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Padre Bártolo Paiva Pereira, alferes graduado capelão, Cabinda, 1962 |
1. Só em 1966, com a criação da Diocese Castrense,passou a existir a figura jurídica do capelão militar (Decreto Lei nº 47 188, de 8 de setembro).
Este diploma que vem promulgar "a estruturação da assistência religiosa nas forças armadas": embora já revogado (em 1991), tem interesse para a história da capelania militar e da guerra colonial. Até então os capelães mobilizados para os 3 teatros de operações eram todos, teoricamente, voluntarios, como foi o caso do padre Bártolo.
No seu artigo 10º (de um total de 23), o Decreto-Lei no. 47 188 determinava a realização de um curso, a ser regulamentado por portaria conjunta do Ministro da Defesa Nacional e dos Ministros e Secretário de Estado de cada um dos departamentos das forças armadas. Diz o nº 1 do art. 10º
(...) "Após a incorporação, os sacerdotes frequentam um curso destinado a ministrar-lhes os necessários conhecimentos de natureza militar e pastoral." (...)
O nosso autor diz que o primeiro curso realizou-ase na Academia Militar, em Lisboa, logo em 1967. Foi frequentado por 58 sacerdotes, graduados no posto de aspirante miliciano (pág. 46). Entre eles, o nosso conhecido padre Mário de Oliveira, já falecido.
O nosso autor diz que o primeiro curso realizou-ase na Academia Militar, em Lisboa, logo em 1967. Foi frequentado por 58 sacerdotes, graduados no posto de aspirante miliciano (pág. 46). Entre eles, o nosso conhecido padre Mário de Oliveira, já falecido.
De 1967 a 2017, realizaram-se 43 cursos de capelães militares, frequentados por total de 877 sacerdotes (pág. 47).
O curso e a participação na guerra colonial ajudaram a "arrumar a casa".
Capa do último livro de Bártolo Paiva Pereira, padre da diocese de Braga, capelão militar, capelão-chefe do CTIG (1965/67); nascido em 1935, em Santo Tirso, foi ordenado sacerdote em 1959, em Braga; foi capelão militar desde 1961, em Angola, e serviu nas Forças Armadas durante 30 anos (um caso raro de dedicação á Pastoral Castrense; é hoje major do exército na situação de reforma; também exerceu o seu múnus espiritual no seio da diáspora portuguesa na Suíça; é autor de uma dezena de livros; vive em Vila do Conde, é vizinho e amigo do nosso camarada Virgílio Teixeira.
Esta última obra, que acaba de sair, é edição de autor (Vila do Conde, 2025, 120 pp.). A capa é de Joaquim António Salgado de Almeida. Depósito legal nº 548769/25. Não tem ISBN. Impressão: Gráfica São João, Fajozes, Vila do Conde.
O abandono do sacerdócio terá sido mais dramático com a guerra.
O autor diz que de 1967 a 1971, em nove cursos e num total de 305 capelães, houve um em cada très que pediu a redução ao estado laical.
Náo se percebe como é que o padre Bártolo calculou a taxa de 10% de abandono para o total de abandono, no período de 1967 a 2017.
Há aqui dois factores a considerar na análise deste fenómeno: (i) a realização do Concílio Vaticano II (que se reunuiu em 4 outonos,de 1962 a 1965); e (ii) a experiència da guerra colonial.
Valeria a pena ir mais longe na especulação sobre as razões (sociológicas, teológicas, éticas, etc.) que levaram à crise náo só do clero como as vocações sacerdotais, em Portugal, nos anos 60/70/80.
"Se a farda militar ajudou alguns sacerdotes a despirem a batina, (...) foi saudável" (pág. 49).
Por outro lado, há que reconhecer que apenas dois capelães foram "expulsos do Exército", por coincidència dois membros da Tabanca Grande, um deles o já supracitado Mário da Lixa (sic) e o Arsénio Puim. Falaremos destes dois caso em próximo poste.
Mas também morreram dois capelões durante os 13 anos de guerra: um em combate, o padre Lomba, da diocese de Braga, e o padre Manuel Cunha, em acidente de viação (pág. 53).
Surpreendente ou talvez nao, é a partilha de um pequeno segredo do padre Bártolo, na véspera de partir para a Guiné, em fevereiro de 1966. Teve ensejo de fazer uma visita inusitada e de conversar durante 20 minutos com o homem mais poderoso do país maquela época.
E mais, segundo nos confidencia: "Salazar era o único governante que se opunha à oficialização do Serviço de Assistência Religiosa às Forças Armadas.
"Já a guerra colonial ia a meio, quando foi criada a Diocese Castrense. Saiu o 'papel da gaveta' e o Serviço Religioso das Forças Armadas e de Segurança foi legalmente instituído" (pág. 49).
Porquê ? O autor não aprofunda as razões da má -vontade, reserva, se não mesmo "antipatia" e até "oposição" de Salazar á oficialização do serviço de assistência religiosa nas forças armadas, já há muito reclamado pelas chefias militares.
Acrescenta apenas que, apesar de uma pretensa amizade entre ele e o Cardeal Cerejeira, Salazar sempre terá cultivado, com a Igreja enquanto instituição, "uma cautelosa diplomacia" (pág. 50).
A história do "papel na gaveta" vem a seguir:
(pp. 50/51)
Quanto ao número de capelães mobilizados terão sido mais de mil:
- c. 500 para Angola;
- c. 400 para Moçambique;
- 113 para a Guiné.
(Continua) (**)
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Notas do editor LG:
7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27293: Notas de leitura (1848): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte IV: "Até 1966 eram todos voluntários" (Luís Graça)
(*) Vd. postes anteriores da série:
25 de setembro de 2025 > Giuiné 61/74 - P27254: Notas de leitura (1841): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte I: Apresentação sumária (Luís Graça)
2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27276: Notas de leitura (1845): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte III: "A minha Pátria é o Hélder" (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 7 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27397: Notas de leitura (1860): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (5) (Mário Beja Santos)






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