sexta-feira, 9 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13118: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VI: Vinte jovens lourinhanenses morreram na guerra colonial, seis dos quais no TO da Guiné (Jaime Bonifácio Marques da Silva)



Detalhe do cabeçalho do cartaz nº 2,  de uma série de cinco, elaborados por Jaime Bonifácio Marques da Silva, e que vão ser exibidos, no próximo dia 11 de maio, no clube local da Areia Branca Lourinhã, na sessão de homenagem á memória do José Henriques Mateus (1944-1966). Vamos aproveitar alguns elementos dos 5 cartazes, na impossibilidade ténica de os reproduzir na íntegra, de forma legível, e procurando não repetir informação já aqui divulgada. (LG)

1. ENQUADRAMENTO DA HOMENAGEM AO SOLDADO JOSÉ HENRIQUES MATEUS NO CONTEXTO DA EVOCAÇÃO HISTÓRICA DA GUERRA COLONIAL



(Mapa do Império Português existente em todas as Escolas primárias de Portugal até 1974)


1.1 O INÍCIO DA GUERRA EM ÁFRICA


Durante a Guerra em África Portugal mobilizou durante os treze anos do conflito (1961 – 1974) cerca de um milhão de jovens.

Destes, mais de 8 mil tombaram na frente de combate ou em acidentes, cerca de 120 mil foram feridos, 4 mil ficaram estropiados e, estima-se, que cerca de 100 mil ficaram a sofrer de “Stress Pós Traumático de Guerra”.


1961 - ANGOLA: 

Se tem que se apontar uma data para o início da guerra em Angola, a data é 4 de fevereiro de 1961. Nesse dia um grupo de africanos ataca a cadeia de Luanda, matando sete polícias portugueses. Dias depois, a 15 de março, sucedem-se os massacres no Norte levados a cabo pela UPA.

Em Angola as tropas portuguesas tiveram de enfrentar os guerrilheiros de três movimentos nacionalistas diferentes:

- UPA (União da Populações de Angola) que, em 1962, viria a designar-se FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), liderada por Holden Roberto;

- MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), liderado por Agostinho Neto;

- UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), liderada por Jonas Savimbi.


1963 – GUINÉ: 

Em 23 de janeiro de 1963 inicia-se oficialmente a guerra na Guiné, quando o PAIGC liderado por Amílcar Cabral ataca o quartel de Tite, a Sul de Bissau. Contudo, a primeira ação contra a soberania de Portugal neste território já tinha acontecido em julho de 1961, quando os guerrilheiros do MLG (Movimento de Libertação da Guiné), comandados por François Mendy entraram pela fronteira da GUINÉ com o Senegal e atacaram as povoações de S. Domingos, Suzana e Varela junto à fronteira com o Senegal.

 1964 – MOÇAMBIQUE: 

A 25 de setembro de 1964 dá-se o início da luta armada em Moçambique. A FRELIMO, liderada por Eduardo Mondlane, ataca o quartel de Mueda e proclama a insurreição geral contra a autoridade portuguesa.

A 16 de novembro de 1964 as tropas portuguesas sofrem as primeiras baixas no Norte de Moçambique, na região de Xilama.


1.2 AS CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA PARA OS JOVENS DA LOURINHÃ

Da relação que se anexa verifica-se que, do Concelho da Lourinhã, perderam a vida durante o conflito 20 jovens: 9 em Angola, 5 em Moçambique e 6 na Guiné.

CONCELHO DA LOURINHÃ
RELAÇÃO DOS COMBATENTES FALECIDOS NA GUERRA DO ULTRAMAR
ANGOLA

NOMES
POSTO
FREGUESIA
FALECIMENTO
Joaquim Alexandre Neto Martins
Soldado
Ribamar/C.P. Dinheiro
12.06.1961
João Cláudio Fernandes
Soldado
Atalaia
05.07.1963
Leonel Lourenço dos Santos
Soldado
Marteleira
10.08.1963
João António Fonseca Martins
Soldado
Lourinhã
14.01.1964
Joaquim Domingos Santos Oliveira
Soldado
Reguengo Grande
24.05. 1964
Frutuoso Brás Ferreira
1.º Cabo
Reguengo Grande
30.08.1964
João dos Santos Correia
Soldado
Pena Seca
07.07 1970
Arsénio Bonifácio da Silva
Soldado
Seixal
04.09.1972
Henrique Luís Rodrigues
Soldado
Pena Seca
01.03.1973

MOÇAMBIQUE

NOMES
POSTO
FREGUESIA
FALECIMENTO
Manuel Filipe Henriques
1.º Cabo
Casal das Barrocas
02.10.1967
Henrique Lino Antunes Marques
Furriel
Marteleira
07.02.1968
Avelino augusto Corado
Soldado
Paço
30.10.1969
Jorge Maceira Santos
Soldado
Reguengo Grande
26.09.1970
Israel António Onofre
Alferes
Moita dos Ferreiros
11.01.1972

GUINÉ

NOMES
POSTO
FREGUESIA
FALECIMENTO
José António Canôa Nogueira
Soldado
Lourinhã
23.01.1965
José Henriques Mateus
Soldado
Areia Branca
09.07.1966
Albino Cláudio
Soldado
Ribamar
23.07.1968
Alfredo Manuel Martins Félix
Soldado
Toxofal
26.01.1970
Carlos Alberto Ferreira Martins 
Soldado
Toledo
15.04.1971
José João Marques Agostinho
1.º Cabo
Reguengo Grande
05.05.1973


OBSERVAÇÕES:

Na Guiné, de acordo com este último quadro,  podemos verificar que:

i. Tombaram seis (6) militares: Lourinhã, Areia Branca, Ribamar, Toxofal, Toledo e Reguengo Grande.

ii. De acordo com a lista que consultei no Arquivo Geral do Exército verifica-se que as causas da morte foram: ferimentos em combate, três (3) (José Nogueira, José Agostinho e Carlos Martins); acidente com arma de fogo, um (1) (Albino Cláudio); acidente de viação, um (1) (Alfredo Félix); desaparecido em combate, um (1) (José Mateus).

iii. Quanto à Especialidade e Posto: cinco (5) são atiradores e um (1) é apontador de morteiro – José Nogueira; três (3) são Soldados e um (1) é 1.º Cabo.

iv. Cinco pertencem ao Ramo do Exército e um à Força Aérea – o Paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins.

v. O primeiro militar da Lourinhã a tombar na Guiné foi o soldado José António Canôa Nogueira em 23.1.1965, natural da Vila e o último foi o 1.º Cabo José João Marques Agostinho em 5.5.1973, natural de Reguengo Grande.

Nota:

A este propósito, Luís Graça escreveu: 

“Curvo a cabeça em memória do Mateus e do meu primo Canoa Nogueira, os dois primeiros lourinhanenses a morrer na guerra da Guiné, com um intervalo de ano e meio... E não longe um do outro, na mesma região, Tombali, no mesmo setor, Catió... O Canoa morreu em 23 de janeiro de 1965, em Ganjola, num ataque ao destacamento... Pertencia a um pelotão de morteiros... Era meu primo... E fui ao seu funeral, quatro meses depois... Veio num caixão de chumbo... A sua morte marcou-me muito. Seis dias depois dele morrer, fiz eu 18 anos, a idade de dar o nome para as sortes...

"O Mateus não o conhecia, pessoalmente, embora vivesse a menos de 3 km da Lourinhã...” (In: blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 21.4.2014).

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