Fotogramas do filme de San Payo (1936), O I Cruzeiroo de Férias às Colónias do Ocidente.
Os dois primeiros (minuto 35) mostram a praxe na passagem pelo Equador. A "cerimónia" é presidida pelo então popularíssimo ator do teatro de revista, Estêváo Amarante (Lisboa, 1894 - Porto, 1951). No último fotograma mostra-se o grupo musicaçl do Mindeloque animou o baile oferecido aos "excursionistas" no Liceu Infante Dom Henrique.
Cortesia de Cinemateca Digital, documentário "I Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente", realizado em 1936 por San Payo. Disponível aqui (*)
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=1378&type=Video1. Ainda a propósito do I Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (de 10 de agosto da 4 de outubro de 1935), e do documentário, de longa metragem (c. 1 hora e meia), que foi feito por encomenda do Secretariado Nacional de Propaganda (**)...
Já aqui o dissemos: o navio a vapor "Moçambique", da CNN, levava a bordo uma exposição de produtos de empresas portuguesas. Isso foi uma fonte de receita, adicional, a par de outra formas de publicidade paga. Uma terceira fonte de receita foram as inscrições dos excursionistas (cerca de 200, dos quais 7 dezenas de estudantesm sendo o resto familiares, professores, funcionários públicos, civis e militares, etc.)
A viagem contou ainda com um subsídio governamental de 150 contos.
Acrescente-se que o filme (**) acabou por ser uma deceção, não chegando a passar nas salas de cinema: ao que parece, o filme da viagem terá sido projectado apenas uma vez, no S. Luiz, em Lisboa, a 29 de junho de 1936, e apenas para os participantes do cruzeiro. A realização foi entregue a um fotógrafo, de talento, mas próximo, política e ideologicamente, do regime do Estado Novo. O San Payo não era propriamente um grande cineasta. Era sobretudo um bom retratista.
De qualquer modo, o leitor hoje tem curiosidade em saber mais alguns pormenores sobre o Cruzeiro, tais como o número e o tipo de passageiros (Quadro I) bem como o prcçário, por classes (Quadrto II):
Quadro I— Passageiros oficialmente inscritos no I Cruzeiro de Férias às Colónias, por categoriaqs (entrre parènteses o número de mulheres)
- Estudantes = 69 (6)
- Professores = 19 (2)
- Família / Convidados = 93 (31)
Total = 181
Fonte: Roteiro do I Cruzeiro de Férias às Colónias de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, iniciativa do ‘Mundo Português’ , 1935, Biblioteca Fernando Pessoa, pp. 26-31. (cit por Sílvia Espírito-Santo (2019: 109).
As mulheres (tiranda as da classe alta) ainda viajavam pouco em 1935: neste cruzeiro representam apenas 21,5% do total de 181 passageiros.
O número total de passageiros rondaria os 200, segundo o filme de San Payo (1936). Entre eles, incluia-se o popular ator do teatro de revista, Estêváo Amarante (Lisboa, 1894 - Porto, 1951).
Quanto ao preço dos bilhetes... Bom, havia 3 classes, como era normal na época. Os nossos emigrantes viajavam em 3ª classe.
Quanto ao preço dos bilhetes... Bom, havia 3 classes, como era normal na época. Os nossos emigrantes viajavam em 3ª classe.
Quadro I I— Tabela de Preços para o I Cruzeiro de Férias às Colónias por Classes (Alunos e professores; Família de alunos e de professores)
Classes: Alunos e professores / Valor
- 1.ª > 3.000$
- 2.ª > 2.500$
- 3.ª > 2.000$
- 1ª > 3.500$
- 1ª > 3.000$
- 3ª > 2.500$
Fonte: A. Cunha, «Os cruzeiros de Férias às colónias», in Mundo Português, vol.1, 1934, p. 306, c (cit por Sílvia Espírito-Santo (2019: 105).
Segundo o organizador,Augusto Cunha, o preço do bilhete não reflectia os preços de mercado dado que o Cruzeiro beneficiava de facilidades concedidas pela Companhia Nacional de Navegação e pelo Caminho de Ferro de Benguela, além do subsídio estatal.
2. O que se comprava, em Lisboa, em 1935 com 150 mil escudos portugueses (1 milhão de euros a preços de hoje) ? Qual era o salário médio, na função pública ?
Com a ajuda da assistente de IA /ChatGPT, apurámos que era um "pipa de massa"...Se não, vejamos:
(i) O poder de compra de 150 contos em 1935 (1 conto= 1000 escudos)
Com base em estudos do INE, Banco de Portugal e cálculos de historiadores económicos (como Jaime Reis, Pedro Lains, Nuno Valério), 150 mil escudos em 1935 equivaleriam grosso modo a cerca de 1 milhão de euros de 2025 ( um valor coerente com o índice de preços ao consumidor e a evolução dos salários reais)
(ii) O que se podia comprar em 1935 com este dinheiro
Conclusão: om om 150 000 $00, uma família podia: (i) comprar uma casa confortável em Lisboa
e mobilá-la, (ii) comprar um automóvel e (iii) ainda ficar com capital investido,,, Era um valor
de elite, correspondente ao rendimento de um médico abastado, industrial ou proprietário rural.
(iii) Salários na função pública (Lisboa, 1935)
Conclusãoo: 150 000 $00 correspondiam a 5 a 10 anos de salário de um diretor-geral,ou 20 a 30 anos de salário de um funcionário médio; 50 anos do "salário mínimo" (figura jurídico-económica que ainda não0 existia)
(iv) Síntese comparativa (entre 1935 e 2025) (1$00=6,666 euros, em termos de poder de compra)
- Salário médio anual na função pública > c. 6 contos = c. 40 mil euros | Idêntico ao rendimento de um indivíduo da classe média atual (em Portugal)M
- 150 contos = c. 1 milhão de euros | Fortuna pessoal.
- 20 mil euros (1ª classe);
- 16,7 mil euros (2ª classe);
- 13, mil euros (3ª classe).
Convenhamos, terá sido um cruzeiro só para meninos ricos ou de classe média-alta (como o Ruy Cinatti, por exemplo). Até porque os filhos do povo náo frequentavam, nessa época, o liceu.
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Fonte consultada:
Sílvia Espírito-Santo: O 1.º Cruzeiro de Estudantes às Colónias (1935): 'Uma Excursáo Onde Havia de Tudo'. In: Castro, Maria João, coord. Empire and Tourism: An Anthology of Essays. 1.ª ed., Lisboa, abril 2019. Universidade Nova de Lisboa, pp. 103-112. https://run.unl.pt/bitstream/10362/61873/1/Impe_rio_e_Turismo_MIOLO.pdf
(Pesquisa: LG + Assistente de IA / ChatGPT)
(Revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)
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Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 4 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27386: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte III: um documentário de hora e meia, que diz muito (até pelo que omite) sobre o que era o "ultramar português" há 90 anos
(**) Último poste da série : 6 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27391: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte IV: impressões de viagem do Ruy Cinatti: Mindelo e Bolama
(Pesquisa: LG + Assistente de IA / ChatGPT)
(Revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)
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Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 4 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27386: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte III: um documentário de hora e meia, que diz muito (até pelo que omite) sobre o que era o "ultramar português" há 90 anos
(**) Último poste da série : 6 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27391: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte IV: impressões de viagem do Ruy Cinatti: Mindelo e Bolama





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