sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20648: Tabanca da Diáspora Lusófona (5): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte II


O nosso camarada João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... 




Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque 


por João Crisóstomo 


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)



Dada a impossibilidade de uma conversa abrangente e detalhada sobre Portugal, limito-me aqui a uma descrição muito breve e concisa, apontando o que considero mais relevante e interessante para se dar a cohecer.(*)

E, claro, não se esqueçam de que sou português: mesmo sem ter essa intenção, terei tendência a dar opiniões subjetivas e parciais. Como vocês bem sabem, uma moeda sempre tem duas faces.

Embora a criação e a fundação de Portugal sejam datadas dos séculos X e XI, sabemos que o 'Homo Sapiens Sapiens' deambulou  por aquela região ocidental da península ibérica há 35 a 40 mil anos atrás. 


Entre as evidências existentes, eu gostaria de chamar a atenção, não sem uma pontinha de vaidade,   para uma descoberta arqueológica ainda recente na qual eu também estive envolvido: em 1994, durante o processo de construção de uma barragem hidroelétrica, foram descobertas  gravuras rupestres ao longo do vale do rio Coa, no norte de Portugal. 


Isso foi assunto de um longo artigo no "New York Times". Ao perceber a importância dessas descobertas para Portugal e para o mundo, iniciei uma campanha nos EUA para salvar essas gravuras, uma campanha que imediatamente se espalhou pelo mundo inteiro. 


Após uma intensa e feroz campanha, a construção da barragem foi suspensa [, em 1994], por António Guterres, agora Secretário Geral da ONU, quando ele era então o Primeiro Ministro de Portugal.

Hoje, esse sítio, Foz Coa,  é a maior galeria artística 
do mundo, ao ar livre, da Idade da Pedra, um Patrimônio Mundial sob proteção da UNESCO[, desde 2 de Dezembro de 1998; em 10 de Agosto de 1996 é aberto oficialmente o Parque Arqueológico do Vale do Côa]





Vila Nova de Foz Coa > Museu do Côa > 3 de setembro de 2013 >  Conteúdos: reprodução de gravuras rupestres


Fotos (e legenda): © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Voltando à História de Portugal: No final do século X, a Península Ibérica  era formada alguns reinos, muçulmanos e cristãos. Portugal nasceu de um deles, o reino de Leão e Castela, quando seu rei decidiu criar e dar a um dos seus súbditos uma grande região na parte norte do seu reino. 


Tendo recebido esta região, o governante Afonso Henriques, primo de Bernardo, da família Borgonha, que governava uma grande parte da Europa e que queria criar um moderno estado cristão na Península Ibérica, decidiu-se pela independência completa do Condado Portucalense e assim  nasceu Reino de Portugal.

Para expandir o seu reino, Afonso Henriques, 
não podendo nem mem querendo expandir-se à custa de terras cristãs, decidiu invadir e conquistar as regiões ao sul, sob o domínio islâmico, o que fez, com a ajuda significativa dos Cruzados que vinham da Europa transpirinaica para libertar Jerusalém,  com um paragem, ao que parece propositada,  no novo reino cristão. 


Foi o que aconteceu com a conquista de Lisboa, uma cidade de 150 mil  habitantes, na época uma cidade grande em comparação com Paris, que tinha apenas 50 mil  e Londres com 30 mil.


Com a conquista do Algarve, a sul, Portugal obteve as fronteiras geográficas que manteve até hoje, tornando-se Portugal o país mais antigo da Europa, no que diz respeito às fronteiras permanentes. 


Para uma compreensão sumária, a história de Portugal pode ser dividida em quatro períodos: 


1 - De 1128 a 1580: Fundação, expansão e exploração, que também foi para Portugal a Idade de Ouro; 


2 - Nos 60 anos seguintes, de 1580 a 1640, que se tornaram a História da Idade das Trevas de Portugal, sob o domínio espanhol [, monarquia dual, dinastia filipina]; 


3 - 1640 a 1755: A libertação da Espanha e a retomada por Portugal de seu lugar no mundo como um país importante; 


4-1755 até hoje: A destruição de Portugal, especialmente Lisboa, pelo terrível terremoto de 1755; e logo depois o tumulto e a destruição adicional durante as invasões dos exércitos napoleónicos [1807-1811],  que causaram danos irreversíveis a Portugal até os dias de hoje, não mais  recuperando o páís a posição relevante que deteve no mundo no Séc. XVI.


Algumas palavras agora em cada um desses períodos da nossa história: A primeira e a mais importante: como a Europa era asfixiante, ameaçada pelas invasões dos mongóis, Portugal não tinha alternativa senão experimentar o mar em busca de sobrevivência e possível expansão. 


Os custos de mercadorias, como a seda, as especiarias e outros produtos vindos do Extremo Oriente por terra [, "pela rota da seda"], eram proibitivos e estavam disponíveis apenas para alguns. Os únicos que ganharam com essas atividades foram a cidades-estado de Génova, Veneza e outros na Itália. Enquanto essas cidades-estado controlavam o Mar Mediterrâneo, no Extremo Oriente, foi o Império Muçulmano Otomano, especialmente a Turquia, que controlou os mares da Índia, China e outras nações asiáticas e todas as suas atividades. 


Portugal primeiro tentou expandir-se para a África do Norte,  conquistando a cidade de Ceuta, em Marrocos; mas os sonhos portugueses de conquistar Marrocos foram interrompidos quando uma segunda invasão para conquistar Tânger se provou um desastre.


Para os portugueses, então, ir mais longe pelo mar para alcançar e explorar o sul do que era então conhecido na África e descobrir se havia outras terras habitadas era uma obrigação. Algumas pessoas esclarecidas, lideradas pelo infante Dom Henrique, o Navegador [, um dos filhos de Dom João I e da inglesa Filipa de Lencastre], decidiram fazer exatamente isso. 


Os seus esforços mostraram-se frutíferos: logo os portugueses, especialistas em pesca,  e que costumavam ir cada vez mais longe da costa (até ao mar do Norte e até porventura à Terra Nova, para a pesca do bacalhau, por exemplo), haviam inventado um novo sistema de navegação, usando um pequeno barco com três velas a que chamavam  caravelas; esse novo sistema de navegação permitia-lhes viajar em todas as condições, mesmo navegando contra o vento. E era manobrada, a caravela,  por um simples leme, dispensando remadores, tornando possível tomar provisões maiores por longos períodos no mar. Esse foi o grande salto. 


Essas caravelas e a melhoria do astrolábio pelos portugueses (, que passou a ser fabricado em metal em vez de madeira), possibilitaram viagens longas como as de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Cristovão Colombo e tantas outras. 


Para ser justo, é preciso ressaltar que nem tudo era 'ouro puro': foi no início da exploração europeia de África que a escravidão se intensificou  e os portugueses são geralmente apontados  como os primeiros europeus traficantes de escravos na África [, depois dos árabes e seus aliados norte-africanos e subsarianos, entre os séc. VIII e XIV].


(Continua)

________________


Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).


Outros livros que li e que “consultei" agora:


2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)


3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery


4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro


5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)


6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil


7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva


8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris


Jornais e revistas:


1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.


2. New York Times, Friday, June 29 2007


3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007


4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill


5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

____________

Notas do editor:


(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20642: Tabanca da Diáspora Lusófona (4): A história de mil anos de Portugal explicada num hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte I


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…


Given the impossibility of a comprehensive and detailed talk on Portugal, I limit myself to a very brief and concise description, pointing out what I consider more relevant and interesting to know.


And of course, do not forget that I am Portuguese: even without my meaning to do so, I am prone to give subjective and partial opinions. As you well known, a coin has always two faces.


Though the creation and foundation of Portugal is dated to the 10th and 11th centuries, we know that Homo Sapiens was roaming this region 35 to 40, 000 years ago. Among the existing evidence I like to point out, very selfishy I must admit, a still recent archaeological discovery on which I was involved: In 1994 , in the process of building a dam for electric energy, engravings were discovered in stones along the valley of the River Coa in Northern Portugal. 

This was the subject of a lengthy article in the New York Times. As I realized the importance of these findings for Portugal and the world I started a campaign in US to save these engravings, a campaign which immediately spread around the world. After an intense and fierce campaign the construction of the dam was stopped by Mr Antonio Guterres, now the Secretary General to the UN who was then the Prime Minister of Portugal. This site is today the largest stone age open air gallery in the world, a World Heritage under Unesco protection.

Going back to the History of Portugal:


At the end of the 10th century the Iberian Peninsula consisted of a few kingdoms, of Muslim and Christian faiths. Portugal was born of one of these, the kingdom of Leon and Castille, when its king decided to create and give to one of his subjects a large region in the northern part of his kingdom. Having received this region, the ruler, Afonso Henriques, cousin of Bernard of the Burgundy family who ruled then a large part of Europe and who wanted to create a modern Christian kingdom state in the Iberian Peninsula, decided for complete independence and the Kingdom of Portugal was born.


In order to expand his kingdom Afonso Henriques, unable and not willing to expand into Christian lands, decided to invade and conquer the regions south, under Islamic rule; this he was able to do, with significant help from crusaders of Europe en route to liberate Jerusalem and who seems purposely stopped in the new born kingdom.


So it happened with the conquest of Lisbon, a city of 150,000 people, at the time a big city in comparison to Paris which had only 50,000 and London 30,000.


With the conquering of Algarve in the south, Portugal obtained the geographical borders which he kept until today, making Portugal the oldest country in Europe, as long as permanent borders are concerned.

The history of Portugal for a simple understanding can be divided in four periods:

1--From 1128 to 1580: Foundation, expansion and exploration, which was also for Portugal its the Golden Age.


2— The following 60 years, 1580 to 1640, which became the Dark Ages of Portugal History, under Spanish rule.


3— 1640 to 1755: The liberation from Spain and the retaking by Portugal of his place in the world as an important country.


4- 1755 to today: The destruction of Portugal, specially Lisbon , by the terrible earthquake of 1755; and soon afterwards the rampage and further destruction during the invasions by the Napoleon forces, which caused Portugal to our days, never to be able to regain the relevant position in the world it held for so long.

A few words now on each of these periods of our history:


The first and the most important: As Europe was asphyxiating, threatened by the invasions by the mongols, Portugal had no alternative but to try the sea for survival and possible expansion. The costs of merchandise, such as silk, spices and other goods coming from the Far East by land were prohibitive and available to just a few. The only ones gaining from such activities were the city/states od Genoa, Venice and others in Italy. While these city/states controlled the Mediterranean Sea, in the Far East it was the Muslims/Ottoman Empire specially Turkey who controlled the seas of India, China, and other nations and all their activities.


Portugal first tried to expand into Africa by conquering the town of Ceuta in Morocco; but the Portuguese dreams of conquering Morocco were cut short when a second invasion to conquer Tangier proved a disaster.


For the Portuguese then, to go farther by sea to reach and explore the south of what was then known of Africa, and find out if there were other inhabited lands, was a must. A few enlightened people, led by Prince Henry the Navigator, one of the kings sons, decided to do exactly that. Their efforts proved to bear fruit: soon the Portuguese, experts in fishing and used to go farther and farther from the coast, had invented a new system to navigate, by use of a little boat with three sails which they called "caravelas"; this new system of navigation allowed them to travel in all conditions, even sailing against the wind. And it was maneuvered by a simple rudder, dispensing oarsmen, making it possible to take larger provisions for longer durations at sea. This was the great leap. These caravelas and the improvement to the astrolabe by the Portuguese, namely making them in metal instead of wood, made possible long trips such as the ones by Vasco da Gama, Fernão de Magalhaes, Cristovão Colombo and so many others.


For fairness a point must be made though as not all was pure gold: it was with the beginning of Africa exploration that slavery exploded and the Portuguese are usually credited with the first captures of slaves in Africa. (...)


(to be followed)

Sem comentários: