Titina Silá (1937-1973)
Domingos Ramos (1935-1966)
Pansa Na Isna (1938-1970)
Osvaldo Veira (1938-1974) | Rui Demba Djassi (1938-1964 )
'Nino' Vieira (1939-2009).
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
A velha Amura dos tugas...
por Luís Graça
A velha Amura dos tugas,
agora cercada de guinéus
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
foi rampa de lançamento de lançados
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
foi rampa de lançamento de lançados
e de vozes suplicantes
que nunca chegaram aos céus.
Dizem que aqui nasceu a Bissau colonial,
Dizem que aqui nasceu a Bissau colonial,
já republicana,
de linhas tortas, as ruas direitas da capital.
Saúda os ilhéus, e os grumetes,
figuras de museu de cera, de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
de linhas tortas, as ruas direitas da capital.
Saúda os ilhéus, e os grumetes,
figuras de museu de cera, de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
o bigode farfalhudo,
espadeirando a torto e a eito,
espadeirando a torto e a eito,
de peito feito ao fogo do canhangulo.
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
empunhando os seus mosquetes:
eram uma ternura,
em linha, em formatura,
nas suas fardas multicolores, coloniais,
em linha, em formatura,
nas suas fardas multicolores, coloniais,
do tempo dos Cabrais.
Davam vivas à Pátria e à Rainha,
aqui e em toda a parte
Eram onze os soldadinhos,
E mais à frente,
Bissau, Simpósio Internacional de Guileje, 7/3/2008.
Davam vivas à Pátria e à Rainha,
aqui e em toda a parte
onde o Império tinha mais feitiço, engenho e arte.
Ah!, a velha Amura dos tugas,
Ah!, a velha Amura dos tugas,
agora inútil baluarte,
com os seus canhões de bronze, incandescente...
Casamata, prisão, paiol, dormitório,
com os seus canhões de bronze, incandescente...
Casamata, prisão, paiol, dormitório,
e por fim panteão nacional,
coberta de poilões debruados a branco
coberta de poilões debruados a branco
e onde pousavam os pachorrentos jagudis.
Eram onze os soldadinhos,
como no jogo de matraquilhos.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contavam-se pelos dedos da mão.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contavam-se pelos dedos da mão.
E os irregulares do Abdul Injai,
que eram pagos com o soldo do terror e do saque ?
Esses não entram no jogo da honra e da glória.
E quanto a ti, querida Titina,
E quanto a ti, querida Titina,
que incendiavas paixões pelo Óio ?
Que fazes tu aqui,
Que fazes tu aqui,
jazida entre os poilões da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
Cuidado, Silá,
que os fuzileiros tugas montaram-te cilada
na cambança do Rio Farim.
na cambança do Rio Farim.
Vens às exéquias do pai da Pátria em Conacri,
a terra de todas as traições.
Tu, sim, gritaste bem alto o teu horror
à demência dos cabra-matchus em Cassacá.
E mais à frente,
tu, Domingos, tu, valente Ramos,
herói de banda desenhada,
herói de banda desenhada,
nos livros de leitura da segunda classe,
que irás morrer de morte matada,
que irás morrer de morte matada,
em Madina do Boé.
E o Cabral a ver tudo de binóculos,
lá sua colina de estimação.
Irá chorar por ti
o teu irmão branco e inimigo na guerra,
o comando Mário Roseira Dias.
E tu, Rui, e tu Demba, e tu Djassi,
E tu, Rui, e tu Demba, e tu Djassi,
aprendiz de boticário e de feiticeiro,
de quem ninguém sabe nada, do teu paradeiro,
a não ser que morreste em 1964,
de quem ninguém sabe nada, do teu paradeiro,
a não ser que morreste em 1964,
ainda a revolução era uma criança,
depois do tenebroso Congresso de Cassacá ?!
depois do tenebroso Congresso de Cassacá ?!
Em 2008 ainda tinhas nome de rua,
Rua Djassi, suja e esburacada, na capital da tua terra,
ao pé do estádio Lino Correia,
ao pé do estádio Lino Correia,
outrora Sarmento Rodrigues,
transmontano de Freixo Espada à Cinta...
transmontano de Freixo Espada à Cinta...
Morreste cedo demais para mostrar o que valias.
Tu e o Correia e tantos mais.
E tu, camponês, balanta, Pansau Na Isna,
herói da ilha do Como,
E tu, camponês, balanta, Pansau Na Isna,
herói da ilha do Como,
guerrilheiro-cóboi,
enfrentando as naves loucas dos tugas,
com a tua Kalash de contrafacção, made in China?!
E sobretudo tu, Amílcar, que já te mataram, Cabral ?
enfrentando as naves loucas dos tugas,
com a tua Kalash de contrafacção, made in China?!
E sobretudo tu, Amílcar, que já te mataram, Cabral ?
Qual vai ser o teu lugar no Olimpo dos Combatentes ?
E de que traições podias falar, se fosses vivo,
tu, primo Vieira, que eras Osvaldo ?
Na Amura fez-se história, diz o guia,
Mas quem a escreve hoje é herói,
Mas quem a escreve hoje é herói,
amanhã pode ser vilão.
Cuidado, João,
Cuidado, João,
cuidado, Bernardo,
cuidado, Vieira.
Há quem te espere, 'Nino', no Panteão Nacional.
© Luís Graça (2008)
Bissau, Simpósio Internacional de Guileje, 7/3/2008.
Revisto em 19/3/2025
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Nota do editor:
Ultimo poste da série > 19 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26597: Manuscrito(s) (Luís Graça) (267): No dia do pai... Aos nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas... a quem nunca tratámos por tu
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