segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20598: Fotos à procura de... uma legenda (123): O caçador e empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, o "nho Manel Djoquim" (1901-1977) andaria no mato... com uma pistola-metralhadora FBP m/948 ou m/961 ?


Foto nº 3 > Guiné > s/d > s/l > Uma das armas que o Manel Djoquim usava para caçar ... Uma carabina de caça, uma caçadeira, adaptada, com carregador de 10 munições. (Detalhe de foto inserida no livro "Manel Djoquim, o homem do cinema", de Lucinda Aranha (2018), pp. 80-81.



Foto nº 2 > Guiné > s/d > s/l > Uma das armas que o Manel Djoquim usava para caçar...crocodilhos e onças. De novo a carabina de caça,  caçadeira, adaptada, com carregador de 10 munições [Vd. foto nº 3].



Foto nº 1 > Guiné > s/l > s/d  > É provável que o Manel Djoquim, sobretudo depois do início da guerra, passasse a usar, também, para defesa pessoal, esta pistola metralhora que parece ser uma FBP m/948. Mas a Lucinda Aranha nunca lhe ouviu falar em armas de guerra. O pai, de resto, não fez o serviço militar. Mas percorreu toda a Guiné, de lés a lés, antes e durante a guerra, pelo menos até 1970/71...

Fotos (e legendas): © Lucinda Aranha (2014) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. Diversos comentários ao poste P20558 (*) e mensagens chegadas por email, relacionadas com o tema:

(i) Valdemar Queiroz:

1ª. fotografia (*): O Sr. Manuel Joaquim está com uma espingarda metralhadora e, se era utilizada como caçadeira, matava a caça de rajada. (...)

24 de janeiro de 2020 às 02:25

(ii) Tabanca Grande

Caros leitores, vamos lá descobrir que arma era esta... Está identificada e descrita no livro, na página 71...

A mecânica, os carros, a caça e, mais tarde, a fotografia são paixões que o acompanham na Guiné... Caça onças e crocodilos... cujas peles depois vendia...(Hoje, seguramente, teria outra consciência ecológica e conservacionista, como o nosso camarada Patrício Ribeiro, que vive na Guiné ha mais de 4 décadaas...).

24 de janeiro de 2020 às 07:09



(iii) G.Tavares:

A arma parece-me ser uma pistola metralhadora FBP.

24 de janeiro de 2020 às 09:31



(iv) Luís Graça

Ou será uma carabina de caça adaptada pelo Manuel Joaquim... Marca e calibre ? Estava na moda, na época. Estamos a falar do pós-guerra, anos 50, antes do início da guerra colonial.

24 de janeiro de 2020 às 12:03


(v) Valdemar Queiroz:

Rectifico: A arma é uma pistola-metralhadora FBP 9 mm, de coronha recolhida.

 24 de janeiro de 2020 às 12:56

(vi) Antº Rosinha:

Naqueles tempos uma das actividades com mais sucesso em África era ser mecânico de automóveis, (camiões, tractores, máquinas), ser mecânico, ou ter uma oficina com mecânicos, ou ser muito "habilidoso" com maquinismos.

As viaturas exigiam uma manutenção tão cara, que o mais difícil não era dinheiro para a aquisição da máquina, o mais difícil era a sua manutenção.

Isto tudo também devido ao tipo de estradas, picadas, que nem é preciso explicar.

O Manuel Joaquim tinha uma oficina e era apaixonado por carros, estava nas suas sete quintas.

Dizia-se: uma camionete velha, uma caçadeira, uma linda mulata...é o paraíso na terra.

Foi uma pena ter vindo a guerra e todas as grandes ambições, e vejamos no que deu, acabou-se o paraíso na terra.

24 de janeiro de 2020 às 13:00


(vii) Tabanca Grande

Rosinha, mais à frente falaremos da "grande ansiedade" com que era esperado o Manel Djoquim, nas terras do interior da Guiné... 


Ele, era de facto, o homem dos "sete ofícios", tendo mãos milagrosas para tudo o que era "mecânica": geradores, automóveis, camionetas, motores, armas... Às vezes estava no Sul e chamavam-no, do Norte, algum administrador ou chefe de posto, para ele vir depressa consertar... o gerador!...

Os administradores retribuíam-lhe depois estes "pequenos grandes favores" com hospitalidade e apoio (logística, publicidade, cipaios...) à realização das sessões de cinema... Não admira por isso que fosse recebido em festa por todo o lado, da administração às populações: "A la Manel Djoquim i na bim" [Vem aí o Manuel Joaquim!].

24 de janeiro de 2020 às 14:48

(viii) Tabanca Grande


Valdemar e G. Tavares:

A FBP era uma arma de guerra, uma pistola-metralhadora... Vulgarizou-se com a guerra de África / guerra do ultramar / guerra colonial.. Não me parece que, nos anos 50, pudesse andar nas mãos de civis... Pelo pelo menos, antes dos acontecimentos de 1961,em Angola...

Além disso, na sua 1ª versão [FBP m/948], só fazia tiro de rajada...

Diz a Wikipédia:

(...) FBP é uma pistola-metralhadora projectada no final da década de 1940 por Gonçalves Cardoso, Major de Artilharia do Exército Português, combinando as funcionalidades da MP40 alemã e da M3 americana. O resultado foi uma arma de confiança e com baixos custos de produção. (...)







Guiné, Região do Oio, Olossato, 1963. CART 527 (1963/65).
Fur mil António Medina, equipadode pistola metralhadora FBP,
m/948 ou m/963.  É natural de Cabo Verde,  ilha de Santo Antão.
Vive nos EUA.

A arma acabou por ser produzida pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) em Lisboa, com cuja sigla foi baptizada.

A arma foi utilizada em combate pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra do Ultramar. A sua utilização nesta guerra levou à verificação que a sua capacidade de fazer apenas tiro automático levava a um grande desperdício de munições [, FBP m/948]. Como tal, em 1961 foi introduzida uma versão aperfeiçoada com capacidade acrescida de tiro semiautomático [FBP m/963]. (...)

4 de janeiro de 2020 às 16:00

(ix) Valdemar Queiroz

Luís: A caríssima Lucinda Aranha incluiu, no seu livro 'O Homem do Cinema', fotografias cá da minha pessoa (ena, até já apareço em livros) em Contuboel e fez o especial favor de me o enviar, autografado. O meu neto Zee (mar, em neerlandês)farta-se de mostrar o livro com a foto do avô 'a ver filmes na selva'.


FBP m/948. Origem: Portugal. Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

Quanto à arma da 1ª. foto [acima], é sem duvidas uma FBP m/48 ou m/63, igualzinha à que aparece na imagem do P5690 (**). 

A arma transformada, referida no pag. 71 do livro, deve ser uma adaptação, com um carregador de 10 balas, numa carabina de caça.


Este nosso blogue Tabanca Grande e Camaradas da Guiné é também feito de todos estes extraordinários episódios passados na Guiné que nós conhecemos quando lá estivemos, infelizmente, na guerra.

Não façamos deste blogue apenas de noticiários dos sempre agradáveis e saudosos Encontros/Almoçaradas da rapaziada, ou de arrepiantes noticias de necrologia dos nossos queridos camaradas falecidos.(...)

24 de janeiro de 2020 às 18:14



(x) Tabanca Grande

Ok, ótimo, a Lucinda é impecável...

Pedi-lhe para esclarecer a marca, o modelo, o calibre, o ano da carabina. 


Na pág 71, ela diz que o pai "andava sempre armado", tendo : 

(a) uma "Flaubert" [?], "uma carabina para atirar ao alvo"; 

e (b) uma caçadeira,calibre 12, automática, com um carregador de cinco cartuchos, mas em que ele modificou "todo o sistema (os carregadores, as molas)", ficando com a possibilidade de dar "10 tiros seguidos"... (pág. 71).

Não percebo nada de armas de caça... Mas, nas pp. 80/81, aparecem mais fotos com estas armas [, vd. acima, fotos nº 3 e 2]...


24 de janeiro de 2020 às 19:47



(xi) Alcídio Marinho

A arma que se vê em cima do para-lamas, parece ser uma Thompson, arma usada no tempo de Al Capone, que podia utilizar carregador ou tambor.


(xii) Valdemar Queiroz

A nossa pistola-metralhadora FBP e a americana Thompson m3 são primas direitas.

Julgo que a nossa foi projectada/fabricada com uma 'autorização' da Thompson.

A nossa tem o punho em madeira e a entrada do carregador ligeiramente diferente, a Thompson é toda feita em ferro.


A famosa m3, cacibre 45, de 1942  (USA).
Criador: George Hyde. Não oconfundir
com a Thompson...
Fonte: Cortesia de Wikipedia.
Julgo que a esta Thompson não era adaptado o tambor/carregador.

E não sabemos como o Sr. Manuel Joaquim adquiriu a nossa, por ser arma de guerra, ou então a Thompson, por ser de algum gangster americano.

(xiii) Lucinda Aranha

25 jan 2020, 20h50

Luís,

Vejo que efectivamente gostaste do livro pelo empenho que tens demonstrado, o que muito te agradeço. 

Quando escrevi o livro, tive a preocupação de não ferir susceptibilidades, tendo-me as minhas irmãs pedido para que os nomes fossem alterados; segui o mesmo critério para algumas das outras personagens que aparecem no livro de modo a não ferir descendentes. (...)

Sobre as dúvidas a propósito das armas do meu pai, o que sei é que nunca ouvi falar que tivesse uma metralhadora mas as armas que referi no livro, entre elas a dita Flaubert, que adaptou. 


Várias fontes me falaram destas armas, sendo a mais fidedigna e importante o genro do Esteves [, da Casa Esteves, Bissau] , o sr. Pereira, pelas relações de grande convívio e amizade. Aliás, assim que puder, já combinei encontrar-me de novo com ele para tentar esclarecer as dúvidas que tens posto a propósito do Esteves e do meu pai. 

Não percebo nada de armas mas o meu pai era um espírito muito inventivo e não me espantaria que a vossa metralhadora fosse a dita Flaubert com a cartucheira adaptada e, eventualmente, que o braço mais comprido seja uma pega. 

Nas pp 80/81 do livro, lá está a dita de novo, embora reconheça que não tem nenhuma pega. 

Quanto a toda a parafernália de que ele se fazia acompanhar, disse-me uma outra fonte, o sr. Faxina, que se encontrava, pelo menos até há alguns anos, no quintal do Tita Orelha. Creio que este senhor já morreu, mas há um filho, que talvez seja tabanqueiro, com quem nunca consegui falar. Eventualmente, seria ele quem melhor te podia esclarecer. 

Gostei muito do poste sobre o zepelim. Quanto à data exacta da ida do meu pai para Cabo Verde. não consegui apurá-la com toda a exactidão, 1922 é a minha proposta. 

A concretizar-se o encontro da Lourinhã, teremos muito para falar. (...)

Quanto à venda do livro, pode-se sempre encomendar na FNAC, mas tenho em meu poder vários livros e gostava de os vender. Basta que os interessados me contactem para o meu mail [ lucinda.aranha@gmail.com ], que eu enviarei o(s) livro(s) pretendido(s) pelos CTT
 contra reembolso ao preço de 12,50 euros (já com os portes incluídos).

PS- Há efectivamente uma relação entre "No Reino das Orelhas de Burro" e "O Homem do Cinema",  embora este último não seja um prolongamento do anterior. 


Quando escrevi "No Reino...",  já pensava escrever um livro sobre o meu pai mas ainda não tinha os contactos indispensáveis para o poder fazer. "No Reino..." é um caderno de agravos ( se me é permitida a terminologia da revolução francesa) em defesa dos direitos dos animais. Tenho muito gosto em te oferecer um exemplar assim como do "Melhor do que Cão é Ser Cavaleiro", uma espécie de romance da cavalaria escrito por duas das minhas cockers. (...)



Guiné > s/ l> s/d >

O  "Manel Djqouim" com uma pistola-metralhadora
FBP, Thompson ou M3 ?... Detalhe.
Foto: Cortesia de Lucinda Aranha
(xiv) Elísio Esteves de Oliveira [nosso leitor e camarada, nascido em Angola, ex-oficial miliciano de infantaria, CTIG, 1963-1965]

sábado, 25/01, 23:06


Boa noite, Luís,

Cá está de volta o chato picuinhas - mas na foto que acompanha o post Guiné 61/74 - P20588: Manuscrito(s) (Luís Graça) (177): Manel Djoquim, o homem do cinema ambulante, o último africanista - Parte II (*), a arma que nho Djoquim empunha não é uma caçadeira, mas sim uma portuguesíssima {pistola metralhadora] FBP m/948... 


Topa o encaixe para a baioneta sob o cano, o carregador e a corcova entre o carregador e o resguardo do gatilho.

Um Alfa Bravo e um bom ano,
Esteves







(xv) Lucinda Aranha

26 de janeiro de 2020, 19h50:


(...) Como te disse, quer o falar de novo com o Pereira [, o genro do Esteves, de Bissau.] que me deu as informações mais detalhadas e mais fiáveis sobre a vida do meu pai na Guiné e sobre o Esteves, inclusive sobre as armas. 


Gostava também de falar ao Parente cujo irmão mais velho chegou a caçar com o meu pai mas não acredito que ele possa responder às vossas dúvidas. Falei com o meu cunhado que combateu na Guiné e ele também acha que pode ser uma pistola metralhadora. O irmão, que esteve na marinha, também na Guiné, põe a hipótese de ser uma pistola metralhadora FBP de 9mm ( feita em Braço de Prata).

Volto a dizer que nunca ouvimos lá por casa falar em G3 ou metralhadoras. Será que com a guerra colonial comprou alguma dessas armas para se defender? Para se exibir? Ele nunca fez o serviço militar, mas era farrompeiro a propósito das suas caçadas.

De qualquer modo, acho que ninguém caça com semelhantes armas.

Ontem,andei à procura de outras fotos com armas mas não encontrei o mail que mandei à editora. Esta semana vou procurar os originais e logo te envio mais fotos. Talvez fosse melhor esperares por estes elementos que, quem sabe, poderão ajudar a esclarecer dúvidas. (...) (***)

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3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não, não estamos aqui a discutir o "sexo dos anjos".. Se efetivamente for uma FBP m/948 ou até m/961, a pistola-metralhadora que empunha o Manel Djoquim, a questão agora se põe é a de saber como é que ele a arranjou...Tratava-se de uma arma de guerra, distribuída apenas aos graduados do exército e, possivelmente, também às forças militarizadas... O António Rosinha usou-a em Angola, como furriel miliciano, não como civil...

Temos de admitir a hipótese de, na Guiné, ter sido distribuída aos comerciantes e demais empresários (madeireiros, etc.), para defesa pessoal... Possivelmente no início dos anos 60, quando há cada vez mais indícios de "subversão": destruição de linhas telefónicas, sabotagens de pontes, raptos e assassínios de comerciantes, etc. E se sim, quem dá ordem para distribuir armas de guerra aos civis ?

Não era arma para a caça de onças e crocodilos... Para esse efeito, o nosso homem tinha que ter uma ou mais caçadeiras de grosso calibre... Enfim, daqui a uns dias, a Lucinda Aranha poderá esquecer esta questão, da FBP, que é nova, para ela... E ficou de nos mandar cópia das imagens que tem nas pp. 80/81, com melhor resolução...

De qualquer modo, obrigado aos nossos leitores pelas diversas achegas...

Anónimo disse...

LUIS
Quando em julho de 1959 fui trabalhar para Porto Santo, construção do aeroporto, até Junho de 1961, pois tinha que me apresentar em 1/2/3 de Julho, para o curso de sargentos/61, em Mafra, tive contactos com cubanos guarda-costas do ditador Fulgêncio Batista.
Em fevereiro/1960, depois da derrota da Sierra Madre por tropas do Fidel Castro, o ditador pediu asilo a Salazar, escolhendo o arquipélago da Madeira, mais concretamente Porto Santo. Assim, apareceu lá um barco que descarregou 5 ou seis carros americanos - Cadillac, Buick, Impala, Desoto e outros - malões, malas e respectivo pessoal.
Ora, um dia, indo eu da Vila Baleeira para a Calheta, na minha carrinha 2Cv- Citroen, encontrei um carro daqueles, com diversos capangas do Fulgêncio, parado na berma da estrada com falta de gasolina. Pediram-me o favor de levar um deles buscar com um jerrican, gasolina à Vila Baleeira. Ao dizer que sim, abriram a mala do carro para tirar o jerrican e então vi várias armas de guerra, granadas e outro material de guerra. Disseram-me que iam para o Pico Ana Ferreira, praticar, onde tinham uma carreira de tiro. Depois de irmos buscar a gasolina, convidaram-me para dar uns tiros, pois eu lhes havia dito que dentro em breve ira prestar serviço militar. Então conheci a PPSH, Simonov, a Thompson com carregador e tambor, a Steyr e algumas granadas de mão e outro material de guerra.Pela foto do Djoquin, vê-se a arma que aquele rebordo onde entra o carregador é igual onde na Thompson entrava a abertura do tambor, pelo menos uma das armas que vi naquele tempo era semelhante, pelo que me parece ser um modelo da Thompson.
Abraços
Alcidio marinho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há , na Wikipédia, uma entrada, muito útil, sobre pistolas metralhadores (subguns, em inglês)... Não confundir a Thompson com a M3... São modelos e fabricantes diferentes...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_submetralhadoras