1. Comentário (*), com data de ontem, do Sílvio Fagundes Abrantes, mais conhecido por Hoss, natural de Águeda, no tempo que foi soldado pára-quedistado BCP 12, entre 1970 e 1971 (**), comentário esse que eu me permito interpretar como a revelação, tardia, de um segredo (***):
O ATAQUE A BISSAU
Vou contar a história real dum ataque a Bissau feito em 1971. Um dia, eu e o meu amigo Julião Pais dos Santos (o Django), pensámos em atacar Bissau... Dito e feito. Mas faltava a estratégia. Depois de alguns dias a pensar na estratégia, finalmente chegou a luz ao fundo do túnel.
Material utilizado:
1 saco de viagem pequeno
1 casaco do camuflado
4 granadas de mão.
Como podem verificar, material nada fácil de arranjar na altura. Metemos o material no saco de viagem e partimos em direcção a Bissau, melhor dizendo à tabanca da namorada do Django.
Eu vesti o casaco do camuflado com as granadas no bolso, e chamámos um táxi.O Django senta-se à frente, eu atrás... Demos uma volta por Bissau, mas não muito grande porque a guita era curta.
A certa altura mandámos o taxista seguir a toda a velocidade possível pela avenida que vai de perto do porto de Bissau, e que passa pelo Q. G. [, Quartel General], virados ao Palácio do Governador. Na passagem, pela janela de trás, eu ía deixando caír as granadas que naturalmente explodiam.
A partir daqui cada um imagina o efeito que isto teve. Ao outro dia a notícia importante era de que Bissau tinha sido atacado, um ataque feito por duas aves que, se fossem apanhadas, teriam o pescoço degolado.
Não era só a partir bares que nos divertíamos, meu comandante, Sr Mira Vaz. Espero que esta mensagem seja lida por si e quero fazer-lhe uma pergunta:
Nós passámos o Natal de 1970 e o ano novo de 70 para 71 no Olossato. Aí vai a pergunta: Quem era o comandante do quartel, do exército? Não era o hoje Major Tomé? Veja se se lembra e diga alguma coisa. Se por acaso algum bravo do Olossato ler esta mensagem, que responda à minha pergunta.
[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
2. Comentário de L.G.:
Sílvio, respondendo ao teu pedido: no final de 1970, princípios de 1971, o comandante da unidade de quadrícula do Olossato era de facto o Cap Cav Mário Tomé... A CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72) tinha um jornal de caserna chamado Tabanca (SPM 1318, 1970). Tens, na I Série do nosso blogue, uma série chamada Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Santiago)... O Paulo Salgado era então Alf Mil da CCAV 2721.
Sílvio, agora sou eu a fazer-te um pedido de esclarecimento e uma ou duas perguntas (que não tens de responder, se assim o entenderes):
(i) O que é feito do teu amigo e camarada Django ?;
(ii) Na história que relatas, qual era a razão dessa brincadeira que poderia ter feito vítimas inocentes, civis ou militares a passar na avenida ?;
(iii) Era só por uma questão de adrenalina ? Por vontade (e necessidade) de diversão ? Por andarem já "apanhados pelo clima" ?;
(iv) Qual era, em tua opinião, a razão da rivalidade, em Bissau, entre páras, fuzos e comandos ? E por que é que se uniam todos quando vinha a PM ?
Continuo a aguardar uma resposta, positiva, ao meu convite para te juntares às nossas tropas. (**)
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5650: Notas de leitura (54): Guiné 1968 e 1973 Soldados uma vez, sempre soldados!, de Nuno Mira Vaz (Beja Santos)
(**) Vd. poste de 17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5568: FAP (45): Em defesa do meu amigo Oitenta (Silvio Fagundes Abrantes, Hoss, ex-Sold Pára, BCP 12, 1970)
(***) Vd. último poste da série 24 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5529: O segredo de... (10): António Carvalho (ex-Fur Mil Enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74): Os tabefes dados ao Bacari
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Meu comandante, Srº Mira Vaz, peço-lhe desculpa, mas não vou responder, nem hoje nem nos próximos dias, porque amanhã vou para o hospital de Águeda ser operado às varizes e de momento o meu tempo é pouco para lhe dar a resposta, mas prometo que a vai ter.Alguma vez me viu fugir do perigo?, pois também não vai ser agora, a não ser que me aconteça alguma coisa que me impossibilite. Quanto ao meu amigo Julião(Django) vive actualmente no Algarve, é massagista. Mas posso adianta-lhe que é massagista de jeet 7, não é um massagista qualquer. Desculpe mas vou terminar,com promessa de voltar ao assunto assim que puder.
Um abraço,
Hoss
Meu caro Hoss
Em primeiro lugar, quero desejar-lhe uma operação bem sucedida e um rápido restabelecimento.
Depois, quero confirmar que, após consulta mais minuciosa à minha memória, me lembro de que você era efectivamente, além de exímio apontador da MG-42, socorrista. O que não conhecia era essa aventura passada em Bissau.
Em terceiro lugar, quem lhe fez perguntas não fui eu, mas sim o coordenador do blogue. Portanto, não tem que me dar resposta nenhuma.
Por fim, afirmo aqui e em qualquer lugar do mundo que o Hoss nunca fugiu do perigo e estou certo de que nunca fugirá.
Com um abraço amigo do Nuno MIra Vaz
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