quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24770: Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos (4): Paulo Santiago, cmdt Pel Caç Nat 53 e formador de milícias (Saltinho e Bambadinca, 1970/72): na 2º feira de carnaval de 1971, contei 3 dezenas de foguetes, lançados em grupos de quatro; o alvo (falhado) era Aldeia Formosa

1. Comentário do Paulo Santiago ao poste P24743 (*), contributo para a nova série " Ataques ou flagelações com foguetões 122 mm: testemunhos" (**):

Na segunda-feira de Carnaval de 1971 (***), houve um baile na Escola situada junto do quartel do Saltinho. Naquela data, andava agarrado a uma espécie de bengala, a coxa direita com uma dúzia de pontos devido a um acidente com morteiro 60, de que julgo ter falado há anos atrás.

Fiquei pelo bar do quartel.

Não sei precisar a hora, ouvi umas "saídas" e agarrado à "bengala" saí do bar, acontecem mais saídas e vejo uns rastos de foguetes,  seguidos de rebentamentos. Aldeia Formosa a ser flagelada,  pensei. Mais rastos de foguetes, saíam em grupos de quatro, e contei mais de três dezenas.

Havia comunicações directas com Aldeia Formosa, através de AVP 1, ou AN-PRC 10, o que me levou a ir ao abrigo das Transmissões para saber se o ataque era para aquela sede de batalhão. Acontece que de lá estavam a inquirir se era o Saltinho a ser flagelado.

Passados poucos dias veio info a dizer que tinha sido utilizada, pela primeira vez, a arma Katyusha, também conhecida por "orgãos de Estaline" utilizada na II Grande Guerra.

Verificou-se uma completa ineficácia da arma.Na Guiné não havia concentração de tanques, nem grandes aglomerados populacionais junto das fronteiras.

P. Santiago

12 de outubro de 2023 às 02:00


[ Foto acima, â esquerda : Legenda: Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Sinchã Sambel > Fevereiro de 2005 > A viagem de todas as emoções, o regresso de Paulo Santiago à Guiné, em Fevereiro de 2005. o Paulo Santiago  foi amdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, e instrutor de mílícias em Bambadinca; é engenheiro técnico agrícola reformado; natural de Águeda, é um histórico da Tabanca Grande]

(Seleção / revisão e fixação de tecto /negritos: LG)
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2. Comentário do editor LG:

Paulo, sabemos que os primeiros foguetes ou foguetões 122 mm foram lançados em outubro de 1969 c0ntra Bedanda e depois Bolama...

Sem querer entrar em polémica (o nosso blogue náo serve para isso, mas para partilhar informação, conhecimentos, experièncias, emoções dos antigoscombatentes do TO da Guiné...) temos de confirmar a posse, ou não, por parte do PAIGC, de sistemas de lançamento múltiplo destes foguetes autopropulsionados ("Katyusha", na gíria soviética, para o foguete; BM-13 ou 21 para o sistema de lançamento, assente sob o capô de uma viatura pesada).

Que o PAIGC já tinha, antes de 1971, o sistema Grad (ou "jacto do povo"), isso está documemtado. Os foguetes que no carnaval de 1971 tu viste sob os séus do rio Corubal em grupos de 4 (e contaste mais de 30), só podiam ser lançados de uma rampa sobre o capô de viatura tipo BM-13 (m/1941, estreada na II Guerra Mundial) ou modelo posterior.

Pergunto: será que esta flagelação, contra Aldeia Formosa, foi feita nas proximidades da fronteira, a partir do território da Guiné-Conacri ? (Aldeia Formosa e Saltinho distavam 3 km entre si, e outros tantos em relacão à fronteira, em linha reta).
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Notas do editor:


(**) Em princípio, 22 de fevereiro de 1971... Há outra versão deste "história":


(…) Em 21 de Janeiro de 1971 , aí pelas 21.00 horas, entra um militar da CCAÇ 2701 pelo bar de Sargentos e Oficiais e informa, meio esbaforidamente, que um dos sentinelas está a avistar uma pequena luz numa curva do Corubal, situada aí a uns 500 metros na margem oposta à do quartel.

 (…) Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Quebo (Aldeia Formosa)  e a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez foguetes Katyusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline (…)

7 comentários:

paulo santiago disse...

Luis

São mais de 3 km a distância de Aldeia Formosa ao Saltinho.Julgo serem 7 a 8 km.

Abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Paulo Santiago, vou corrigir, fiz mal as contas, porque me baseei na carta geral da Guiné (1961)...Ora a escala é escala é 1/500 mil e não de 1/50 mil... NO facebook, o Domingo Robalo, artilheiro, diz que são 12 km... Obrugado também ao Domingos, por estar atento.


https://arquivo.pt/.../guine_guerracolonial10_mapageral.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Escreveu o Domingos Robalo no nosso Facebook, ontem, às 23h04:

Al Formosa...Saltinho: 12km
Al Formosa....fronteira: 9km
Saltinho..........fronteira: 12km

Na terça feira de carnaval de 1971, estava eu na operação "Mabecos", flagelando com a artilharia para lá da Guiné Conacri posicionados a 1500 metros da fronteira. Dia muito mau; vários mortos e "apanhado à mão".

Anónimo disse...

E hoje escreveu às 11h29, também no nosso Facebook

Domingos Robalo:

Tabanca Grande Luís Graça olá amigo Luís, espero que estejas bem. Agradeço a tua atenção. Costumo dizer que; só não se engana quem nada faz. Também tenho um mapa igual ao que partilhaste. Sem pretender ser "professor" , nem "chico esperto", mas tão só com a intenção de partilhar conhecimento, que poderá ser interessente para os camaradas menos familiarizados com a matéria. Assim permite-me o seguinte acréscimo:
No mapa partilhado temos duas opções para medir distâncias.
1a. Na margem inferior da carta, temos uma escala ( 1/500000) que nos indica uma forma de medir distâncias. Mas nem sempre esta escala é apresentada.
2a como alternativa ao descrito em 1a, temos nas margens inferior e direita do mapa uma graduação que nos indica pelo sistema de coordenadas, (escalas em latitude e longitude) a localização de um qualquer ponto no mapa. Exemplo; Bissau, está localizada a 11° 52' de latitude e 15° 35' de longitude, aproximadamente. Na falta da escala indicada em 1a, podemos sempre considerar, sem erro, este tipo de escala cartesiana, sendo que cada " minuto" corresponde a uma milha. Concluindo; um minuto, corresponde a uma milha e esta a 1,8km. Abraço

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Respondi9-lhe de imediato nestes termos:

Domingos, devem-me ter ensinado isso em Tavira, no curso de especialização de armas pesadas... de infantaria. Não me lembro. E se calhar não me ensinaram mesmo!... Também não vale a pena: no TO da Guiné, a CCAÇ 12 não tinha armas pesadas, era uma subnunidade de intervenção, gavua falta de atiradores, deram-me uma G3... E eu a pensar (que idiota!) que ia passar as umas férias num "resort" tropical!... Imagina, até levei uma mala cheia de livros...

Mas, pronto, vamos ao que interessa: tu és de artilharia, foste um bravo , competente e experimentado artilheiro, e eu estou-te imensamente grato pela lição que acabas de dar a este infante... É uam dica preciosa, tanto mais que eu faço muito uso das nossas fabulosas cartas, disponibilizadas pelo nosso camarada Humberto Resuk, que as comprou e pagou do seu bolso, ainmda no tempo dos contos de reis!...

Domingos, estou-te a dizer isto sem qualquer ponta de ironia. Sei reconhecer os meus erros e continuo sempre disposto a aprenderm com quem sabe mais do que eu. Para a próxima faço o TPC (trabalho de casa) que me passaste. Prometo não te deixar mal. Um alfabravo, camarada artilheiro.

PS - És sempre bem vindo a estas paragens. Tu e os teus comentários assertivos. Vou fazer um poste com as tuas "dicas", para a série (parada desde finais de 2019.) "Lições de artilharia para os infantes"... O último poste foi este:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/12/uine-6174-p20425-licoes-de-artilharia.html

José Botelho Colaço disse...

Havia comunicações directas com Aldeia Formosa, através de AVP 1, ou AN-PRC 10. Aqui penso eu que o Paulo talvêz tenha querido escrever ou AN/GRC-9. O rádio AN/PRC-10 era utilizado práticamente só como rádio móvel de campanha e nunca em postos fixos devido ao seu fraco alcance.

paulo santiago disse...

Após o comentário do Domingos Robalo,recordei um grande cagaço que apanhei graças aos obuses 14 de Aldeia Formosa.Uma tarde,chegou uma INFO A2 ao Saltinho prevendo um ataque ao Reordenamento de Contabane,ainda em construção e pouco habitado.O 53 e alguns militares da 2701,instalaram-se na vala,junto da qual se encontrava um espaldão com o canhão s/r 82 B 10 que foi municiado e pronto a disparar.
Ouvem-se duas fortes saídas,o "assobio" das granadas que rebentam uns 100 metros à nossa frente.Seguem-se mais saídas,mais explosões bem junto do Reordenamento.Sem conseguir determinar de onde vinha o "ataque",recebo através de um telefone,junto do canhão,e ligado ao quartel (+/- 300 metros) a informação que o fogo era dos obuses de Aldeia Formosa.Havia uma carta no quartel onde estavam assinalados pontos identificados que poderiam ser batidos pela Artilharia do Quebo.
O Clemente pediu que fossem batidos alguns daqueles pontos e não me avisou antes de começar a "festa".Mais tarde um artilheiro confessou-me que aquela acção fora um pouco arriscada.
Algumas chapas de zinco da cobertura das moranças,foram arrancadas por estilhaços.Após esta cena compreendi..."livrem-nos da nossa Artilharia,porque com o IN podemos bem"

Quanto à dúvida do Colaço...tenho ideia que era um AVP 1 que estava ligado a uma antena dipolo (?)mas podia ser outro.Rádios,só conhecia o AVP 1 e o Racal que eram aqueles que utilizava quando saía em operações ou patrulhamentos.