domingo, 22 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12484: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (2): Fui admitido, em janeiro de 1969, na Dialap, como lapidador de diamantes, evocando a minha especialidade de minas e armadilhas

1. Mensagem de Mário Gaspar, com data de 11 do corrente:

Assunto: Foto da DIALAP

Camarada Luís Graça:

Envio uma fotografia, bem antiga, do Edifício da DIALAP e trabalhadores, nos princípios de 1969. Sou um dos trabalhadores da frente.

Após ter concorrido através de anúncio no Diário de Notícias, fui  chamado para fazer testes psicotécnicos. Fui chamado a uma entrevista numa sexta feira, no dia 24 de Janeiro de 1969. O entrevistador era o Engenheiro Sucena - já falecido - que era em simultâneo Administrador da DIAMANG. Entrevista longa, até que o Eng.º me transmitiu mais ou menos o seguinte:
- O senhor é admitido nesta empresa de imediato, se me der uma prova já, uma razão forte que me convença que vem a ser um bom Lapidador de Diamantes, porque sabe que os diamantes são matéria muito valiosa, e vai ter de trabalhar jóias!...

E, de imediato respondi:
- Regressei da guerra na Guiné no início de Novembro de 1968. Era Furriel Miliciano. Atirador e com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas, tendo manuseado todo o tipo de explosivos, montando e desmontando minas e armadilhas. Podia pôr em perigo tanto a minha vida como a dos meus camaradas, lapidar diamantes deve ser mais fácil!

Respondeu-me o Engº:
- Convenceu-me, venha trabalhar na segunda feira.

´
Foto dos trabalhadores da Dialap, enviada pelo Mário Gaspar


Assim entrei ao serviço na DIALAP - numa segunda feira, fim do mês, o que era estranho.

Posteriormente, e ainda lá trabalhava,  foi sede da EXPO 98 e,  mais tarde,  vêm a RTP e RDP.

O edifício, as instalações (com um refeitório repleto de tudo que existia de inovador, o telhado onde podiam aterrar helicópteros, e mais pormenores) e as próprias regalias dos trabalhadores - isto até mais ou menos 1978. Quando deixámos de trabalhar os diamantes da DIAMANG - após a nacionalização, por parte de Portugal dos 10% da DIAMANG, o Governo Angolano nacionalizou os também 10% da DIALAP - tudo mudou.

Um abraço para o Homem Grande Luís Graça

Do Zorba Mário Vitorino Gaspar  
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12451: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (1): Marcha do regresso da "Zorba"

3 comentários:

Antº Rosinha disse...

Não trabalhava para a Diamang qualquer um.

Amigo Mário, provavelmente aquele engenheiro já teria mais informações sobre ti, mesmo sem tu saberes.

Embora em 1969 já se tivesse dado o acidente da cadeira, havia uma certa continuidade.

É uma ideia minha apenas, que só conheci funcionários da Diamang, na lavandaria de Cafunfo em 1970.

Mas que tempos! passavamos crise, mas sem FMI.

Cumprimentos.

Luís Graça disse...

Mas o grande nome da Diamang era o comandante Ernesto Vilhena.., Comandante, porquê ? Era da Marinha ?...

Não sei grande coisa sobre a Diamang, nem sobre o Ernesto Vilhena, mas interessa-me saber... porque só este ano fui três vezes a Angola, à Ilha de Luanda, fazer formação na Clinica da Sagrada Esperança (CSE), num espaço que começou por ser uma colónia de férias para o pessoal da Diamang.

A CSE faz parte, desde o princípio dos anos 90, ao grupo angolano Endiama, "herdeiro" da Diamang...

Antº Rosinha disse...

Luís temos aqui na tertúlia gente que foi funcionário da Diamang mas já não apanhou o comandante Vilhena, mas deve saber melhor que eu a vida dele, inclusive viu um lindo museu que ele promoveu em Portugália.

Era Comandante como grande parte dos antigos Directores coloniais..

Principalmente da Marinha, mas havia outros que não eram da Marinha Henrique Galvão, Norton de Matos...por exemplo.

Mas este Vilhena era das pessoas mais célebres de Angola antes da guerra.

A Diamang era um território enorme em que ninguem entrava sem autorização daquele homem.

Não conheci as regras, porque eu não tinha cabeça para querer saber da política, mas contavam-se coisas dele em que tinha carta branca para prender ou expulsar quem se atrevesse a abancar na Lunda sem autorização da sua polícia.

Dizia-se, como se dizia de outro Comandante, o Tenreiro,o do bacalhau que o Salazar dava-lhe toda a confiança, mas que eles abusavam.

Penso hoje, que ligo mais agora ao que se dizia do que naquele tempo em que era novo não pensava, que pertencia aquele grupo a que hoje se diz que eram os fascistas típicos do Salazar.

O Tenreiro, os melos, champalimaud... aqueles que «comiam tudo».

Só não se chamavam fascistas, penso eu, hoje, porque como o fascismo era uma ideia que lembrava Hitler, Mussolini, e isso seria dar uma importância a Salazar que ele, um beirão atrasado, que o regime não merecia nome tão pomposo.

Segundo o que se dizia, eram gajos sem visão como Vilhena, é que não deixavam explorar as riquezas das colónias.

Já li currículo do Vilhena na Wikipédia mas não vem lá estas coisas que se ouviam dele e do regime.

Dizia-se que Salazar teve que «calar» muitos deputados e políticos que criticavam o comandante Vilhena, que tinha uma importância enorme, embora fosse, dizia-se ridiculamente meia-leca.

E, dizia-se que por ser ridiculamente baixinho, se agigantava desmesuradamente no campo do poder político.

Tinha um inimigo antigo de antes do 28 de Maio, que escreveu um célebre livro atacando o homem, que desancava o Comandante até à exaustão.

Não me lembro agora do nome desse político que atacava o Comandante, mas é muito conhecido dos mais antigos.

Quando me lembrar do nome do inimigo do Comandante, eu digo.

É o que constava na boca do povo, sobre Comandante Ernesto Vilhena, em Angola.

Cumprimentos