Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Em primeiro plano, a Maria Alice, o António Pimentel e o Zé Manel... Daqui vê-se cinco distritos, garante o nosso guia...
É um dos miradouros dos que constam na minha lista dos top ten. Lá em baixo, o mítico Rio Douro... À volta, o Portugal profundo, cinco distritos... Cá em cima, junto à capelinha de São Leonardo, eu, a Alice, o meu amigo Arq José Paradela, os nossos camaradas Zé Manel e António Pimentel, e ainda um amigo e antigo colega de trabalho do Zé Manuel, que veio passar com ele a Páscoa, e que vive em Campo Benfeito, Castro Daire, na Serra de Montemuro... (Tal como o António Pimentel, que é da Figueira, vive no Porto e já é habitué da Quinta da Senhora da Graça).
Domingo de Páscoa, dia 12 de Abril... Viajando de Candoz, Marco de Canaveses, até à Régua, ao longo do Rio Douro, fomos almoçar, mais um casal amigo, ao restaurante Castas & Pratos, instalado num dos antigos e soberbos armazéns da CP, junto à estação. Aí desafiei o Zé Manel para beber um café e levar-nos ao São Leonardo...
Escusado será dizer que a refeição foi acompanhada com um magnífico, voluptuoso, encorpado Vinho Tinto Douro DOC Penedo do Barco 2005, uma obra-prima saída das mãos do Zé Manel, da Luísa Valente Lopes e do filho do casal, o jovem e talentoso enólogo Vasco Lopes...
Nem a hora nem o dia (com núvens...) era oa melhores, mas São Leonardo merece uma outra e outra visita, em próximas oportunidades: seguramente, de manhã cedo; seguramente, ao fim do dia; seguramente no Outono, depois das vindimas, "com as parras coloridas" (Josema)...
Miguel Torga, o grande escritor nascido em Sabrosa (São Martinho de Anta), tal como a nossa camarada Giselda Pessoa, tinha aqui , em São Leonardo da Galhafura, um dos seus locais de refúgio e de meditação... Ninguém como ele soube cantar este miradouro, onde é obrigatório ir para limpar a vista e a reconfortar a alma...
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Um dos azulejos com as celebradas palavras de Miguel Torga...
"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta». É desta forma que o médico e escritor transmontano Miguel Torga [1907-1995] descreve o local de São Leonardo de Galafura, no concelho do Peso da Régua, no «Diário XII»
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Azulejo com o poema de Miguel Torga, afixado na parede da capelinha local, dedicada ao culto de São Leonardo...
São Leonardo da Galafura
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga
Vídeo e fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3921: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (8): Um poema chinês do Séc. VIII com dedicatória à malta de Matosinhos (A. Graça de Abreu)
"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta». É desta forma que o médico e escritor transmontano Miguel Torga [1907-1995] descreve o local de São Leonardo de Galafura, no concelho do Peso da Régua, no «Diário XII»
Peso da Régua > Galafura > São Leonardo de Galafura > 12 de Abril de 2009 > Azulejo com o poema de Miguel Torga, afixado na parede da capelinha local, dedicada ao culto de São Leonardo...
São Leonardo da Galafura
À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga
Vídeo e fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados
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Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3921: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (8): Um poema chinês do Séc. VIII com dedicatória à malta de Matosinhos (A. Graça de Abreu)
8 comentários:
Devo acrescentar, por um questão de justiça, que é o Zé Manuel é um óptimo guia e um apaixonado da sua terra e da sua região. As "voltinhas" que fizemos, em tão pouco tempo, no domingo de P´+ascoa, ajudam-nos a perceber melhor os poemas que ele escreveu em Mampatá... Obrigsdo, Zé. Prometo voltar... sempre. Luís
Gosto de visitar o V. blog.
Não estive na Guiné mas um irmão meu esteve lá, de 1965/67, e vivi intensamente a vossa/dele guerra.
E também, há una anos, estive em São Leonardo de Galafura uma das paisagens que mais me impressionou. É muito linda a nossa terra
Caro Luís:
Agora que andaste por montes e vales (mais montes que vales...) calculas o que era um passeio a pé de S.Martinho de Anta até S.Leonardo de Galafura, como o Torga chegou a fazer - embora por atalhos, claro. Era senhor de boa passada - o meu sogro (pai da Giselda) referia-o frequentemente, pois foi seu companheiro em muitas caçadas.
Um abraço. Miguel Pessoa
Miguel:
Estes transmontanos são, de facto, grandes andarilhos. Oupelo menos os da geração do Miguel Torga e do teu sogro.
O nosso camarada José Manuel Lopes, da Régua, com quinta sita já em São João da Pesqueira, a escasos três quilómetros da Régua, conhece os trilhos durienses todos, dali da região, e é frequente vê-lo, ora no Marão ou em São Leonardo de Galhafura... Com os amigos, com os clientes do seu turismo rural e do seu vinho, e agora com os camaradas da Guiné...
Fui há tempos a Sabrosa e passei perto de São Martinho de Anta... Mas não cheguei a visitar a terra do Miguel Torga, ou melhor, do Adolfo Rocha... Com pena minha... Mas quando se viaja em grupo, não se pode escolher o nosso trilho especial... Ficará para outra altura...
Também andei anos para ir a São Leonardo de Galafura... Sou fã de miradouros... Mas imagino que, a pé, é bem longe a distância entre São Martinho e São Leonardo...
Um dia haveremos de encontrar-nos por aquelas bandas, de que gosto muito... Luís
E por que não, amigos, conhecer um pouco melhor este homem, que foi médico, escritor e um grande português ? Miguel Torga (1907-1995), biografado por Rolando Galvão, no sítio Vidas Lusófonas:
http://www.vidaslusofonas.pt/miguel_torga.htm
Aqui vai um cheirinho:
(...) A PÁTRIA É UM ÍMAN
O Reino Maravilhoso de Trás-os-Montes, é um dos seus grandes amores. Sempre na sua alma viaja com ele, parece vê-lo em toda a parte. Surge a cada momento na sua prosa. Sempre enaltecida como terra de Deus e dos deuses.
Não sendo apenas dele, sê-lo-á apenas dos que queiram merecê-lo. Assim o diz em Portugal, onde faz um quadro de outro dos seus amores: o país.
Esta adoração conduz a excessos. No vizinho Minho mostra-se enfastiado com a presença permanente do verde. Desanimado, à procura de um Minho com menos milho, menos erva, menos videiras de enforcado. Encontra-o onde a relva dá lugar à terra nua, parda, identificada com o panorama humano. Ou seja: com o seu Trás-os-Montes natal.
Nesse seu torrão vê o que os outros não conseguem ver. Um paraíso onde basta estender a mão e logo se desentranha em batatas, azeite, figos, nozes. Um sem número de outras riquezas e mimos que nenhuma imaginação descreve.
Mas anos antes falara do Marão, que não dá palha nem grão, as crianças famintas a pastar ervas.
Reconhece que o estar bem jantado é condição para admirar a beleza da cor e do relevo dos cumes das serranias...
O exagero atinge níveis que só a simbiose da paixão com a poesia e os sem limites da genialidade explicam. As rixas entre os naturais que às vezes se agridem, (...) que parecem feras, resulta de uma exacerbação de puras e cristalinas virtudes...
Évora e os seus monumentos atraem-no vivamente. Ela sintetiza a diversidade dos povo anteriores, latinos, mouros e os outros..
O seu amor pela Pátria, um íman, surge linha a linha. Vai a Espanha, Verin e delicia-se do alto de um castelo a olhar Portugal.
Um tanto estranhamente aceita o conceito da multicontinentalidade, embora temperado pelo seu humanismo universalista. Mais tarde vinca as diferenças de privilégios entre as duas etnias.
Cada monumento, cada pedra, cada planície, o mar, a serra, desde que portugueses, são fervorosamente enaltecidos...
Um certo iberismo: a minha pátria cívica acaba em Barca de Alva, (...) a telúrica nos Pirinéus.
Não reflecte uma posição pela união política. É feito das própria referências a um legado cultural e um destino comuns. Em A Vida (Poemas Ibéricos) ao referir os povos vasco, andaluz, galego, asturiano, catalão e português, esquece os castelhanos. Colocando os heróis lado a lado, chama desumano e brutal a Cortez, enquanto de Albuquerque parece apenas que chora o seu chorar:
(...) Por isso a Índia há-de acabar em fumo
Nesses doirados paços de Lisboa;
Por isso a pátria há-de perder o rumo
Das muralhas de Goa.
Publicado antes do livro, nos Poemas Ibéricos sobressairá o que dedica a Lorca. Antecedendo o prefácio da sua mulher à edição bilingue (português e castelhano em tradução de Eugénio de Andrade), Torga diz trazer torgas à rosa de Granada e que virá enquanto houver poesia, vida e povo na Ibéria.
(...)
Caro António, Grande Pimentel, amigo e camarada:
Soubemos hoje, 15 de Abril, ao visitar a Tabanca de Matosinhos, que fazias anos e que tiveste direito a grande ronco!... Sabe sempre bem sermos lembrados e mimados pelos amigos no dia no nosso aniversário...
Queremos que saibas quanto, na nossa Tabanca Grande, te estimamos pela tua camaradagem, fino trato e cultura, além da tua guineeidade...
Fazemos votos que consigas dobrar a idade, com saúde e na nossa companhia. Para já, a meta é o centenário.
Recebe uma Alfa Bravo dos editores do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Luís, Carlos e Virgínio.
Um abraço a todos.
Aniversariantes e viajantes do DOURO.
CMS
68/ 69 Mansambo
Guiné
Do António Pimentel,
pimentel44@gmail.com,
com data de 16 de Abril de 2009, 19.32h:
Obrigado Amigos,
não só pelos parabéns mas também pela amizade, companheirismo e solidariedade que tenho encontrado junto de vós.
Tenho consciência de que a minha colaboração para o blogue tem sido quase nula, mas a promessa fica aqui feita, alguma coisa irei juntar à enorme obra que vocês têm conseguido erguer.
Um Alfa Bravo
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