quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3644: Tabanca Grande (105): António Gomes da Cunha, Radiotelegrafista da CART 1613, "Os Lenços Verdes" (Teixeira Pinto e Guileje, 1966/68)

1. Mensagem de António Gomes da Cunha, Radiotelegrafista da CART 1613, Os Lenços Verdes, Teixeira Pinto e Guileje, 1966/68, com data de 16 de Dezembro de 2008:

Amigo Luís Graça

Sou António Gomes da Cunha, Radiotelegrafista da CART 1613, Os Lenços Verdes, que durante 11 meses permaneceu em Guileje.

Companhia do Sargento/Capitão Neto entretanto falecido, que tão explicitamente relatou os roncos e feitos da nossa malta. Ainda hoje me custa lembrar esse tempo sem deixar cair uma lágrima pelo sofrimento que ali passámos e acima de tudo pelos camaradas que ali perderam a vida para nada.

Além da nossa passagem por Guileje, logo que chegámos à Guiné fomos fazer IAO para S. João de Bolama, durante dois meses e depois ficámos seis meses como força de intervenção às ordens do Comando-Chefe das Forças Armadas, logicamente que sempre que saíamos de heli ou de barco, éramos largados no meio do barulho. Passámos 30 dias na mata do Jolmete e na semana Santa de 1967, onde fizemos o nosso primeiro ronco, ao destruír um acampamento turra. Matámos manga deles e prendemos 18 pessoas e apreendemos vário material. Nos dias que se seguiram tínhamos festa à noite com permanentes ataques.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O 2º sargento Neto, que fazia as funções de 1º sargento da companhia, fotogrado junto a um abrigo e à viatura blindada Fox.

Foto: ©
Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados .

Fomos por diversas vezes condecorados com medalhas de guerra a nível de Companhia e deixámos em Teixeira Pinto o nome dos Lenços Verdes bem gravados no Batalhão que ali permanecia na altura, como nas próprias populações, porque impusemos respeito aos turras da zona. Deixámos lá 5 irmãos de armas que recordo todos os dias.

Guileje/Mejo, eram zonas onde nos habituámos a viver todo o dia ao som das armas pesadas e um local onde diariamente se morria para ir buscar géneros e água a Gadamael. Todos aqueles que por lá passaram e tiveram a sorte, como eu, de regressar a casa, podemos considerar-nos as pessoas mais ricas do mundo.

Deixo aqui um abraço amigo a todos os companheiros da Guiné.
Com um abraço do
António Gomes da Cunha
(Malhado de Braga)
CArt 1613 – BArt 1896


2. Comentário de CV

Caro António Gomes da Cunha, bem-vindo ao nosso Blogue. Qualquer militar da CART 1613, do nosso querido Zé Neto, é sempre bem recebido na nossa Tabanca Grande.

Considera-te membro deste grupo de velhos ex-combatentes da Guiné, que mais não querem se não dar a conhecer as suas experiências e contar as histórias vividas no TO daquela pequena parcela de território africano.

Manda-nos as tuas fotos da praxe (uma do tempo de Guiné e outra actual) e conta-nos mais sobre a tua vivência naquele martirizado Guileje. Tens a responsabilidade de continuar a obra do saudoso Cap Zé Neto, que infelizmente nos deixou já há mais de uma ano (*). Não te esqueças que as tuas fotos de Guileje e não só, também serão importantes para o espólio do nosso Blogue (e do futuro Museu de Guileje, que os guineenses estão a construir, com a nossa ajuda).

Esperamos breves notícias tuas. Até lá, recebe um abraço da nossa malta e votos de um bom Natal e um novo Ano cheio de saúde.

Carlos Vinhal
Co-Editor
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2898: Efemérides (8): O Cap Zé Neto deixou-nos há um ano (Carlos Vinhal)

Vd. último poste desta série> 12 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3610: Tabanca Grande (104): António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

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