Guiné-Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).
Foto: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados
1. No dia do enterro de Luís Cabral (1931-2009), achámos oportuno e pertinente recuperar o testemunho do nosso camarada e amigo Mário Dias sobre os trágicos acontecimentos do 3 de Agosto de 1959, que estiveram na sua origem um conflito laboral, opondo os trabalhadores portuários e os marinheiros da Casa Gouveia à respectiva gerência local que se recusava a proceder à actualização (anual) dos salários.
Desde o seu regresso à Guiné, em 1953, Luís Cabral era contabilista (ou guarda-livros, como se dizia na época) na Casa Gouveia, um emprego que lhe tinha sido arranjado pelo próprio irmão, o Engº Agrónomo Amílcar Cabral. Trabalhador-estudante, terá completado em 1958 o 5º ano. Em 1956, era um dos co-fundadores do clandestino PAIGC. E em 3 de Agosto de 1959 foi testemunha do 'massacre do Pidjiguiti' (*)
(…) "Da varanda do meu apartamento que estava situado frente ao porto, pude presenciar a parte final do monstruoso crime da caça ao homem no rio Geba. O sol desaparecera nessa tarde dos céus de Bissau; a atmosfera pesada e escura parecia gritar com o povo.
"A tarde sangrenta de 3 de Agosto fizera mais de cinquenta mortos e muitas dezenas de feridos entre os marinheiros pacíficos que mais não queriam que viver um pouco melhor.
"Na noite de 3 de Agosto, reuni-me com o Aristides e o Fortes. Este, na sua qualidade de chefe da Estação Postal, tinha podido meter no correio, que devia partir na manhã seguinte, cópias de um comunicado elaborado rapidamente sobre os acontecimentos, endereçadas às principais emissoras escutadas em Bissau.
"Lembro-me bem que a Rádio Brazzaville, a BBC, a Rádio Conakry e a Rádio Dakar, estavam entre aquelas que receberam e difundiram a notícia que os colonialistas não queriam que saísse da Guiné. Simultaneamente, foi também enviado um primeiro relatório ao Amílcar que se encontrava nesse momento em Angola." (...)
Há 3 anos atrás, na I Série do nosso blogue, publiquei a versão do Mário Dias (**), que também foi testemunha dos acontecimentos, tal como Luís Cabral. E comentei o seu texto, mais ou menos nestes termos:
O massacre do Pidjiguiti é um dos mitos fundadores do PAIGC. Aliás, para os seus ideólogos, marca o início da luta de libertação nacional. O depoimento do Mário Dias é uma peça importante para se fazer a história recente da Guiné-Bissau: reivindicações laborais dos marinheiros do serviço da cabotagem das casas comerciais de Bissau (e, em particular, da Casa Gouveia, ligada ao grupo CUF - Companhia União Fabril) estiveram na origem de graves tumultos que foram prontamente reprimidos pelas autoridades portuguesas.
Trata-se de um depoimento que terá que ser tido em conta pelos nossos historiadores (tanto de um lado como do outro). E sobretudo por nós, portugueses e guineenses, que temos direito à verdade. Eu, pessoalmente, só conhecia (e mal) a versão do PAIGC (e de Luís Cabral), que fala em massacre, em 50 mortos e mais de um centena de feridos.
Na época - é bom lembrá-lo - a imprensa portuguesa não era livre, pelo que nunca nos poderia dar a, nós, metropolitanos (nem muito menos aos poucos guineenses que liam jornais ou ouviam rádio), uma versão isenta dos acontecimentos. Havia a censura, a polícia política, o partido único, o governo de Salazar... É bom não esquecê-lo (um recado que serve sobretudo para os mais novos mas também para os mais velhos, que eram umas crianças, nessa época: eu, por exemplo. tinha 11 anos...).
Infelizmente, eu não conhecia, em 2006, investigação de arquivo sobre este assunto. O historiador Leopoldo Amado tentou já fazer luz sobre este e outros acontecimentos que antecederam o início da guerrilha do PAIGC, na sua tese de doutoramento em história contemporânea, sobre a guerra colonial versus guerra de libertação, defendida em provas públicas, na Universidade de Lisboa (2007). Mas a sua perspectiva é sobre o Pidjiguiti é macro, não micro (***): ele não me parece trazer elementos novos, historiográficos, sobre os acontecimentos do 3 de Agosto, se bem que eu continue a aguardar a publicação, em livro, da sua tese de doutoramento, de há muito prometida...
Como é timbre do nosso blogue, temos procurado pautar-nos pela procura da verdade dos factos, tendo publicado, logo no primeiro ano (2005/06), alguns notáveis (e inéditos) documentos sobre a experiência da guerra na Guiné (1963/74).
Como então escrevíamos, "nenhum de nós é detentor da verdade. E a verdade não se resume aos factos: mais complexa é a sua análise e interpretação"... Mas também a sua recolha..
O depoimento do Mário Dias honrou (e continua a honrar) o nosso blogue. O Mário, que anda agora mais fugidio das lides blogísticas, é um homem que, sem negar os seus valores, a sua identidade e o seu passado, sempre revelou uma grande sensibilidade, sabedoria, humildade e honestidade intelectual...
Agradeço-lhe mais uma vez o ter confiado em nós para publicar a sua versão dos acontecimentos do 3 de Agosto de 1959. Ele não se arvora em dono da verdade. Simplesmente, ele foi uma testemunha (privilegiada) dos acontecimentos: ele estava lá em Bissau, no Pidjiguiti, nesse dia 3 de Agosto de 1959 (que é hoje dia de feriado nacional na República da Guiné-Bissau), na qualidade, algo insólita, de soldado recruta, cuja companhia, acabada de chegar de Bissalanca e a caminho do quartel em Santa Luzia, foi chamada à pressa para ajudar a repôr a ordem pública...
Essa circunstância valoriza muito a sua versão (presencial) do que ocorreu naquele dia e que, à distância de 47 anos, não podemos deixar de condenar e lamentar, como um dos episódios que ensombraram a presença portuguesa naquelas paragens... A mim, pessoalmente, como português, é um episódio da nossa história em África que me envergonha... Tal como me envergonham, enquanto homem e amigo da Guiné, os fuzilamentos do pós-independência, efectuados pelo PAIGC em nome da justiça revolucionária...
Já na altura tinha escrito que não ia entrar em polémica com ninguém (e muito menos com o nosso querido Mário) sobre a contabilidade dos mortos e o conceito (técnico-jurídico) de massacre. Nem sobre outros alegados massacres que terão occorrido na longa Guerra do Ultramar / Guerra Colonial, tanto na Guiné como nas outras duas frentes, Angola e Moçambique, a começar pelo terrível massacre de população civil cometido pela UPA no norte de Angola, em 1961.
No início de 2006, este assunto ainda era doloroso para todos nós. E fracturante. Mas também já não era tabu, com a criação de uma janela aberta, por e para os antigos combatentes de um lado e do outro, uma janela aberta para o debate (tanto quanto possível possível, sereno) sobre estes e outros fantasmas da guerra colonial que precisavam de ser exorcizados... (L.G.).
Guiné > Bissau > Ponte-Cais > 1969 > Postal Ilustrado, edição Foto Serra.
Foto: © Tino Neves (2006). Direitos reservados
1. Texto do Mário Dias (ex-sargento comando, Brá, 1963/66) (**)
Caro Luis:
Tinha guardado o propósito de falar sobre os acontecimentos de Agosto de 1959 no Pidjiguiti proximamente. Atendendo, porém, que eles têm sido referidos recentemente no blogue, antecipei a decisão. Espero que se consiga lançar um pouco de luz sobre esta tragédia de forma a que se evitem especulações futuras.
Um abraço
Mário Dias
Os acontecimentos do Pidjiguiti em 3 de Agosto de 1959 (depoimento de Mário Dias)
[Subtítulos, a bold, de L.G.]
Muito se tem escrito e comentado sobre os acontecimentos que tiveram lugar no cais do Pidjiguiti em 3 de Agosto de 1959. Eu estive lá. À época dos factos, cumpria o serviço militar obrigatório, ainda como recruta (o Juramento de Bandeira teve lugar uma semana depois, precisamente a 10 de Agosto) (***).
Para melhor entendermos a greve e consequente revolta dos marinheiros, há que recuar um pouco no tempo e no contexto em que se movimentava a actividade dos marinheiros.
As principais casas comerciais da Guiné (vou designá-las pelo nome abreviado como eram conhecidas, Casa Gouveia (CUF), NOSOCO, Eduardo Guedes, Ultramarina e Barbosas & Comandita, tinham ao seu serviço frotas de lanchas - umas à vela e outras a motor - que utilizavam no serviço de cabotagem transportando mercadorias para os seus estabelecimentos comerciais e, no regresso, traziam para Bissau os produtos da terra, principalmente mancarra e arroz. A maioria deste tráfego era pelo rio Geba, até Bafatá e, para o Sul, até Catió e Cacine.
(i) Tudo começou com um conflito laboral
Anualmente, essas empresas se reuniam para acordarem os salários a pagar aos diversos elementos da tripulação das embarcações. Esse acordo tinha a finalidade de ajustar o salário nas várias frotas, de forma a evitar concorrência no engajamento do pessoal. É claro que, embora efectivamente todos os anos fossem aumentados, os marinheiros não eram tidos nem achados nestas reuniões. Era comer e calar à boa maneira da época. O mesmo se passava, aliás, em relação ao preço a praticar anualmente na compra do amendoim (mancarra) e que era fixado por tabela governamental, ouvidos os comerciantes. Os agricultores não era ouvidos nem tinham voto na matéria.
Acordo estabelecido, as várias firmas comerciais começaram a pagar aos marinheiros o novo salário. Porém, a Casa Gouveia não procedeu ao aumento e continuou a pagar pela tabela do ano anterior. Passaram-se meses e os marinheiros questionavam o gerente - na altura o ex-funcionário do quadro administrativo Intendente Carreira - sem resultados e até com uma certa sobranceria, tique que lhe deve ter ficado dos tempos de funcionário administrativo. Com o descontentamento a aumentar e ânimos cada vez mais exaltados se chegou à tristemente célebre tarde de 3 de Agosto de 1959.
E agora o relato dos acontecimentos por mim presenciados e conforme informações na altura colhidas.
(ii) O triângulo Santa Luzia, Bissalanca e Pidjiguiti: uma companhia de recrutas ao serviço da lei e da ordem
Nesse dia passou por Bissau, a caminho de Angola, uma alta entidade da Força Aérea. Ocupava no governo, salvo erro, o cargo de Secretário de Estado de Aeronáutica. Fosse qual fosse a sua função, a verdade é que tinha direito a honras militares à sua chegada ao aeroporto. Não havendo outra tropa com capacidades para tal missão, embora ainda recrutas e como tal impedidos regulamentarmente de prestar guardas de honra, acabámos por ser nós a fazê-lo. Bem limpos e engraxados, mauser com baioneta calada, luvas brancas, partiu a Companhia de Recrutas para Bissalanca (****).
A cerimónia decorreu de forma brilhante (nós éramos um espanto!) e iniciámos o regresso ao nosso quartel em Santa Luzia. Ao aproximarmo-nos da praça do Império, comecei a reparar que muita gente se dirigia apressadamente, alguns até corriam, em direcção ao rio. E, um pouco antes de atingida essa praça, fomos interceptados pelo comandante da companhia, capitão Teixeira, que se dirigiu ao oficial que comandava a coluna, tenente Vaz Serra, com quem esteve a conversar por alguns momentos.
Retomada a marcha, ficámos todos surpresos por virarmos à direita em direcção ao rio em vez de à esquerda para Santa Luzia. Conforme descíamos a avenida da República víamos que algo devia estar a acontecer pois cada vez havia mais pessoas aglomeradas e maior era a agitação que demonstravam.
(iii) Polícias africanos armados de espingardas Lee Enfield 7,7 mm
A certeza tive-a quando, já perto da Casa Gouveia, vi, em cima de um camião que seguia para o hospital, vários homens em grande exaltação. Um deles ficou-me na memória: de pé, escorrendo sangue de um ombro, barafustava e agitava os braços, dava punhadas no peito como um possesso. Impressionante! Ainda hoje, passados todos estes anos, quando se fala destes acontecimentos do Pidjiguiti, é esta a imagem que me ocorre.
Chegados ao local, vi uma considerável multidão nas imediações, os portões do Pidjiguiti encerrados e uma força da PSP, constituída por pouco mais de uma dezena de seguranças, como chamávamos aos polícias africanos, armados com espingardas Lee Enfield 7,7 mm, enquadrados por 2 ou 3 graduados europeus.
Na altura já tinham terminado os tiros e encontravam-se apenas a conter a multidão e a evitar que os marinheiros e trabalhadores do cais de lá saíssem em direcção à Casa Gouveia. Fomos mandados apear das viaturas e só então nos deram as indicações da nossa missão que foi, simplesmente, cercar os terrenos anexos ao Pidjiguiti (no local onde mais tarde nasceram as Oficinas Navais e instalações da Marinha e Fuzileiros) que na altura eram terrenos baldios. Não devíamos deixar ninguém sair por esse lado que não tinha vedação. Ainda vimos alguns tentando fugir por aí, atravessando o lodo, mas desistiam ao ver o cordão por nós ali formado.
(iv) O papel dos militares, armados de mausers, mas sem munições...
Nós, militares intervenientes, não demos nenhum tiro. Aliás, nem podíamos pois nem tínhamos munições. Como já referi estávamos a regressar de uma guarda de honra quando fomos desviados para o local. Deve ter sido bem caricata a nossa postura, de luvas brancas, num cenário daqueles.
Ali nos mantivemos, aproximadamente 30 minutos, até os ânimos acalmarem (era o que se pretendia) e regressámos ao quartel.
(v) A reconstituição dos acontecimentos, feita no dia seguinte
Nos dias seguintes não se falava de outra coisa. Como não tinha assistido ao início dos acontecimentos, fui perguntando aos que mais de perto o tinham seguido e a versão generalizada era a seguinte:
Nessa tarde, mais uma vez, aproveitando a presença do gerente da Casa Gouveia no local, os marinheiros e descarregadores pertencentes a essa firma comercial reclamaram pelo aumento de salário que todas as outras empresas já estavam a praticar.
- Casa Gouveia, nada. Então como é, senhor Intendente?
As coisas começaram a azedar e teve que retirar apressadamente a bem da sua integridade física. Chamou-se a polícia. Um subchefe que para lá se dirigiu, não sei se por falta de tacto em situações como aquela ou porque a exaltação dos marinheiros e trabalhadores era já considerável, foi agredido com um remo na cabeça e teve de imediato que ser socorrido e levado para o hospital. Vieram reforços, já armados, e como se organizava no cais um movimento em direcção à Casa Gouveia, armados de remos, ferros e do que havia à mão com a intenção de tudo escavacar, fecharam os portões para impedir a sua saída. Mesmo assim não desistiram e começaram a galgar o portão e a vedação.
Entretanto, o comandante militar, tenente-coronel Filipe Rodrigues, chegado ao local inteirou-se da situação e, ao ver aquele grupo armado de remos, paus, etc. a marchar agressivamente em direcção à Casa Gouveia, deu ordens aos polícias para dispararem por ser a única forma de os deter.
E foi assim que aconteceu. O resultado foram 16 mortos e não 50, ou até mais, como já tenho visto escrito. Por mim, um que fosse já era demais. Mas, atendendo às circunstâncias do momento, hoje questiono-me: que teria acontecido se não tivesse sido travada aquela multidão da única forma que foi possível? Certamente teríamos muita destruição e bastantes mais mortes a lamentar. E ter-se-ia gerado uma espiral de violência de consequências muito mais graves.
Guiné > Bissau > 1959 > Alguns dos 1ºs Cabos Milicianos do 1º Curso de Sargentos Milicianos, realizado na província portuguesa da Guiné, em participaram juntos, pela primeira vez, europeus e guineenses."De cócoras, a partir da esquerda: Domingos Ramos; um outro cujo nome não me lembro mas que também foi para a guerrilha; Laurentino Pedro Gomes.
"De pé: não me recordo o nome mas também foi para a guerrilha; Garcia, filho do administrador Garcia, muito conhecido e estimado em Bissau; mais um de cujo nome não me recordo; eu, [Mário Dias]; e mais outro guerrilheiro. Como se pode concluir, o recrutamento de 1959 do CIC [Centro de Instrução de Civilizados] , foi um autêntico alfobre [de quadros ] para o PAIGC.
Foto e legenda: © Mário Dias(2006). Direitos reservados.
(vi) Lições e conclusões:
Da narração destes tristes acontecimentos podemos realçar os seguintes factos:
- O PAIGC não esteve por detrás da ocorrência. Ela foi inteiramente da responsabilidade dos marinheiros e trabalhadores do cais pertencentes à Casa Gouveia, por motivos meramente laborais. Os marinheiros das outras empresas não estiveram envolvidos, pelo menos no início dos acontecimentos. É possível que, por solidariedade, alguns se lhes tenham juntado. O PAIGC aproveitou-se inteligentemente deste movimento, como sempre fez - o que só nos merece admiração - para conquistar mais uns tantos seguidores.
- Não se pode considerar o ocorrido como uma simples greve, conforme é vulgarmente referido. Foi mais do que isso. Tendo começado por greve, rapidamente se transformou numa revolta violenta cujas consequências são difíceis de prever se não tivesse sido travada. Se a referida revolta era ou não justificada, é-me difícil concluir. Sim, atendendo à injustiça de que estavam a ser vítimas. Não, pelas proporções que lhe deram.
Antes de concluir, parece-me que o termo massacre, aplicado aos acontecimentos do Pidjiguiti, é um pouco exagerado, não por o número ser muito inferior aos 50 habitualmente referidos, mas porque o conceito que a palavra implica, se refere à chacina indiscriminada, a uma carnificina injustificada do género descrito nos livros de história como passar tudo a fio de espada.
Com respeito aos massacres de populações balantas e beafadas na região de Bambadinca nos primeiros anos de 60, referidos no blogue-fora-nada (******), embora não os possa negar ou confirmar, tendo eu saído da Guiné em Fevereiro de 1966, nunca deles ouvi falar o que é estranho pois, como se diz na Guiné, noba ka ta paga cambança - aforismo com um sentido semelhante ao as notícias espalham-se depressa. Numa terra como a Guiné onde tudo se sabia e comentava, é estranho que nunca tivesse ouvido falar em tal acontecimento. Deve ter sido muito bem ocultado.
E já que estamos a tratar de massacres, assunto tão melindroso e de que frequentemente acusam as nossas tropas, só tenho a dizer que durante toda a guerra colonial a que assisti e em que participei (depois da Guiné tive uma comissão em Moçambique e duas em Angola) massacres, massacres mesmo, na verdadeira acepção da palavra, só conheci um: foi o perpetrado pela UPA (mais tarde FNLA) no Norte de Angola em Março de 1961 sobre os fazendeiros brancos e suas famílias bem como sobre os negros bailundos fiéis aos seus patrões. Mas esses já estão esquecidos ou, convenientemente, nunca são referidos.
_____________
Notas de L.G.
(*) Vd. postes de:
1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)
18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLVII: Antologia (36): o massacre do Pidjiguiti (Luís Cabral)
(**) Vd. postes de:
15 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXV: Pidjiguiti, 3 de Agosto de 1959: eu estive lá (Mário Dias)
21 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXIII: Pidjiguiti: comentando a versão do Luís Cabral (Mário Dias)
(***) Vd. postes de:
22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte
25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVI: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte
26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte
26 de Fevereiro de 2006 >Guiné 63/74 - DLXXXIX: Pidjiguiti: resposta do Mário Dias ao Leopoldo Amado
(****) Sobre a vida militar do Mário Dias e de alguns dos seus camaradas que depois se alistaram nas fileiras do PAIGC, vd. postes de:
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)
2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando
12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações
(...) Em 1959 , Mário Dias e Domingos Ramos tinham feito a recruta juntos, com início em 8 de Maio de 1959, numa unidade que então se chamava Centro de Instrução de Civilizados (CIC), destinado a naturais da Guiné considerados civilizados. O comandante era o capitão Teixeira, pai do historiador Severiano Teixeira, actual Ministro da Defesa. (No anos seguinte, passaria a chamar-se Centro de Instrução Militar (CIM), tendo sido transferido para Bolama)
Em 10 de Agosto de 1959, prestam juramento de bandeira, uma semana depois dos sangrentos acontecimentoss do Pidjiguiti, a 3, em que também tiveram uma pequena participação, ajudando a polícia a manter a ordem...
Em 14 de Agosto desse ano, os dois estão no 1º Curso de Sargentos Milicianos e estreitam a sua amizade.
Em 29 de Novembro de 1959, são promovidos a 1ºs cabos. O Mário fica em Bissau a dar recruta, enquanto o Domingos segue para Bolama. (...)
(******) Fui eu que fiz referência, na altura, em e-mail interno que só circulou pela nossa tertúlia, a alegados "massacres de populações balantas e beafadas" que terão ocorrido na região de Bambadinca (Samba Silate, Poindon), no início da guerra, reportando-me apenas a conversas, soltas, que eu fui tendo, durante a minha comissão (Maio de 1969 a Março de 1971) com os meus soldados africanos (leais, valentes, insuspeitos, fulas, entre eles o Abibo Jau, mais tarde fuzilado pelo PAIGC) da CCAÇ 12 mas também com outras fontes como o malogrado Seco Camará, mandinga do Xime, extraordinário guia das NT (morto em 26 de Novembro de 1970, na Op Abencerragem Candente > vd. poste de 25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
OBRIGADO MÁRIO DIAS PELA TUA ISENÇÃO.
SÃO POUCOS NOS DIAS DE HOJE OS QUE SE LIMITAM A RELATAR OS FACTOS.
DARIAS UM BOM HISTORIADOR.
É DE TESTEMUNHOS COMO O TEU, DE VIVÊNCIA PLENA DO ACONTECIMENTO QUE A HISTÓRIA PODE SER FEITA E NÃO DE VONTADES DE,OU SIMPATIAS POR...
MERECES O RESPEITO DOS CIDADÃOS DE BEM.
UM ABRAÇO
MANUEL MAIA
Enquanto visitante assíduo deste blogue, não ficaria de bem comigo mesmo se não dissesse da minha estranheza pelo que escreve Kuis Graça acerca de massacres durante a guerra colonial. Que Mário Dias ache que Pidjiguiti foi um "incidente" (esquecendo os mortos que ficaram no Geba) é opinião e problema dele. Que Luis Graça refira "alegados" massacres durante a guerra, já é mais complicado..
Entendo que queira manter a tranquilidade possível neste espaço, mas considerar que ( e só refiro esta situação, infelizmente houve mais ) Wiryamu, em Moçambique, é um "alegado" é ainda mais complicado. O equilibrio não deve, não pode fazer-se à custa dos factos.
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