terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5712: Os nossos médicos (14): José Madeira da Silva, hoje otorrino, professor universitário, ex-Alf Mil Med, BART 6521, Pelundo, 1973/74)

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Canchungo >  Pelundo > 2008 > Restos do antigo quartel português, ao tempo do BART 6521/72 (Pelundo, 22/9/1972 - 27/8/1974), a unidade que fez a transferência de soberania para o PAIGC, e que era comandado pelo Ten Cor Art Luís Filipe de Albuquerque Campos Ferreira. O Alf Mil Médico José Madeira da Silva deve ter passado por este batalhão e este aquartelamento, em 1973, antes de ir prestar serviço, como médico anestesista, no HM 241, em Bissau.  Diz ele que foi um dos que "fechou a guerra em Outubro de 1974"...

A foto foi-nos enviada, juntamente com as fotos de uma série de ex-camaradas nossos,  manjacos do Pelundo,  que estiveram ao serviço do exército português, pelo sociólogo António Alberto Alves, que reside desde 2006 em Canchungo (antiga Teixeira Pinto) e trabalha (ou trabalhava) para uma ONGD portuguesa (*)

Foto:  © António Alberto Alves (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem de José Madeira da Silva, com data de 22 do corrente:

Agora sou eu que estou envergonhado... Entretanto e devido a restricções orçamentais, estou sem secretária. O que mais virá ?

Em relação à "nossa Guiné",  acho que, por diversos motivos, já ninguém quer saber! Os meus filhos, às vezes mostram alguma curiosidade mas que diabo, actualmente e da nossa parte,  talvez seja só nostalgia, inclusive dos momentos desagradáveis, se é que isso é possivel... Também já estou muito longe de pensar nisso, a não ser esporadicamente.

Embora já tenha 64, ainda tenho o tempo um bocado ocupado. Além de regente da disciplina de Otorrinolaringologia da FCM [, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa],   sou membro do Conselho Científico e director do Serviço Universitário de ORL do CHLO [, Centro Hospitalar Lisboa Oriental] / Hospital Egas Moniz. (...).

Dentro destas possíveis dificuldades, seguramente contornáveis, diga-me quais os dias que eventualmente teria disponíveis para almoçar.

Um abraço,

José Madeira da Silva
 
2. Mensagem enviada em 23 de Outubro último, por Luís Graça, a José Madeira da Silva:
 
Meu caro professor e colega:

Estou envergonhado de só agora lhe poder responder ao seu mail de 22 de Julho passado (**)… Ficamos doravante em contacto um com o outro. Aqui tem os elementos que pude apurar, relativamente ao pedido que me fez. Acabo de os publicar no nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné:

23 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5143: Os nossos médicos (7): Prof Doutor José Madeira da Silva, otorrino, em busca dos ex-camaradas de Bula e Pelundo, 1973/74

Gostaria muito de falar consigo, para já ao telefone… Tem aqui os meus contactos (Telef. Directo, Gabinete 3 A 42, ENSP/UNL: 21 751 21 93). Só tenho o seu telefone do Serviço de Otorrino, do Egas Moniz… Vou tentar ligar-lhe.

As minhas saudações académicas e bloguísticas, Luís Graça

3. Comentário de L.G.:

Agora não restam dúvidas... O nosso camarada José Madeira da Silva e o Prof Doutor José Madeira da Silva são a mesma pessoa... Ainda não falei com ele ao telefone, mas vou continuar a tentar ligar-lhe. Apessar dos nossos afazeres profissonais, teremos seguramente oportunidade de estar juntos um dia destes. Até lá gostaria de localizar gente que tenha estado em Bula e no Pelundo, na mesma altura (1973/74) ou que tenha conhecido o nosso Alf Mil Médico José Madeira da Silva, anestesista, no HM 241, em Bissau, em 1974. (Mas também eventualmente em Nova Lamego).

Gostava que este nosso camarada se juntasse a nós, neste blogue, e partilhasse connosco memórias, em suporte escrito e fotográfico... A série Os Nossos Médicos ainda  está no início e não tem sido fácil localizar os oficiais médicos que "circulavam" pelas nossas unidades e subunidades... Muitas vezes não chegavam a criar raízes. Houve batalhões que conheceram vários médicos. Não havia só falta,no TO da Guiné, de oficiais do quadro...  Faltavam também médicos militares, cada mais assoberbados com a assistência às populações civis, no âmbito do programa de Spínola da Guiné Melhor. Qualquer ajuda, para identificar e localizar médicos que tenham estado na Guiné durante a guerra colonial,  será bem vinda...

Dos camaradas que pertenceram a este batalhão, tenho o registo do António Faneco, que foi 1º Cabo da 1ª CART / BART 6251 (tendo passado pelo três meses Pelundo, antes de ser  recambiado para o Cantanhez, donde regressou, ao Pelundo, em Setembro de 1973). Conhecido como o Massamá, vive hoje no Montijo. Lembra-se do Dr. Paradela de Oliveira, que deve ter antecedido o Dr. José Madeira da Silva. A companhia reune-se anualmente em Mira, a maior parte do pessoal era do Norte... Já chegou a haver convívios a nível de batalhão, mas actualmente não... (Informações dadas ao telefone pelo António Faneco) (****).

Esta subunidade, a 1ª companhia,  foi mobilizada pelo RAL 5. Esteve no Pelundo, Cadique, Jemberém e Pelundo. Partiu em para a Guiné em 23/9/1972 e regressou em 27/8/1974. Comandante: Cap Mil Cav Casimiro Gomes. Alguém tem mais elementos informativos sobre este Batalhão e esta companhia ? Ou sobre o nosso Alf Mil Médico ?


[ Revisão / fixação de texto / título / bold: L.G.]
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2009  > Guiné 63/74 - P5414: Os nossos camaradas guineenses (19): Camaradas do Pelundo lêem o Diário da Guiné de Graça de Abreu (António Alberto Alves)

(**) Mensagem de 22/7/2009:

(...) "Fui Alferes Miliciano Médico e estive na Guiné em 1973 e 1974 (fechei a guerra em Outubro de 1974).


"Quando voltei, nunca mais quis ouvir falar da Guiné mas o passar do tempo faz-me recordar com saudade alguns camaradas. Simplesmente, a minha atitude inicial de rejeição fez-me esquecer quase tudo e nem sequer me lembro ao certo dos batalhões onde estive colocado.


"(...)  Como médico estive em dois batalhões, antes de ser aproveitado do Teatro de Operações para o Hospital Militar de Bissau (como anestesista), embora, mesmo já colocado em Bissau, tenha acompanhado algumas operações no terreno integrando uma equipa cirúrgica (Nova Lamego e outros lugares com nomes de que já não me lembro)...

"Onde deixei realmente amigos foi nos Batalhões, em Bula (Cavalaria?) e no Pelundo ( BART ?)(***). Seria possível enviar-me os números desses batalhões? Talvez assim conseguisse contactar alguém." (...)

(***)  As minhas pistas levam-me às seguintes unidades:

Esquadrão de Reconhecimento (EREC) 8740/72 (Bula e Bissau, 3/4/1973 - 8/9/1974:

BART 6521/72 (Pelundo, 22/9/1972 - 27/8/1974)
 
 
(****) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5607: Memória dos lugares (66): Iemberém, sede do Parque Nacional do Cantanhez, outrora campo de batalha (Luís Graça / António Faneco)


(...) O António Faneco (de alcunha, na tropa, o Massamá), que agora nos visita (e com quem já falei pelo telefone, tendo aceite o meu convite para se juntar à nossa Tabanca Grande) vem confirmar, na qualidade de ex-1.º Cabo da 1.ª CART/BART 6521/72, que a esta companhia, vinda do Pelundo, foi destacada para reforçar a reocupação do Cantanhez, chegando a "Cadique no dia 20 de Abril de 1973 pelas 8 horas da manhã e (...) a Jemberém pelas 12 horas, sensivelmente", local onde montou a tenda (não havia qualquer povoação) e ali "permanecemos até dia 9 de Setembro de 1973, altura em que regressámos ao Pelundo", depois de terem apanhado muita porrada e sofrido dois mortos em combate (segundo me disse ao telefone o António Faneco). (...)
 
Vd. também 7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5605: O Nosso Livro de Visitas (78): António Faneco, ex-1.º Cabo da 1.ª CART/BART 6521/72 (1972/74)

2 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro camarada (de Guiné) e colega (de Universidade):

Eis uma boa questão! Quem, de facto, se interessa hoje pela 'nossa Guiné' (vamos pôr a expressão entre aspas, para prevenir eventuais acusações de neocolonialismo, de saudosismo, de paternalismo, etc.) ?

Há desencanto na pergunta (que é ao mesmo uma propósição, uma constatação)...

Alguns de nós, à volta deste blogue - e já somos umas centenas, sobretudo antigos combatentes - interessam-se, ou voltaram a interessar-se pela Guiné e pelo seu povo...

Há ainda emoções à flor da pele, quando se volta lá, à Guiné, hoje, Guiné-Bisssau; ou quando antigos combatentes - até de um lado e do outro! - se juntam e começam a contar as suas histórias...

Há lágrimas, nos olhos, de alguns 'tugas' quando revêem velhas fotos que temos salvo do limbo e do lixo, publicando-as no blogue...

Há muitas histórias - de coragem, de solidariedade, de humor, de imaginação, de amizade, de camaradagem, de inteligência... - que temos publicado no blogue (e até em livro).

Há manifestações de interesse, curiosidade e até afecto pela Guiné-Bissau e pela sua história recente, incuindo a guerra colonial, por parte dos nossos jovens, nomeadamente no ensino secundário (de vez em quando pedem-nos apoio, alunos e professores do secundário, e até nos fazem convites para participar em actividades no âmbito da disciplina de Área de Projecto)...

Temos jovens profissionais de saúde (incluindo médicos) a (re)descobrir a Guiné-Bissau e as suas necessidades em matéria de desenvolvimento humano, económico e social...

Temos jornalistas, autores, editores... Há debates, colóquios, encontros... Há alguma investigação historiográfica em curso...

Há organizações não-governamentais para o desenvolvimento que estão a redescobrir a "guerra colonial / luta de libertação" e a contribuir para que a sua memória, na Guiné-Bissau, não se perca... Interrogam-se: pode um povo viver sem meória ?

Deprimente ? Serôdio ? Irracional ? Inútil ? Confrangedor ? Dissolvente ? Reaccionário ? Provocador ? Valerá a pena regressar ao passado ? Não seria melhor juntar o lixo todo e deitar-lhe fogo ?

Meu caro Madeira da Silva, às vezes também eu tenho as minhas dúvidas... O que é normal, não sou uma homem de fé.

Mas acho que ainda vale a pena o nosso pequeno esforço de preservar e divulgar as memórias de uma geração que fez uma guerra (tanto os de um lado como os do outro), se soubermos dar um sentido (de futuro) ao que estamos a fazer... Sobretudo se soubermos passar, aos nossos filhos e netos, uma mensagem de paz, de amizade, de camaradagem, de liberdade, de solidariedade e de respeito pelo outro (sobretudo quando ele não pensa como eu)...

Um Alfa Bravo (abraço) do camarada Luís Graça

Anónimo disse...

Não tenho dúvidas que este blog da Guiné serve de terapia para quem já é reformado ou para lá caminha.

Com a idade, (eu,71 anos) exceptuando os almoços anuais da incorporação militar, ou da área profissional, já poucos amigos se encontram.

Recordar é viver.

Sem dúvida que pode ser um processo de evitar traumas de guerra e outros, acompanhar blogues como este do Luis Graça.

Antº Rosinha