segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Construção a todo o redor do aquartelamento, de uma paliçada em blocos, bermas de terra e encimada por bidões cheios de terra.

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Um secular poilão...

Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Um das famosas construções das formigas bagabaga .


Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70)> Nova escola para os nativos, criada durante aquele período alto das construções.

Texto e fotos: © Raul Albino (2006). Direitos reservados.

Terceira parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (1). Por lapso, este texto só agora chegou ao conhecimento do editor do blogue. As nossas desculpas ao seu autor e aos demais tertulianos. (LG)


Obras no Quartel de Có


Texto adequado à recente promoção, feita pelos nossos tertulianos, do Bagabaga, ao estatuto de monumento nacional na Guiné.

Uma das nossas muitas actividades, quando se estava de serviço ao aquartelamento, consistia em efectuar a construção de novas instalações ou reparação das já existentes. Pode-se dizer que a meio da nossa estadia em Có, o aquartelamento já estava irreconhecível pela quantidade de melhoramentos que era visível. Em termos de segurança, a nova imagem do quartel não tinha nada a ver com as pobres instalações que tínhamos à chegada. É evidente que todo o esforço que aí desenvolvemos saiu do corpo dos bravos rapazes que compunham a nossa companhia.

Consegui seleccionar algumas fotos desse período obreiro, mas a grande maioria das obras não foram fotografadas ou eu não consegui encontrar essas fotografias no caso de existirem.

Temos de reconhecer que o Capitão Vargas Cardoso [, comandante da CCAÇ 2402,], na sua capacidade e afã de construir e reconstruir, se assemelhava em muito às formigas obreiras que abundavam por toda a Guiné. Dado que na Guiné, pelo menos nas zonas por onde a companhia passou, praticamente não existia pedra, as construções eram basicamente feitas de blocos feitos de barro e palha.

O mais alto expoente deste tipo de construção estava precisamente na enorme capacidade construtiva das curiosas formigas que por lá abundavam, conhecidas pelo nome de Bagabaga.

As poucas verdadeiras protecções que os militares tinham no mato para se protegerem do tiroteio, eram as enormes árvores de troncos largos de madeira rija como podem verificar na figura em cima . Nessa fotografia, o tronco da árvore - um poilão - não é completamente visível, mas dá para ver a proporção do tronco em relação ao tamanho do militar, neste caso o Cabo Oliveira que brinca com um macaquinho que retirou da gaiola que está por cima da sua cabeça.

A outra protecção era precisamente os morros de bagabaga construídos habilmente pelas formigas do mesmo nome, que chegavam a atingir mais de três metros de altura. A figura, em cima, é, também neste caso, bastante elucidativa. Creio que este exemplar já ultrapassa os três metros, mas os nativos contavam da existência de morros de altura superior ao da fotografia.

Não se conseguia destruir facilmente aquelas estruturas, nem mesmo com uma granada de lança-roquetes. Por várias vezes se tentou destrui-las com petardos de trotil, mas as mossas eram sempre periféricas, a estrutura principal mantinha-se de pé. Só introduzindo os petardos no seu interior se obtinham resultados aceitáveis, no entanto como não existiam normalmente brocas perfuradoras no local, podem imaginar o problema que não era tentar semelhante façanha.

As formigas possuíam uma cabeça enorme comparada com o resto do corpo. Com a boca amassavam o barro vermelho, que abundava por todo o lado, qual autêntica betoneira de argamassa, começando a levantar os montes que constituíam a habitação para as suas colónias, percorridos por infindáveis túneis até ao seu interior. Como viram no meu texto, chamei-lhes curiosas formigas e não simpáticas formigas por uma razão muito simples.

Cheguei a perder a paciência com elas, porque em dado momento apercebemo-nos de que elas estavam a minar as nossas instalações feitas à base de barro. Começavam por construir os seus célebres túneis e a partir daí a degradação das paredes era rapidíssima. Pensei então, armado em esperto, que tinha descoberto a solução para o seu aniquilamento. Injectava gasolina para o interior dos túneis e lançava-lhe um fósforo.

Qual não foi o meu espanto quando, tentando analisar a resultado da operação, verifiquei que, mais rapidamente que a propagação do fogo no interior dos túneis, elas conseguiam selar as ramificações só sendo afectados pelo fogo pequenos ramais da superfície. É claro que desisti, reconhecendo a superioridade das formigas na sua capacidade de sobrevivência.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores >

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

(2) Sobre o bagabaga, vd. os posts:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

14 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

14 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1368: Concurso O Melhor Bagabaga (4): Có (1969) (João Varanda)

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