quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24766: Armamento do PAIGC (6): A mina antipessoal PDM-6 (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)









Fotos  nºs 57, 58, 59, 60, 61 e 62- Recordação levantada na zona de Nhacobá. Mina anti pessoal PMD 6,

Fotos (e legenda): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74), que tem já cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue (*).

Está por estudar os temíveis efeitos das minas e armadilhas na guerra da Guiné, de 1961 a 1974... Terão provocado muitos mortos e feridos graves. Eram a "arma suja" da nossa guerra, e da guerra do outro lado (**).

Com o descritor "minas e armadilhas" (incluindo as minas A/C e as A/P) temos mais de duas centenas e meia de referências.

Relativamente ao TO da Guiné, temos alguns dados referentes aos últimos anos da guerra, e às minas implantadas (pelo IN) e neutralizadas (pela NT) (vd. quadro abaixo) (***).

Nos anos de 1972, 1973 e 1974 (até 30 de abril), o PAIGC implantou 1570 minas e engenhos explosivos, com destaque para as minas A/P (sete em cada dez):
  • minas A/P: 1132 (72,1% do total); neutralizadas: 80,2% (quatro em cada cinco);
  • minas A/C: 381 (24,3% do total); neutralizadas: 74,8 % (uma em cada quatro);
  • outros engenhos explosivos: 57 (3,6% do total); neutralizados: 35,1% (um em cada três).
  • Total (minas e outros engenhos explosivos) minas aquáticas, armadilhas e outros): 1570 (100,0%); neutralizados: 77,6% do total (quase quatro em cada cinco).
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Xitole > 1970 > CART  27716 (1970/72) > A temida mina antipessoal PDM-6 (vd caixa aberta, acima), reforçada com uma carga de trotil de 9 kg (as barras do lado direito). Detectada e levantada na estrada Bambadinca-Xitole pelo furriel de minas e armadilhas David Guimarães,  da CART 2716. "Bem, ia uma GMC ao ar, isso sim!...".

Foto (e legenda): © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
2. Sobre a PMD-6:


(i) são minas antipessoal do tipo explosivo (havia outras, de fragmentação, como a "bailarina", que lançava milhares de estilhaços a 1 metro do solo, atingimdo um homem nas partes vitais);

(ii) de origem soviética, consistem em uma caixa de madeira com uma tampa articulada com uma fenda cortada nela; a ranhura pressiona um pino de retenção, que retém o percussor;

(iii) quando é aplicada pressão suficiente à tampa da caixa, o pino de retenção se move, permitindo accionar o detonador.

As minas antopessoais normalmente têm uma pressão operacional de 1 a 10 kg. Tal como acontece com outras minas de caixa de madeira, a mina tem uma vida útil relativamente curta, uma vez que a caixa é vulnerável ao apodrecimento e rachaduras, inutilizando a mina.

 A PMD-6, na sua  versão original, foi  usada pela primeira vez na Guerra de Inverno de 1939 entre a União Soviética e a Finlândia.


Fonte: Relatório da 2ª Repartição/CCFAG relativo ao período de 1Jan73 a 150ut74, citado por CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro III (1.ª edição, Lisboa, 2015), pág. 497.
____________


(**) Último poste da série > 8 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24735: Armamento do PAIGC (5): O sistema Grad, o "jacto do povo", a "mulher grande", o foguetão 122 mm: as expetativas, demasiado altas, de Amílcar Cabral

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

De acordo com o quadro estatístico das minas implantadas e neutralizadas, reproduzido no poste, de 1972 até oa fim da guerra, o PAIGC põs, em média, 1,1 minas A/P em 1972, 1,5 em 1973 e 1,4 em 1974 (até 30 de abril)...

Fraca produtividade do trabalho dos seus sapadores... (Temos de ter em conta que nem todos os engenhos explosivos seriam detetados pelas NT.)

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
A mina PMD-6 era a mais vulgar. Causava avarias nas viaturas e era relativamente recuperável.
Recordo-me de que a CArt 1692, no final da comissão entregou em Bissau 104 minas, sendo duas A/C TMD, uma PPMI (bailarina a meio metro do solo) e as restantes PMD-6. Só de uma vez foram levantadas 66 e accionada uma.
A CArt 3494 que eu me lembre levantou uma PMD - 6 e a CArt 3567, accionou uma. Das TMD accionou uma e levantou outra. O uso de minas variava muito de sector para sector...
Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nos terrenos da Guiné, com seis meses de chuva, águas pantanosas, densa vegetação, elevada humidade no ar, estas minas, felizmente para nós, apodreciam com relativa facilidade. A caixa era de madeira...

Era uma mina do início da II Guerra Mundial. Os russos mandavam para o PAIGC a m... que já não prestava. Infelizmente ainda fez muitos estragos, ceifou vidas, deixou gente cega, estropiada, sem pernas... E do nosso lado a mesma coisa, os nossos aquartelaemntso e destacamentos tinham campos de minas que, muito provavelmente, não foram todos neutralizados. Não há guerras "limpas".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em matéria de minas, também tenho a minha dose: passei por duas, uma a escassos milímetros, e a outra foi mesmo em cheio...

"Periquito" com quatro meses, num coluna logística ao Xitole ou Saltinho, ia na terceira viatura, um Unimog 404, no lugar do morto... A GMC em quatro lugar pisou a mina... Logo a roda da frente.

A menos de 3 meses do fim da comissão, foi a GMC onde eu ia, à saída do reordenamento de Nhabijões, que accionou uma mina A/C .... Um pandemónio...

Todos temos histórias para contar de minas e armadilhas...