segunda-feira, 2 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23222: 18º aniversário do nosso blogue (10): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte III: 30 de agosto de 1972: uma formidável máquina de guerra, a Força Africana contra o PAIGC







Citação: (1972), "Diário de Lisboa", nº 17848, Ano 52, Quarta, 30 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5496 (2022-5-2)






















(Com a devida vénia ao autor, Avelino Rodrigues,
aos herdeirtos do António Ruella Ramos, e à Fundação Mário Soares)

Fonte:

Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares |  Pasta: 06815.165.26102 | Título: Diário de Lisboa | Número: 17848 | Ano: 52  | Data: Quarta, 30 de Agosto de 1972 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Observações: Inclui supl. "DL Mulher". | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos.


Comentário do editor LG:

"Guiné, crónica imperfeita" (*)... Porquê ? Porque o enviado especial do "Diário de Lisboa", ao CTIG, o jornalista Avelino Rodrigues.  só pôde ouvir uma das partes em conflito, Spínola e as suas tropas... 

Mas, ao que parece, nos 9 dias em que por lá andou, na "Spinolândia", em julho de 1972, o jornalista  teve bastante liberdade para saber tudo (ou quase tudo) sobre aquela "guerra camuflada", como lhe chamou na primeira crónia  (em Bissau, eram pouco visíveis os sinais da guerra).

Aceitou o repto (e o convite) de Spínola para ir ver com os seus próprios olhos a realidade da guerra, incluindo a inversão da situação, político-militar, que o general estava a operar com sucesso.  Excetuando, ao que parece, o último artigo (com uma entrevista a Spínola que não agradou a Marcelo Caetano), a reportagem (os três primeiros artigos) passou, sem cortes da censura (agora rebatizada,  eufemisticamente,  como "exame prévio").

Este é um dos raros trabalhos jornalísticos sérios,  feitos na Guiné,  por jornalistas portugueses durante todo o conflito... E merece ser aqui  destacado, 50 anos depois, por ocasião do 18º aniversário do nosso blogue.(**)

Recorde-se que o "Diário de Lisboa", um diário lisboeta vespertino, publicado entre 7 de abril de 1921 e 30 de novembro de 1990, e de que  teve Joaquim Manso como  primeiro diretor,  foi considerado  uma grande escola de jornalismo e um das grandes referências do jornalismo português do séc. XX, com um papel cívico, intelectual e cultural ímpar.  

Para o regime de Salazar-Caetano e seus apoiantes, era conotado com  o "reviralho", a oposição democrática ao Estado Novo. 

_________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:

25 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23198: 18º aniversário do nosso blogue (4): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte I: 28 de agosto de 1972, Bissau, a "guerra camuflada"

26 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23201: 18º aniversário do nosso blogue (6): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte II: 29 de agosto de 1972: no mato com Spínola, "a simpatia como arma de guerra"

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estes dados relativos à população sob controlo das NT e sob controlo do PAIGC, bem como os efetivos do PAIGC (dentro e fora do território da Guiné) têm de ser vistos e analisados com as necessárias reservas.

É bom lembrar que se baseiam em fonte não independente...como o próprio jornalista do "Diário de Lisboa", o Avelino Rodrigues, enviado em agosto de 1972, à Guiné, por convite de Spínola, alerta o leitor... Não é por acaso que o jornalista deu ao conjunto desses quatro artigos de reportagem o título de "Guiné, uma crónica imperfeita".

Mas são números que merecem a nossa atenção e o nosso comentário...

Também me parece confuso o parágrafo com a estimativa dos efetivos da Força Africana (cerca de 22 mil):

"Compõem a Força Africana perto de 5 mil soldados regulares, cerca de 6 mil milícias e mais de 6 mil auto-defesas, além de outros 5 mil homens enquadrados na guarnição normal".

Pode ter havido uma confusão do jornalista... e até uma duplicação ("perto de 5 mil soldados regulares" (...) "além de outros 5 mil homens enquadrados na guarnição normal"...

Fala em 12 companhias de caçadores, de base étnica, além de forças especiais (comandos e fuzileiros), mas no total os seus efetivos não deviam chegar aos "5 mil soldados regulares"...

Por outro lado, ele não faz referência aos Pelotões de Caçadores Nativos (cerca de 2 dezenas) nem aos Pelotões de Artilharia (cerca de 3 dezenas,
e que eram guarnecidos por praças do recrutamento local)... Será que estão incluidos nos tais "outros 5 mil homens enquadrados na guarnição normal" ?

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

A cronica do enviado especial do DL ao territorio da Guiné dita portuguesa em 1972 é, nao so imperfeita, mas cheia de inverdades, na linha do que a implantaçao do colonialismo portugués nos habitual em termos de intriga e de politica de dividir para reinar.

O que se pode pensar de uma cronica que caracteriza os fulas de "invasores" num territorio onde ja viviam sob a dominaçao dos mandingas (Soninqués) desde o séc. XV e algumas fontes consideram mesmo que os primeiros grupos de pastores fulas e suas manadas ja la estariam desde o séc.XII/XIV ?

Revoltados sim, apos mais de 5/6 sec. debaixo do poder mandinga que, de facto eram os senhores em todo o territorio da tr e de tal ordem que muitos povos ja estavam a ser assimilados pelos mesmos, caso dos Balanta-Mané, caso dos Biafadas, entre outros. Mas, o ponto mais alto desta revolta fula aconteceu em 1867 (batalha de Cansala) e, antes da consolidaçao do poder saido desta revolta, ja o territorio estava a ser disputado pelas potencias coloniais europeias e em 1886 o destino desta regiao foi selado com o tratado fronteiriço Franco-Portugués que ditava o fim dos poderes gentilicos na regiao, portanto menos de 20 anos de distancia. E se considerarmos o fim do periodo da pacificaçao com o Teixeira Pinto em 1915, sao 48 anos de reinado fula nas regioes de Gabu e Bafata (so as regioes de Gabu e parte da regiao de Bafata). O Oio (Norte) e Tombali (Sul) estavam fora do dominio fula e a posterior adesao a luta de libertaçao nacional deve ser procurada no comportamento da chefia militar que queria reprimir a revolta a todo o custo e sem conhecer as causas reais e quem, de facto, administrava o territorio e nao procurar bodes expiatorios.

O que se pode pensar de uma cronica que é uma verdadeira ode ao PAIGC, ao seu dirigente tutelar e aos guerrilheiros, enaltecendo, sem camuflagem, a luta pela autodeterminaçao e pelo progresso dos Guinéus por estes propalado, na altura !?!?

O que se pode pensar de um trabalho que diz que a populaçao do territorio seria de, aproximadamente 600.000 habitantes, que o grupo balanta prefazia metade com 200.000, quase todos mobilizados pelo PAIGC, mas que ao mesmo tempo concorda que a populaçao sob controlo das autoridades portuguesas seria na ordem de 89%. E que, depois de demonstrar a justeza da luta e as capcidades de organizaçao e estruturaçao militar do PAIGC que nunca deixou de crescer ao longa da guerra e concluir que, entretanto, com a chegada de Spinola e a partir de 1968, a situaçao estava a ser revertida a favor de Portugal ?

(Continua)

Cherno Baldé

Anónimo disse...

(continuaçao)


Mas, a maior das inverdades é aquela que apresenta os fulas como responsaveis do que ele classifica como a "semente do odio", considerando estes como os opressor seculares dos balantas. Isto é uma pura mentira, inventada pelo jornalista do DL e que nao é confirmado por nenhum registo historico, pois fulas e balantas tinham convivido em territorio dominado por mandingas (soninqués) e a primeira vez que entraram em guerra um contra o outro aconteceu no periodo chamado de "pacificaçao" com o (angolano) Cap. Teixeira Pinto em nome e ao serviço de Portugal. Por outro lado, sabemos que a migraçao dos balantas para Sul aconteceu muito mais tarde e que, para além de fugirem da repressao colonial, as veradeiras causas estavam ligadas a riqueza do solo para a produçao do arroz de bolanha utilizando as tecnicas divulgadas pelos chineses degredados de Macau e as facilidades encontradas na aquisiçao de terras para o efeito junto dos Nalus que, como os Biafadas, praticavam a agricultura de sequeiro ou Pam-Pam nas terras altas por meio de queimadas.

Enfim, é mais um trabalho como muitos outros, muito superficial e cheio de preconceitos, deturpaçoes e intrigas com o intuito de esconder as responsabilidades de Portugal e dividir os grupos nativos para melhor reinar.

Esta cronica, imperfeita em todos os sentidos era, antes de mais, prejudicial a Portugal, seus interesses e seus aliados no terreno e nao sei como teria passado despercebido ao controlo e censura do regime, com tanta propaganda politico-ideologica a favor do in. Contradiçoes e coisas portuguesas, talvez ?!?!

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há vários erros ortográficos e/ou gralhas tipográficas de que o nosso leitor já de deu conta... Por exemplo:

- dominação estrangeira (e não "entranteira")
- fuzileiros (e não "fusileiros")
- rencensear (e não "recencear")
- hegemonia (e não "egemonia")...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Leia-se, com calma e devagar, o que o jornalista escrever sobre as história das relações interétnicas no quadro do colonialisno português... O autor cita textualmente o gen Spínola (Congresso do Povo, julho de 1972), com aspas, em passagens como:

(...) "Como o balanta, o mandinga foi daqueles que primeiro aderiram à guerra porque era das etnias mais sacrifiacadas" (...)

(...) "Nós tínhamos criado as condições ideais de subversão e eles aderiram mesmo ao PAIGC, sobretudo balantas e mandingas que estavam a ser duplamente exlorados. O resto são cantigas..." (...)

Não é o Amílcar Cabral a falar, é o Spínola... Populismo "avant la lettre" ?... É possível, não gosto de "chavões"...