segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)





Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > Auditório > 13 de Dezembro de 2008 > Sessão de apresentação do livro do Cor Art Ref, Coutinho e Lima, A Retirada de Guileje: A Verdade dos Factos [ Linda-A-Velha: DG Editor, 2008, 469 pp, € 20 (*); pedidos do livro, directamente ao autor (**) ] > Diversos membros da nossa tertúlia (ou Tabanca Grande, como preferem uns, e outros não) deslocaram-se à Amadora, para assistir a este acto público. Entre eles, o Xico Allen (de Vila Nova de Gaia) e o Vasco da Gama (da Figueira da Foz) (terceira foto a contar de cima). Ou ainda o João Rocha (do Porto) ou o Nuno Rubim (do Seixal), aqui em conversa com o Xico Allen (segunda foto a contar de cima). Tudo isto num belo auditório de uma escola que formou muitos dos oficiais que nos comandaram, no TO da Guiné militar, escola essa guardada, não por imperiais leões de pedra, mas por velhos obuses da I Primeira Mundial, as peças 11.4cm T.R. m/ 917, mais conhecidas na gíria dos artilheiros por Bonifácios (primeira foto a contar de cima).
Nos postes anteriores esqueci-me de mencionar outras pessoas com quem estive a falar, por uma razão ou outra: (i) o nosso tertuliano Cor António Pereira da Costa (o único que ainda está no activo, sendo director da biblioteca do Exército, em Coimbra; falámos muito rapidamente sobre as últimas diligências relativas ao caso do António Batista, o morto-vivo do Quirafo); (ii) o jornalista Joaquim Furtado (que está a fazer investigações sobre a morte dos 3 majores no chão manjaco, e que se mostrou particularmente interessado no dossiê, organizado pelo nosso camarada Afonso M.F. Sousa)... Também cumprimentei e conheci pessoalmente o Eduardo Dâmaso. Reencontrei igualmente um antigo colega da DGCI - Direcção Geral das Contribuições e Impostos, o Torres, que afinal também passou por Guileje , no tempo do Cap Corvacho (CART 1613, 1967/68)...Convidei-o a integrar a nossa Tabanca Grande. Tive igualmente o prazer de estar por uns breves minutos com o Prof Eduardo Costa Dias, do ISCTE, um grande especialçista da Guiné-Bissau onde vai regularmente... Acabo de receber hoje um mail dele, que diz o seguinte:
"Como vais? Ontem acabamos por não nos despedirmos. Luis: achas que conseguirias meter na noticia que certamente farás no blog acerca do lançamento do livro, a informação de que vários homens grandes de Guiledge, sabendo do lançamento do livro, fizeram questão de enviar mensagens gravadas ao Coutinho e Lima e que essas mensagens foram entregues ao Coronel?"... Fica dada a notícia. Infelizmente, não tenho fotos de toda a gente...

Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves:

Caros Luís, Virgínio e Carlos

Embora a pergunta da sondagem [º 10, a decorrer de 12 a 18 de Dezembro] seja para mim muito perceptível, julgo que a mesma não está bem elaborada e poderá induzir em erro.

O discordo poderá muito bem estar a ser utilizado como apoio a uma decisão, de que afinal se quer discordar. E a inversa, claro.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

2. Resposta de Luís Graça:

Joaquim: É sempre complicado... A questão tem de ser clara, concisa e precisa... Agora já não posso mudar (a não ser anulando a sondagem)... Vou acrescentar uma nota, do tipo:

A questão é: Discordas ou concordas com a seguinte afirmação: "A posição de Guileje era tão defensável como a de Guidaje ou Gadamael [e não Gandembel, como por lapso ficou escrito...], pelo que a decisão de retirar em 22 de Maio de 1973 foi um erro".

Eu sei que mesmo assim é discutível: Posso achar que a posição era defensável e mesmo assim apoiar a decisão de retirar... O que o Coutinho e Lima procura demonstrar, apoiado em factos e documentos, é que a posição de Guileje tornara-se indefensável na noite de 21 de Maio de 1973 e que para poder continuar a defender a missão (a protecção de civis e militares ao cuidado do COP 5) só lhe restava retirar para Gadamael...

Este é o tipo de decisão clássico, em que o decisor está perante um dilema, não tem mais alternativas... Ou foge ou luta ("flight or fight"), ou retira ou resiste... Repara que a retirada podia ter-se transformado numa tragédia... Mas o mesmo podia ter acontecido caso o decisor optasse por ficar e resistir: sem comunicações, sem água, sem munições, sem reforços, sem apoio aéreo, com os abrigos superlotados (3 vezes mais do que a sua capacidade prevista)...

O PAIGC estava em condições de tomar o quartel, provocar muitas baixas mortais e aprisionar os militares (c. 200) e a população (c. 500)... A humilhação para o exército português teria sido muito maior; o PAIGC iria usar a conquista de Guileje (não o quartel mas os seus defensores) para efeitos de propaganda interna e externa...Uma coisa é conquistar um quartel vazio, outra é aprisionar (ou matar) 700 homens, mulheres e crianças, civis e militares...

Este é o raciocínio do nosso coronel, um homem que foi condenado antes de ser julgado. Mais: um homem solitário, sem apoios, nem à esquerda (MFA) nem à direita... Preso durante um ano, com redução do vencimento a metade, foram os seus amigos, em Bissau e em Lisboa, que se quotizaram (5 mil escudos / cada) para contratar os serviços de um bom advogado (João Palma Carlos)... Quatro advogados que cumpriam o serviço militar em Bissau, como oficiais milicianos, foram impedidos de o defender...

É importante ler o livro, para depois poder tomar posição...

De qualquer modo, eu não quero que a sondagem se transforme em acção de julgamento do comportamento do Coutinho e Lima, que é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande... Não quero que os nossos leitores tomem uma decisão emocional, mas tão apenas que votem, apreciando os factos...

Obrigado pelo teu interesse e cuidado... Tive pena de não te ver no sábado... Temos que começar a pensar no IV Encontro... Um abraço.


3. Resposta de Joaquim Alves:

Caro Luís

Não me passa pela cabeça fazer um "julgamento" do Coutinho e Lima e nem sequer tornar ainda mais dificil a sua vida ou a sua memória.

A verdade é que também não fui eu ou tu, ou qualquer outro, que decidiu fazer um livro para defender a sua posição.

Quando decidimos tomar uma posição pública, como ele decidiu tomar em relação a este assunto, fica-se sujeito à opinião dos outros.

Claro está que este assunto terá sempre pelo menos duas opiniões distintas: os que concordam com a decisão e os que não concordam.

Mas mesmo entre uns e outros as razões para o apoio ou a rejeição podem ser diversas, razões que podem envolver a política e razões da política, razões sentimentais, razões de nacionalismo exarcebado, razões de simpatia, e tantas mais que não têm fim.

E, meu caro Luis, é uma discussão que não tem fim, porque não há nada que prove que poderia acontecer isto ou aquilo.

Verdade é que, tanto Gadamael, como Guidaje, apesar de cercadas e até por mais tempo e com mais baixas, resistiram e ganharam essa guerra "especifica".

E a dúvida sempre restará, ou seja, será que com um novo comandante, e tropas especiais Guileje não teria destino igual aos outros? Não se serviu de qualquer modo o PAIGC do abandono do Guilege para declarar a guerra ganha?

São assuntos muito delicados e que nos tocam ainda de um modo, quer queiramos quer não, apaixonado e eu, meu caro Luis, sofro um pouco disso, da emoção à flor da pele.

Terei todo o cuidado nas coisas que eventualmente possa escrever sobre o assunto.

Julgo que ficou mais esclarecida agora a pergunta da sondagem.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

(**) Para aquisição do livro, contactar o Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima

Rua Tomás Figueiredo, nº. 2 - 2º. Esq.

1500 – 599 LISBOA

Telefone: 217608243

Telemóvel: 917931226

Email: icoutinholima@gmail.com

2 comentários:

Carvalho disse...

Em 1973, em Mampatá, ouvimos, durante uma semana inteira o martírio de Guiléje. Ouvi também dizer que uma bojarda caíu no depósito de géneros e a população faminta devorou os destroços alimentares.Sem comida, sem água, sem munições, sem evacuações...e sem certezas quanto ás tropas especiais, quem gostaria de um Vassalo e Silva(com todo o respeito) reeditado.

Anónimo disse...

Talvez não tenha sido exactamente assim.
O Mexia Alves já explicou que se a situação era "militarmente insustentável" em Guileje, não o foi em Guidage e Gadamael, com mais mortos, em cercos ou avanços dos militares do Paigc, com combates mais prolongados e creio bem mais duros. O que poderia ter acontecido se Coutinho e Lima não tem ordenado o abandono entra no campo das conjecturas.
A verdade dos factos, segundo Coutinho e Lima é que os guerrilheiros do Paigc, segundo Coutinho e Lima, só se aperceberam do abandono de Guileje três dias depois das Nossas Tropas terem retirado.
A questão era, sempre foi, política, a guerra injusta que Salazar e Caetano nos mandaram fazer.
Um abraço,
António Graça de Abreu