terça-feira, 14 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral



Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Excerto da audiência que o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira (1939-2009) deu, por volta das 12h, a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). O grupo incluía 3 cubanos, Oscar Oramas (antigo embaixador de Cuba na Guiné-Conacri, ao tempo da morte de Amílcar Cabral, um homem culto, hoje doutorado e biógrafo do líder histórico do PAIGC), Ulises Estrada (antigo 'combatente internacionalista', companheiro de 'Che' Guevara na Bolívia) e o actual embaixador de Cuba na Guiné-Bissau, e ainda três ou quatro guineenses. Mas a maioria dos presentes era portugueses, ex-combatentes da guerra colonial, incluindo, entre outros, o antigo comandante do COP 5, o ex-major Coutinho e Lima, e três Gringos de Guileje (O Abílio, o Sérgo e o Zé Carioca), sem esquecer o Zé Rocha, outro homem de Guileje.

Estiveram também presentes o Dr. Alfredo Caldeira, da Fundação Mário Soares, a Diana Andringa (a co-ealizadora do filme As Duas Faces da Guerra), e o José Carlos Marques, jornalista do Correio da Manhã. Também o francês Prof Doutor Patrick Chabal, o melhor biógrafo de Amílcar Cabral, esteve presente. Ao todo, na sala, estariam cerca de duas dezenas de pessoas.

A audiência foi decidida à última hora, por vontade expressa do 'Nino' Vieira, na qualidade de histórico comandante da guerrilha do PAIGC e um dos seus mais destacados militantes (o último dos 'dez magníficos' mandados por Cabral para a China antes do início da guerra).

A audiência não estava prevista no programa do Simpósio. Uma hora antes, o grupo fora também recebidos pelo então 1º Ministro, Martinho N'Dafa Cabi. Não estava prevista, de resto, qualquer intervenção no Simpósio, por parte do Presidente da República - presumo que por razões de segurança - embora ele fizesse parte da comissão de honra.

Vídeo (5' 57''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em You Tube > Nhabijoes

Continuação da conversa de Nino com a sua audiência (*):

Nino conta aqui como é que, em Conacri, na embaixada de Cuba, na presença do embaixador Oscar Oramas, após a morte de Amílcar Cabral, a cúpula político-militar do PAIGC, reunida em 'conselho de guerra' (sic) (ele próprio, Xico Tê, Pedro Pires, Luís Cabral, e mais alguns comandantes da guerrilha que estavam por ali perto...), decidiu avançar com a Op Amílcar Cabral, uma acção conjunta contra Guidaje, no norte, e Guileje, no sul...

Tratava-se sobretudo de reforçar a 'força anímica' (Pedro Pires) dos guerrilheiros, seriamente abalada com a notícia brutal do desaparecimento do líder... Era preciso mostrar, interna e externamenete, que o PAIGC conseguia sobreviver ao desaparecimento (físico) de Cabral...

'Nino' explica, a seguir, por que é que as operações sobre Guidaje não puderam ser devidamente coordenadas com as de Guileje, conforme o planeado. Quando a guerrilha concentrava forças na região, apareceu a aviação e faz bombardeamentos. Os combatentes do PAIGC ripostaram e a operação começou... Precipitadamente.

Esta e outras fahas de informação e coordenação não reconhecidas e comentadas por 'Nino' que evoca aqui também o derrube por um Strela, em 25 de Março de 1973, do Fiat G-91, pilotado pelo então Ten Pilav Miguel Pessoa, sob os céus de Guileje...

Segundo ele (e essa versão é também corroborada por Pedro Pires, no seu depoimento, na II Parte do filme de Diana Andrnga e Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra), a "operação de Guileje" começou com uma espécie de armadilha, montada à nossa Força Aérea. Os guerrilheiros sabiam que, após um ataque a Guileje, era pedido apoio de fogo a Bissalanca. Dez minutos depois, eram sobrevoados e bombardeados pelos Fiat. Daquela vez, havia o Strela, um moderno míssil terra-ar, disponibiliado pelos soviéticos, tendo em vista a escalada da guerra... O artilheiro do PAIGG, encarregue de disparar o Strela (Caba Fati, hoje major,se bem percebi o nome) daquela vez não falhou... A euforia foi tão grande, entre as hostes do PAIGC, que eles nem se deram o trabalho de procurar o piloto e de aprisioná-lo, no caso de ainda estar vivo... (Vd., a este respeito, o testemunho do antigo guerrilheiro Féfé Gomes Cofre, na II Parte do filme da Diana Andringa e do Flora Gomes)

Enfim, explica ainda sumariamente como foram desencadeadas no terreno as operações contra Guileje, entre 18 e 25 de Maio de 1973... Não esconde, pelo contrário, que o PAIGC sabia muito pouco ou nada sobre as posições das NT, os seus hábitos, as suas rotinas de abastecimento...Providencial foi a captura de um milícia local que lhes deu informações preciosas... A "operação Guileje" começaria, na madrugada de 18 de Maio de 1973, com uma grande emboscada, com uma frente de 100 metros, planeada por 'Nino', às forças (milícias) que saíam para se abastecer na fonte que ficava nas imediações do quartel... Essa operação,como se sabe, durou até 25 de Maio de 1973, com a entrada do PAIGC em Guileje, no dia em que se comemorava o 10º aniversário da criação da OUA - Organização da Unidade Africana... Depois de Guileje, 'Nino' virou-se para Gadamael... (LG)

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4045: Nino: Vídeos (3): Em Portugal, um vizinho meu, antigo combatente, reconheceu-me e tratou-me por 'comandante Nino'...

9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4002: Nino: Vídeos (2): O amigo de Cuba... e de Portugal, que em Março de 2008 pedia mais professores de português (Luís Graça)

8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3996: Nino: Vídeos (1): Ouvindo a versão do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje (Luís Graça)

1 comentário:

Anónimo disse...

Luís
Quando é referido no poste "O artilheiro do PAIGG, encarregue de disparar o Strela (Caba Fati, hoje major,se bem percebi o nome)", fiquei um bocado admirado pois, quando lá estive em 1995 no Guileje, o grupo de altos comandos guineenses, onde se incluía o Nino Vieira, contou a história do meu abate e referiu um nome de que já não tenho a certeza absoluta - Camará? Kamará? - como tendo sido o atirador do Strela que me acertou (era qualquer coisa parecida com "camarada" mas, despistado como sou, nem escrevi o nome...). Na altura referiram ainda que ele não estava de momento na Guiné mas sim em Angola, como cooperante.
Enfim, não tem grande importância, pois fosse Caba Fati/Camará/Kamará, o facto é que fiquei cá para contar... O pessoal presente ficou um bocado chocado quando lhes disse descontraidamente que tinha andado lá mais um ano à procura dele, mas que, pelos vistos não o tinha encontrado... Mas de que é que estavam à espera? Que lhe quisesse dar um abraço, como fazemos aqui no blog?!
Um abraço (Cá está!)
Miguel Pessoa