1. Mensagem de José Eduardo Alves, (Leça) (*), ex-Condutor da Cart 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 29 de Maio de 2009:
Camaradas editores
Venho pela presente, dar as boas-vindas, ao blogue do meu ex-Comandante de Companhia, CART 6250, Os Unidos de Mampatá. (**)
Não é demais, saudá-lo, pois é uma pessoa que eu sempre admirei, e já lhe agradeci pessoalmente por ter tomado conta de mim na Guiné, pois eu era tão revoltado com a tropa que às vezes me portava mal, mas graças a ele, tenho a Caderneta Militar limpa. É um homem com um grande coração, pois conduziu muito bem os homens que lhe foram confiados, não é por acaso que vem dar a cara em todos os convívios que se realizam anualmente, e é de realçar o carinho que toda gente tem por ele.
Não posso deixar de dizer que há três anos lhe falei desta família, embora só agora tenha aparecido. Seja bem-vindo a esta casa. Devo dizer que por este amarelo sempre tive apreço, só gostava que ele me explicasse porque é que na minha caderneta militar está que eu fui transferido para a 1.ª Rep do QG, em Bissau, e eu nunca saí de Mampatá. Eu era para ser transferido, para ser condutor do Carlos Fabião, que era o Comandante das Milícias da Guiné, ou coisa parecida, porque o condutor dele tinha acabado a comissão. Numa passagem por Bissau orientei-me, mas o meu Comandante deixou que todos os papéis fossem feitos, acabando eu por ficar em Mampatá. Muito obrigado.
Como estou à vontade, aqui vai uma pequena estória.
Estava eu de serviço à agua, porque inicialmente nós íamos buscar a agua a Aldeia Formosa, eram oito da noite, já estava a dormir, chega o sargento de ronda e chama:
- Oh Leça, você está de reforço.
- Mas eu não estive de serviço de dia, logo não posso estar à noite. Façam entrar a reserva.
- Já entrou, portanto você tem que ir para o posto 8.
Lá me convenceu. Cheguei ao posto, e pensei:
- Está bem.
Afinei o ouvido e da messe dos sargentos e oficiais vinha o toque da viola.
- Então é aquele que para os senhores não podia estar onde estou.
Que faço? Pego na G3 e dou duas rajadas. De imediato veio o sargento de ronda:
- Eh pá, que foi?
- Fique aqui, que eu venho já.
Fui à tabanca levar a arma e dizer ao Comandante Marcelino para mandar o da viola para o posto 8. Não vale a pena explicar a confusão que aquilo deu, mas eu é que não fui para o posto.
O Comandante Marcelino demorou dois dias a chamar-me e a convencer-me a aceitar um castigo, que foi sete dias a supervisionar a abertura de uma vala para nos abrigar em caso de ataque. Deu-me dois africanos para o trabalho, só que eu era tão querido na população que apareceram aí uns para me ajudar. Tive que explicar que o meu castigo eram os sete dias e não abrir a vala até ao fim, mas o sétimo dia foi perdoado.
Falta aqui dizer que convidei o Comandante Marcelino a ir comigo e com a minha esposa à Guiné, mas como o convite foi feito muito em cima da hora, não deu para aceitar. Acho que cumpri o meu dever, porque eu gostava que ele fosse. Talvez para o ano.
Eu sei que o trabalho no blogue tem sido intenso, por isso deixo ao vosso critério. Já mandei as fotografias para a adesão e perguntei se a minha esposa também pode fazer parte do blogue, porque ela diz que também foi militar, já que éramos casados quando fui para tropa.
Confirmo a nossa presença no Encontro em Ortigosa, s/dormida, José Eduardo Alves e Maria da Conceição M. Alves, afinal havia amarelos bons.
Sem mais por hoje, um grande abraço deste camarada de armas
J. Eduardo Alves
__________
Notas de CV:
(*) Vd. último poste da série de 30 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4442: Blogoterapia (105): Falando de camaradagem, de brancos e pretos (José Eduardo Alves)
(**) Vd. poste de 29 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4437: O Nosso Livro de Visitas (65): L.J.F. Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250, Mampatá, 1972/74
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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