terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

1. Mensagem do Camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil do BCAÇ 2897 (1969/71) (*):

Meu caro Virgínio Briote:

Tal como pedes, envio-te aqui o 1º fascículo da História do BCAÇ 2879, que vou enriquecendo com a minha vivência na Guiné e a dos meus camaradas. O 2º fascículo seguirá brevemente.

Era bom se houvesse possibilidade de englobar toda a matéria sobre o sector de Farim. Caso contrário, será difícil a busca, porque os estranhos ao blogue desconhecem em que pacote estão arquivados os Postes, para poder abri-los. Uma pequena história ou trabalho isolado não há problema, mas um trabalho substancial já se torna mais complicado para se fazer a busca, se ficar disperso.

Bato nesta tecla, porque tenho um acervo grande de documentos, fotos e 600 páginas escritas. Tal como disse ao Luís Graça num mail anterior, tenho tema para um bate-papo e para vos dar ou partilhar o meu arquivo.

Pelas fotos que vos enviei, e por este pequeno resumo que junto, já poderás avaliar do trabalho que anda por aqui.

A minha sugestão era de aglutinar todos os trabalhos sobre o sector de Farim, mas vai-se fazendo o que se puder.

As minhas fotos e dados pessoais para a Tertúlia, para vocês inserirem no Blogue caso entendam, já enviei para o vosso mail principal.

Tenho insistido mais contigo relativamente ao tema de Farim, devido ao facto de termos pisado o mesmo chão.
(...)

Recebe um abraço,
Carlos Silva

2. Comentário de vb:

A ordem do blogue é cronológica, por data de edição, não é temática. O blogue é uma espécie de diário ou de jornal. O arquivo dos postes é semanal. Podes sempre, utilizando a janelinha ao canto superior esquerdo, fazer pesquisas por palavra-chave: por exemplo, "BCAÇ 2879" + Farim. Ou: "Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira". É importanmte usar aspas para conjuntos de palavras. Atenção às abreviaturas que nós usamos no blogue: por exemplo "Cap Mil" e não "Capitão Milº", "BCAÇ 2879" e não "Bat. Caç. nº 2879"...

Temos links (ligações para clicar) para Mapas, Memórias dos Lugares e Postes, tanto da 1ª Série (Abril de 2005 a Maio de 2006) como da 2ª Série (a partir de Junho de 2006) do nosso blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Com tempo, vagar e documentação (fotográfica) faremos uma página sobre Farim, para a secção Memória dos Lugares... O problema é que não há tempo para tudo, Carlos... Aqui não há editores profissionais, apenas gente voluntária, que dá um pouco do seu tempo a esta causa comum. De qualquer modo, obrigado pelo teu valioso contribuinte para a preservação das nossas memórias. vb
__________


INTRODUÇÃO

As Histórias das Unidades, presumo que eram escritas em execução de normas regulamentares, emanadas das autoridades militares, não só com o objectivo de constituir um acervo de documentos e fontes históricas sobre a Guerra Colonial que se desenvolveu nos três teatros de operações das ex-Províncias Ultramarinas de Angola, Moçambique e Guiné, bem como, presumo também que eram documentos que serviriam às Unidades e não só, que iriam render outras em fim de comissão, para estudo e conhecimento sobre os antecedentes de actuação das NT, conhecimento do terreno, para no futuro definir estratégias ou tácticas face à postura de actuação e poder do In.

Nesta lógica e por imperativo de tais normas que desconheço, a História do Batalhão de Caçadores nº 2879 (1), que presumo foi escrita pelo então Maj. de Infª Calisto Aires, oficial de operações e informações do Batalhão com base nos factos que eram entendidos como relevantes e descritos em relatórios remetidos para a sede do Batalhão.
Tive apenas conhecimento deste documento histórico, quando o Coronel Calisto Aires, teve a amável gentileza de me oferecer um exemplar em Maio de 1990, aquando da realização do almoço de confraternização que teve lugar no restaurante O David da Buraca, que li sofregamente de princípio ao fim.

A págs. 91 do Cap. II deste documento, consta a seguinte passagem, que passamos a citar:

Chegamos assim ao fim da História do Batalhão de Caçadores nº 2879.

É uma história árida, seca, verdadeira nos factos. Mas a verdade total não foi apresentada, nem podia ser. Essa constará da segunda parte da história, que não será, escrita, mas será falada por todos quantos viveram e sofreram nela, e enquanto as recordações que de modo algum podem ser boas se mantiverem vivas no seu espírito.

Perdurarão amizades criadas, algumas. Recordar-se-ão momentos de camaradagem, bastantes. Ficam com a consciência tranquila os que a tiverem tranquila.

Termina-se esta história com um voto de BOA SORTE para o BArt 3844 que rendeu o BCaç 2879.
Deixa-se um abraço e votos de felicidades para todos que nele participaram e que regressem às suas terras e às suas famílias.

Recorda-se com saudade aqueles que tombaram no cumprimento do seu dever.

Ora, como é referido, a nossa História não está completa nem temos a veleidade de a completar, no entanto, tendo sido eu um dos protagonistas, enquanto elemento de tão glorioso Batalhão, e na medida em que contribuí, embora modestamente, para ELA, porque não “ deitar mãos à obra” e passar a escrito alguns dos bons e maus momentos vividos e que vão sendo contados pelos intervenientes dela, ou seja , por todos os camaradas do Batalhão?

Embora, por ocasião de reuniões e convívios com os nossos familiares, amigos e camaradas, se vá recordando os momentos bons e mais difíceis, por que passámos durante a nossa estadia em terras da Guiné, durante os anos de 1969 a 1971, e, nesse contexto se vá falando de certos factos passados, isto é, sobre factos que integram a “história falada e não escrita “ conforme acima é mencionado, resolvi dar o meu contributo, para o desenvolvimento da nossa História escrita, e, assim, ficar para a posteridade um testemunho dos factos, mais amplo e tão próximo quanto possível da sua veracidade, contribuindo deste modo para o aperfeiçoamento da nossa já conhecida História do Batalhão nº 2879.

Porque não lançar mãos a este desafio, enquanto for possível, enquanto por aqui andarmos por este planeta e tivermos o testemunho dos actores reais que são os nossos camaradas?

Apesar de terem decorrido mais de 37 anos sobre os factos e situações vividas, vamos tentar exprimir o que nos vai na alma, os nossos sentimentos de alegria e de tristeza gravados na nossa memória, os quais jamais esqueceremos.

Deste modo, lançaremos mão a algumas notas que registamos, a factos que fomos ouvindo ao longo da nossa comissão de serviço, assim como a recordações volvidas em conversas com ex-camaradas e amigos que ficaram para sempre.

No entanto, advertimos desde já que este trabalho que passamos a desenvolver, incluindo transcrições, segue uma ordem cronológica muito próxima da nossa História depositada no Arquivo Histórico Militar, no que concerne à formação, embarque e actividade operacional do Batalhão até ao nosso regresso à Metrópole, embora não corresponda ipsis verbis ao mesmo, porquanto, por um lado, há situações irrelevantes que não se transcreve por ser despiciendo e por outro, são acrescentados outros factos e situações que não constam do texto original.
Algumas dezenas de camaradas já possuem o documento.

Acresce dizer, que para além do nosso testemunho ou depoimentos de outros camaradas ou outras referências a livros e outras publicações, sempre que possível, apesar de parecer repetitivo, invocamos o texto da História do Batalhão correspondente, a fim de corroborar os factos.

Acresce dizer também, que este trabalho surge apenas agora, 37 anos após o nosso regresso, devido a um amadurecimento de ideias, a fim de poder reflectir sobre os factos vividos e conhecidos, bem como, devido à eventual possibilidade de confrontar com outros escritos, onde por vezes se encontram omissões e contradições, comprovadas, sobre factos narrados neste trabalho, como resulta por exemplo de entre alguns casos aqui salientados, o caso dos acontecimentos que envolveram o Ronco, captura das 24 toneladas de material bélico ao IN, em Agosto de 1969, junto à fronteira do Senegal, em Faquina Fula e Mandinga, em que o nosso Comandante e duas Companhias (CCaçs 2547 e 2549) do nosso Batalhão, ao nível de pelotão, participaram na apreensão de parte desse material e nem sequer mereceram um mínimo de referência num Livro com o peso Histórico, cuja autoria é da Comissão para o Estudo das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exército, apesar de ter sido alertada por mim para tão grave omissão histórica.

Depois, seguem-se os capítulos relativos às características da Província, estadia e actividade operacional no CTIG e respectivo regresso à Metrópole.

Por último, convém referir que é preciso que cada um registe para a História tudo o que souber.
Daí a importância de escrever. Daí a importância de editar. Sem complexos.
Por isso, mãos à obra.
Massamá, 10 de Janeiro de 2008

Carlos Silva

Ex Fur. Mil. Bat. Caç/CCaç 2548


HISTÓRIA DO BATALHÃO DE CAÇADORES 2879 (1)

GUINÉ 1969/1971

Texto: Adaptação de Carlos Silva – ex-Fur Mil CCAÇ 2548

fixação de texto: vb



Guião do Batalhão 2879. Foto de Carlos Silva.

CAPÍTULO I

Mobilização, Composição e Deslocamento para o CTIG

No mês de Janeiro de 1969 foram mobilizados os quadros destinados a várias Unidades entre as quais estava incluído o BCAÇ 2879. Como Comandante foi designado o Ten Cor Inf Manuel Agostinho Ferreira, regressado do Comando de um Batalhão na Guiné havia menos de 1 ano . (Nota nº 2273 da 1ª Sec. da RO/DSP/ME de 22-01-1969).

Foram atribuídas ao Batalhão as CCAÇ 2547, 2548 e 2549.




Abrantes > Regimento de Infantaria nº 2 > 1969 > Edificio do Comando e Museu

Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira, da CCAÇ 2549.

Como Unidade Mobilizadora foi designado o Regimento de Infantaria nº 2 – Abrantes.

A Nota-Circular nº 896/PM – Pocº nº 18/2876 a 2883 e 18/2538 a 2583 da Sec Adm e Mobilização de Pessoal da 1ª Rep do EME/ME, de 19 de Fevereiro, atribui o BCAÇ 2879 ao CTIG.

Em 23-02-69, o Comandante de Batalhão apresentou-se no CIM – Santa Margarida a fim de tomar parte no 1º Turno de Estágio de Observação Aérea.

Em 02-03-69 seguiu para o CIOE – Lamego, onde tomou parte no 2º Turno de Estágio de Actualização sobre o Ultramar.

Em 10-03-69 apresentaram-se na Unidade Mobilizadora os oficiais, sargentos e cabos milicianos que iriam tomar parte na Instrução Especial do 1º Turno/69.

Em 11-03-69, começou a Escola de Aperfeiçoamento de Quadros e nela tomaram parte os seguintes militares:

Ten Cor Inf Manuel Agostinho Ferreira
Maj Inf Alexandre Augusto Durão Lopes
Maj Inf Lourenço Calixto Aires
Tenente do SGE Elias Garcia da Saúde Raio
Asp Of Mil Secret António Luís Rodrigues Cabral
2º Sargento Inf João Baptista Cipriano

1ª Companhia de Instrução (destinada a enquadrar a CCAÇ 2547)

Cap Mil Art José Fernando Covas Lima de Carvalho
Asp Of Mil Joaquim Manuel Gomes da Silva
Asp Of Mil Luís Filipe da Paiva Nunes
Asp Of Mil José Manuel Tavares Castilho
Asp Of Mil Duarte Joaquim das Neves Pinto
2º Sargento Inf João Gardete Cabaço
2º Sargento Inf Viriato Gomes de Castro
1º Cabo Mil António Maria dos Santos Teixeira
1º Cabo Mil Joaquim Luís Saramago Glórias
1º Cabo Mil Manuel Dias de Carvalho
1º Cabo Mil António Rufino Correia
1º Cabo Mil João Carlos de Macedo Lourenço
1º Cabo Mil José Machado Pacheco
1º Cabo Mil António de Freitas
1º Cabo Mil Manuel Rocha
1º Cabo Mil João António Sampaio Vaz Monteiro

2ª Cª Instrução (destinada a enquadrar a CCAÇ 2548)

Cap Mil Inf Alcino de Sousa Faria (3)
Asp Of Mil António Gil Dias André
Asp Of Mil João Abel Rebelo
Asp Of Mil Manuel Fernandes Pinheiro
Asp Of Mil Horácio João de Sousa Marques
2º Sargento Inf Martinho da Silva
2º Sargento Inf José Leitão Sombreireiro
1º Cabo Mil Jorge Manuel Gomes da Conceição
1º Cabo Mil Idino Claudino Silva Évora
1º Cabo Mil Fernando Amado Vitorino
1º Cabo Mil Dionísio Frazão Galo
1º Cabo Mil Aníbal Manuel Leça Marques da Silva
1º Cabo Mil António José Lopes do Nascimento
1º Cabo Mil Domingos da Silva Tavares
1º Cabo Mil Manuel de Oliveira Pontes

3ª Companhia de Instrução (destinada a enquadrar a CCAÇ 2549)

Cap Mil Inf Luís Fernando da Fonseca (3)
Asp Of Mil João Borges Frias Sampaio
Asp Of Mil Luís Fernando da Silva Carvalho
Asp Of Mil Manuel do Carmo Ferreira
Asp Of Mil Joaquim Manuel Baptista
2º Sargento Infriato Correia Gonçalves
2º Sargento Inf é Luís de Jesus Varanda
1º Cabo Mil Joaquim Alberto Sequeira Fortes Vaz
1º Cabo Mil António Manuel Mano Nunes
1º Cabo Mil Francisco António Brotas
1º Cabo Mil Armindo Aníbal Pinto da Costa Paulo
1º Cabo Mil António Simões Biscaia
1º Cabo Mil António Francisco Almeida Couto
1º Cabo Mil Victor José Martinho Ferreira
1º Cabo Mil Carlos Manuel Pereira Fragoso
1º Cabo Mil Domingos Mário Barros de Miranda
1º Cabo Mil Nelson Jorge Ferreira Duarte

Em 09-04-69 começaram a apresentar-se no RI 2 os recrutas que iriam frequentar a IE/1º Turno/69 e que seriam a grande massa do Batalhão de Caçadores nº 2879.

Em 10-04-69 e até 31-05-69 entra-se no período de organização do Batalhão de acordo com a Nota-Circular nº 02.611/PM – Proº 18/2879, 18/2547, 18/2548 e 18/2549 de 22-05-69 da Sec Adm e Mob de Pessoal da 1ª Rep do EME.

Em 09-06 e até 14-06-69 teve lugar a EAQ/IAO.

Em 16-06-69 e até 5-07-69 decorreu a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional – IAO, na região de Arreceadas – Rossio ao Sul do Tejo, pois o terreno escolhido tinha algumas características semelhantes às da Guiné.

A instrução decorreu com entusiasmo e bom rendimento apesar das dificuldades materiais com que se lutou.

Em 07-07-69 todo o pessoal entra de licença das NNAPU – Normas de Nomeação e de Apoio às Províncias Ultramarinas.

O BCAÇ 2879 é assim formado e organizado no R I 2 em Abrantes passando a ter por Divisa “Excelente e Valoroso”.

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Texto e notas de Carlos Silva:

(1) Este documento histórico pode ser consultado no Arquivo Histórico Militar situado em Santa Apolónia – Lisboa, sob o título “ História do Batalhão de Caç. nº 2879 - Guiné 1969/1971 – Farim “ - [ 2ª Div/4ª Sec, Caixa nº 110 nº 3, do AHM ]

(2) O Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira, falecido a 29-10-2003, com a patente de Major-General ficou conhecido pela rapaziada do Batalhão pelo Metro e oito.

Distinto oficial, inteligente e corajoso, que, sendo Comandante de Batalhão, não se poupava a esforços nem a sacrifícios, assim como não hesitava em participar nas operações, a fim de poder apreciar in loco a justeza dos factores de planeamento, quantas vezes abstractos, que os manuais forneciam.

Esta postura do nosso Comandante que, por um lado, era altamente louvável, por outro ncutia na rapaziada uma confiança que fazia ultrapassar o medo que porventura existisse. Tal atitude granjeou-lhe da nossa parte uma grande simpatia e admiração que ainda hoje se faz sentir e há-de perdurar ao longo dos tempos até ao último sobrevivente do Batalhão. expressão de tal sentimento resulta bem claro nos almoços de confraternização do Batalhão.

(3) Os Capitães Alcino de Sousa e Luís Fernando da Fonseca, que inicialmente haviam sido nomeados para o Comando das CCAÇ 2548 e CCAÇ 2549, em virtude de terem feito a comissão anterior na Guiné, foram por autorização ministerial substituídos respectivamente pelos Capitães Luís Fernando da Fonseca Sobral e Vasco Correia Lourenço, que antes estavam nomeados para Angola.
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Nota de vb:

(*) Vd. postes de:

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2417: Tabanca Grande (51): Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem 1969/71)

20 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1976: Tabanca Grande (27): Carlos Silva, mais um 'apanhado do clima' (CCAÇ 2548, Jumbembem)

1 comentário:

joãomanuelfélixdias disse...

sou eu : João Manuel Félix Dias; que nunca cheguei a saber - e SEI ? - da letra ou voz de Senhor Carlos Silva se , efectivamente, foram DUAS (2) vezes, idas, à Guiné, de Barcos, em menos de seis meses: no Uíge aquanda da chegada à LUA e a outra no Ana mafalda.
Daí que acrescentado, a um conto, um ponto .... ou um ZERO : 100 mil pode ser um milhão.
com consideração e respeito,
joão