quinta-feira, 5 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23230: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (22): Em Nova Vizela (topónimo criado por Spínola, cidadão honorário de Vizela), hoje Embunhe, na região do Oio, onde existem viveiros estatais de árvores autóctones

 




Guiné-Bissau > Região do Oío > Nova Vizela, na estrada entre Bissorã e Mansoa, hoje Embunhe (mas a placa ainda lá está)  >  12 de abril de 2022 > Viveiros florestais estatais.

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. O Ribeiro Patrício, nosso correspondente em Bissau, e que conhece a Guiné de lés a lés,  mandou-nos estas três fotos de "viveiros de árvores do Estado. De árvores autóctones. Em Nova Vizela...agora a tabanca tem o nome de Embunhe".


Nunca tinha ouvido falar em Nova Vizela / Embunhe. Encontrámos uma página no Facebook, a dos Filhos e Amigos de Embunhe (FAE), "Danfa-Mara", um grupo público...Há uma ONGD espanhola que lá trabalha (Bosque y Comunidad, com sede em Córdova).

Mas como havia, no nosso tempo, terras com nomes portugueses (Nova Lamego, Nova Sintra, Aldeia Formosa, etc.), porque não também Nova Vizela ?

Encontrei a explicação para topónimo que não chegou a ser grafado pelos bravos cartógrafos portugueses  dos anos 50/60: em 1972, "o General António Spínola, Governador da Guiné Portuguesa, foi  elevado a Cidadão Honorário de Vizela" (sic), depois de ter prometido,  às juntas daquela  então vila, "o nome de Nova Vizela" (sic),  para uma vila da Guiné o que veio a acontecer naquela antiga província ultramarina" (Fonte: Digital de Vizela, 12 de março de 2011). 

Recorde.se que a luta pela restauração do concelho de Vizela já vinha de 1964, e prolongar.se-ia até 1998,  o ano em que Vizela  voltou a ser concelho quase 600 anos depois..."O município foi restaurado em 19 de Março de 1998 por desmembramento de 5 freguesias de Guimarães, 1 de Lousada e 1 de Felgueiras, sendo na mesma ocasião a sua sede elevada ao estatuto de cidade."

Spínola, cujas ligações a Vizela eu desconhecia, acabou por ser uma aliado de peso nesta luta que deu brado na época, incendiando paixões bairristas...  Vizela tem hoje cerca de 24 mil habitantes

Desconhecemos se a tabanca de Embunhe / Nova Vizela está  geminada com a cidade de Vizela. Mas lemos no Digital de Vizela, em notícia de 14 de abril de 2019, que "o Presidente da Câmara de Vizela anunciou ontem no Dia do Combatente que o Município de Vizela tenciona visitar a província ultramarina (sic) que detém o nome de Nova Vizela desde a era Spínola à frente das forças militares naquela antiga colónia."

E mais acrescentava aquela fonte: "Segundo Victor Hugo terá de haver uma preparação minuciosa 'de forma a que essa visita em reconhecimento aos soldados de Vizela que ali prestaram serviço militar seja bem ponderada considerando os níveis de segurança e algumas acções de solidariedade com o povo da Nova Vizela que pretendemos fazer chegar'"... Vizela tem um Núcleo da Liga de Combatentes muito ativo.

Na carta de Mansoa pode ver-se a localização de Embunhe (que foi Nova Vizela por pouco tempo), no lado esquerdo da estrada Mansoa-Bissorã.



Guiné > Região do Oio > Carta de Mansoa (1954) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Mansoa e Bissorá... Mais perto de Bissorã, fica Embunhe (que no tempo de Spínola chegou a chamar-se Nova Vizela).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23215: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (21): Notícias de Mansabá

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Será que o topónimo Nova Vizela sobreviveu à descolonização e à independência da Guiné-Bissau ?...

Bem, a placa do tempo do Spínola ainda há está (ou estava, há umas semanas atrás)... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Devem ter sido militares vizelenses que "meteram uma cunha" ao Spínola para mudar a tabuleta, "Nova Vizela" em vez de "Embunhe", no chão balanta... Quem é que nos pode contar esta história de "lobbying" ? Que eu saiba Spínola, madeirense, não tinha nenhuma raiz em Vizela...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Referência a EmbunheLeio no jornal Nô Pintcha... E eu aplaudo:

ATUALIDADES
“Quem planta uma árvore preserva a vida”
29 Julho 2021 nô pintcha

http://jornalnopintcha.gw/2021/07/29/quem-planta-uma-arvore-preserva-a-vida/


O Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural procedeu, ontem, dia 28 de julho, na povoação de Embunhe/N´Cor, Setor de Bissorã, ao lançamento da campanha nacional de reflorestação que decorre sob o lema: “Quem planta uma árvore preserva a vida”.

O ato foi presidido pelo ministro de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Marciano Silva Barbeiro, na presença dos ministros do Ambiente e Biodiversidade e da Comunicação Social, Viriato Cassamá e Fernando Mendonça, respetivamente, bem como do governador da Região de Oio, dos representantes do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM) e vários outros responsáveis ministeriais, da Brigada de Proteção da Natureza e Ambiente (BPNA) e da Guarda Nacional.

Na cerimónia, Marciano Silva Barbeiro incumbiu a Direção-Geral das Florestas e Fauna de proceder a reflorestação pura ou o enriquecimento das povoações degradadas com diversas espécies florestais, nomeadamente bissilão, pau de conta, cibe, farroba, pau-sangue entre outras, numa área total de 100 hectares e ainda esta direção terá que vedar as áreas ameaçadas para fins agrícolas.

“Iniciamos esta atividade na Região de Oio, como zona que tem sofrido a maior pressão das populações e com potenciais recursos florestais de maior relevância ao nível do País”.

O titular da pasta da Agricultura e Desenvolvimento Rural esclareceu que cada campo vedado terá uma torre de vigilância construída no respectivo perímetro e gerido por um Comité de Gestão formado pelos populares daquela localidade.

“Para atingir a meta zero da degradação das terras até ao ano 2030, o repovoamento florestal ou a reflorestação são atos patrióticos de cada cidadão ou da sociedade em geral, e que deve visar uma gestão sustentável dos recursos florestais, salvaguardando a estabilidade e o equilíbrio dos ecossistemas, do ponto de vista ambiental, da resiliência e adaptação às alterações climáticas”, sublinhou.

O governante destacou que “na última década, as florestas da Guiné-Bissau foram delapidadas e devastadas com uma exploração desenfreada e irracional, sobretudo a conhecida espécie pau-sangue”, facto que testemunha hoje que várias espécies de árvores estão ameaçadas de extinção pelo que é urgente corrigir os erros cometidos com as más práticas.

Em consequência da desflorestação do país, o ministro da Agricultura revelou que se está a registar uma forte variação das chuvas em termos de tempo de duração e no seu modo de distribuição ao longo do seu período com tendência para diminuição e consequente aumento das temperaturas médias, dos ventos e da seca.

“Para mantermos a integridade das florestas, dos rios, dos ciclos da natureza, bem como contribuirmos para evitar o aquecimento global, devemos combater sem tréguas as queimadas, as desmatações ilegais e a exploração desenfreada e desorganizada das nossas florestas e fauna”, rematou, terminando com a exortação à Direção-Geral das Florestas e Fauna para que os Serviços de Inspeção Florestal e o componente operacional da Brigada da Proteção da Natureza e do Ambiente (BPNA) sejam mais fiscalizadoras e combativas, não permitindo a violação da lei Florestal e nunca aceitar a corrupção como tem sido nos últimos anos.

Na mesma lógica, o ministro do Ambiente e Biodiversidade realçou que o ato é nobre e tem muito significado, pois, espelha a necessidade de todo um esforço a ser feito na Guiné-Bissau para restaurar os ecossistemas florestais degradados.

(...)

(Continua)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Referência a Embunhe...Leio no jornal Nô Pintcha... E eu aplaudo:

ATUALIDADES
“Quem planta uma árvore preserva a vida”
29 Julho 2021 nô pintcha

http://jornalnopintcha.gw/2021/07/29/quem-planta-uma-arvore-preserva-a-vida/


Continuação

(...) O chefe do pelouro do Ambiente e Biodiversidade destacou a utilidade das florestas em diversos aspetos, nomeadamente na farmacopeia, energia doméstica, alimentação, entre outras.

O ministro anunciou que a breve trecho, os valores dos recursos florestais serão integrados nas estratégias nacionais e locais de desenvolvimento, de redução da pobreza e nos procedimentos de planeamento, sendo incorporados nas contas nacionais. “Este propósito vem ganhando corpo com a vigência do “Projeto de reforço das capacidades de valoração de recursos naturais para uma planificação e tomada de decisões melhor informadas para conservar o ambiente global”.

Neste sentido, o ministro disse que regista com toda a atenção a necessidade de se criar com celeridade, a célula responsável pelo seguimento e avaliação da implementação da estratégia e plano de ação nacional para a diversidade biológica, tendo sublinhado que a componente florestal é, deveras, muito importante.

Viriato Cassamá reconheceu que a sua instituição deve trabalhar em sinergia com o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural no processo de levantamento parcial da moratória, pois os recursos florestais do país devem ser explorados de forma sustentável e em prol da sua valoração económica, visando assim o fortalecimento das cadeias de valores de todos os atores dependentes destes recursos para a redução da pobreza.

Por seu turno, o representante interino do FAO, Jean Marie Kipela, trouxe a estatística, tendo dito que desde 1990 quase 420 milhões de hectares de florestas foram perdidas no mundo, em detrimento da sua conversão para outros fins. Em relação à Guiné-Bissau, ele disse que a perda da área florestal é estimada em cerca de 21 mil hectares por ano entre 2011 a 2018 devido ao abate ilegal de árvores de madeira, incêndios e produção de carvão vegetal, bem como a expansão de terrenos agrícolas com a monocultura do caju.

O diplomata da ONU entende que é essencial a proteção das florestas, porque elas abrigam a maior parte da biodiversidade terrestre e fornecem mais de 86 milhões de empregos ecológicos, produtos silvestres, lenha, entre outros.

Jean Marie Kipela referiu que a Guiné-Bissau faz parte de um grupo de oito países, juntamente com a Gâmbia, Guiné-Conakry, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal e Serra-Leoa que beneficiam do projeto de Gestão Integrada dos Recursos Naturais do Maciço de Fouta Djallon, financiado pelo Fundo Mundial do Ambiente (GEF) no âmbito da ONU Ambiente, executado pela FAO e coordenado pela CEDEAO que visa assegurar a conservação e a gestão sustentável dos recursos naturais.

Entretanto, o diretor-geral das Florestas e Fauna, Braima Mané explicou que na campanha de repovoamento florestal de 2021/2022 o Governo pretende recuperar cerca de 100 hectares e proceder à fixação de pilares para a sua vedação.

Aquele responsável informou que cerca de 200 hectares da floresta da Região de Oio estão muito degradados, devido ao desmatamento.

Saliente-se que a campanha nacional de repovoamento florestal iniciou no terreno com a plantação de algumas espécies de árvores pelos próprios membros do Governo.

Texto e fotos: Bacar Baldé

Agostinho Palminha disse...

Bom dia Camaradas da Guiné!
Acompanho esporadicamente o vosso blogue e fico sempre a conhecer um pouco melhor a Guine cada vez que ca passo. Sou filho de um antigo combatente Comando que esteve na Guiné em 68/69 e, casualidades da vida, quis o destino que viesse ca parar já la vão 9 anos. Agora que vi a publicação do amigo Patrício fiquei tentado a comentar. De facto actualmente trabalho com a Bosque y Comunidad, ONG espanhola que tem estado a apoiar a Direção-Geral das Florestas e Fauna da Guiné-Bissau, e entre outras actividades recuperou nos últimos anos todas as instalações e equipamentos do Viveiro Nacional de Embunhe, recuperando a sua produtividade perdida como podem ver nas fotos. Curiosamente no artigo do Nô Pintcha os louros ficaram só para os políticos guineenses!
Actualmente da antiga Nova Vizela, são os pouco sinais que fazem sentir da presença portuguesa. A placa que o Patrício fotografou e um pequeno troço asfaltado no tempo colonial que ainda se encontra em boas condições. Acaba por nos surpreender por estar descontextualizado, numa área onde actualmente só existe estradas de terra batida, o que nos deixa pensativos sobre o que já terá sido esta localidade outrora.
Um abraço camaradas

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Agostinho:

É uma agradável surpresa o teu comentário no nosso blogue. Sendo tu filho de um camarada nosso, ex-comando (talvez da 15ª Companhia de Comandos, 1968/70, não ?), e estando agora a trabalhar na Guiné, na ONGD Bosque y Comunidad, ficas autoticamenet convidado a integrar a nossa Tabanca Grande... Podes aqui escrever, mandar fotos e falar mais do seu trabalho que, pelo que vejo, te apaixona.

Será que conheces pessoalmente o Patrício Ribeiro ? É já uma "patriarca", a malta nova há uns anos atrás, em Bissau, chamavam-lhe o "pai dos tugas"... Posso-te dar o seu contacto, aliás é público, vais ao "site" da empresa Impar Lda.

Fala-nos mais da tua zona, Embunhe, antiga Nova Vizela... E tens razão quanto ao que dizes, sobre o aproveitamento (indevido, muitas vezes), por parte dos políticos, do trabalho das populações e das ONGS...

Mantenhas. Luís Graça

PS - Fui ver a tua página... Não tens lá ido, pois não ?!

http://cajugb.blogspot.com/

Unknown disse...

Boa noite,
Sou um assíduo leitor deste blogue e fiquei surpreendido por este post relacionado com Nova Vizela. Fui combatente na Guiné durante o período de 1972 a 1974 incorporado como furriel na C.CAC13. Eu e o meu grupo colaboramos de diversas formas na construção do reordenamento de Nova Vizela. Ainda hoje guardo um crachá que foi distribuído pelo pessoal encarregado de auto defesa desse local no dia da sua inauguração.
Saudações fur. Sá

Júlio César Ferreira disse...

Depois de uma longa ausência, por muitos e variados motivos e quando procurava outra coisa, dou de caras com esta placa a dizer Nova Vizela e leio um comentário do Blog, um tanto depreciativo acerca da construção e porquê deste aldeamento.

Quem andou por lá, sabe que o general Spínola, era adepto da construção e reordenação de aldeamentos.

Fez muitos deles, ao longo dos seus anos como Governador e Comandante - Chefe.
Emounhe, era apenas um local e sempre se chamou assim.
Não é, como se faz entender, que este nome, veio substituir o topónimo Nova Vizela.

Ainda recentemente, um grupo de jovens vizelenses, visitou o local, deixando entre muitas coisas, um Jeep-Ambulância para serviço, daquelas povoações.

Este aldeamento foi feito de raíz por elementos da C. Caç 13 e da CCS do BCAÇ. 4610/72:.

A pedra de armas do aldeamento, foi desenhada por um vizelense de seu nome Cândido Caldas, furriel miliciano.

Foi inaugurado pelo Ministro de Ultramar da altura, o Dr. Silva Cunha, aquando da inauguração da nova estrada Bissorá - Mansoa e foi prestada guarda de Honra pelo capitão de 2ª Linha (mais tarde assassinado) Cabá Santiago. Numa das fotos (possuo todas as fotos feitas então) é possível ver-se o falecido Otelo Saraiva de Carvalho.
Resta dizer que quando este acontecimento se deu, eu já tinha regressado da Guiné.

Não foram militares que pediram ao Spínola, como depreciativamente se diz, num dos comentários, mas sim as forças vivas de Vizela, que sabendo da simpatia do general (como muitas outras figuras do país, desde as artes, à musica, às letras e em tantas vertentes) pela luta de Vizela, fizeram - lhe chegar este pedido e ele, como frequentador das Termas de Vizela, de pronto aceitou e mais tarde, em festa inesquecível, foi aqui homenageado.

Cumprimentos
Júlio César Ferreira