que as pessoas falem a nossa língua, mas não será fácil ou até mesmo impossível que isso aconteça. Quem me dera poder estar enganado...

15.04.2024, segunda feira  - É fazendo que se aprende a fazer...

Neste caso é bebendo que se apanha o gosto. O Eustáquio, durante a sua estadia em Portugal viu que as pessoas consumiam um bebida que sempre o intrigou e desejaria experimentar, mas que não o fez. Hoje, no bar do Pateo, ao perguntar-lhe o que queria beber, primeiro pediu um sumo de compal, só que depois avistou uma garrafa de Frize e pediu para trocar, porque queria experimentar aquela bebida que desde Portugal o intrigava. 

Já numa mesa sentados para saborearmos o que tínhamos pedido, o Eustáquio, com muita apreensão, leva a Frize à boca e, de repente, repele a bebida dizendo:” Eh pá, não presta! Não tem gosto!” Pudera, pois a Frize é uma água mineral gaseificada!... Ainda lhe adicionou dois pacotes de açúcar que sobraram do meu café mas, mesmo assim, não conseguiu consumir a porção que a garrafa continha. Fez questão de trazê-la para casa como recordação desta degustação.

(Revisão / fixação de texto: LG)

Conta solidária da Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste (ASTIL)

IBAN: PT50 0035 0702 000297617308 4
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Nota do leitor:

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