quinta-feira, 9 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20836: (De)Caras (151): O soldado José Vieira Lauro, que se rendeu ao IN, em 10/10/1965, em Gamol, Fulacunda, mostrou que afinal havia uma saída, menos gloriosa, era verdade, mas mais esperançosa; de resto, não há guerra que não tenha um fim... (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário de Cherno Baldé,ao poste P20814 (*):

Esta triste acontecimento, do meu ponto de vista, mostra o efeito forte e que pode ser nefasto, do doutrinamento ideológico ou psicológico nos conflitos.

Muitos não concordarão, mas acho que o último soldado [, José Vieira Lauro], em desespero de causa e sem ter a coragem suicida dos colegas, mostrou que, afinal, havia uma saída, menos gloriosa é verdade, mas que permitia continuar a ter esperança, pois, como se costuma dizer, não há conflito/guerra que não termine em paz, assim como não há escravidão que não termine em liberdade.

Mas, isto sou eu a pensar e no ano não menos funesto de 2020.

Com um abraço amigo.
Cherno Baldé

2. Comentário do editor LG:
Capa da 2ª edição (2003),
"Rumo a Fulacunda"


Tinha lançado um desafio aos nossos leitores (*):

"Se fosse eu que estivesse no lugar do alf mil Vasco Cardoso, o militar mais graduado, o que é que eu faria ?"...

Recorde-se que, neste episódio (excerto do lirvo "Rumo a Fulacnda"), o seu autor, o nosso camarada Rui A. Ferreira reconstitui, com maestria e grande tensão narrativa, as trágicas circunstâncias em que o Alf Mil Vasco Cardoso, à frente de um pequeno grupo de homens, perseguidos durante três dias por um numeroso grupo IN, morreu, depois de ver morrer mais quatro homens ... O sexto elemento, o soldado José Vieira Lauro, rendeu-se e foi feito prisioneiro, levado para Conacri e mais tarde, já em 1968, libertado, sendo entregue à Cruz Vermelha do Senegal. Foi o único do grupo que restou, para nos contar esta, que é uma das mais trágicas histórias da guerra da Guiné.

Porventura sinal dos tempos que estamos a viver, cada um de nós confinado na sua "toca", ninguém dos nossos leitores ousou pôr-se na pele do alf mil Vasco Cardoso, que foi o último a morrer, em 10/10/1965, em Gamol, Fulacunda.

Comentário o Cherno, nosso amigo  e irmãozinho, que não foi combatente, mas conviveu, como "djubi" em Fajonquito com as NT... Respondi-lhe nestes termos (*)

(...) "Não posso estar mais de acordo contigo...Mas eu não queria antecipar-me a outros comentários, sobretudo daqueles que foram combatentes, como eu... Percebo o seu "pudor", e até mesmo o seu receio de "dar a cara", meio século depois, o seu receio de serem "julgados" pelos seus pares...

Que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam nestes tempos difíceis para todos nós, portugueses, guineenses e restante humanidade." (...)


Antes tinha avançado com o seguinte comentário (*)

(...) "É claramente uma daquelas situações-limite, de vida ou de morte, em que o ser humano é obrigado a fazer escolhas radicais: resistir, lutar, matar, morrer... ou render-se. Mas só em abstracto, podemos, 52 anos depois, pormo-nos na pele de um camarada que sabia que ia morrer...

Este trágico episódio dava um extraordinário "thriller" de ação, se houvesse um realizador de cinema português que tivesse "unhas" para agarrar esta e outras memórias da guerra colonial...

É pena que não haja... Lidamos mal com a memória: só agora, 100 anos depois, se começa a fazer alguma, tímida, investigação historiográfica sobre a "pneumónica" que em 1918/19 terá morto 2% da população portuguesa (que era de 6 milhões)" (...)

15 comentários:

Manuel Carvalho disse...

Boa noite Luís

Recebes-te o meu mail? É só para saber.

Agora quanto a este assunto o António o chamado morto vivo do Quirafo que foi apanhado à mão na emboscada do Quirafo em que morreram 7 ou 8 camaradas nossos ele dizia que se estava a fazer de morto e o fulano do IN que chegou junto dele a primeira coisa que fez foi apalpar o cano da G3 para ver se estava quente e portanto para ver se ele tinha disparado e se o tivesse feito ele dizia que achava que o matavam logo ali. Portanto nestas coisas não há teorias que funcionem sempre certo.Depois há algumas perguntas que não sabemos a resposta.Porque é que ficou o Lauro para o fim? Ele terá feito algum disparo ?
Eu julgo que o desfecho destas coisas dependem sempre muito da sorte e de quem nos aparece pela frente.
Um abraço

Manuel Carvalho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manel, obrigado pelo comentário!...Mão nos é fácil responder, porque nada disto é preto ou branco, sim ou não... Mas pode ser que o teu exemplo ajude a abrir as "comportas"... Sei que isto gera um caudal de emoções...

Quanto ao teu email, não me parece que tenha recebido...Reenvia para omeu mail:

luis.graca.prof@gmail.com

Um abração, Luís

Anónimo disse...

Eu vou responder

Às vezes pensava nisso ..se por mero acaso estivesse em vias de ser capturado,o que é que faria antes.
Devido à minha condição de artilheiro era um alvo a ser torturado, humilhado e provavelmente abatido.
Um dia em Dakar,durante a guerra civil de 1988, no regresso da Guiné como voluntário da AMI, encontrei-me por mero acaso com o Manuel dos Santos (Manecas),no hotel onde ele estava refugiado, e entre várias conversas veio à baila este assunto,ele dizia se isso acontecesse seria bem tratado (sic).
Na altura quando pensava nisso a minha decisão era o suicídio...porque não suportaria a humilhação, por mera COBARDIA.

Está dito
AB

C.Martins

Anónimo disse...

A propósito da conversa do C. Martins com o Manecas, remetamo-nos à página 75 de "O Nosso Livro - 2ª. Classe", "elaborado e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC" (impressão feita na Suécia, em 1970 - 1ª edição:
"...O professor também disse que o Domingos Ramos era alto, forte e muito corajoso. Ele gostava muito dos seus soldados e não gostava de maltratar os prisioneiros..."
Daqui se depreende que, da cúpula do Partido, as instruções seriam para tratar os prisioneiros de guerra no respeito pela pessoa humana. Mas, dum, como do outro lado, por aqueles matos adentro, quem é que poderia garantir tal tratamento?!... Ninguém, sem dúvida nenhuma. Agora, entre morrer e correr o risco... Era uma questão de escolha, pois claro.
Um abraço,
Mário Migueis

Anónimo disse...


Já agora - não deixa de ter piada, a referência -, deixem-me acrescentar que o livro a que aludo me foi oferecido no Saltinho, em 1971, pelo então capitão miliciano Rui Ferreira, autor de "Rumo a Fulacunda", que está na génese, afinal, da presente discussão.
Já neste blog referi, tempos atrás, que o capitão Rui, comandante da CCAÇ 18, estivera de visita ao Saltinho nessa altura. Vinha acompanhado pelo meu homólogo de Aldeia Formosa, o furriel mil. Quartim, que quis aproveitar a oportunidade para me dar um abraço. Durante o encontro, fui cumulado com a oferta de vários artigos (livros, lápis e cadernos "made in URSS", uma farda do PAIGC, etc.) que a CCAÇ 18 tinha capturado durante uma operação no, salvo erro, corredor de Guilége.
Mário Migueis

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nã0 sei se o José Vieira Lauro poderá (e quererá) esclarecer algumas das dúvidas que pairam nas nossas cabeças... Ele é a única testemunha destes trágicos acontecimentos... A versão, sucinta, do que se se passou ou terá passado, é do Rui A. Ferreira que, por razões de saúde, não más poderá acrescentar ao que já escreveu em 2000. Mas há, no nosso blogue, camaradas que com ele conviveram, ou ainda convivem... em Aldeia Formosa e/ou em Viseu... EStou-me a lembrar do Manuel dos Santos Gonçalves, (ex-alf mil mec auto, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73). Foi telefonar-lhe.

Há também um outro camarada que é "amigo do Ruisinho", João Marcelino, ex-alf mil da CCS/BCAÇ 3852: vive na Lourinhã, e esteve presente no VII Enconro Nacional da Tabanca Grande (2012). DE vez em quando encontramo-nos, no Café Nicola, onde ambos gostamos de comer, aos sábados, o célebre arroz de sapateira. O Manel e o Rui são amigos do peito do Rui. E admito que saibam algo mais sobre este episódio de guerra.

Rcorde.se que o alf mil Rui Alexandrino Afonso veio, em rendição individual, subst5ituir o infortunado Vasco Cardoso.

O João Marcelino não tem paciências para estas coisas da Net, formalmente não é membro da nossa Tabanca Grande. Mas temos também, vivo e entre nós, na T o Manuel Carmelita (ex-fur mil mecânico radiomontador, igualmente da CCS/BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73), e que conviveu com o Rui A. Alexandre, na altura capitão, comandante da CCAÇ 18.

Será que estes três camaradas se lembram de alguma conversa com o Rui sobre a história de Gamol, Fulacunda ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Será que algum de nós, agora com tempo, "em tempo de confinamento", quer pegar nestes números de telefone, e contactar tanto o Barradas como sobretudo o Lauro ?

Vou falar com o Benito Neves, que já não vejo há uns anos...

No supracitado poste, P1972, de 19 de julho de 2007 (, já lá vão quase 13 anos!), escrevi:

(...) "Se algum deles - o Barradas, o Lauro... - estiver disposto a dar a cara e sobretudo em partilhar connosco as suas memórias, as boas e as más, será acolhido de braços abertos. A Tabanca Grande irá engalanar-se para os receber. Não é por voyeurismo ou miserabilismo da nossa parte. É por solidariedade e camaradagem. Mas é também pelo dever de dar o nosso testemunho... É por que não queremos esquecer... É por que nesta guerra também houve prisões, de um lado e de outro, também houve prisioneiros, também houve sofrimento, privações, humilhações, por detrás das grades, e dos belos discursos, para não falar dos crimes que cometemos, de um lado e de outro, em silêncio, impunemente, contra prisioneiros de guerra, indefesos" (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já agora, refira-se também o nome de Rito Alcântara, o um conhecido desportista e dirigente desportivo, cabo-verdiano, que foi fundador e presidente da Cruz Vermelha do Senegal, por convite de Senghor. Em 15 de março de 19

Foi vice-presidente da Cruz Vermelha Internacional durante 12 anos e esteve presente em Dacar, no ato de entrega, pelo PAIGC, de vários prisioneiros de guerra portugueses, como foi o caso do José Vieira Lauro, em 15 de de março de 1968. Isso documentado no Arquivo Amílcar Cabral / Portal Casa Comum / Fundação Mário Soares.


http://casacomum.net/cc/visualizador?pasta=05224.000.035


Sobre o Rito Alcântara encontrámos as seguintes imformações:

(i) nasceu em S.Vicente, a 7 de Julho de 1921 e em 1929 emigrou para o Senegal (Dakar) na companhia dos pais.

(ii) Ali fez os seus estudos primários e secundários e depois foi para Montpellier-França fazer os estudos universitários em Farmácia.

(iii) De regresso a Dakar integrou várias estruturas desportivas senegaleses, tendo sido depois convidado para integrar a FIFA;

(v) Tendo aceite o convite do Presidente Senghor para criar a Cruz Vermelha Senegalesa, deixou as funções na FIFA.

(v) Logo após a independência de Cabo Verde, o seu papel e conhecimentos dentro da FIFA terão sido fundamentais para que Cabo Verde pudesse começar a participar em competições internacionais de futebol.

(vi) Faleceu em Dakar a 9 de Fevereiro de 2003.


https://brito-semedo.blogs.sapo.cv/311163.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Inicialmente havia um erro factual neste poste, já corrigido: o Lauro rendeu-se e foi prisioneiro em 10/10/1965 e não 1968... Em 15/3/1968 foi entregue à Cruz Vermelha do Senegal, na pessoa do seu presidente, de origem cabo-verdiana, o dr. Rito Alcântara.

O Lauro já não estava, portanto, em Conacri, em 22/11/1970, aquando da libertação dos 26 prisioneiros de guerra portugueses, nossos camaradas, aquando da Op Mar Verde.

Quando o Lauro foi libertado, deve prestado declarações à PIDE e ao exército... A história dele, e dos seus cinco camaradas mortos em na zona de Gamol, Fulacunda, deve estar escrita algures, talvez no Torre do Tombo (Arquivo da PIDE) ou no Arquivo Histórico Militar...

Manuel Carvalho disse...

Bom dia Luís

Acerca do email enviei para onde dizes e mandei também para o Carlos Vinhal há mais ou menos dois dias.
Quanto a este assunto tenho dormido mal a pensar o que passaram aqueles nossos camaradas durante aqueles quatro dias.No email também falo duma situação que nos aconteceu em que perdemos um homem ferido com outros numa emboscada mas recuperamos logo no dia seguinte.
Um abraço

Manuel Carvalho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mandei ao Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulcunda, 1972/74:

Jorge:

Como estás a viver estes acontecimentos todos ? De "confinamento", somos nós todos, ex-combatentes, verdadeiros "experts"...

Mas será que te lembras, por ouvir falar, desta trágica história ocorrida no subsetor de Fulacunda, entre 7 e 10 de outubro de 1968 ? O único que se salvou, dos nossos seis camaradas (da CCAÇ 1420 e da CCAÇ 1423) foi o Jose Vieira Lauro (que vive hoje em Leiria).

Cuida-te...Um teleabraço, Luís

PS - Dou conhecimento ao camarada José Claudino da Silva a quem manda também as minhas saudações.

Jorge Araujo disse...

Caro Luís,

Bom dia, na Lourinhã. Boa Tarde, em Abu Dhabi.

Como já referi anteriormente, aqui a mobilidade está circunscrita aos espaços interiores do condomínio e ao do exterior do complexo, onde existe uma zona verde com bancos de jardim. Para percorrer o perímetro das três torres, conforme se pode ver nas últimas fotos, levamos mais de meia hora.

No fundo, o "confinamento" até não é uma coisa muito má... Ainda que seja uma espécie de "presídio"... Não nos falta nada... e quando isso acontece, vamos à loja e compramos.

Sobre a trágica história dos camaradas da CCAÇ 1420 e da CCAÇ 1423, tenho uma vaga ideia de ter alguns registos (apontamentos) de um episódio semelhante ao que acima é descrito. Não sei se se trata da mesma coisa. Vou indagar. Caso seja o mesmo, mas com algo complementar, depois digo. Ou se se tratar de um caso diferente, farei um texto para cruzar com este.

Uma Santa Páscoa para todo o Fórum. Podem comer o cabrito, o folar e as amêndoas, mas não se podem aproximar dos vizinhos, quer eles estejam em frente, ao lado ou no andar de baixo. Mantenham-se no "abrigo", bem abrigados, passe a redundância.

Um abraço, com a distância superior à recomendada.
Jorge Araújo.

Juvenal Amado disse...

Felizmente nunca passei por uma situação extrema de uma emboscada ou mesmo um confronto cara à cara de onde pudesse resultar a minha captura.
No entanto no meu batalhão tivemos dois casos um no Saltinho com a captura do António no Quirafo e em Cancolim onde foi capturado também António Manuel Rodrigues em condições que lhe valeram ser considerado com desertor. Não é essa a minha opinião à luz do que se passou na altura e sendo esse camarada portador de notórias perturbações mentais que aliás sofreu até à sua morte mais eu estou convencido da injustiça que lhe foi feita.Ele fugiu apresentando-se no Saltinho após muitas tentativas e maus tratos que recebi de seguida já nós estávamos em Bissau para regressarmos
Também a CCS que nós fomos render ao ter uma emboscada nas Duas Fontes me foi relatado que um dos mortos foi inicialmente captura mas que se negou a acompanhar os guerrilheiros e foi abatido no local.
Penso que estas situações quer de um lado quer do outro quanto ao tratamento dos prisioneiros de guerra, terá muito a haver com o estado emocional com a violência do combate e com a carga psicológica que os combatentes carregavam.
No entanto lembro aqui as memórias do então médico Mário de Pádua em que relata, que chegaram ao hospital soldados feridos portugueses, que foram carregados ao ombro vários dias ao onde ele era medico no Senegal.
Não vale por isso a pena generalizar.

Um abraço

Anónimo disse...

Jorge Pinto
10 abril 2020 19:18


Meu amigo Luis, agradeço-te o envio deste mail. Sobre o assunto, digo-te que através de longas conversas que tive com o já falecido alferes Malá, chefe do pelotão de milícias durante a minha comissão em Fulacunda (1972-74), tive conhecimento da tragédia ocorrido em Gamol, e matas de Bianga, onde fui "manga" de vezes fazer de patrulhamentos. Contudo só agora, muito posteriormente, depois de pertencer à Tabanca Grande e ao ler excertos do livro "Rumo a Fulacunda" me fui apercebendo mais claramente dos fatos. Mais informo, que durante os tempo que permaneci em Fulacunda - Julho 1972 a Agosto de 1974- nunca tive conhecimento que este assunto fosse falado entre a população em geral e os nossos soldados. Somente se queixavam que a zona de Fulacunda tinha sido das piores durante os primeiros anos de guerra, com mortos, feridos e prisioneiros.

Termino desejando que tu e tua família vivam uma Páscoa em paz e na fé/esperança que o "famigerado" Covid -19, não apareça em nossas casas.

Recebe uma telecotovelada, JorgePinto

Tabanca Grande Luís Graça disse...

1. Releia-se este poste já com quase 13 anos:

19 DE JULHO DE 2007
63/74 - P1972: Prisioneiros de Conacri: Jacinto Madeira Barradas (Alter do Chão) e José Vieira Lauro (Leiria) (Benito Neves)


Vou também entrar em contacto com o Benito Neves que conhece um dos prisioneiros de Conacri, libertados em 22/11/1970, na sequência da Op Mar Verde, o Jacinto Madeira Barradas que é (ou era, ainda em 2007),proprietário de um conhecido restaurante e café em Alter do Chão (nº. telef 245 612 442).

(...) "O último contacto que tivémos também estava presente o Victor Condeço que, no fim, me confidenciou:
- Que belas histórias para o blogue!.

Um outro camarada ex-prisioneiros de Conacri foi o José Vieira Lauro, que já era prisioneiro em Conacri quando o Jacinto Barradas lá chegou.

Foi um dos que mais tempo esteve aprisionado e, na prisão, cabia-lhe a tarefa de distribuir a comida pelos restantes prisioneiros. Na maior parte das vezes (segundo o Jacinto Barradas) apenas era distribuído arroz porque, das poucas vezes em que a refeição trazia alguma carne de galinha, esta era roubada pelos guardas.

O José Vieira Lauro vive na região de Leiria [, os nossos editores têm os nºs dele, de telef e telem, e que poderão disponibilizar aos camaradas que queiram contactar com ele; não os publicamos aqui para proteger a sua privavidade].

E continua o Benito Neves: "Quantas histórias, quanta privação, quanto sofrimento. Pergunto-me se valerá a pena, agora, voltar a agitar fantasmas. Julgo que o Jacinto Barradas me informou que os ex-prisioneiros de Conacri se reunem todos os anos." (...)

2. O Benito Neves alerta-nos para o risco de podermos estar a torturar estes camaradas, que foram prisioneiros do PAIGC, ao remexermos estas memmórias doridas...Mas também corremos o risco de perder, em breve, testemunhas privilegiadas dos primeiros anos da guerra na Guiné.


Talvez algum de nós, agora com tempo, "em tempo de confinamento", pegar nestes números de telefone, que podemos facutar, e contactar tanto o Barradas como sobretudo o Lauro,,,

Vou tentar falar com o Benito Neves, que já não vejo há uns anos...

No supracitado poste, P1972, de 19 de julho de 2007, eu escrevi:

(...) "Se algum deles - o Barradas, o Lauro... - estiver disposto a dar a cara e sobretudo em partilhar connosco as suas memórias, as boas e as más, será acolhido de braços abertos. A Tabanca Grande irá engalanar-se para os receber. Não é por voyeurismo ou miserabilismo da nossa parte. É por solidariedade e camaradagem. Mas é também pelo dever de dar o nosso testemunho... É por que não queremos esquecer...

... E é por que nesta guerra também houve prisões, de um lado e de outro, também houve prisioneiros, também houve sofrimento, privações, humilhações, por detrás das grades, e dos belos discursos, para não falar dos crimes que cometemos, de um lado e de outro, em silêncio, impunemente, contra prisioneiros de guerra, indefesos" (...)