quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Guiné 63/74 – P20644: (De) Caras (146): Um pequeno texto, cuja essência teve o BLOGUE na sua concepção (António Matos)

1. O nosso camarada António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem.

É verdade!

Estou vivo!

Felizmente com saúde e vontade de viver não me falta!

Ora agora caminhando, mais logo dando largas à cavalaria automobilística, depois com uma sessão de manutenção tipo a do Prof. Marcelo, isto é, umas braçadas na piscina e uns exercícios de hidroginástica, passando por umas viagens de índole não só paisagística mas também gastronómica, a verdade é que ainda ando sem muletas ainda que nuns dias doam as costas, num outro os dedos que começaram a entortar com a artrose, a maldita hérnia também tem um sono muito leve e, quando menos espero, desperta e lá vêem uns dias de ai ais, e umas horas deitado no chão até que a coisa passa até à próxima ….

A sequência dos dias é na base das 24 horas que a Terra demora a dar uma volta completa onde se tenta que a rotina seja “toureada” e que as surpresas apareçam tal-qual ou seja, de surpresa…

Pois bem, hoje cortei com uma determinada rotina indo almoçar a um restaurantezinho que costumo frequentar com alguma regularidade.

Como não estava acompanhado, coube-me uma mesa chegada a uma outra de 4 lugares ocupados por um casal que poderiam ser os pais de um dos 2 outros elementos (casal) presentes.

Não tendo nada a ver com esta história e numa 3.ª mesa, estava uma outra família que até ao momento, me passaria despercebida não fosse a interjeição duma criança (5 anos?) que, ao serem postas as vitualhas entre cada duas pessoas, berrou a plenos pulmões: “batatiiiiiinhas !!!”…

Ri-me eu, riram-se os meus vizinhos de circunstância e tudo isso sem a mínima perturbação do faciem da referida criança.

O almoço continuou e eu devorei literalmente umas pescadinhas de rabo na boca, acompanhadas por um bem aceitável arroz de grelos.

Nisto, sou chamado à atenção do cavalheiro da mesa ao lado que, em surdina (vi-me à rasca para o ouvir pois estou surdo dum ouvido e o zururu de restaurante não me permite muito mais do que dizer que sim nas conversas…) me pergunta se conheço o sr António Garcia de Matos ….

Algo me dizia que aquela cara não me era 100% estranha mas a farta cabeleira que provavelmente existira no passado, estava reduzida aos laterais, deixando uma enorme pista de aterragem no centro, o que , de todo, me cortou as hipóteses de num exercício de fotomontagem, descortinasse minimamente, de quem se tratava.

Respondi-lhe que sim, que conhecia o tal Matos ficando agora a faltar apenas a sua identificação.

Fez render o peixe (da conversa, não as pescadinhas ) perguntando-me pela Guiné, por minas...

Perguntei-lhe se tinha sido do meu batalhão mas não, não tinha sido.

O local, o barulho, a falta de ouvido, etc. fez-nos dar um salto no tempo apressando o final não sem que me tivesse dito que o seu nome acabava em “inho”.

Ora porra! foi a estocada final na esperança de o identificar.

Finalmente disse-me que ele próprio tinha feito a tal operação de fotomontagem mental colocando-me um bigode (acabei de rapar as barbas há 8 dias …) e não teve dúvidas da minha identificação.

Tinha, de facto, estado na Guiné mas numa comissão anterior à minha. BOLAS!!!

Mas, o que lhe trouxe à memória a minha pessoa foi, vejam bem!, o blog do Luís Graça!!!

Pois é verdade, era o Branquinho, aquele que escrevia igualmente naquela altura em que eu participava activamente.

Fiquei satisfeitíssimo pelo facto de ele ter dado o passo do reencontro e saí com a certeza de querer transmitir aos antigos e actuais tabanqueiros esta história da vida cuja referência foi, exactamente, o blogue!

Um abraço a todos e um especial ao Luís Graça.
António Garcia de Matos
___________

Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em:

28 DE NOVEMBRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P20391: (De)Caras (118): A liberdade que as motos e as motorizadas nos davam... Ia-se de Bissau a Safim, Nhacra, Ensalma, João Landim... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAC 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro António, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!...

Vou mandar o "link" para o Alberto Branquinho... Folgo em saber dos dois. LG

Anónimo disse...



Entre Setembro de 1971 e Fevereiro de 1972, estive em Mansabá na Cart. 2732. Fui substituir o alferes Couto que sendo de minas e armadilhas, tinha morrido ao tentar desmontar uma mina do inimigo. Fui algumas vezes a Mansoa em coluna e por algum tempo confraternizei com alguns alferes, por sinal sempre simpáticos, no bar dos oficiais que tinha umas óptimas instalações. Durante muito tempo, não sei se por engano, pensei que em Mansoa estaria sediado um Batalhão de Cavalaria, ora tu camarada António Matos és de Infantaria e estavas lá nesse tempo. Provavelmente lá nos teremos cruzado, trocado algumas palavras e tenhamos até bedido uma cerveja juntos. Não me lembro de ti nem dos outros como vós também não vos iríeis lembrar dum gajo que poucas vezes vistes. Recordo somente e agradeço a boa camaradagem com que fui sempre recebido Obrigado!
Um abraço.
Francisco Baptista




Hélder Sousa disse...

Caros camaradas

Saúdo com satisfação esta "prova de vida" do AGMatos de que não tinha referências já há bastante tempo.
Como ele refere, homem de "minas e armadilhas" durante a guerra, de que li com interesse alguns dos seus escritos, homem do "kart" (até o esqueleto aguentar...) de que até o fui ver ao kartródomo de Palmela, homem das viagens de moto com relatos no "Face", de que segui alguns, e também homem dos bons petiscos e de gastronomia variada, também muitas vezes relatada.
Foi bom este impulso de relatar o seu inesperado encontro com o Branquinho, sendo certo (digo eu!) de que "não terão falado só deles nem dos seus umbigos"....

Pois é verdade. O Blogue tem servido para muita coisa, até para este tipo de "reconhecimentos". Quem diria que o Branquinho e o Matos se iriam cruzar assim e se esforçariam por terem referências! Claro que o Blogue ajudou!

Mas, já agora, se o inusitado da situação se apresentou assim ao Matos, digo que, para mim, não tem nada de estranho... O Branquinho tem a qualidade de estar ou aparecer onde menos se espera.
Já foi dado aqui no Blogue o relato de um "encontro a três", não programado, aqui em Setúbal, já faz uns bons pares se anos, quando recebi um telefonema do Zé Dinis (nesse tempo discutíamos menos...) a sugerir que eu passasse em determinado restaurante pois ele estava lá e, também inesperadamente, foi reconhecido por um outro comensal, precisamente o Branquinho. Claro que fui até lá e fizemos a festa, os três "guineenses" em alegre e franca confraternização, para espanto e/ou curiosidade de muitos dos presentes. Portanto, encontrar o Branquinho num local qualquer será "coisa recorrente".

Ressalto também que o escrito, a "prova de vida" do AGMatos, fez saltar recordações desse transmontano (a propósito, o Branquinho também é "daí", de Foz Côa, onde a minha mulher nasceu, embora ainda não conheça a terra....) que tão bem descreve a vida do Brunhoso, levando-o mais uma vez a revisitar tempos da Guiné.

Abraços

Hélder Sousa

António Matos disse...

FRANCISCO BAPTISTA, bom dia !
O facto de termos andado por perto um do outro lá por terras da Guiné, o certo é que as ocasiões não nos deram ( teriam dado ?) a oportunidade de nos conhecermos ...
Passados que estão 48 anos, como que por passo de mágica, eis que os neurónios resgataram memórias profundas, algumas das quais a ameaçarem ser calcinadas pela acção do tempo, ainda que bem vivas, mas condescendentes com as consequências mais ou menos gravosas que muitos de nós trouxeram como tatuagem psicológica.
Francisco, não tenho a mais leve recordação de quem foste mas agradeço-te o comentário que fizeste ao meu post.
Eu estive sediado em Bula, destacado para o reordenamento de Augusto Barros, depois mandaram-me plantar minas, posteriormente ainda fiz segurança à engenharia na construção da estrada Bula-Binar e, last but not least, fui (fomos) protogonistas da maior javardice militar que por aquela zona teve lugar : desmontar o campo de minas que, como se sabe e de acordo com as NEP´s da altura, não se fazia, passava-se !
Enfim, por entre camaradas que já partiram, uns, e ficaram "descalços" , outros, vamos resistindo ao tempo e aos tempos e é com muito gosto que te mando os parabéns pelo teu livro lançado em Agosto passado ( também não fazia ideia que eras um famoso escritor ).
Um abraço,
António Matos

HÉLDER SOUSA, bom dia !
Sinal dos tempos .....
Passaram as minas, vieram os filhos, mais tarde os netos, passou o karting, ficaram as motos e a simbiose que fazem com a gastronomia, apareceram as artroses, enfim, não me queixo .... Tenho de tudo um pouco .....
Foi bom ler-te as palavras !
Um grande abraço.
António Matos