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sexta-feira, 21 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26602: Blogpoesia (803): No Dia Mundial da Poesia: "A Noite Mundial da Poesia", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


A NOITE MUNDIAL DA POESIA

Voa no céu o som de um violino
chorando um poema perdido
não se sabe onde nem quando
se na claridade dos poetas mortos
se nas sombras da vida errando.
O dilema entre o silêncio e a palavra
nasce da lógica discursiva
que cabe no ridículo do poema
quando o poeta tudo vê e nada sabe.
Há um dilema entre o silêncio e a palavra
quando em teatral mensagem de poema
o poeta sonha e delira
ao enganar a poesia
nos buracos negros da mentira.
Morre a razão
nas palavras perdidas na aridez do verso
e foge a poesia da rima e dos espaços
quando do poema corre o sangue
de um mundo feito em pedaços.
Reside a poesia no silêncio de quem um dia
espera ouvir a sua voz
com ouvidos que a mereçam
mas neste tempo de ruídos e ruínas
só mudos ecos chegam até nós.
A poesia tem olhos de céu infindo
olhos de distância e de mil fontes
na planura de mil campos e horizontes.
Mais rente ao chão
voa a poesia ao redor do sentimento
como borboleta em jardim disperso
poisando na flor apetecida
onde canta a beleza de um verso.
No mundo de hoje
sem alma nem sentimento
amordaçado de mil gritos levados pelo vento
debate-se a verdade e a mentira
entre o rosto e a máscara do poema
sobrando nas entrelinhas da secura
sem dor no coração
os restos mortais
de milhões de crianças caídas no chão.
No mundo de hoje
não pode haver poetas vivos
alheados de hipócritas metáforas
estendidas sobre a mesa da vaidade
ou penduradas nos olhos da cidade.
No mundo de hoje
não pode haver poetas de almas caladas
adormecidas na noite mundial da ilusão
dando apenas ares de acordadas
quando sonham poesia nos avessos da razão.


adão cruz
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Nota do editor

Último post da série de 15 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26269: Blogpoesia (802): "O sonhador é um fazedor de carências", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

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