domingo, 12 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4175: Os Bu...rakos em que vivemos (5): Guileje bem se podia considerar um hotel de 5***** (Manuel Reis)

1. Mensagem de Manuel Reis (*), ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, 1972/74), com data de 5 de Abril de 2009: Os BURAKOS da Guiné Poste 4115 (**) Amigos Editores: Os nossos caros editores vieram espicaçar-me um pouco, o que acaba por ser positivo, pois obriga-nos a sair da letargia e da indiferença em que por vezes caímos, no que respeita a estas histórias da Guiné. Quase todos nós sofremos, directa ou indirectamente, os horrores da guerra e não faz grande sentido estar a seleccionar os locais em que se viveram os momentos mais difíceis pela subjectividade que encerra. De qualquer modo emitirei a minha opinião, mais adiante. Em primeiro lugar quero esclarecer os nossos editores LG/CV/VB, que me vão permitir ironizar um pouco sobre Guileje, para que o tema não se torne repetitivo e maçador. De facto, Guileje bem se podia considerar um hotel de 5 estrelas cujas infraestruturais e serviços passo a citar: - Havia 20 quartos (bunkarizados), amplos, com ar condicionado e com uma suite para as visitas. Em Maio de 1973 estava a ser melhorado com a ajuda do nosso amigo Nino. (O nosso amigo Amaro está desactualizado)! - Era abundante e variado o fogo de artifício, que para gozação da malta, até à exaustão, não havia direito a folga! - Como se estava a aproximar a época das chuvas era garantido a todos, banhos abundantes de água, bem quentinha! - Estavam garantidas umas refeições, bem recheadas, de que destaco, o prato estilhaços na marmita! - Apesar de todo um apoio promocional, bem publicitado, não nos foi possível atingir os nossos objectivos. - Meus caros amigos, digo-vos com sinceridade. Visitas de cortesia a este lugar paradisíaco, no seu auge, com garantia de uma recepção apoteótica, ZERO. Antes de 18 de Maio de 1973, as únicas visitas, com direito a permanência, eram de alguns camaradas, oriundos de outros bandos, onde haviam sido proscritos. Os ditos corrécios! Ah! Recordo a visita a que fora obrigado o médico de Aldeia Formosa, que só dizia ABRIGO e donde não saiu, durante o tempo de permanência. Caros editores, desculpai-me esta ironia. Quando falam em bunkers, valas, bidões, chapas de zinco estão a falar em algo que eu e a CCAV 8350 conhecemos perfeitamente. Basta analisar o nosso trajecto por Gadamael, Cumbijã e Colibuia. Retomando o tema BURAKOS, ele será maior ou menor consoante a sua localização no tempo e no espaço territorial. A nossa capacidade de reacção à estratégia montada pelo inimigo era também determinante. Aquartelamentos que nunca foram atacados, de um momento para outro transformaram-se num inferno. Do que conheci, Gandembel, teria sido, na sua curta existência, um BURAKÃO. Nos patrulhamentos, em que participei, naquela zona, testemunhei uma grande quantidade de viaturas completamente destruídas. A picada estava cheia de crateras, indicativo da estratégia utilizada pelo inimigo. O aquartelamento estava localizado junto à linha de fronteira e em cima do mítico Corredor de Guileje. Como foi possível que tal sucedesse? Um abraço para o amigo Idálio Reis, cuja fotografia no blogue é bem sugestiva de um determinado tempo vivido na Guiné. Deixo aqui a possibilidade de um possível encontro. A minha aldeia, onde frequentemente vou, dista 12Km de Cantanhede. Um Alfa Bravo Manuel Reis Guiné > Região de Tombali >Guileje > Abril de 1973 > CCAV 8350 (1972/73), Piratas de Guileje > O Alf Mil Reis junto ao monumento erigido à memória do Alf Lourenço, dos Piratas de Guileje, morto em 5 de Abril de 1973, na explosão de uma armadilha. Foto: © Manuel Reis (2009). Direitos reservados Guiné-Bissau > Região de Tombali > Fotos tiradas em Guileje, no meu regresso a Bissau. Visita a Guileje e ao Cantanhez (1, 2 e 3 de Março de 2008), no âmbito do Seminário Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008). Restos arqueológicos da antiga tabanca e aquartelamento de Guileje, local destinado a um futuro museu. (LG) Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. __________ Notas de CV: (*) Vd. poste de 11 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4172: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (14): Desprestígio e ofensa a quem foi obrigado a combater (Manuel Reis) (**) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu... rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes) Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4168: Os Bu... rakos em que vivemos (4): Acampamentos de apoio à construção da estrada Mansabá/Farim (César Dias)

2 comentários:

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Embora a viveres numa estância balnear dessa envergadura, diz-me quantas vezes vos visitaram o Genaral A. Bruno (o verdadeiro guerrelheiro do ar condicionado e do bar dos oficiais.
Aí é que devia estar o CEME e o Governador General.

Anónimo disse...

Volto a repetir o meu apelo, que fiz há uns tempos atrás, dado o estranho silêncio do Sr. General Almeida Bruno.
Quem cala consente! – diz o velho ditado. Com o seu silêncio, só podemos interpretar (nós a malta dos bandos), que o que o Sr. General disse, está dito e bem!
Segundo o que tenho ouvido junto do pessoal mais entendido nesta matéria da Guerra do Ultramar/Colonial, o Sr. Gen. A.B. é o militar branco mais condecorado das Forças Armadas Portuguesas, sendo o Sr. TCor. Marcelino da Mata o "rei" nesta mesma área. Destes factos não tenho qualquer dúvida.
Já quanto à diferença quanto a feitos em combate, entre estas duas lendas vivas da guerra do Ultramar/Colonial, sei que o Sr. TCor. Marcelino da Mata tem averbados 2 mil e tal acções na sua caderneta militar, tão heróicos que ultrapassaram fronteiras e só não os conhece quem não quer, mas a minha ignorância mantêm-se quanto aos feitos em combate pelo Sr. General.
Volto a repetir o meu apelo a quem souber/conhecer algum(s) feito(s) em combate pelo Sr. General que me conte por favor, porque até ao momento ainda não vi/ouvi, alguém dizer que viu o dito general imiscuído em acções, mais ou menos ferozes, de combate.
Porque não acredito que o general A.B. conquistou todas as suas condecorações e condecorações sentado em gabinetes, em Luanda, em Bissau, ou Lisboa, peço a quem melhor informado me possa elucidar devidamente.
O meu e-mail é: magalhaesribeiro@portugalmail.pt
Obrigado.
M.R.