sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20651: (Ex)citações (363); em dia de namorados, qual é a morna mais romântica de todos os tempos ? Segundo o "Expresso das Ilhas", é "A Força de Cretceu", a força do amor, poema do grande poeta da Brava, Eugénio Tavares, que nasceu (1867) e morreu (1930) em Nova Sintra



Cabo Verde > Ilha da Brava > 6 de novembro de 2012 >  Estátua do grande poeta Eugénio Tavares (1867-1930)...   


["Brava é uma ilha e concelho do Sotavento de Cabo Verde. A sua maior povoação é a vila de Nova Sintra. O único concelho da ilha tem cerca de sete mil habitantes. Com 67 km², Brava é a menor das ilhas habitadas de Cabo Verde, e tem uma densidade populacional de 101,49/km². A ilha tem uma escola, um liceu, uma igreja e uma praça, a Praça Eugénio Tavares". Fonte: Wikipédia]


Foto (e legenda): © João Graça (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O "Expresso das Ilhas", na sua edição "on line", de hoje, dia dos namorados, fez um a pequena inquirição junto de um conjunto de personalidades cabo-verdianas do mundo da música e da literatura, sobre a morna mais romântica de todos os tempos...

(...) "Morna, música rainha de Cabo Verde e Património Imaterial da Humanidade, é a expressão musical da alma um povo. E é uma expressão, por natureza, romântica. Mas dentro de toda a variedade de mornas, há composições que se salientam, pela ode que fazem ao Amor e aos amores.

"Para marcar este dia de São Valentim, inquirimos algumas pessoas directa ou indirectamente ligadas à música e poesia: Qual é a morna mais romântica de sempre?

"Com tantas e tantas composições de excelência e referência que Morna gravou ao longo do tempo, a resposta não é muito fácil. Mas há algum consenso e um Top 3" (...)


(...) "Força di Cretcheu" de Eugénio Tavares é, indiscutivelmente, a morna rainha entre as mornas românticas.

"Foi a escolha de músicos, cantores e compositores como Betú, Teté Alhinho, Tibau, Alberto Koenig, Tó Tavares, e também do antropólogo, especialista em Eugénio Tavares, Manuel Brito-Semedo.

"Seis, em oito entrevistados, colocaram-na no top das mornas românticas." (...)


2. Já quanto às interpretações, o consenso é menor, as opiniões dividindo-se entre Sãozinha Fonseca, Celina Pereira e Gardénia (, esta última, nascida na ilha da Brava tal como o poeta, está a viver nos Estados Unidos)... 

Diz Tibau: “Apesar de não ser fácil a escolha de uma versão mais bonita, escolho a na voz da Gardénia Benros, arranjos do grande Paulino Vieira."

No You Tube, há um vídeo onde se pode escutar escutar esta grande artista cabo-verdiana, interpretando "A Força de Cretceu".


A letra, fomos recuperá-la aqui, no portal da Fundação Eugénio Tavares, e reproduzimo-la, com a devida vénia... [a Fundação Eugénio Tavares tem sede em Sintra, Portugal]. 


Julgamos que não é preciso tradução para português, não obstante o fraco traquejo do crioulo cabo-verdiano... por parte da generalidade dos nossos leitores.


A Força de Cretcheu

Ca tem nada na es bida
Mas grande que amor
Se Deus ca tem medida
Amor inda é maior.
Maior que mar, que céu
Mas, entre tudo cretcheu
De meu inda é maior

Cretcheu más sabe,
É quel que é di meu
Ele é que é tchabe
Que abrim nha céu.
Cretcheu más sabe
É quel qui crem
Ai sim perdel
Morte dja bem

Ó força de cretcheu,
Que abrim nha asa em flôr
Dixam bá alcança céu
Pa'n bá odja Nôs Senhor
Pa'n bá pedil semente
De amor cuma ês di meu
Pa'n bem dá tudo djente
Pa tudo bá conché céu

Eugénio Tavares



[Fonte: EugenioTavares.org. Reproduzido com a devida vénia...]


3. Mas há aqui uma tradução, para português, de Grace Roças ( a quem agradecemos a ajudinha...). Eu arrisquei fazer pequenas 'melhorias', a pensar nos leitores portugueses...

A Força do Amor

Não tem nada nesta vida
maior do que o amor.
Se Deus não tem medida,
o amor ainda é maior.
Maior que o mar e o céu.
Mas de entre todos os amores,
o meu ainda é maior.

Amor gostoso
é  aquele que é o meu,
ele é a chave 
que abre o meu céu.
Amor gostoso
é aquele que eu quero.
Ah, se eu o perder, 
Morrerei.

Ó força do amor 
abre a minha asa em flor,
deixa-me alcançar o céu
para eu ver o Nosso Senhor,
para eu pedir a semente 
do amor bem igual ao meu,
para eu dar a toda gente,
para todos conhecerem o céu.

 

5 comentários:

Anónimo disse...

Carlos Filipe Gonçalves
13 fev 2020 17:48

Olá Luís:


Que surpresa esta no dia dos namorados! Vejo que manténs ligações com este Cabo Verde de Morabeza e que fazes a leitura de notícias do dia dos jornais cabo-verdianos!

E, coincidência, ontem numa conversa com a Dr. Ondina Ferreira, veio à baila o teu nome, a propósito do Blog e da preparação da apresentação aqui na cidade da Praia, da obra do Miranda Lima sobre o Corpo Expedicionário Português. Bem, a obra já foi lançada em Mindelo… Bem, então a Ondina Ferreira, me falou que o pai do Luís Graça tinha sido um dos expedicionários, e foi assim que veio a conversa a propósito do Blog e do trabalho que ando a fazer sobre a Guiné, onde ela também esteve em 1974… Como se vê, este mundo é pequeno!

Aquele abraço e muita Saúde,



Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

Fernando Ribeiro disse...

Durante a minha/nossa infância, houve uma morna que era muito popular aqui em Portugal e que passava muitas vezes no rádio. O tempo passou, novas canções substituiram as antigas e a morna em questão deixou de se ouvir. Passaram-se décadas desde esse tempo. Nunca mais ouvi a referida morna. Fiquei apenas com uma vaga recordação dela. Só me lembrava de que falava do mar... Mas do mar quase todas as mornas falam!

Quando a Morna foi declarada Património da Humanidade, lembrei-me dessa morna velhinha dos tempos da minha infância, para partilhá-la no meu blog pessoal. Procurei na Net uma morna que falasse no mar. Entre várias outras, a Net deu-me "Mar Azul", pela incomparável Cesária Évora. Mas não era esta a morna da minha infância. Continuei a procurar e encontrei-a, finalmente. Era a morna "Mar Eterno", de Eugénio Tavares, numa excelente interpretação de Gardénia. Mas o que eu queria mesmo ouvir era a gravação do tempo da minha infância. Não encontrei esta gravação e partilhei no meu blog a versão de Gardénia.

Pois bem, encontrei agora a versão do "Mar Eterno" que eu ouvia nos meus tempos de menino. A versão velhinha é esta: https://www.youtube.com/watch?v=7rbYwPPQCMw. A história da origem desta morna e a sua letra estão na mesma página da Fundação Eugénio Tavares que contém a "Força de Cretcheu": https://www.eugeniotavares.org/docs/pt/obra/mornas.html.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, C.Caç. 3535, B.Caç. 3880, Angola 1972-74

Anónimo disse...

Lucinda Aranha
15 fev 2020 13:05


Uma boa escolha, embora eu prefira Lua nha Testemunha do B.Leza, mas aí já se trata de amores não correspondidos. Pars dia de S.Valentim reconheço que não dá a não ser para masoquistas

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Amor é fogo que arde sem se ver"... O soneto de Camões é um dos mais belos que conheço... Mais para ser dito do que cantado...

https://www.youtube.com/watch?v=Pt8hvqdtYqQ

Permitam-me recordá-lo aqui:


Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Fernando Ribeiro disse...

O Abade de Jazente, Paulino António Cabral de Vasconcelos, foi contemporâneo de Bocage e, apesar de ser padre, deixou alguns poemas "picantes" (tal como Bocage), pelos quais é mais conhecido. É verdade que o Abade de Jazente não foi tão bom poeta como Camões ou Bocage, mas mesmo assim deixou um belo soneto inspirado em "Amor é fogo que arde sem se ver" e que diz assim:

Amor é um arder que se não sente;
É ferida que dói, e não tem cura;
É febre, que no peito faz secura;
É mal, que as forças tira de repente.

É fogo, que consome ocultamente;
É dor, que mortifica a Criatura;
É ânsia, a mais cruel e a mais impura;
É frágoa, que devora o fogo ardente.

É um triste penar entre lamentos;
É um não acabar sempre penando;
É um andar metido em mil tormentos.

É suspiros lançar de quando em quando;
É quem me causa eternos sentimentos.
É quem me mata e vida me está dando.


Abade de Jazente (Amarante), Paulino António Cabral de Vasconcelos (1719-1789)