quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5715: Histórias de José Marques Ferreira (15): As indecências necessárias



1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos com data de 22 de Janeiro de 2010, a seguinte mensagem:


Camaradas,

Quero contar-vos esta estória pouco engraçada. Todos os que estão na fotografia são do Norte do país, 2 condutores, 2 mecânicos e 1 escriturário (era do Porto e estava de enxada na mão a tentar construir uma piscina ali, em Bula).


As indecências necessárias

Hoje estou para estas coisas. Não porque me apeteça, mas apenas para manifestar alguma revolta e indignação, passados tantos anos, por aquilo que vivemos, sofremos, sacrificamos, para dar naquilo que todos adivinhavam e alguns sempre souberam: EM NADA!

Melhor, iria dar naquilo que era lógico e que pouco tempo antes, nos anos anteriores a 1960, as outras nações já tinham iniciado. Os processos de autodeterminação das suas colónias, com o império inglês a marcar o passo na vanguarda.

E tudo isto apenas por causa desta fotografia.

Fui eu que a tirei. È um dos testemunhos evidentes do que se passava, com o pessoal militar na generalidade dos aquartelamentos, fora da zona da cidade de Bissau. Quero que fique aqui à disposição e visibilidade de todos os internautas, para confirmar, inequivocamente, que as condições de vida eram estas na Guiné, a que podem juntar muitas outras imagens, de muitas outras privações, que aqui estão colocadas ao longo deste blogue.

E isto não foi uma das piores situações que enfrentamos, para nos queixarmos em demasia, pois muitos outros Camaradas nossos, sobreviveram como autênticos animais, encafuados em abrigos e covis escavados no chão.

É isso mesmo. Na foto vê-se um grupo de camaradas meus conhecidos, que nunca mais encontrei até ao dia de hoje, e que se os avistar agora dificilmente reconhecerei, pois devem estar todos um pouco mais gordinhos de certeza.

O grupo está a tomar o seu banhinho em conjunto (pois fazia parte da sua própria segurança), numa espécie de ribeira ou nascente, ali mesmo próximo de Bula, local este para onde nos deslocávamos a pé, portanto não era longe.

Nesta altura já tínhamos saído de Ingoré.

E era assim... como todos nós neste blogue sabemos, dentro do aquartelamento até poderia existir algumas condições de higiene, mas não me lembro.

Lembro-me que ali sim, era mais cómodo, limpo e a água era melhor... para a pele também (?).

Pronto, aqui fica mais uma amostra (em foto), de uma das facetas pouco divulgadas, da nossa vida da Guiné!

Um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

24 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5699: Estórias avulsas (70): As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho)


1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Camarada

Daquilo que passei e vi nos Quarteis onde estive, na Guiné, passo o meu testemunho, que eram essas as condições de que dispunhamos. Lavarmo-nos à chuva, em regatos ou canais, ou dentro de bidons de água aparada da chuva. Quem esteve nos quarteis das cidades, embora não dispusesse de "ar condicionado", sempre tinha condições de higiene.

R.P