Foto: © Hélder Sousa (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Texto e contexto: batota, balda, ronha, cobardia, traição ?... Ou às vezes, também bom senso, experiência, velhice, sensatez ?... [Título do editor]
Desta vez não participei no inquérito.
Não por qualquer reserva mental ou discordância. Apenas porque a minha situação no CTIG (rendição individual), o meu enquadramento 'operacional' (enquanto no 'mato' dependente da Direcção de Bissau e depois em actividade tipo repartição funcionando em turnos) e o próprio tipo de acção (centro de escuta e guerra electrónica) não configuravam nenhuma das opções para escolha.
O que o Carlos Vinhal diz é muito justo, "marcar operações pelo mapa é uma coisa, progredir no terreno é outra", pelo que admito que algumas vezes fosse bastante ajuizado não cumprir à risca as determinações abstractas.
Claro que não faltarão os 'vigilantes', almas boas zelosas do cumprimento cego dos regulamentos, que apontarão o dedo acusador a tais camaradas e sentenciarão "cobardes, traidores" e outros mimos.
Como de costume, há de tudo!
Lembro-me de ter relatado aqui o que me aconteceu ainda não teriam decorrido duas semanas (nem tenho já a certeza de não ter sido mesmo ao fim de uma semana) em que fui incumbido de acompanhar um dos dois elementos da Racal [Eletronics] que estavam em Bissau a promover a venda de um dos seus equipamentos.
Como disse, estava há duas semanas, no máximo, na Guiné, apenas em Bissau, de onde ainda não tinha saído, pouco ou nada conhecia para além dela e para além das notícias e deturpações que se costumavam contar (havia também os ecos dos embrulhanços do outro lado do Geba) e estava dentro do espaço fechado da viatura. Na cabina de condução, para além do condutor ia também um outro Furriel, periquito como eu, totalmente desconhecedor dos procedimentos, dos perigos e dos mitos.
Relatei isto e logo os 'vigilantes' caíram em cima com observações de exacerbado patrioteirismo... não tiveram em conta o enquadramento, só tinham como alvo a crítica.
Portanto, formas de 'tornear ordens' houve muitas. O que eu relatei, que se passou comigo, será, ou não, uma delas. (***)
Hélder Sousa
Não por qualquer reserva mental ou discordância. Apenas porque a minha situação no CTIG (rendição individual), o meu enquadramento 'operacional' (enquanto no 'mato' dependente da Direcção de Bissau e depois em actividade tipo repartição funcionando em turnos) e o próprio tipo de acção (centro de escuta e guerra electrónica) não configuravam nenhuma das opções para escolha.
Também não iria entrar aqui pela porta do 'ouvi dizer' ou do 'houve uma vez um camarada que me disse que...'
Portanto, aguardei as conclusões do inquérito e o meu comentário não foge muito ao que os antecessores disseram.
O que o Carlos Vinhal diz é muito justo, "marcar operações pelo mapa é uma coisa, progredir no terreno é outra", pelo que admito que algumas vezes fosse bastante ajuizado não cumprir à risca as determinações abstractas.
Seria isso 'balda'? Depende da forma se abordar. Se se tratou de uma acção deliberada do género "quero que as ordens se lixem, eu quero é defender a integridade da pele", sem qualquer outro tipo de situação que em certa medida justificasse esse 'contorno' das ordens, pois certamente que seria 'balda'. Caso contrário pode ser enquadrado numa atitude de sensatez de comando no local, em função das circunstâncias.
Claro que não faltarão os 'vigilantes', almas boas zelosas do cumprimento cego dos regulamentos, que apontarão o dedo acusador a tais camaradas e sentenciarão "cobardes, traidores" e outros mimos.
Como de costume, há de tudo!
Lembro-me de ter relatado aqui o que me aconteceu ainda não teriam decorrido duas semanas (nem tenho já a certeza de não ter sido mesmo ao fim de uma semana) em que fui incumbido de acompanhar um dos dois elementos da Racal [Eletronics] que estavam em Bissau a promover a venda de um dos seus equipamentos.
Como disse na altura, um era um Oficial do exército da África do Sul e o outro engenheiro da Rodésia (ou vice versa, para o caso isso agora é irrelevante) e eu, com meia dúzia de dias, acompanhei no interior fechado duma viatura das transmissões o Oficial e o rádio lá instalado e ia-se fazendo comunicações em vários locais à volta de Bissau para o 'posto director' onde estava o Engenheiro com o outro aparelho de rádio instalado numa tenda no pátio do STM.
Durante o dia correu tudo normalmente. Foi necessário fazer também as experiência à noite para verificar quanto as interferências nocturnas seriam, ou não significativas.
Hélder Sousa, hoje |
Em certa altura do processo apercebi-me que se andava para a frente e para trás, no mesmo percurso, e depois que se andava em círculos. O Oficial também percebeu, procurámos saber o que se passava e o condutor disse que assim era melhor, mais seguro, pois para onde nos estavam a mandar ir não era seguro à noite.
Relatei isto e logo os 'vigilantes' caíram em cima com observações de exacerbado patrioteirismo... não tiveram em conta o enquadramento, só tinham como alvo a crítica.
Portanto, formas de 'tornear ordens' houve muitas. O que eu relatei, que se passou comigo, será, ou não, uma delas. (***)
Hélder Sousa
________________
Notas do editor:
(*) Vd.postes de radiolicalização:
11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13873: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (17): Maria Turra, por qué no te callas ?... Radiolocalização e empastelamento das comnunições do IN
26 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)
(**) Vd. poste de 5 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16800: Inquérito 'on line' (93): "Batota no mato" .. ou no blogue ?... Esperávamos 100 respostas, obtivemos apenas 45... Resultados: as três formas mais frequentes de batota: (i) emboscar-se perto do quartel (37%); (ii) começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista (37%); e (iii) “acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo (24%)... Só não fazíamos batota era com o Natal no mato...
(***) Último poste da série > 5 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16802: Inquérito 'on line' (94): Inofensivas batotas (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)
1 comentário:
Meu caro Hélder, tens andado "desenfiado", mas sei que não é "batota"... Evocas aqui uma cena do "outro mundo", ou de um mundo que já não existe: (i)a "nossa" Bissau"; (ii) a ´África do Sul do "appartheid"; (iii) a Rodésia branca; (iv) a Racal Eletrconics...
Leio na Wikipedia, em inglês:
(...) Racal Electronics plc was once the third largest British electronics firm.
Listed on the London Stock Exchange and once a constituent of the FTSE 100 Index, Racal was a diversified company, offering products including: voice loggers and data recorders; point of sale terminals; laboratory instruments; military electronics, including radio and radar. At its height, it operated throughout 110 countries worldwide and employed over 30,000 people. It was the parent company of Vodafone, before the mobile telephony provider was sold in 1991.
Racal was purchased by Thomson-CSF (now Thales Group) in 2000, thereby giving the French firm access to the lucrative UK defence and armaments market. (...)
Enviar um comentário