sábado, 13 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19097: Os nossos seres, saberes e lazeres (288): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (7): De Lourdes a Gavarnie, um grande ecrã dos Pirenéus (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Conhecia os Pirenéus de os atravessar de noite, em viagens de autocarro, recordações de estudante. Com os anos, fui ouvindo e lendo notícias sobre um local a que se atribuía magia e ultrarromantismo, o circo de Gavarnie.
Chegara a hora, comboio de Toulouse para Lourdes, autocarro para Pierrefitte-Nelandas, primeiro ponte de Espanha, grandessíssima beleza e depois o sonho realizado, mesmo com imensa neblina Gavarnie encheu as medidas do viandante.
Tudo se fará para regressar, seja qual for a estação do ano.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (7): 
De Lourdes a Gavarnie, um grande ecrã dos Pirenéus

Beja Santos

Viagem de comboio até Lourdes, dentro de momentos chegará o autocarro que nos conduzirá a Pierrefitte-Nestalas, local de hospedagem. O grande prato de substância nesta viagem é o Circo de Gavarnie, património da humanidade. O viandante olha à volta em Lourdes, contempla um castelo que tem mil anos de história, lá em cima está o Pic du Jer, que domina a cidade, lá em baixo é o local de peregrinação, quem é crente na mensagem de Bernadette vem até à cova onde teria havido o encontro entre a pastorinha e a virgem. Existe um imenso santuário, realizam-se procissões. E depois de olhar à volta, o viandante sobe o autocarro e só sai no local temporário de morada, Pierrefitte-Nestalas. Convém desde já esclarecer que se dissipou bom tempo, o que parecia uma inofensiva morrinha transformou-se em chuva intermitente, daquela que se entranha nos ossos, o importante é a beleza destas nuvens, Pierrefitte não é nada do outro mundo mas tem um hotel singular, bem antigo e não mal cuidado. Ora vejam.



O que oferecem estes Pirenéus franceses? Vales como Argéles, o País Toy, ou Cauterets; o Parque Nacional dos Pirenéus e reservas naturais, o circo de Gavarnie (entende-se por circo um recinto natural de paredes abruptas, de forma circular ou semicircular formada por uma depressão, neste caso de origem glaciar), estações de esqui e teleféricos, estações termais, passeios pedestres, lagos e torrentes, e muito mais. O viandante, atendendo às condicionantes atmosféricas, pauta-se pela elementar sobriedade, começa-se pelo passeio até Cauterets, tem-se em mira visitar as cascatas ao pé da ponte de Espanha, daqui tomar-se um teleférico até ao lago de Gaube, daqui avista-se Vignemale, a mais de 3 mil metros de altitude. Logo a surpresa da gare, hoje inativa, mas é um belo edifício alpino, muito bem tratado, acompanhem o viandante.





Qual o móbil da visita? Esta ponte de Espanha, visitável através de um pequeno autocarro que sai aqui de Cauterets, permite conhecer um antigo itinerário de pastores, naquela ponte fazia-se o comércio com Espanha, é um vale riquíssimo em cascatas, lagos e paisagens, os caminhantes adoram passear por aqui, há chalés e refúgios para os mais entusiastas, a grande sensação é aquele local grandioso chamado o Pic du Midi de Bigorre, uma experiência de cortar a respiração.


Chove ininterruptamente, mas a envolvente de escarpas e floresta deixa o viandante aturdido, nunca vivera uma tal experiência de montanha, aqui fica a ponte de Espanha e as cascatas que rumorejam em cachão turbilhonante. À cautela, vai-se ao restaurante comer uma sopa bem quente e uma boa tosta mista, segue-se um café a escaldar e de novo a natureza.




Cauterets não é só a ponte de Espanha, pode ser dimensionada como cidade-montanha, tem uma estação termal, bosques, torrentes e cascatas borbulhantes e lagos resplandecentes. E é verdade o que diz o guia turístico, as ruas estão impregnadas do olor das guloseimas, as fábricas de caramelos parecem estar sempre em funcionamento, são guloseimas que têm fama desde o século XVI.


E no dia seguinte, o viandante encaminha-se para o Circo de Gavarnie, já leu que tem paisagens românticas, por ali andou Victor Hugo dois meses com Juliette Drouet, fica para saber se em idílio amoroso ou à procura de inspiração. Esmagado pela emoção, Victor Hugo comentou: “É ao mesmo tempo uma montanha e uma muralha, é o edifício mais misterioso dos arquitectos, é o coliseu da natureza, é Gavarnie”. E os roteiros turísticos fazem rufar os tambores: “Se Chamonix é o top do alpinismo, Gavarnie é o top dos Pirenéus”. O viandante vai percorrer caminhos emblemáticos, encontrando outros que por ali andam em estado de êxtase a olhar para estes vales que durante o verão se cobrem de rebanhos, o cenário de Gavarnie não é incompatível com a pastorícia. E mesmo com a continuação de mau tempo, Gavarnie desvela as suas altas muralhas geladas, um assombro.




Foi suficiente para querer voltar, em qualquer das estações do ano, impossível que esta imensidade pirenaica não tenha muito mais para oferecer, com os seus vales de águas em cachão, neves eternas, lagos glaciares. É assim o fadário da viagem: saber que há muito mais no regresso. Por ora, vai-se pernoitar a Pierrefitte-Nestalas, amanhã segue-se para Pau, desde estudante que se pretende conhecer onde viveu aquele rei de Navarra que foi rei de França e marido de Margot, que deu filme com os horrores da noite do massacre de São Bartolomeu. Mal sabe o viandante que vai a Pau debaixo de chuva torrencial. Vicissitudes!

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19075: Os nossos seres, saberes e lazeres (287): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (6): A cidade medieval fortificada de Carcassonne e o seu turismo (Mário Beja Santos)

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