sábado, 19 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 1687 (1967/1969) > 21 de Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > "O Fur Mil Victor Condeço numa das suas inspecções ao armamento, verificando uma G3 no aquartelamento de Cufar em Setembro de 1967, veja-se a improvisação da mesa com o tampo feito de um cunhete de munições 7,62 e os pés feitos de aduelas de barril".


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART Álbum fotográfico de Victor Condeço > F05 > 1 de Agosto de 1967 > GMC reconstruída em Catió a partir de duas outras que estavam na sucata e abatidas. Repare-se na falta da matrícula que oficialmente e por motivos óbvios não podia existir.

Com tanto pessoal civil e militar na pista, algo de importante se deveria passar... não recordo o quê. Recordo no entanto alguns dos aqui presentes, em cima da esquerda para a direita o Fur Mil Arménio, ?, o Sold Poupinha, o Fur Mil Pires; ao volante o madeirense Fur Mil Freitas, a seu lado o condutor auto ?, e em baixo o Fur Mil Cabrita.

Fotos e legendas: © Victor Condeço (2008). Direitos reservados.

1. Texto do Victor Condeço (1), com data de 13 de Janeiro

Meu caro Luis,

Saúde e boa disposição.

Não querendo tomar muito do teu precioso tempo, venho apenas dizer-te que li o post P2431, fiquei admirado pela publicação do mesmo, pois que não era esse o propósito ao tentar dar uma ajuda ao Nuno Rubim.

Gentileza tua aproveitar uma coisa sem importância, mas já que entendeste assim, obrigado pelo que escreveste, gostei da tua prosa sobre o pessoal da ferrugem.

É verdade! O pessoal do Serviço de Material era tido como uns sortudos e olhados com algum sobranceirismo, por estarem dispensados de actividades operacionais e até fora de algumas escalas de serviços, por isso também ouvíamos umas bocas.

Mas havia excepções, dependendo dos comandantes das unidades onde estávamos inseridos, isso motivou a Nota-Circular 10347/A de 16JUN67 da 1º REP do QG do CTIG, com recomendações para o escrupuloso cumprimento das disposições constantes de O.E. nº 6, 3ª Série de 28FEV58 e da Circular nº7994 de 14ABR65 da Rep. Of. /DSP.

No meu caso particular, fiz de tudo um pouco, só nunca alinhei no mato.

O tempo que me sobrava não era muito, pois tínhamos por todo o sector mais de um milhar de armas ligeiras e pesadas para dar assistência.

Só em Catió chegámos a ter além da CCS, duas Companhias de Intervenção, uma Companhia e mais dois Pelotões de Milícia e ainda 4 pelotões (Morteiros, Canhões S/R, Rec Daimler e Artilharia).

No sector existiam ainda mais 4 Companhias, em Cachil, Cufar, Bedanda e Cabedu, respectivamente, com uns quantos pelotões de Milícia, Morteiros e Canhões S/R...

Para além das funções próprias da especialidade e em que era coadjuvado pelos 1º Cabos Neves e Camarinha, fui encarregado de tratar de toda a papelada relacionada com o armamento da CCS, folhas de carga, notas e requisições, autos de ruína prematura, de extravio e de incapacidade.

Como se isso não fosse suficiente fui nomeado escrivão da Secção de Justiça e mais tarde por falta de pessoal fui integrado na secção de Reabastecimentos e Pessoal, cujo chefe era também um homem da ferrugem, o Alferes Garcia do Pelotão de Manutenção do S.M., onde fiquei com a missão de elaborar os SITMUN, os SITARM, etc. e receber os meios aéreos na pista de aviação.

Para culminar acabei por ser integrado na escala de Sarg Dia.

Valeram-me as normas que acima citei, para nunca ter participado em acções operacionais, embora vontade não faltasse ao Capitão Botelho, que era dos tais comandantes que achavam que os especialistas do S.M. deviam estar disponíveis para tudo.

Aqui para nós acho que até estávamos, pelo menos aqueles com quem convivi naqueles quase 22 meses de comissão.

Embora estivesse instituído um horário de trabalho para as diversas secções, era comum encontrar pessoas a trabalhar noite adentro: no meu caso ultimando papelada que deveria seguir no avião da manhã seguinte, o Pires, Fur Mil Radiomontador, que na sua tabanca com o seu adjunto labutava de volta dos rádios que deveriam estar operacionais para a próxima saída, que poderia ser nessa madrugada.

Também o Sargento Dias Mecânico Auto e o seu pessoal merecem aqui ser referidos, pois apesar de todas a dificuldades na obtenção de sobressalentes para as viaturas, conseguiram com arte, engenho e dedicação, recuperar e manter operacional um parque de viaturas que estavam inoperacionais aquando da nossa chegada, a maioria já abatidas e consideradas sucata.

Naquela guerra todos demos o nosso contributo, uns lutando de arma na mão e arriscando a vida no mato, outros nos quartéis cuidando dos meios e das condições para que aquela luta fosse menos arriscada e bem sucedida para todos nós.

Acabei por me alongar, mas como diz o provérbio “no comer e no falar a demora é no começar”, desculpa.

Luís, um dia chegará que nos havemos de conhecer pessoalmente e dar um abraço de quebra costelas...

Enquanto esse dia não chega, vai mais um abraço virtual muito forte.

Victor Condeço
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Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

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