terça-feira, 26 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4418: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (1): Parte I

A. Mensagem, de 19 do corrente, de Miguel Pessoa, membro da nossa Tabanca Grande, coplaborador assíduo do nosso blogue, antigo Ten Pilav no CTIG (1972/74), sobrevivente da queda de um FiatG-91, abatido em 25 de Março de 1973 por um impío Grail:

Caros Luís e Carlos:

Terminei a minha parte da tarefa que me propus com a inserção de algumas correcções propostas por alguns bloguistas de nomeada (leia-se: João Seabra, Vasco da Gama, Alberto Branquinho) à tradução que tinha feito da súmula do trabalho do Matt Hurley.

Fica à vossa consideração e discernimento o modo como vão integrar este rolo no blogue - a versão original em inglês e a respectiva tradução para português. Lembro o que o Matt escreveu quando me enviou o texto:

"Here it is! If you find the document acceptable within the spirit of Luis' blog, then you have my permission to publish it. Please include the bibliography, too - I am very interested in learning of new sources from your former comrades (or adversaries) in Guinea.

But please let your comrades know that I understand, fully, that I was not there; I am only a student of this war, not a participant. Our perspectives will differ on many issues. Some may call it 'bias' or 'naivete', but we academics try to achieve 'objectivity'.


[Tradução Inglês-Português:

"Aqui está! Se achares o documento aceitável dentro do espírito do blogue do Luís, então tens a minha autorização para publicá-lo. Inclui também a bibliografia - Estou muito interessado em conhecer novas fontes dos teus companheiros (ou adversários) na guerra da Guiné.

"Mas, por favor deixa-me dizer aos teus companheiros que eu quero que eles saibam que eu que não estive lá, no teatro de operações, que eu sou apenas um estudioso dessa guerra, não um participante. Os nossos pontos de visto podem diferir em muitas questões. Alguns podem chamar a isso 'viés' ou 'ingenuidade ', mas nós, académicos, procuramos alcançar a 'objectividade'"
. ]


Este trabalho foi feito por carolice e não pretendo retirar créditos dele (isto, se a tradução merecesse algum crédito...), por isso divulguem-no como um trabalho produzido para o blogue por um grupo de tabanqueiros - o que, na prática, acabou por ser verdade. Estou convencido que os nossos camaradas, cujos nomes já indiquei atrás, não se importarão de permanecer no anonimato, como eu. Mas poderão perguntar isso mesmo aos próprios.

Abraço. Miguel


B. Esta colaboração entre o Ten Cor da Força Aérea dos EUA, Matt Hurley (foto , à esquerda), e o nosso blogue, começou com um mail enviado por ele, em 12 de Março de 2009, em português:

Exmo. Senhor Luís Graça

Chamo-me Matthew Hurley e sou Ten Cor na USAF. Estou neste momento a fazer uma dissertação em História sobre a guerra aérea na Guiné no período de 1963-1974.

Sobre um post a respeito de uma comunicação de Miguel Pessoa, será que me podia facultar o e-mail dele de forma a eu pedir autorização ao visado para reproduzir as suas declarações na minha tese? Ou então será que podia dirigir o meu pedido ao próprio?

Obrigado por tudo fico a aguardar uma resposta.

Lt Col Matt 'Liz' Hurley, USAF
"Those whom the gods would destroy, they first make proud"



A história já aqui foi sumariamente contada (*), e apresentado o nosso camarada norte-americano (duplo camarada, tropa e das lides académicas), estudioso da guerra colonial na Guiné, no que diz respeito ao poder aéreo, de um lado (NT) e do outro (PAIGC).

À revelia do poder democrático, o Miguel Pessoa foi rapidamente promovido, pelo nosso blogmaster a oficial de ligação, diplomata, public relations, consultor para as questões do ar (ou ,melhor, air power) e tradutor, múltiplas tarefas essas de que se está a sair tão bem como (ou melhor do que) no tempo em que era o senhor dos céus do CTIG, enquanto jovem Ten Pilav (Guiné, BA 12, Bissalanca, 1972/74), aos comandos do seu Fiat G-91... até ao dia em que atropelou um jagudi em peno voo...

Agradeço aos todos os membros do nosso blogue que deram uma mãozinha ao Miguel na tradução deste resumo do projecto de investigação do Matt Hurley (elaborado para efeitos de obtenção do grau de Doutor em História pela Universidade do Estado de Ohio) (**).

O nosso blogue, incluindo editores e demais pessoal da nossa Tabanca Grande, sente-se honrado pelo pedido de colaboração do Matt Hurley, bem como pela credibilidade que este investigador nos atribui.

Faremos o nosso melhor, lutando pela nossa dama e apoiando em especial os nossos camaradas que serviram a FAP no CTIG, os quais que podem (e devem) ser fontes de informação privilegiada para o tema em investigação, com destaque, para já, para o nosso sempre Miguel Pessoa que tem mantido uma constante correspondência com o investigador (A talhe de foice, dga-se que o Miguel, a modéstia em pessoa, é muito avesso às luzes da ribalta, um problema do foro da alergologia ou talvez até da oftalmologia)....

Apesr de cultivar um low profile, o nome do Miguel tem que ser aqui citado, e desta vez em primeiro lugar... Espero que outros ex-pilotos e ex-especialistas da FAP possam seguir o exemplo do Miguel, colaborando neste estudo académico, cujas conclusões também nos interessam, a nós, portugueses, veteranos da guerra da Guiné (bem como aos guineenses que nos combatíam)... Contamos, nomeadamente, com o apoio dos nossos camaradas do blogue do Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, quanto mais não seja para lhes sacar umas chapas relacionadas com o air power (que é uma coisa que os infantes não têm, coitados).

Vamos publicar, em português e em inglês, a primeira parte do paper que o nosso doutorando nos enviou... Aproveito para mandar ao Matt as minhas saudações pessoais e os meus parabéns pela sua festa de casamento, no dia 2 de Maio do corrente (Na América, os miliares também têm direito a constituir família)...

Para além da nossa disponibilidade para colaborar contigo, my dear Matt, queria também convidar-te para integrar o nosso blogue, na qualidade de estudioso da guerra da Guiné, o que faz de ti automaticamente um amigo e camarada da Guiné, com direito a sentar-se debaixo do nosso poilão... (Isto dito em crioulo, é intraduzível para inglês)...


C. Súmula da tese de doutoramento de Matthew M. Hurley,Ten Cor da Força Aérea dos EUA:

Departamento de História
Universidade do Estado de Ohio
Data: 23 de Fevereiro de 2009
Orientador: Prof Guilmartin John F., Jr.

Título do Trabalho: O "ímpio Grail: O Poder Aéreo do Governo e a Defesa Aérea dos revoltosos na Guiné Portuguesa, 1963-1974".

Tradução: Miguel Pessoa & Partners...


1. Tema e sua importância.


O tema da insurreição tem atraído cada vez mais atenção no decurso dos nossos actuais conflitos no Iraque e no Afeganistão, tanto nos fóruns políticos como nos meios académicos. Muita dessa atenção tem sido dedicada à análise de insurreições e contra-insurreições numa tentativa de reunir lições práticas retiradas de exemplos históricos.

Nesse sentido, as campanhas dos EUA na América Latina e no Vietname, a experiência britânica na Malásia e as operações francesas na Argélia e na Indochina tornaram-se referências icónicas durante as discussões sobre insurreição, nos dias de hoje.

Independentemente do mérito de tais tentativas, o critério histórico, tal como construído actualmente, permanece lamentavelmente incompleto. Decididamente, não há colóquios, manuais doutrinários ou cursos de história militar que possam esperar cobrir todos os exemplos relevantes de contra-insurreições anteriores; até mesmo estudos de sub-domínios especializados, tais como operações aéreas de contra-insurreição, devem ser baseados numa amostragem adequada de registos históricos relevantes.

A este respeito, contudo, quer os estudiosos quer os profissionais do poder aéreo têm constantemente ignorado um caso quase perfeito do uso e das vulnerabilidades da componente aérea na contra-insurreição: as operações da Força Aérea Portuguesa (FAP) na Guiné-Bissau, de 1963 a 1974.

A campanha da FAP na Guiné-Bissau oferece muitas lições úteis e duradouras aos analistas e também aos operacionais. As operações aéreas portuguesas cobriram todo o espectro de papéis e missões do poder aéreo, desde os ataques de bombardeamento até às evacuações médicas e voos de presença e de boa vontade.

Os seus oponentes, entretanto, executaram uma vasta gama de tácticas e operações para combater o poder aéreo português, desde medidas passivas de ocultação até à execução de raides contra bases aéreas portuguesas. As operações da FAP e a resposta dos insurrectos demonstram claramente o impacto quer da liderança quer da tecnologia, bem como a interacção das duas.

Além disso, ambas as operações - da FAP e dos insurrectos - apresentavam um carácter marcadamente assimétrico, cada lado tentando usar todos e quaisquer dos seus pontos fortes contra os pontos fracos do inimigo.

Esta assimetria, por sua vez, conduz a uma demonstração evidente da não-linearidade na guerra; de facto, neste conflito as operações efectuadas a uma escala relativamente pequena e os seus efeitos imediatos tiveram um impacto desproporcionadamente elevado, apesar da coragem, competência e resistência da FAP e dos insurrectos.

Essencialmente, a FAP era extremamente eficaz na luta contra a guerrilha - talvez demasiado eficaz. Por exemplo, num determinado momento as actividades de umas poucas dezenas de aeronaves esteve perto de fazer colapsar o esforço de guerra do PAIGC. A minha pesquisa sugere fortemente que, uma vez que a FAP era tão boa no seu trabalho, as forças no terreno tornaram-se excessivamente dependentes do poder aéreo; consequentemente, o PAIGC elegeu a defesa aérea como uma das suas principais prioridades. O esforço da guerrilha incidiu em armas de defesa aérea cada vez mais eficazes, culminando com a utilização do míssil de origem soviética ZPRK Strela-2M (Código NATO SA-7 Grail), míssil portátil terra-ar, que foi responsável pelo abate de cinco aviões da Força Aérea Portuguesa entre 25 de Março e 6 de Abril de 1973.

No imediato, esta significativa quantidade de perdas num período de duas semanas confundiu temporariamente o esforço aéreo Português na Guiné-Bissau. Dado o limitado número de meios aéreos da FAP na Guiné-Bissau e as fracas perspectivas de aquisição de aeronaves adicionais, as perdas devidas à utilização do Strela forçaram a FAP a adoptar tácticas defensivas que afectaram severamente a eficácia operacional. Após a perda de três aviões num único dia, a FAP cessou mesmo as suas operações durante alguns dias.

Esta evolução resultou na intensificação de uma escalada de efeitos, a começar nas forças no terreno. Inúmeros relatos em primeira mão de veteranos do Exército na guerra na Guiné relatam que o apoio aéreo, que anteriormente era praticamente garantido, se tornou irregular, e quando prestado, as novas tácticas, mais restritivas, ainda mais atenuaram o efeito dos ataques aéreos.

Do mesmo modo, as missões de transporte aéreo, de reconhecimento e de evacuação médica foram reduzidas devido à ameaça dos mísseis. De acordo com os relatos, isto, por seu turno, afectou o moral dos portugueses, já desgastado pelos efeitos de uma década de dura campanha na Guiné-Bissau. O que contribuiu para - e, em alguns aspectos precipitou - a formação de um movimento dissidente no seio das Forças Armadas e o golpe de 1974 que custou a Portugal a guerra, as suas possessões africanas, bem como o futuro do regime do Estado Novo.

Esta representa então a minha tese fundamental: A crescente capacidade de defesa aérea dos insurrectos na Guiné-Bissau - a que tinha sido dada prioridade devido à eficácia do poder aéreo português - em última análise, despojou decisivamente Portugal da superioridade aérea, a sua maior e mais efectiva vantagem militar neste conflito.

Forçados, por limitação de recursos e restrições externas, a reduzir as operações aéreas e adoptar tácticas restritivas, a FAP viu-se assim incapaz de responder adequadamente às necessidades de apoio aéreo sentidas pelas forças no terreno. O moral e a capacidade de combate das forças terrestres decaíram proporcionalmente, sendo o catalisador final para a Revolta dos Capitães em Abril de 1974, que derrubou o regime autoritário existente em Portugal e levou à descolonização da África Portuguesa.

É possível que a guerra na Guiné-Bissau não tenha sido tida em conta nos estudos de contra-insurreição, porque foi um caso relativamente pequeno quando comparado com outros episódios como a Argélia ou o Vietname. A então Guiné Portuguesa era uma pequena província, a presença portuguesa era menor do que em Angola ou Moçambique, e o esforço de guerra da sua aviação não envolveu em qualquer momento mais do que 50 aeronaves (incluindo helicópteros).

No entanto, a pequena dimensão deste esforço ilustra claramente o efeito que até uma presença mesmo limitada de forças no ar pode atingir num contexto de contra-insurreição - uma lição valiosa para os empreendimentos militares do USA, agora virados para uma implantação maciça de Forças Aéreas Expedicionárias para combater inimigos similares.

Mais provavelmente, porém, o esforço aéreo português na Guiné-Bissau passou despercebido porque são escassos os registos publicados noutros idiomas que não o português. Com base na minha pesquisa, até à data, seria então esta a primeira investigação completa focada na campanha aérea na Guiné-Bissau, em Inglês ou qualquer outro idioma.


2. Situação da literatura disponível


A saga colonial de Portugal e subsequente guerra ultramarina em África têm sido objecto de considerável atenção académica e jornalística desde a década de 1960. Literalmente milhares de obras estão disponíveis sobre o assunto na sua generalidade, a grande maioria em Português.

A maior parte das obras disponíveis em Inglês são relativamente antigas, embora essa maioria não seja de modo nenhum esmagadora; de facto, desde o início dos anos 90 tem sido publicada uma série de livros importantes sobre a insurreição na Guiné-Bissau e à contra-insurreição Portuguesa. Estes incluem:

- Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People's War (2003), de Patrick Chabal;

- Worriers at Work: How Guinea-Bissau Was Really Set Free(1993), de Mustafah Dhada;

- e Counterinsurgency in Africa: The Portuguese Way of War, 1961-1974 (1998), de John P. Cann.

Contudo, a maioria das obras em língua Inglesa relativas a esta ou a qualquer "luta de libertação" tendem a ser polémicas ou romanceadas, com forte inclinação para um ou para o outro antagonista (isto é particularmente verdade no caso dos livros publicados no decorrer do conflito).

Será difícil, mas não impossível, que venham a aparecer estudos verdadeiramente objectivos e imparciais sobre esta matéria. Um bom exemplo de um trabalho assim é uma obra constituída por relatos na primeira pessoa, feitos por intervenientes fundamentais nos três Teatros de Operações de Portugal em África, uma obra em dois volumes, A Guerra de África (1961-1974) (1996), ´de José Freire Antunes.

A parcialidade inerente à maioria dos trabalhos aconselha no entanto grande cautela na avaliação dos níveis de motivação, métodos e eficácia relativamente às duas partes em confronto na guerra guineense.

Começou a aparecer na década passada um crescente número de memórias de militares e relatos na primeira pessoa, sobretudo de antigo pessoal do Exército Português, pessoal, onde se inclui Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu, Guiné 1968-1973: Soldados uma vez, Sempre Soldados, de Nuno Mira Vaz, ambos tratando especificamente da guerra na Guiné-Bissau.

Embora tais trabalhos nos dêem relatos reveladores, na primeira pessoa, de operações aéreas específicas ou do seu impacto na guerra terrestre, há poucos trabalhos focando o próprio Poder Aéreo em si. Na verdade, de cerca de 5.000 fontes pesquisadas que trataram as guerras coloniais de Portugal, apenas três livros focam questões do Poder Aéreo, nenhum deles se debruçando especificamente sobre o caso da Guiné-Bissau.

As publicações periódicas sãoes pouco melhor - depois de dois anos de pesquisa activa, deparei com dois ensaios académicos tratando especificamente da campanha aérea de Portugal na Guiné-Bissau, juntamente com cerca de vinte artigos sobre o assunto em várias edições da Revista Mais Alto (a publicação oficial da FAP).

A grande maioria das fontes, em qualquer idioma, trata a campanha aérea na Guiné-Bissau com visível superficialidade e/ou parcialidade, embora nenhum trabalho em inglês aborde exclusivamente as questões do Poder Aéreo (Nota: O Prof. John P.Cann está presentemente a trabalhar num livro com essas características, com o título provisório de "O Plano de Voo Africano: A Força Aérea Portuguesa na Guerra").

Partes das diversas obras editadas ajudam a corrigir esta lacuna, onde se inclui o ensaio "A Força Aérea Portuguesa nas Guerras de África de 1961-1974", de Tomás George Conceição na Ed. de John P. Cann, "Memories of Portugal's African Wars", bem como vários capítulos de "A Guerra de África", de Freire Antunes.

Globalmente, contudo, embora a literatura existente seja suficiente para realizar um estudo geral das operações da FAP na Guiné-Bissau e no resto da África, é insuficiente para a investigação aprofundada que me proponho realizar. Para continuar a recolher provas para a minha tese, é necessária uma investigação considerável de arquivos.

NOTA SUBSEQUENTE: Visitei o Arquivo Histórico da Força Aérea em Março de 2009, e obtive informação muito relevante e útil! Além disso, a equipa liderada pelo Cor. Ismael Alves provou ser extremamente útil e cooperante.


3. Material disponível para investigação.


Felizmente, as fontes primárias adequadas existem numa grande variedade de arquivos por todo o mundo. Para além das muitas colecções de obras de Amílcar Cabral publicadas, está disponível na colecção Ronald CHILCOTE (no Instituto Hoover da Universidade de Stanford , Califórnia) um manancial de fontes primárias do PAIGC, o grupo insurrecto que se opôs ao domínio de Portugal na Guiné-Bissau.

Em combinação com os recursos (particularmente traduções de imprensa) existentes na Air University Library, no Alabama, esta colecção tem vindo a fornecer-me uma compilação tão completa como prática de documentação do PAIGC - comunicados, instruções e publicações propagandísticas relativas à resposta dos insurrectos contra o Poder Aéreo português.

Preferencialmente teria gostado de me deslocar a Bissau para consultar a documentação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), os arquivos nacionais da Guiné-Bissau. No entanto, a eclosão da guerra civil em 1998 quase destruiu essa instituição. Situado a menos de um quilómetro da linha de frente, o INEP foi requisitado como um quartel para as tropas de intervenção senegalesas e foi repetidamente bombardeado. As "necessidades militares" e os danos na cobertura do edifício expuseram aos elementos a documentação existente no INEP e a grande maioria foi destruída.

Além disso, como os E.U.A. ainda não tinham reocupado a sua embaixada em Bissau, a minha unidade recusou deixar-me viajar para o país. Dado que a Guiné-Bissau presentemente não tem embaixada aberta nos E.U.A., teria sido também um desafio considerável reunir os vistos necessários. Felizmente, a atenção dada à guerra, enquanto ela prosseguia, resultou na localização de colecções "satélite" adequadas, como a colecção CHILCOTE já descrita acima.

Consegui obter a autorização do Gabinete do Chefe de Estado Maior da Força Aérea Portuguesa para visitar os arquivos da FAP (do Arquivo Histórico de Força Aérea, ou AHFA), em Lisboa, e irei viajar para lá em 20 de Março de 2009.

Embora o AFHA não seja aberto ao público, a correspondência com o seu director indica-me que ele e a sua equipa serão úteis e cooperantes na minha pesquisa. O director já dispõe da lista das minhas prioridades na investigação e comprometeu-se a informar-me se surgirem quaisquer potenciais assuntos de interesse. De realçar que o AFHA sofreu uma significativa expansão na década de 1970 para abarcar a grande quantidade de documentação trazida das várias Bases existentes em África, no fim dos conflitos.

Uma vez que grande parte da minha discussão se prende com a finalidade dos sistemas de defesa aérea, as suas características técnicas e sua utilização em campanhas contemporâneas, vou continuar a basear-me em informações recolhidas na Air Force Historical Research Agency (AFHRA), no Alabama. A AFHRA dispõe de uma colecção impressionante de documentos relativos ao desenvolvimento inicial de mísseis de defesa aérea que remonta a 1945; além disso, a sua actividade de recolha de histórias orais reuniu as recordações de pessoal da Força Aérea dos EUA que defrontou o míssil de defesa aérea SA-7 no Vietname. Esse mesmo míssil iria igualmente, no início de 1973, afectar grandemente as operações da FAP na Guiné-Bissau.

Além disso, relatos alargados da época de operações aéreas da FAP e de actividades de defesa aérea do PAIGC estão disponíveis em salas de leitura on-line em vários FOIA - US Government Freedom of Information Act - em especial os disponíveis através de sítios na Internet do Departamento de Estado e da CIA (Central Intelligence Agency).

Ambos possuem uma série de registos de comentários sinceros e reveladores por parte de ministros, diplomatas, e líderes militares portugueses quanto ao impacto das acções de defesa aérea do PAIGC, o que contribui para os meus esforços para provar a minha tese central.

Finalmente, existe em sítios da Internet um número considerável de depoimentos e testemunhos de veteranos de ambos os lados do conflito, com detalhes das operações aéreas, de um lado, e das acções de Defesa Aérea, do outro. O mais notável é o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, de Luís Graça, que apresenta um grande número de relatos das actividades militares na Guiné, a maioria dos quais pode ser corroborada por outras fontes. Algumas das pessoas que contribuem para este site - e há centenas delas - manifestaram a sua disponibilidade para dar resposta a novas investigações, se for necessário.

[Continua]

Dissertation Prospectus for Matthew M. Hurley, Department of History, The Ohio State University
Date: 23 February 2009
Advisor: Prof. John F. Guilmartin, Jr.

Working Title: The “Unholy GRAIL: Government Airpower and Insurgent Air Defense in Portuguese Guinea, 1963-1974.”


Topic and Significance.

The subject of insurgency has attracted dramatically increased attention during the course of our current conflicts in Iraq and Afghanistan, within both policy forums and academic circles. Much of this attention has been devoted to analyzing past insurgencies and counterinsurgencies in an attempt to glean applicable “lessons” from historical examples. In this respect, US campaigns in Latin America and Vietnam, the British experience in Malaya, and French operations in Algeria and Indochina have become iconic references during discussions of insurgency today.

Regardless of the merits of such attempts, the historical canon as currently constructed remains woefully incomplete. Granted, no conference, doctrine manual, or military history course could ever hope to cover every relevant example of previous counterinsurgencies; even studies of specialized sub-fields, such as counterinsurgency air operations, must be based on an appropriate sample of the relevant historical record. In this respect, however, both students and practitioners of airpower have consistently ignored a near-textbook case of the uses and vulnerabilities of the air arm in counterinsurgency: the operations of the Portuguese Air Force (Força Aérea Portuguesa, or FAP) in Guinea-Bissau from 1963 to 1974.

The FAP’s campaign in Guinea-Bissau offers many lessons of enduring utility to analysts and operators alike. Portuguese air operations covered the entire spectrum of airpower roles and missions, from bombing attacks to medical evacuation and goodwill “presence” flights. Their insurgent opponents, meanwhile, executed a wide range of tactics and operations to combat Portuguese airpower, from passive concealment measures to commando raids against Portuguese air bases. The FAP’s operations, and the insurgent response, vividly demonstrate the impact of both leadership and technology, as well as the interplay between the two. Furthermore, both FAP and insurgent operations manifested a distinctly asymmetric character, with each side attempting to pit any and all of its strengths against the enemy’s weaknesses. This asymmetry, in turn, leads to a revealing demonstration of nonlinearity in warfare; indeed, in this conflict relatively small-scale operations and their immediate effects had profoundly disproportionate “Nth-order” impact, despite the courage, skill and resilience of the FAP and its insurgent foes.

Essentially, the FAP was extremely affective in the counter-Guerrilla fight—perhaps too effective. For example, at one point the activities of a few dozen aircraft came close to collapsing the PAIGC’s war effort. My research strongly suggests that, because the FAP was so good at its job, the ground forces became overly dependent on airpower; consequently, the PAIGC made air defense one of their main priorities. The guerrilla effort included increasingly effective air defense weaponry, culminating with the use of the Soviet-made ZPRK Strela-2M (NATO SA-7 “GRAIL”) manportable surface-to-air missile, which was responsible for downing five Portuguese aircraft between 22 March and 6 April 1973.

At the first level of impact, this comparative handful of losses over a two-week period temporarily crippled the Portuguese air effort in Guinea-Bissau. Given the limited FAP inventory in Guinea-Bissau—and the dim prospects of acquiring additional aircraft—the losses due to Strela use forced the FAP to adopt defensive tactics that severely hindered operational effectiveness. Following the loss of three aircraft in a single day, the FAP even ceased operations altogether for a few days.

These developments resulted in an intensifying cascade of effects, first on the ground forces. Numerous firsthand accounts by Portuguese Army veterans of the war in Guinea-Bissau recount that air support, previously virtually guaranteed, became irregular; when provided, the FAP’s new restrictive tactics further mitigated the effect of air-delivered fires. Similarly, airborne transport, reconnaissance, and medical evacuation missions were curtailed due to the missile threat. This, in turn, reportedly eroded Portuguese morale, already worn by the effects of a decade’s worth of hard campaigning in Guinea-Bissau. This contributed to—and in some respects precipitated—the formation of a dissident movement within the armed forces and the 1974 coup that cost Portugal the war, its African possessions, and the future of its Novo Estado regime.

This, then, represents my fundamental thesis: The increasing air defense capability of the insurgents in Guinea-Bissau—given top priority due to the effectiveness of Portuguese airpower—ultimately stripped Portugal of air superiority, its greatest and most effective military advantage in that conflict. Forced by limited resources and external restrictions to curtail air operations and adopt restrictive tactics, the FAP thus found itself unable to adequately respond to the ground forces’ air support requirements. Morale and combat effectiveness within the ground forces correspondingly suffered, providing the final catalyst for the April 1974 “Captains’ Revolt” that overthrew Portugal’s authoritarian regime and led to the decolonization of Portuguese Africa.

It is possible that the war in Guinea-Bissau has been discounted within counterinsurgency deliberations because it was a relatively small affair compared to other episodes, such as Algeria or Vietnam. Then-Portuguese Guinea was a small province; the Portuguese presence was smaller than that in Angola or Mozambique; and the entire air effort involved no more than 50 aircraft at any one time (including helicopters). Yet the small scale of this effort dramatically illustrates the effect that even a limited air presence can achieve in a counterinsurgency context—a valuable lesson for a US military establishment now in the habit of deploying massive “Air Expeditionary Forces” to contend with similar foes. More likely, however, the Portuguese air effort in Guinea-Bissau has gone unnoticed because the published record is so sparse in any language other than Portuguese. Based on my research to date, this would then be the first full investigation focused on the air campaign in Guinea-Bissau, in English or any language.

Status of Existing Literature.

Portugal’s colonial enterprise and the subsequent “Ultramar Wars” in Africa have been the subject of considerable academic and journalistic attention since the 1960s. Literally thousands of works are available on the overall subject, most by far in Portuguese. The majority of the works available in English are relatively dated, although that “majority” is by no means overwhelming; in fact, since the early 1990s a number of important books regarding insurgency in Guinea-Bissau and the Portuguese counterinsurgency effort have been published. These include Patrick Chabal’s Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People’s War (2003), Mustafah Dhada’s Warriors at Work: How Guinea-Bissau Was Really Set Free (1993), and John P. Cann’s Counterinsurgency in Africa: The Portuguese Way of War, 1961-1974 (1998).

However, most English-language works regarding this or any other “liberation struggle” tend to be polemical or romanticized, heavily tilted in sentiment towards one or the other antagonist (this is particularly true of books published while the conflict continued). Truly objective and even-handed studies have proven much more difficult, but not impossible, to come by. A fine example of such a work is a compendium of first-person accounts related by key players in all three of Portugal’s African wars, José Freire Antunes’ two-volume A Guerra de África (1961-1974) (1996). The bias inherent in most works, however, mandates great caution when evaluating claims of motivation, method, and effectiveness relative to the two sides of the Guinean war.

A growing number of military memoirs and first-person accounts, particularly by former Portuguese Army personnel, have also begun to appear in the past decade, including António Graça de Abreu’s Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, and Nuno Mira Vaz’ Guiné 1968-1973: Soldados uma Vez, Sempre Soldados, each of which deals specifically with the war in Guinea-Bissau.

Although such works offer revealing first-person accounts of specific air operations or their impact on the ground war, there have been few works focusing on airpower itself. In fact, of nearly 5000 surveyed sources dealing with Portugal’s colonial wars, only three books focus on airpower matters, and none specifically treat the case of Guinea-Bissau. The periodical literature fares little better—after two years of actively searching, I have come across exactly two scholarly essays dealing specifically with Portugual’s air campaign in Guinea-Bissau, along with some twenty articles on the subject in various editions of Mais Alto (the FAP’s official journal).

The vast majority of sources, in any language, treat the air campaign in Guinea-Bissau with palpable superficiality and/or bias, while no single work in English addresses airpower issues exclusively. (Note: Prof. John P. Cann is currently working on such a book, tentatively titled African Flight Plan: The Portuguese Air Force at War) Elements of various edited works help to rectify this shortfall, including Tomás George Conceição’s essay “The Portuguese Air Force in the African Wars of 1961-1974,” in John P. Cann, ed., Memories of Portugal’s African Wars, as well as various chapters in Antunes’ A Guerra de África. Overall, however, while the existing published literature is adequate for undertaking a general study of FAP operations in Guinea-Bissau and elsewhere in Africa, it is insufficient for the detailed investigation I propose to undertake. To continue gathering evidence for my thesis, considerable archival research is required.

SUBSEQUENT NOTE: I did visit the Arquivo Histórico da Força Aérea in March 2009, and acquired much relevant and useful information! Also, the staff—led by Cor. Ismael Alves—proved to be both helpful and incredibly friendly.

Materials Available for Investigation.

Fortunately, adequate primary sources exist in a variety of different archives around the world. In addition to the many published collections of Ámilcar Cabral’s works, a wealth of primary sources from the PAIGC—the insurgent group opposing Portugal’s domination of Guinea-Bissau—are available in the Ronald Chilcote Collection at the Hoover Institute at Stanford University, California. Combined with the resources (notably press translations) at the Air University Library in Alabama, this collection has provided me with as complete as practical a compilation of PAIGC communiqués, instructions, and propaganda releases regarding insurgent reactions to Portuguese airpower.

Ideally, I would have liked to travel to Bissau to consult the holdings of the Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), Guinea-Bissau’s national archives. However, the outbreak of civil war in 1998 very nearly destroyed that institution. Situated less than a kilometer from the front lines, INEP was requisitioned as a barracks for intervening Senegalese troops and was repeatedly shelled.

Both “military necessity” and damage to the roofs exposed most of INEP’s documentary holdings to the elements, and the great majority was destroyed. Further, as the United States has not yet reoccupied its embassy in Bissau, my parent unit has denied travel to the country. Furthermore, given that Guinea-Bissau currently has no open embassy in the US, meeting visa requirements would have also been a considerable challenge. Fortunately, the attention given the war while it continued has resulted in the location of adequate “satellite” collections, such as the Chilcote collection described above.

I have successfully gained approval from the FAP Chief of Staff’s office to visit the FAP archives (the Arquivo Histórico de Força Aérea, or AHFA) in Lisbon, and I will be traveling there on 20 March 2009. Though AFHA is not open to the public, correspondence with the AFHA director has suggested he and his staff will be both helpful and accommodating in my research. The director has my research priorities, and has promised to inform me if there are any potential issues. Of note, the AFHA underwent a significant expansion in the 1970s to contend with the large amount of documentation returning from FAP’s various African bases after the conclusion of their conflicts there.

Since much of my discussion relates to the intended purpose of air defense systems, their technical characteristics, and their use in contemporaneous campaigns, I will continue to rely on information collected from the Air Force Historical Research Agency (AFHRA) in Alabama. AFHRA features an impressive collection of documents regarding the early development of air defense missiles dating back to 1945; in addition, their oral history activities have gathered the recollections of US Air Force personnel who encountered the SA-7 air defense missile in Vietnam. That same missile would, beginning in 1973, greatly affect FAP operations in Guinea-Bissau as well.

Additionally, extensive contemporaneous accounts of FAP air operations and PAIGC air defense activities are available in the various US Government Freedom of Information Act (FOIA) on-line reading rooms, particularly those available through the Department of State and Central Intelligence Agency internet sites. Both feature a number of candid and revealing comments by Portuguese Ministers, diplomats, and military leaders regarding the impact of PAIGC air defenses, which contributes to my efforts to prove my core thesis.

Finally, there exist a considerable number of internet testimonials and accounts by veterans on both sides of the conflict, offering further details of air operations and air defense engagements. Most notable is Luis Graça’s “Camaradas da Guiné” website, which features a great many accounts of military activities in Guinea, most of which can be corroborated by other sources. Some of the individuals contributing to this site—and there are hundreds of them—have indicated their willingness to provide answers to further inquiries, if required.

[To be continued]

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)

(**) Encontrei na Net um artigo do Mattew M. Hurley, publicado em espanhol:

Matthew M. Hurley, Sub-Teniente, USAF - Saddam Hussein y el poder aéreo iraquí:tener una fuerza aérea no es suficiente. Air Power Journal. Edición hispanoamericana. Otoño trimestre 1993.

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