Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > 2007 > Uma foto, retirada (com a devida vénia...) do blogue Africanidades, do andarilho Jorge Rosmaninho ("jornalista, independentista, alentejano"...), membro da nossa Tabanca Grande (paga as quotas em géneros...).
O poste é de 31 de Janeiro de 2007 e tem por título Sempre Bijagós... Uma aventura pelas estradas e picadas de África que chegou ao fim - com muita pena de quem o seguia ao longe... Sim, chegou ao fim da linha, em 4 de Agosto de 2008... Entretanto, vale a pena transcrever três parágrafos onde o Jorge deixou expressa a sua gratidão à Mãe África, um belíssimo Último obrigado, dedicado simbolicamente à Mãe Ema:
"As plantas dos meus pés são de geografia fácil e as costas pouco exigentes. Vou a qualquer lado e durmo em qualquer cama. Até no chão, a mais espaçosa de todas. No entanto, nesta vida de andarilho há uma coisa que não se dispensa nunca: alguém que trate de nós.
"Quanto vale chegar a um lugar desconhecido, depois de umas valentes horas de estrada, e ter uma cama feita com uma rede mosquiteira branca a protegê-la, um balde de água limpa para tomar banho e uma vela para iluminar os fantasmas da noite? Muito. Se juntarmos a isto uma mamã perguntando-nos se preferimos peixe ou carne para o jantar… Talvez só o céu seja melhor! (...)
"A mãe Emma serve-me de metáfora às mães que têm tratado de mim nestes muitos quilómetros de estradas e picadas africanas. E foram muitas. A todas elas, muito obrigado. Obrigado em especial às minhas três mães de verdade, as de sangue, paixão e coração, que me criaram e criam com beijos e papas de leite, muitas vezes enviados por telefone ou apenas pelas correntes de ar que se passeiam por aí vagabundas – como eu – e me acompanham para onde quer que vá: Ana, Adelaide e Cláudia".
O penúltimo poste que ele publicou, em 3 de Agosto de 2008, no seu blogue (cinco anos, 300 mil visitas...) foi curiosamente um texto do Pepito (A sombra do Pau Torto), retirado do nosso blogue: 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: História de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)
Até à próxima encruzilhada, Jorge!
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Este período das festas de Natal e Ano Novo, não é o melhor para blogar, para comunicar através da blogosfera: há demasiado ruído, há demasiada saturação de um certo tipo de mensagens (por exemplo, pedidos de ajuda, manifestações de solidariedade, exibição da caridade dos ricos...).
Acabei de fazer uma limpeza à minha caixa de correio, profissional, relativamente ao ano de 2008, e fui deparar com meia dúzia de mensagens que li na devida altura mas que não reencaminhei para a caixa de correio do nosso blogue. Seleccionei algumas, vindas sobretudo de guineenses (que vivem na Guiné ou na diáspora, por exemplo no Brasil), e que me pedem coisas, sobretudo informação sobre as mais diversas coisas (desde direito a pensão de sangue a mapas e bibliografias)...
A publicação dessas mensagens seleccionadas, espero que ainda seja útil e vá a tempo. Conto com a boa vontade e o jeito solidário dos amigos e camaradas da Guiné que fazem parte da nossa Tabanca Grande. Mas também de muitos outros que não dão a cara (nem têm que dar) e que nos visitam regularmente. Este é também um blogue de afectos e de gente solidária (*)... Só tenho pena é de não poder ser, por enquanto, o Pai Natal da Guiné...
[ Mas eu fosse o Pai Natal, de verdade ? Se nós fôssemos o Pai Natal, de verdade ? Vá, digam lá, amigos e camaradas da Guiné, o que gostariam de poder fazer para tornar mais felizes os nossos amigos guineenses, homens, mulheres e crianças ? O que deixariam este ano no saco do Pai Natal nas tabancas da Guiné, em Bissau, nos Bijagós, em Catió, em Bafatá, no Cachungo, em Bambadinca, no Gabu ?] ... LG
1. Mensagem de 4 de Dezembro último, enviada por Ecylasaluy Moreira Borges
Assunto - Informações sobre Gabú
Boa noite Dr. Luís Graça,
Sou guineense e socióloga, no momento eu estou no Brasil terminando o mestrado em estudos étnicos e africanos, o meu tema é: será que o casamento precoce tem uma influência na gravidez das jovens islâmicas (fulas e mandingas) em Gabú, mais só que estou com muitas dificuldades em conseguir material, queria saber se o senhor poderia me indicar algumas referências bibliográficas.
Atenciosamente,
1. 1. Comentário de L.G.:
Cara amiga e confrade, era pressuposto o INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa , de Bissau, ter algum acervo documental sobre o problema do casamento precoce e a gravidez na adolescência entre a comunidade islamizada da região do Gabu... Mas nós sabemos o que aconteceu ao INEP e ao seu centro de documentação, na sequência da guerra civil de 1998... (Foi uma tragédia imensa: para além das vidas que se perderam, a Guiné-Bissau fiquei igualmente amputada de um importante património cultural, parte do seu acervo documental que representa a sua memória e a sua identidade)...
Fora da Guiné-Bissau, talvez possa procurar nas bibliotecas de instituições universitárias portuguesas (para além das brasileiras...) onde há cursos de sociologia e antropologia tais como o ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, a FCSH/UNL - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ou o ISCSP/UTL - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa... Dê também um salto ao portal Memória de África, uma biblioteca virtual gerida pela Fundação Portugal-África, ligada à Universidade de Aveiro.
É, para já, a ajuda de emergência que lhe posso dar... Com tempo, posso pedir uma pesquisa bibliográfica sobre este temática. Tenha um bom Natal e boa continuação dos seus estudos, aí no Brasil, grande país da lusofonia...
2. Mensagem de 1 de Dezembro último, enviada por Eliude Maria da Silva
Oi Luís Graça:
Sou brasileira e tive conhecimento deste preciossímo site ainda este ano quando pesquisava sobre a vida de Florence Nighitngale na Universidade em que estudo. Seu site [Luís Graça, sociólogo: Saúde e Trabalho] foi-me muito útil e desde aquela ocasião tenho perdido horas a pesquisar por este valiosissímo acervo.
Recentemente conheci dois estudantes guineenses que fazem faculdade aqui em Florianópolis (UFSC) e, por uma questão de curiosidade, sadia, decidi-me a pesquisar sobre sua terra natal, a impressionante Guiné-Bissau. O que encontrei na internet não foi muita coisa, exeção a seu site que enriqueceu-me em conhecimento atravês do acervo fotográfico sobre este país.
Por estar cursando Enfermagem, interessei-me pelo Hospital Simões Lopes ou Simões Mendes, não me recordo agora muito bem o nome. Gostaria então, se possível fosse você enviar-me ou até mesmo indicar-me sites, leituras ou literaturas sobre este hospital e sobre Guiné-Bissau, bem como sua capital Guiné.
Qual a situação de Guiné (capital) hoje? É a mesma que as imagens de 1996,1998 e 2001 mostram em seu site, isto é, devastada, arruinada, abandonada? Como vivem os guineenses?
Pergunto isto porquê percebo que este dois estudantes guineenses quando falam dizem que nós, brasileiros, não conhecemos a realidade do país deles, isto é, não é só pobreza ou muita pobreza mas é um país muito bom para morar-se. É isto mesmo? Eles dizem que somos influenciados pelo negativismo que a grande mídia televisa joga em nossas mentes aqui no Brasil, não permitindo-nos pensar e ver a boa realidade de Guiné-Bissau.
Agradeço muitíssimo se puderes me ajudar e mais uma vez parabenizo-o pelo maravilhoso sítio.
Abraço fraterno
Eliude.
2.1. Comentário de L.G.:
Querida Eliude (mas que nome maravilhoso!):
Para além da minha página pessoal, que você já conhece, tenho também este blogue que se chama Luís Graça & Camaradas da Guiné... É hoje um blogue colectivo com contributos de muitas centenas de homens (e de algumas mulheres) que conheceram a a antiga colónia portuguesa da Guiné, na África Ocidental (hoje, Guiné-Bissau, país independente mas um dos mais pobres do mundo)... E conheceram-na na pior altura para se fazer turismo: quando há guerra...
A guerra da Guiné foi o nosso Vietname e durou cerca de 11 anos (1963/74). Somos, quase todos, veteranos dessa guerra... Claro, temos laços afectivos que nos prendem àquela terra e às suas gentes maravilhosas... Mas o nosso core business não é a Guiné-Bissau actual, os seus problemas de desenvolvimento (político, social, cultural e económico...).
Preferiria que foi um guineense a responder-lhe, a responder à sua pergunta. "Qual a situação de Guiné hoje? É a mesma que as imagens de 1996,1998 e 2001 mostram em seu site, isto é, devastada, arruinada, abandonada? Como vivem os guineenses?"...
Já pedi a uma dos nossos amigos, guineense, para lhe responder. Aguardo que o Prof Doutor Leopoldo Amado, neste momento a trabalhar na Universidade de Cabo Verde, me mande a(s) sua(s) resposta(s) à(s) sua(s) pergunta(s)... Eu poderia responder-lhe, não prefiro não o afzer em público: umas das nossas 10 regras de ouro é justamente a da "não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo)"...
Apareça, será sempre bem vinda...
3. Mensagem de 14 de Outubro último, enviada por José Geraldo Freitas da Silva
Assunto - Quantitativo das FFAA portuguesas durante a guerra do Ultramar.
Prezado Senhor:
Sou brasileiro de Belém do Pará e estudioso de conflitos ocorridos na Africa, em particular a guerra do Ultramar. Assim, gostaria de saber qual o quantitativo das forças portuguesas (Exército, Marinha e Aeronáutica) empenhadas durante o conflito.
att,
José Geraldo Freitas Silva
(silgeraldo@gmail.com)
3.1. Comentário de L.G.:
Meu caro José: Boa pergunta. Não tenho aqui a resposta na ponta dos dedos, mas posso sugerir-lhe que consulte o sítio (como se diz aqui, em Portugal)Guerra Colonial 1961-1974, criado recentemente pela A25A- Associação 25 de Abril. Uma verdadeira enciclopédia sobre a guerra provavelmente mais longa do Séc. XX, travada por um pequeno país europeu, a milhares de quilómetros de distância, em África, em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique).
Boas pesquisas, boas leituras.
4. Mensagem de Iaia Djamanca, com data de 9 de Outubro último:
Ao iniciar gostaria de poder agradecer do fundo do meu coração por este magnífico trabalho da Vossa excelência, Senhor Luís Graça, sociólogo do trabalho e da saúde, doutorado em saúde pública, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, em Lisboa.
Fiquei impressionada com este brilhante trabalho que me facilitou num simples pesquisa que tava fazendo na minha faculdade aqui no Rio de Janeiro (Brasil) com os colegas brasileiros que queriam tanto conhecer algo da minha terra e o nosso crioulo. Finalmente consegui encontrar dentre muitas que eram do crioulo de Cabo-Verde, o seu trabalho.
Gostei muito e peço a Deus que apareça milhares de trabalhos como o seu para a Guiné - Bissau.
Obrigado pelo trabalho...
De: Iaia Djamanca
Estudante de Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
4.1. Comentário de L.G.:
Querida Iaia (um nome feminino bem guineense, bem lindo):
Fico encantado com as suas palavras. Mas dispenso o... Excelência. Trate-me apenas por Luís, um amigo da sua terra e do seu povo mas que, infelizmente, não fala fluentemente o crioulo... Espero que volte depressa à sua terra e que tenha ocasião de aplicar as suas novas competências no domínio das ciências da documentação. O seu país precisa de si. Um beijinho.
5. Mensagem de 28 de Setembro de 2008, enviada por Adulai Gomes Rodrigues
Caro amigo Luis Graça!
Sou natural das ilhas Bijagós - ilha de Sogá, estou muito interessado pelas histórias de outrora que escreve relactivamente à guerra colonial na Guiné. Mas o mais relevante para mim é sobre as ilhas Bijagós, de formas que sempre lhe peço apoio no sentido de me ter como o seu menino. Estou a tentar escrever um livro de histórias sobre as ilhas Bijagós, mas tenho muitas dificuldades, sejam materiais assim como técnicas e morais, pelo que preciso muito do seu contributo.
Como é a primeira vez espero a resposta para mais um contacto.
Muito obrigado.
Adulai Gomes Rodrigues
Natural das ilhas Bijagós - Sogá, tabanca de Eticoba
Estudante de Economia na Universidade Amilcar Cabral em Bissau
Assistente pesquisador no Projecto de Saúde de Bandim.
Celular: (+245) 667 27 88 ou 722 56 61
5.1. Comentário de L.G.:
Meu caríssimo Adulai:
Não sei a sua idade, mas eu pela minha parte devo ter a idade do seu pai... A guerra colonial acabou em 1974 (terá acabado mesmo em 1974 ?) e eu regressei da Guiné em Março de 1971... Só lá voltei em Março... de 2008. Muito tempo... Infelizmente não conheci nem conheço hoje as ilhas (que me dizem maravilhosas...) do seu arquipélago... Posso adoptá-lo como 'meu menino', quero ajudá-lo, mas sinceramente não sei muito bem como... O mais simples é perguntar-lhe se ainda precisa da minha ajuda e como posso eu ajudá-lo... Em que ponto está o seu livro ?
Entretanto, há outros membros do nosso blogue que conhecem os Bijagós e provavelemente até a sua ilha (Sogá) e a sua tabanca (Eticoba)... Vamos contar com a sua (deles) ajuda e interesse... Mantenhas.
_________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 9 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3428: Ser solidário (24): Em marcha a expedição de ajuda humanitária de 2009 (José Moreira / Pepito / Carlos Silva / Xico Allen)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Luis Pai Natal
Fiquei "tocado" pelo cuidado e pela (ternura?)colocada nas respostas à quantidade e à diversidade da correspondência recebida.
Abraços
Alberto branquinho
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