Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Fortaleza da Amura > QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné) > O Virgílio Teixeira, numa das vezes que foi ao QG / CCFAG, na fortaleza da Amura, em data que já não pode precisar (c. 1967/68), encontrou no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo ("era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar").
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Hugo Guerra (ex-alf mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 50, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), encontrou o Marco Paulo, que ele não conhecia, nos correios de Bissau, na época natalícia de dezembro de 1968. Tiveram um pequeno "desaguisado" por causa dos botões da camisa (*)...
Também num blogue do Luís de Matos (ex-fur mil, da CCAÇ 1590 / BCAÇ 189, Os Gazelas, 1966/68), havia uma referência ao Marco Paulo: ele chegou a Bissau, a 11 de agosto de 1966 e foi dar uma volta à noite com vários camaradas, alentejanos. O blogue já não está mais disponível na Net (o link era: http://luisdematos.blog.com/2007/7/) mas aqui vai um excerto (*)
– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins [, da Valentim de Carvalho], fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.
– Chegou a sentir medo?
– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.
– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?
– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.
Outra das entrevistas, com o Marco Paulo, "a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos". conduzida pelo jornalista e escritor Luís Osório, e publicada nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, em nembro de 2011, pode ler-se:
(...) Luís Osório [LO] - Sei que está a comemorar mais um ano de carreira..
Marco Paulo [MP] - E são já 35 anos a cantar, imagine só. Tanto tempo que quase parece, bem, quase parece que a pessoa que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui... Passei muitas dificuldades no início, não foram apenas rosas.
LO - Que tipo de dificuldades?
MP - No início tive de cumprir 18 meses de serviço militar obrigatório, depois tive também de viver com o que diziam e faziam os meus críticos. Durante muitos anos o meu nome esteve vetado na televisão. Fui muitas vezes mal tratado. (...)
(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar?
Infelizmente, não dispomos de nenhuma foto do nosso camarada Marco Paulo, do tempo da Guiné. Nem conhecemos o "sítio oficial" do popular cantor (***).
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1. Houve camaradas nossos, que passaram pelo TO da Guiné, e que depois se tornaram famosos, nas suas atividades profissionais: políticos, artistas, desportistas, médicos, jornalistas, etc. Famosos, quer dizer, conhecidos do grande público...
É o caso, por exemplo, do cantor Marco Paulo, que foi 1.º cabo escriturário, e que esteve colocado no QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), na fortaleza da Amura... Não sabemos a sua unidade, nem exatamente em que período lá esteve: talvez entre 1966 e 1968, cerca de 18 meses; e talvez em rendição individual.
Vários camaradas já referiram aqui o seu nome:
Por sua vez, o Virgílio Teixeira (ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, set 1967 / ago 1969) escreveu que, nas suas visitas a Bissau, foi várias vezes ao QG, na fortaleza da Amura , e que "numa delas encontrei no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo, que já o conhecia do Porto, morava perto de mim, e já começava a ser conhecido".
E acrescenta: "ele era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar, servia no balcão ele ou outros em serviço. (...) Depois acabou por dar espectáculos em alguns lugares da Guiné, mas eu nunca vi nem assisti a nenhum". (**)
O Virgílio Teixeira esclarece, em comentário (**), que "o Marco Paulo, já depois de chegarmos da Guiné, morava por aí perto de mim, ao lado da casa de uma irmã minha, e só por isso o via raramente, quando visitava a minha irmã [no Porto]".
(...) O furriel miliciano Charneca, que é natural de Beja, ou arredores, não sei bem, pertence à CCS do meu batalhão, o [BCAÇ] 1894, disse-me que há um nosso camarada, já 'velho', o que equivale a dizer que não é 'periquito', que está no rádio do Quartel-General com o Marco Paulo, um artista da rádio e da TV e também alentejano, de Mourão. Vamos lá ter com eles, para nos mostrarem como é isto. Ou pelo menos, aquele meu amigo vai connosco. Estava uma noite escura como breu. Não me recordo de mais nada. O que sei é que me vi dentro dum táxi, com o Charneca e o tal amigo do QG, por um trilho, em que o capim era bem mais alto que o nosso transporte e fomos parar a uma vivenda onde havia música. Muita música cabo-verdiana e dança, frangos no churrasco, cerveja e whisky. (...)
2. Em tempos publicamos dois extractos de entrevista com o Marco Paulo (, nome artistico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, na margem esquerda do Guadiana, Alentejo, em 21 de janeiro de 1945).
2. Em tempos publicamos dois extractos de entrevista com o Marco Paulo (, nome artistico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, na margem esquerda do Guadiana, Alentejo, em 21 de janeiro de 1945).
Uma das entrevista era do Correio da Manhã, de 9 de junho de 2007:
(...) –Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?
(...) –Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?
– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins [, da Valentim de Carvalho], fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.
– Chegou a sentir medo?
– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.
– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?
– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.
Outra das entrevistas, com o Marco Paulo, "a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos". conduzida pelo jornalista e escritor Luís Osório, e publicada nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, em nembro de 2011, pode ler-se:
(...) Luís Osório [LO] - Sei que está a comemorar mais um ano de carreira..
Marco Paulo [MP] - E são já 35 anos a cantar, imagine só. Tanto tempo que quase parece, bem, quase parece que a pessoa que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui... Passei muitas dificuldades no início, não foram apenas rosas.
LO - Que tipo de dificuldades?
MP - No início tive de cumprir 18 meses de serviço militar obrigatório, depois tive também de viver com o que diziam e faziam os meus críticos. Durante muitos anos o meu nome esteve vetado na televisão. Fui muitas vezes mal tratado. (...)
(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar?
MP: Na Guiné. Quando fui para a guerra, já tinha gravado dois ou três discos, discos sem grande sucesso mas que passavam na rádio e que já vendiam alguma coisa. Ao regressar da guerra, não fazia ideia do que seria a minha vida no futuro, não era líquido que o meu futuro passasse pelas cantigas.
LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?
MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.
LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?
MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)
LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?
MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.
LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?
MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 22 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)
(**) Vd. poste de 7 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19078: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVI: Fortaleza da Amura, Quartel-General, Bissau, junho de 1969.
(*) Vd. poste de 22 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)
(**) Vd. poste de 7 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19078: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVI: Fortaleza da Amura, Quartel-General, Bissau, junho de 1969.
(***) Último poste da série > 24 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19040: (De) Caras (121): António Salvada, bancário reformado, ex-fur mil, CCAÇ 2584 / BCAÇ 2884 (Có, 1969/71), membro desde 30/3/2017 da nossa Tabanca Grande
29 comentários:
Ligeiro comentário, o artista chama-se João Simão da Silva (não Sebastião), o raio do nome não é nada 'nome de artista' , e também o vi, em Julho de 1969, em Bissau, primeiro na Amura quando foi tratar da entrega de material usado e na Meta.
Interessante o relato da viagem por Bissau de táxi, pois não me lembro de ter visto
por lá nenhum táxi.
Ah, o artista nem se apercebia da guerra, a não ser quando ia cantar aos? hospitais
e à Força Aérea.
Valdemar Queiroz
Peço desculpa ao nosso camarada João Simão da Silva, aliás, Marco Paulo, pela troca do nome... É preciso ter cuidado com a Wikipédia, que é um projeto generoso e promissor, mas que tem muitos erros e lapsos...
"Táxi" é uma força de expressão.. Nesse tempo, na província, nas nossas cidades e vilas da parvónia, também não havia táxis... Também não me lembro de ter visto táxis, ou automóveis de aluguer, em Bissau...
Mas, ó Valdemar, como é que um gajo ia do Chez Toi ao Pilão, à noite dormir ?... Sim, porque havia que se hospedava em espeluncas como o Chez Toi e iam dormir ao Pilão!... Quem vinha do mato, não conseguia dormir, sozinho, numa espelunca com o Che Toi!...
E como é que um gajo regressava depois, de manhã, com a cabeça erm cima dos ombros ? Isso é que me faz confusão!...
Parece que essa era uma das mais temíveis patranhas com que se ameaçavam os "periquitos"...
- Se dormires no Pilão com uma gaja, podes acordar no dia seguinte sem cabeça...
Havia gajos, "periquitos", que se acagaçavam... Mas, ao fim de um ano, estava tudo "apanhado do clima", e qualquer "velhinho" estava-se cagando se um dia acordasse sem cabeça... Aliás, para que era precisa a puta da cabeça na merda da Guiné ?...
Tanto quanto me lembro, a malta regressava, do Pilão, a pé, ao Chez Toi... para depois ir dormir o sono dos justos toda a manhã...
Valdemar, estes gajos, sim, é que eram uns heróis... do carago! E ainda por cima numa cidade que não tinha táxis!
A malta sabia, pelo menos no meu tempo, que o Amílcar Cabral tinha proibido "terminantemente" que se cortassem cabeças aos tugas, fosse no Pilão ou no mato... E a verdade é que eu não tenha conhecumento de "cabeças cortadas aos tugas" na Guiné... Pelo menos no meu tempo... Razão por que a malta ia, descontraidamente, dormir ao Pilão, quando estava em Bissau... Sempre era melhor dormir bem acomnpanhado, do que mal, sozinho.
Não sei quem inventou o mito das cabeças cortadas no Pilão... Mas ainda gostar de saber...
Quem tinha fama de cortar cabeças era o capitão Curto, não é do meu tempo, +e verdade, eu nessa altura tinha apenas 15 anos... Mas eu ouvi contar histórias dessas, do antigamente, ainda antes do início da guerra, à gente do Cantanhez, quando lá fui em março de 2008...
Os guineenses são grandes contadores de histórias... E, a gente sabe, quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto...
A verdade é que eu nunca lhes ouvi contar histórias de cabeças cortadas aos tugas no Pilão... E no dia em que cortassem cabeças aos tugas no Pilão, acabava-se o negócio do Pilão... Matavam a galinha dos ovos de ouro...
Sim Luis
Só me lembro, de ouvir contar na 'Solmar', quando estive lá estive em Julho 1969,
dos fuzileiros terem distribuído cargas de porrada e granadas no Pilão, não sei da razão e parece que foi 'treta da 5ª.REP'.
Tomara as gentes do Pilão que por lá passassem muitos tugas, os conflitos eram quase sempre arranjados entre a nossa própria rapaziada.
Bons tempos, tínhamos todos vinte e poucos anos.
Quem me dera.
Valdemar Queiroz
Na legenda da foto,indica o QG na Amura,o que não está correcto,na Amura funcionava o ComChefe e em Sta Luzia o QG.
Havia táxis em Bissau,andei neles várias vezes.
Paulo Santiago
O Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74) já há tempos "nos puxou as orelhas":
(...) "Há quem, neste blogue, confunda o QG/CTIG com o QG da Amura. Aí estava instalado o QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné. Isto é: O QG/CTIG era o Quartel General do Exército, enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território.
No tempo em que por ali andei (1973/74), o primeiro foi comandado pelo Brigadeiro Alberto da Silva Banazol e depois pelo Brigadeiro Galvão de Figueiredo; o segundo pelo General Spínola e depois pelo General Bettencourt Rodrigues." (...)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/09/guine-6374-p12080-um-amanuense-em.html
Paulo Santiago, como é que eu chamo à Amura, onde está estava o Com-Chefe e as quatro Rep ?
Diz o Abílio Magro, que esteve no QG/CTIG, em Santa Luzia, o Quartel General do Exército (Na Amura estava o QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné):
(...) No tempo em que por ali andei (1973/74)
(i) o [QG/CTIG] foi comandado pelo Brigadeiro Alberto da Silva Banazol e depois pelo Brigadeiro Galvão de Figueiredo;
(ii) enquanto o QG/CCFAG foi o comandado pelo General Spínola e depois pelo General Bettencourt Rodrigues. (...)
Portanto, na Amura estava o QG/CCFAG... Foi na Amura que o o com-chefe e governador geral da Guiné, gen Battencourt Rodrigues, foi preso em 26 de abril de 1974 às ordens do MFA da Guiné.
Escreveu o nosso querido camarada Carlos [Manuel Rodrigues] Pinheiro, nosso "cicerone de Bissau", que conheceu muito bem, como civil e como militar que esteve em Santa Luzia (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70):
Conheci bem a Amura onde ia com frequência e, salvo erro ou omissão, nunca ali houve qualquer serviço ou prolongamento do Quartel General.
Entre 68 e 70 conheci lá duas Unidades. Primeiro foi a Intendênciam que mais tarde foi para o 600 em frente ao QG [CTIG], e depois nessa altura foi para a Amura a PM que estava no QG.
No tempo da Intendência, uma noite houve lá um serão de variedades, dentro do possivel com os "artistas" que lá havia, mas de todos sobrassaiu o Marco Paulo que era Cabo na Intendência.
Parece eu que estou a ouvi-lo, antes de começar a cantar: Para o meu querido Comandante, dedico a canção, "Tenho dois amores".
O Marco Paulo era muito conhecido em Bissau mas era de certo modo reservado e não falava com toda a malta.
8 de outubro de 2018 às 00:34
https://www.blogger.com/comment.g?blogID=29087476&postID=5822220533886950402
Carlos Pinheiro, tu comheceste Bissau como pouco. Ficamos a saber que o Março Paulo (nome artístico de João Simão da Silva) era 1º cabo do BINT (Batalhão de Intendência). E que o viste atuar, na Amura, quando o BINT ainda lá estava, antes portanto de passar para o 600, em Santa Luzia, frente ao QG/CTIG... E que a PM (Polícia Militar) foi para a Amura, por troca com o BINT...
O que o Carlos Pinheiro não está lembrado (, ou possivelmente até nem o leu,) é deste comentário da especialista em história da arte Vera Mariz que em 2015 estava a fazer o seu doutoramento, e que nos pediu autorização para usar uma foto da Amura...
_________
Segunda mensagem d Vera Mariz
12 jan 2014 15:34
Caríssimo Luís Graça, agradeço a sua atenção.
Aproveito para lhe dizer que:
O primeiro contacto do arquitecto Benavente com a Guiné teve lugar no ano de 1962. No ano 1968, entre os dias 25 de Abril e 2 de Maio, Luís Benavente terá desempenhado nova missão em Bissau, à qual se seguiria uma terceira viagem já em 1969.
Isto porque no início do ano de 1969, o Governo da Guiné terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”, motivo pelo qual Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.
Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe, da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.
Quando terminar a tese tenho todo o prazer em enviar-lhe o capítulo referente à Guiné.
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/01/guine-6374-p14143-o-nosso-blogue-como.html
A tese de douromento da Vera Mariz está disponível em Repositório da Universidade de Lisboa Faculdade de Letras (FL) FL - Teses de Doutoramento
http://repositorio.ul.pt/handle/10451/24290
A "memória do império" ou o "império da memória" : a salvaguarda do património arquitectónico português ultramarino : (1930-1974)
Autor: Mariz, Vera Félix
Orientador: Neto, Maria João Baptista, 1963-
Tese de doutoramento, História (Arte, Património e Restauro), Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2016
URI: http://hdl.handle.net/10451/24290
Tem um capítulo sobre a Guiné-Bissau e em especial sobre a Fortaleza da Amura (pp. 329-363
Restauro da fortaleza da Amura. classificada como monumento nacioanl en 1939. Estudo de caso (vd. Mariz, 2016, p. 354(
(...) Benavente sugeriu uma reorganização deste espaço ocupado pelas forças militares de Bissau. Para isso seria importante que os responsáveis por esta guarnição militar, tendo em consideração as possibilidades da fortificação, elaborassem um planeamento que traduzisse as suas necessidades.
Segundo o arquitecto Benavente, se o espaço interno da fortaleza não fosse suficiente
para albergar todos os serviços, poder-se-ia pensar numa expansão dos mesmos para
uma zona vizinha no exterior, nomeadamente para um bloco fronteiro à fortificação.
Deste modo, o Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné informou Benavente
acerca dos órgãos militares cuja instalação estaria prevista na fortaleza, ou seja, o
próprio Comando-Chefe, a companhia de Polícia Militar, um destacamento adido a esta
polícia e o Comando-Chefe do agrupamento de Bissau, cujas instalações deveriam
incluir, entre outras, apartamentos, casas de banho, messes, salas de oficiais, gabinetes,
prisão, alfaiataria, sapataria, barbearia, carpintaria, oficina automóvel ou parques de
estacionamento-
Mostrando-se razoavelmente de acordo com as propostas de Luís Benavente, o referido Comando-Chefe manifestou, no entanto, o seu desagrado para com a sugestão de se instalarem alguns dos serviços no exterior da fortaleza, uma situação que teria implicações complexas e cuja resolução, por via de expropriações ouda elaboração de planos de urbanização, saía totalmente do foro militar. (...)
Paulo Santiago:
Quanto ao QG ou Comando Chefe, está já esclarecido tudo, não me parece haver mais a dizer. Amura: QG do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné. O QG de Santa Luzia, era vamos chamar a zona administrativa, quando cheguei à Guiné num DC6, tive de ir fazer a minha apresentação lá em Santa Luzia, o gabinete de quem me recebeu, parecia uma Câmara Frigorifica, nunca mais esqueço isso. Ponto.
No meu tempo: 21set67 a 4ago69 nunca vi um táxi na Guiné. Já agora para quem o viu, qual era a cor dele? Verde e preto?
Talvez me passasse despercebido, pois eu já tinha o meu 'táxi próprio' a minha motorizada, e tínhamos os camiões da tropa, com transporte de borla para O Clube de Oficiais de Santa Luzia.
Mas admito que 'apanhado pelo clima' como andava sempre, me escapasse esse tipo de viaturas, porque nunca precisei delas.
Virgilio Teixeira
Valdemar, com toda a certeza cruzamo-nos em Bissau no mês de Julho 69. Andamos pelos mesmos sítios, Solmar, Solar dos 10, Meta, (Não Chez Toi), Amura, 5ª REP, etc.
Confirmo também não ter visto táxis, ou coisa parecida.
O Marco Paulo, não sendo por mim apreciado, é uma figura famosa, incontornável da TV e da Musica, que só viu a guerra nos Hospitais e na Força Aérea, além de ouvir os rebentamentos em TITE, que toda a gente ouviu, até eu, no dia em que cheguei, à noite ouve-se e dá para ver os clarões, e a malta 'velhinha' lá dizia que é em Tite, é normal.
Virgilio Teixeira
Oh Luís, se alguém tinha de ficar sem cabeça no Pilão, era eu carago, ficava lá a dormir, com a motorizada à porta da palhota. Nunca ouvi corta cabeças, senão não tinha a minha agora.
Porrada no Pilão, falava-se na 5ª REP mas devia ser mais publicidade enganosa, nunca vi nada de estranho, no meus tempo. Havia uma paz de alma, e eu percorria aquilo tudo, só tenho pena de não ter nunca tirado uma foto lá. Julgo que a ideia era não levar nada que fosse possível roubar ou perder, e assim eu fazia, embora a motorizada fosse mais valiosa e mais interessante de roubar. Aliás uma vez roubaram mesmo na porta de um restaurante, depois lá apareceu.
ROBLES, era o nome do Capitão que diziam montes de barbaridades. Conheci, ou vi, uma única vez no UIGE quando regressamos, segundo consta enjoou todo o caminho e assim ficou todo o tempo nos seus aposentos. Contaram, mas não vi nada.
Virgilio Teixeira
Virgílio, ao fim destes anos, e com tanta a gente a dizer "barbaridades" sobre nós, os "tugas", o que é que nos resta ? Manter o bom humor, falar sempre a verdade, falar só do que se viu e ouviu, não encobrir nada..., mas também não "engolir" as enormidades que se diziam... Por exemplo, as cabeças cortadas no Pilão... Tu, por exemplo, há mais de 50 que eras um homem morto!...
Quanto aos nossos camaradas, famosos ou anónimos, temos apenas que respeitar as regras do nosso blogue, não fazer quaisquer insinuações sobre a sua vida privada, ou atingir o seu bom nome... Enfim, são regras de bom senso e bom gosto, onde são permitidos todos os comentários com exceção das mensagens com:
(i) conteúdo racista, xenófobo, homofóbico, pornográfico, etc.;
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(vii) publicidade comercial ou propaganda claramente político-ideológica;
(viii) comunicações do foro privado, sem autorização de uma das partes.
... E siga a Marinha! LG
Só para recordar que havia táxis em Bissau
em 69…..Eram de uma sociedade, e a maior parte
dos condutores eram Guineenses…...Quanto ao
Marco paulo,recrda.me de o ter visto em Bissau,em 69.
Não tinha muita simpatia no meio militar
Vamos fazer contas, Cancela:
O Marco Paulo nascido em 45, mais novo do que eu 2 anos, foi à inspecção em 65 e assentou praça em 66 como 95% dos mancebos. Daí que em 11 de Agosto de 66 ele chegou à Guiné, como atrás está escrito por alguém e tem quase 100% de possibilidades de estar certo. Ele disse que fez 18 meses na Guiné (aliás disse serviço militar) mas deve ser a comissão na Guiné. Então ele em Março/Abril de 68 regressou à metrópole, não podia estar na Guiné em 69, certo?
Ele não tinha muita simpatia nem no meio militar nem no civil, pelo menos enquanto morou no Porto, muito perto de onde eu vivia antes de casar. Ele morava numa vivenda com a mãe, na Rua Costa e Almeida, a 50 metros da esquadro de Campo-lindo, freguesia de Paranhos, Porto, esquadra essa agora a funcionar nas antigas instalações do Regimento de Engenharia 2, em Vale Formoso/Arca de Água, Paranhos, Porto.
A malta lá das redondezas pegava com ele, aqueles da pesada, porque ele não passava cartão ao 'povo miúdo' já era um artista. Depois foi-se para os lados do Sul, para a terra da Fortuna e Gente Fina, sem ofensa para ninguém, mas é a terra das oportunidades, que ele a viver aqui no burgo do Porto, não teria grandes chances de chegar onde chegou. Recordo que nada tenho contra o homem, faz anos no mesmo mês do que eu, diferença de 8 dias. Bem haja, porque já passou mal, por causa da história do cancro, isso é verdade.
Os táxis de Bissau, continuo a afirmar que nunca vi nenhum, até ao dia 04AGO69. Depois já não sei.
Mas por curiosidade qual era a marca dos carros? Modelo? cor?
Onde era a paragem deles? Na avenida ou na Praça do Império ?
Junto à bomba da SACOR?
No Aeroporto?
Obrigado
Virgilio Teixeira
Agora uma curiosidade, para amenizar estas divergências:
Em 1984/85 fui à Guiné 3 vezes.
Em Outubro de 84, portanto há 34 anos, desembarquei e o que vi de taxis, eram uns mini 'Mehari' lembram-se deles, nos filmes nas praias de arei lisa, Brasil, etc, Era esse Citroen, sem portas e sem tejadilho tudo a céu aberto, e só andavam quando havia gasolina, quer dizer a maior parte do tempo estavam parados. Foi um projecto de Comunidade Internacional, mandaram para lá uma fábrica de montagem desses Citroen. Quando lá cheguei já tinha sido desactivada, e os poucos carros que circulavam era tipo Bus, a malta fazia sinal de paragem entrava um e saia outro, uma coisa indescritível.
Depois a maioria dos taxis para fora da cidade, eram as celebres carrinhas Toyota, caixa aberta, e lá dentro da caixa era tudo ao molhe e fé em Deus e no condutor. Estas carrinhas eram o meio de transporte para todo o lado, incluindo na cidade. Levava tudo, menos bois e vacas, mas toda a bicharada lá ia ao monte, com as pessoas quase a caírem das carrinhas.
Nesse período uma empresa Portuguesa montou lá uma sociedade com 4 ou 5 autocarros, modernos, com ar condicionado e tudo. Isto ainda no final de 84. Ainda fiz uma viagem destas de Bissau até ao Gabu, mas já não regressei.
Em Bambadinca tivemos de fazer uma paragem de emergência, um homem guineense, morreu mesmo ao meu lado ou (um pouco mais à frente). Tiveram que fazer as respectivas formalidade e desembarcar o cadáver, a viagem continuou em grande, estrada asfaltada...
Já na viagem que fiz em Junho de 85, esta empresa já tinha acabado, deram cabo daquilo tudo, os prejuízos foram enormes, ainda falei com um dos sócios da empresa, que jurou nunca mais lá voltar.
Não sei, porque também nunca mais lá voltei.
Quanto aos Mehari, não sei mais nada, devem ter ido todos para a sucata.
Um bom fim de dia.
Virgilio Teixeira
Virgílio
Quanto ao Marco Paulo passo garantir, sem fazer nenhuma confusão, que em Julho de 1969 ele estava na tropa em Bissau.
Realmente ele nasceu em Janeiro de 1945 pelo que em 1965 ou 1966 deveria ter entrado para a tropa.
Em vários escritos ele diz que foi 'chamado' para ir para a Guiné e há uma
fotografia de despedida com a família em mês? de 1967 e também diz que esteve sempre em Bissau na Secção da Justiça.
E para o próximo ganhas tu, ou empatas ou … a bola é redonda.
Ab.
Valdemar Queiroz
Pois é Valdemar, aqui há alguma confusão, pois o próprio não forneceu dados suficientes nas entrevistas que deu, por isso só fazemos contas, nada mais. Por esta ordem de razões ele teria ido em 66, mas pode ter ido em 67, e então em 69 lá estava comigo até 4 de Agosto. Mas não veio no mesmo barco.
Sendo uma figura nacional da musica vamos dar-lhe o beneficio da dúvida, ele não é mau rapaz, até adoptou um filho que hoje já é um homem.
Por isso, saiu um empate.
Ab, Virgilio Teixeira
Virgílio
Não saiu empate. Desta vez foi vitória que já, há uns tempos, não acontecia por cá.
Ab.
Valdemar Queiroz
Caro Vergílio.Tenho a certeza absoluta de ter
visto o Marco Paulo em Bissau,em 69.E mais.
Fui vê-lo cantar na base aérea,convidado por um amigo.
Quanto aos táxis,havia alguns carros americanos,outros europeus
como a Renault…...Um abraço e até um dia destes na tabanca de Matosinhos..
Virgilio.Já ia esquecendo.Em frente ao Hotel Potugal,ao lado da rotunda
havia uma praça de táxis.E tinha um taxista metropolitano,era o único….
Tudo isto ficou-me na memoria,porque passei cinco meses em Bissau.
Actualmente há muitos táxis em Bissau,e os celebres "toca-toca".Carrinhas de nove lugares
que foram adaptadas e levam mais de vinte clientes…….
Valdemar estás a referir-te a outro assunto?
SLB-FCP?
Pois, vitoria para um e derrota para outro.
Parabens ao vencedor.
Virgilio
Cancela, parece que eu não tenho razão, há mais gente que diz o mesmo do Marco Paulo, pelos testemunhos convincentes, estarei enganado.
Quanto aos táxis, se há tanta certeza, eu não terei tanta. Possivelmente haveria táxis, que eu nunca utilizei, nem os terei visto, por não andar à procura. Ainda bem que tínhamos uma capital da Guiné com Táxis.
Enganei-me mais uma vez, isto é, não sei tanto como pensava que sabia.
Vou ter mais cautela de futuro.
Até à próxima na Tabanca de Matosinhos,
Virgílio Teixeira
O Meu falecido pai estava em Bissau nessa altura e falava que o marco Paulo fez tropa la..já agora gostava de saber se alguém o conheceu, sei que era soldado telegrafista, e que estava num batalhão Açoreano, bii17, chamava se Franklin Carvalho e era devBraga
O Meu falecido pai estava em Bissau nessa altura e falava que o marco Paulo fez tropa la..já agora gostava de saber se alguém o conheceu, sei que era soldado telegrafista, e que estava num batalhão Açoreano, bii17, chamava se Franklin Carvalho e era devBraga
Muita mentira se diz por cá sobre o Marco Paulo. Estive em Bissau de Agosto a Novembro de 1968 e regressei ao continente em 11 de Novembro desse ano.
De facto o Marco Paulo esteve no quartel da Amura como cabo escriturário. Já na altura cantava e tinha um disco que era ( EU HEI-DE IR A S.FRANCISCO ). Por vezes ele ia à rádio lá de Bissau cotar a sua história e dizia até que o disco ( eu hei-de ir ao S.Francisco lhe tinha rendido na altura 50 contos.
Era bastante vaidoso e costumava sentar-se em cima das mesas na esplanada do café Portugal e com os pés no bordo da mesa. Falava pouco e parecia ser tímido.
ELE NÃO FOI PARA A GUINÉ EM 1966 MAS SIM no início de 1968.
QUANDO EU REGRESSEI EM NOVMBRO DE 1968, ELE AINDA LÁ FICOU ATÉ AGOSTO DO ANO SEGUINTE. Portanto, se ele esteve lá apenas 18 meses e regressou em agosto de 1969, isso indica que ele foi para lá no início em 1968.
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