sexta-feira, 5 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4464: Tabanca Grande (149): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux de Enfermeiro da CCAÇ 1589, Guiné 1966/68

1. Mensagem de Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589, Guiné 1968/70, novo camarada que se apresenta na Tabanca Grande, com data de 30 de Maio de 2009:

Camarada Luis Graça

Gostava de fazer parte da Grande Tabanca, mas não tenho possibilidades de enviar fotos do tempo de tropa pois como tive um grande incêndio na casa onde morava, todas as fotos desse tempo, incluindo a Caderneta Militar, se foram. Por isso não consigo fotos antigas.
Como participar?

Armandino Marcílio Vilas Alves
Ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem
CCAÇ 1589
Guiné 1966/68


2. Mensagem enviada em 1 de Junho ao nosso camarada:

Caro camarada Armandino Alves
Obrigado pelo teu contacto.
Para fazeres parte da nossa Tabanca Grande só precisas de manifestar esse desejo, o que aliás já fizeste.
Manda então uma foto tua actual e conta-nos alguma coisa sobre ti e sobre a tua Unidade. Quando foste para a Guiné, quando regressaste, por onde andaste e tudo o mais que aches que devas escrever.

Aguardamos, então as tuas notícias para te receber formalmente.

Um abraço do camarada
Carlos Vinhal


3. No dia 2 de Junho recebemos esta mensagem de aprsentação do nosso novo companheiro Marcílio.

Caro camarada Carlos Esteves Vinhal

Aí vai a minha história do tempo de tropa:

Assentei praça no Regimento de Infantaria 7 em Leiria, 4.ª incorporação de 1965 como soldado.

Depois dos três meses de Recruta fui mandado para o Regimento do Serviço de Saúde em Coimbra onde fiquei classificado em 1.º lugar no Curso de Enfermagem e fui enviado para o Hospital Militar Regional n.º 1, no Porto onde fui colocado no Serviço de Infecto Contagiosas.

Terminado o Estágio, regressei a Coimbra donde fui despachado para a Academia Militar em Dona Estefânia.

Quando já tinha 11 meses de tropa recebi ordem para regressar a Coimbra onde me deram uma guia de marcha para o RI15 em Tomar onde estive dois dias, sendo depois enviado para o Depósito Geral de Adidos, em Lisboa, pois a minha mobilização era de rendição individual.

Embarquei num cargueiro da CUF - Alfredo da Silva - onde fomos alojados no porão.

Cheguei a Bissau a 6 de Outubro de 1966. Fui enviado para Santa Luzia, para o 600, e apresentei-me na Companhia de Caçadores 1589, que salvo erro tinha chegado em Julho.

Enquanto em Bissau ainda fiz uma patrulha a nível de Companhia.

Em Dezembro recebemos ordem de marcha e embarcámos numa LDG rumo a Bambadinca onde desembarcámos, e em coluna de camiões, fomos para Fá Mandinga (de baixo) pois ficava num fundão onde o Amílcar Cabral tinha guardado o material para a sua fazenda modelo.

Em Fá de Cima estava outra companhia mais velha do que a nossa. Passámos aí o Natal e foi nesse aquartelamento que o Comandante de Companhia foi promovido a Capitão.

Nessa altura fizemos várias operações em Porto Gole, Enxalé e a maior foi à mata do Saraoul, a nível de Batalhão, e que durou 10 dias, onde fomos atacados por formigas, abelhas e onde não podiamos dormir devido aos obuses lançados de Mansoa sobre o aquartelamento inimigo.

Como prémio recebemos ordem para seguirmos para Nova Lamego onde passamos a Páscoa, fizemos uma patrulha a nível de Pelotão e depois arrancamos para o Che-Che, para atravessarmos o rio Corubal na célebre jangada.

Nessas travessias o pessoal desse aquartelamento, com as milicias na travessia dos Unimogs que levavam os garrafões de vinho, balançavam a jangada de maneira a virá-la e os garrafões e viatura caíam ao rio.
Depois ligavam um cabo de aço a uma GMC e tiravam o Unimog e depois mergulhavam para irem buscar os garrafões, mas só apareciam metade dos que caíam.

Atravessado o Rio Corubal e com todo o pessoal do outro lado, lá seguimos em direcção a Madina do Boé, trajecto esse feito a pé, pois havia o perigo das minas.

Ao segundo dia apareceu a FAP com os Fiats e os bombardeiros e aí íamos descansando à vez em cima dos carros. Para nos levantar a moral, em certo ponto do trajecto estavam duas GMC todas queimadas pois tinham sido atacados pelo IN e houve luta corpo a corpo.

Dizem que morreram sete militares entre soldados e milicias. O meu pelotão foi destacado para Béli que ficava a 60 Km de Madina, para a esquerda.

Estivemos aí de Abril de 1967 a Fevereiro de 1968. Entretanto a Companhia seguiu para Madina do Boé onde teve um morto, atingido a tiro na barriga por um atirador solitário, que também teve a mesma sorte pois foi abatido a rajada de G3.

No regresso ao Che-Che e apesar de trazermos de cada lado da picada, picadores de minas, uma Daim ler, pisou uma e os tripulantes, o apontador de metralhadora voou por cima da mesma e poucos ferimentos sofreu. Em contrapartida o condutor por não trazer capacete de protecção, sofreu traumatismo craniano com perda de massa encefálica, e morreu antes mesmo de ser evacuado. Só depois soubemos que eles se tinham oferecido como voluntários a quatro dias de regressarem à Metrópole.

Novamente atravessámos o Corubal e mais uma vez um Unimog caiu ao rio com material nosso. Eu fiquei sem o capacete, a bolsa de enfermagem e parte do camuflado.

Regressámos a Bissau onde a minha Companhia embarcou de regresso à Metrópole onde chegou em 16 de Maio de 1968. Eu fui para o QG, onde estive até Setembro, embarcando para a metrópole noutro barco da CUF (salvo erro o Ana Mafalda).

Quarenta anos depois conseguimos, graças ao Furriel Carvalho, que muita gasolina gastou para conseguir a lista completa do pessoal da Companhia e depois o contacto pessoal ou telefônico com cada um.

Assim em 24 de Maio de 2008 fizemos o 1.º almoço nos arredores de Viana do Castelo juntando cerca de 50 camaradas. Este ano foi Bustelo-Amarante no dia em que a Companhia fez 41 anos que chegou a Lisboa, 16 de Maio


4. Comentário de CV:

Caro camarada, bem-vindo à Tabanca Grande.
Um pequeno à parte só para te dizer que és o segundo Marcílio que conheço, sendo o primeiro um tio meu.

Pena que te tenha acontecido aquele contratempo do incêndio em casa, pois além das perdas irreparáveis de obejectos que lembram o nosso percurso ao longo da vida, há que somar os danos materiais. Esperamos que tenhas já ultrapassado esse mau momento da vida.

Como dizes, não tens recordaçoes fotográficas da tropa, mas tens uma coisa que só a morte apaga, que é a memória.

Recorre a ela e conta-nos as estórias vividas pelo enfermeiro que foste. A tua actividade como curador das maleitas de militares e civis, deixaram-te concerteza, marcas indeléveis.

Com votos de muita saúde para colaborares connosco, deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia.

O teu novo amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Armandino Alves

Bem vindo ao Blogue e ao grupo.

Começa a chegar mais gente que andou na banda sul do Gabu, mais concretamente na estrada Nova Lamego - Madina do Boé, não esquecendo os entrepostos de Canjadude e Cheche, além do desvio até Beli.

Depois da retirada de Madina 06FEV69, a minha subunidade (CCAÇ 5) ficou a guardar a fronteira sul, em Canjadude, até 20AGO74.

Entretanto "resolvi" voltar para casa.

José Martins

Anónimo disse...

Caro Armandino Alves

Pelo que contas, essa jangada para a travessia do Corubal em Che-Che já era famosa, mesmo antes da fatídica travessia que se saldou num dos maiores desastres das NT.

Só não compreendo como, com esses conhecimentos adquiridos não houve mais precauções...

Abraço de
Jorge Picado

Anónimo disse...

Uma nota e observação.

Fá Mandinga (a de baixo) não era !!!!

A de Baixo era BALANTA, a de Cima era MANDINGA.

CONFUSÃO ??????

CMSantos 68/ 69 Fá e Mansambo.

Anónimo disse...

Caro Armandino Alves

Até que enfim.
Com a tua chegada deixei de ser o lanterna vermelha (e eu que gosto do azul, e do verde, mas se for fresco).

Sê bem-vindo á Tabanca Grande
Um abraço

cumprim/jteix