Data: 4 de Maio de 2014 às 00:37
Assunto: Dia da Mãe- Celebrar com Poesia
Caros amigos e camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal
Saudações fraternas.
Hoje, domingo, 4 de maio é o dia que na nossa tradição cultural e religiosa dedicamos àquela Senhora que nos deu o ser, a nossa Mãe. A ela devemos grande parte do que somos e jamais conseguiremos saldar tão grande dívida. Para muitos de nós, Grã-Tabanqueiros, Ela já partiu para o Além. Resta-nos a saudade e as recordações de tempos vividos e nem sempre bem aproveitados.
Temos em comum a dor da sua separação, para alguns ainda recente, além desses dois anos de desterro na Guiné, em que sentimos o seu sofrimento, mesmo quando ela se esforçava por nos encorajar para não agravar as nossas mágoas. São dignas e merecedoras do nosso tributo, as nossas Mães.
Assim, valendo-me de um dos livros de poesia, dos que me acompanharam durante a minha comissão na Guiné, este com poemas dedicados à Mãe e que lia com devoção, quase como rezando, destaquei 3 sonetos que gostaria de partilhar com a Tertúlia, como celebração deste dia e que envio em anexo.
O livro é: "A Mãe na Poesia Portuguesa"
É uma Colectânea de Poesias dedicadas à Mãe, em língua portuguesa, com coordenação de ABRANCHES BIZARRO . A Editora foi a Livraria Popular Francisco Franco - Lisboa 1971.
Se os Estimados Editores acharem por bem publicar estes poemas ficarei agradecido. Se não for oportuno e possível também não há problema. Ficarei contente por partilh´«a-los convosco.
E é tudo por hoje.
Abraços
JLFernandes
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CRENÇA
VEJO-TE, Deus! na folha do caminho
Quando, mal despontada, rente à haste,
É uma simples promessa, um bocadinho
De vida com destino que lhe baste.
Vejo-te, Deus! na ciência do cadinho
Onde as íris dos filhos me coraste
De azul... castanho... e eu nunca adivinho
Nem o sexo dos seres que me ofertaste.
Vejo-te, Deus! no amargo da descrença
Que teme ver-se escrava neste mundo,
Como se um Criador fosse uma ofensa...
Vejo-te, Deus! nos Céus que nunca vi,
Por detrás desse céu azul profundo,
Pois vejo minha Mãe ao pé de Ti!
LUÍS MANUEL CABRAL ADÃO (Séc, XX)
SONETO
LONGE de ti, na cela do meu quarto,
Meu copo cheio de agoirentas fezes,
Sinto que rezas do Outro-mundo, harto,
Pelo teu filho. Minha Mãe, não rezes!
Para falar, assim, vê tu! Já farto,
Para me ouvires blasfemar, às vezes,
Sofres por mim as dores cruéis do parto
E trazes-me no ventre nove meses!
Nunca me houvesses dado à luz, Senhora!
Nunca eu mamasse o leite aureolado
Que me fez homem, mágica bebida!
Fora melhor não ter nascido, fora,
Do que andar, como eu ando, degredado
Por esta Costa d’África da Vida.
ANTÓNIO NOBRE (Séc. XX)
«Só»
ÚNICA MÃE
Venho triste, e cansado, e insatisfeito.
Entrei na vida e já dela descreio.
Tu, que me deste o leite do teu peito,
dá-me agora o encosto do teu seio.
Se só o teu amor é bem perfeito,
para que andar, tremente de receio,
rolando de defeito para defeito
na busca vã da perfeição, que anseio?
Não. Quero descansar. Não posso mais
Limpa-me o pranto dos meus olhos tristes,
fecha na tua mão os meus ideais.
Tu, sim, que pelo muito que me queres,
nada queres! – Ó Mãe, se tu existes,
para que haverá na terra mais mulheres!?
FRANCISCO COSTA (Séc. XX)
«Pó»
______________Do que andar, como eu ando, degredado
Por esta Costa d’África da Vida.
ANTÓNIO NOBRE (Séc. XX)
«Só»
ÚNICA MÃE
Venho triste, e cansado, e insatisfeito.
Entrei na vida e já dela descreio.
Tu, que me deste o leite do teu peito,
dá-me agora o encosto do teu seio.
Se só o teu amor é bem perfeito,
para que andar, tremente de receio,
rolando de defeito para defeito
na busca vã da perfeição, que anseio?
Não. Quero descansar. Não posso mais
Limpa-me o pranto dos meus olhos tristes,
fecha na tua mão os meus ideais.
Tu, sim, que pelo muito que me queres,
nada queres! – Ó Mãe, se tu existes,
para que haverá na terra mais mulheres!?
FRANCISCO COSTA (Séc. XX)
«Pó»
Nota do editor:
´
Último poste da série > 2 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12787: Efemérides (150): Cufar, 2 de março de 1974: Horror, impotência, luto... (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)
5 comentários:
Obrigado, Joaquim, pela parte que me toca. Fiquei sensibilizado. Bom dia, para ti e para as todas as nossas mães!... Luis
Eugénio de Andrade (1923-2005)
Prémio Camões 2001
Eugénio de Andrade é um dos maiores poetas contemporâneos. Tem uma vasta obra publicada em várias línguas: alemão, chinês, inglês, francês, italiano, jugoslavo, espanhol e russo. (...)
Eugénio de Andrade conta-nos a sua infância:
«Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde a infância no mundo mais elementar.»
«Certa manhã acordei sozinho em casa. Acordei a chorar.- Ó mãe, mãe... – Mas a mãe não vinha. Não havia mãe. Havia só a porta fechada. – Ó mãe, mãe... – E a casa deserta. Pelas frinchas largas da porta via a manhã lá fora. Era uma manhã de sol quente, talvez de Julho, talvez de Agosto. Devia haver medas de palha na eira em frente. Mas os meus olhos mal viam, estavam rasos de água e de angústia. – Ó mãe, mãe... – E de repente, na manhã clara, começaram a cair estrelas pequeninas, estrelas verdes, vermelhas, estrelas de oiro. As lágrimas caíam-me pela cara.- Ó mãe, mãe... – O nariz esmagado contra a porta, os olhos muito abertos, vendo através da frinchas as estrelas caindo, umas atrás das outras. – Ó mãe, mãe....»
Os Amantes sem Dinheiro (1950)
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Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha – queres ouvir-me? –
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda ouço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio de um laranjal...
Mas – tu sabes – a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
In: Os Amantes sem Dinheiro (1950)
Fonte:
http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/09/index.html
http://www.revistabula.com/391-os-dez-melhores-poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andarde (1902-1987)
Obrigado Luís
Os dois Poemas que partilhas, fazem parte da vasta colectânea que é o livro que refiro "A Mãe na Poesia Portuguesa". Visitei-os muitas vezes pois eram dos meus preferidos, entre outros. Estiveram na mira para te enviar. Fico contente por os partilhares.
Um abraço
JLFernandes
À nossa querida mãe, Alice,
a todas as mães do mundo!
Obrigados, Mãe querida!
Não há dia como este,
O Dia das Nossas Mães,
Pela vida, Mãe, que nos deste,
Obrigados, parabéns!
Obrigados, parabéns,
Um beijinho com ternura,
Pelo amor que nos tens,
Que é de Mãe, com assinatura.
Que é de Mãe, com assinatura,
Não há outro assim igual,
Foste mãe, sempre à altura,
A melhor mãe de Portugal.
A melhor mãe de Portugal,
Por nos teres deitado ao mundo,
E protegido do mal,
Com o teu instinto profundo.
Com o teu instinto profundo,
Nas sete vidas da vida,
Do coração, do mais fundo,
Te dizemos: és mãe querida!
João, Joana
4 de Maio de 2014
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