Lisboa > Câmara dos Deputados > Excertos de duas Intervenções do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné, em 1914, na sessão de 14 de Janeiro e depois em 14 de Maio ...).
Fonte: Debates Parlamentares > 1ªRepública (1911-1926) > Câmara dos Deputados > Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República > Assembleia da República (2010) (Com a devida vénia...)
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No caso destas intervenções do deputado Silva Gouveia (*), em 1914, elas incidem sobre dois temas específicos da actualidade de então:
(i) Em de 11 de Dezembro de 1913, na região do Cacheu, o "administrador da circunscrição da Guiné", ao proceder ao recenseamento (arrolamento) da população local para efeitos de cobrança do "imposto de palhota" (sic), é morto, juntamente com um negociante local que o acompanhava, bem como a tripulação do escaler a vapor em que o representante da autoridades portuguesas se tinha deslocado. Chegada a notícia a Bolama, capital da colónia, o governador [, José António de Andrade Sequeira,] decidiu levar a cabo uma acção punitiva contra os felupes (presume-se)... Foi organizada uma força de "48 praças regulares e 350 auxiliares" (sic). Não sabemos o número de vítimas entre a população civil, mas do lado das forças coloniais houve 7 mortos e cerca de 3 dezenas de feridos... Os mortos eram todos soldados do recrutamento local. E é sobre as indemnizações a apagar às respectivas famílias que se centra a primeira intervenção do nosso deputado...
(ii) A segunda intervenção do deputado é um pedido de esclarecimento ao Ministro das Colónias sobre o imposto local, "ad valorem", lançado sobre as exportações da mancarra da Guiné... Silva Gouveia fala em seu nome, como comerciante (já então com negócios com a CUF, a quem irá vender a sua empresa, c. 1927) e em nome de uma "comissão de negociantes" da Guiné...
Ficamos a saber que nessa altura já se cultivava a mancarra e que em 1913 as oleaginosas tinham baixado substancialmente de preço nos mercados internacionais, de tal maneira que o negociante pagava de imposto "ad valorem" 46$00 por tonelada na Guiné e em Lisboa não a conseguia vender por mais de 26$00...
O deputado levanta igualmente o problema da qualidade do produto: cerca de 15% da mancarra que era exportada continha impurezas, desacreditando a exportações da Guiné e lesando os interesses dos negociantes...
É de recordar que, com a abolição do comércio de escravos, em 1815, passa a haver, progressivamente, um maior desenvolvimento do comércio dos produtos locais, o óleo de palma, o coconote, o amendoím, desde meados do Séc. XIX) e depois a borracha (desde 1890). Em rigor, a mancarra era o único produto de cultura, os outros eram de simples colheita ou recolha. Eram estes praticamente os únicos produtos que a Guiné exportava, em troca da importação de tecidos, álcool e pouco mais...
Os principais negociantes, no terreno, eram os franceses (CFAO- Companhia Francesa da África Ocidental, com sede em Marselha) e os alemães (Rudolf Titzck & Ca, com sede em Hamburgo).
Os principais negociantes, no terreno, eram os franceses (CFAO- Companhia Francesa da África Ocidental, com sede em Marselha) e os alemães (Rudolf Titzck & Ca, com sede em Hamburgo).
A única empresa portuguesa implantada no terreno era então a do António Silva Gouveia, o fundador da Casa Gouveia e deputado na 1ª legislatura da Câmara dos Deputados (1911-1915). O amendoím e a borracha iam preferencialmente para França. A borracha para a Alemanha. Menos de 1/5 das exportações, no ínicio do Séc. XX, até às vésperas da I Guerra Mundial, tinham como destino Portugal...
De qualquer modo, é justo referir que a 1ª República se interessou pelo potencial económico que representavam as colónias portuguesas em África. Com Norton de Natos (1867-1955), Angola vai tornar-ser a "jóia da coroa" da República (**)...
A Guiné ainda vai passar por sucessivas guerras de "pacificação" até 1936, em que se destaca, entre 1912 e 1915, a figura do Capitão Diabo, o "herói do Oio", João Teixeira Pinto (efígie em selo de 1946, imagem à esquerda; como se sabe, Teixeira Pinto, angolano, de origem transmontana, irá morrer em 1917 no norte de Moçambique na luta contra os alemães).
A partir de 1927, a CUF, através da sua filial, Casa Gouveia, passa a ter o monopólio, de facto, do comércio externo da Guiné. Um novo regime alfandegário, agravado em 1932, vem penalizar as trocas comerciais da Guiné com outros países que não fossem Portugal... E é já no início da década de 1960 que aparece, no nosso mercado, o Óleo Fula (à revelia dos pobres fulas...), marca registada da Sovena ligada ao Grupo CUF... (LG)
De qualquer modo, é justo referir que a 1ª República se interessou pelo potencial económico que representavam as colónias portuguesas em África. Com Norton de Natos (1867-1955), Angola vai tornar-ser a "jóia da coroa" da República (**)...
A Guiné ainda vai passar por sucessivas guerras de "pacificação" até 1936, em que se destaca, entre 1912 e 1915, a figura do Capitão Diabo, o "herói do Oio", João Teixeira Pinto (efígie em selo de 1946, imagem à esquerda; como se sabe, Teixeira Pinto, angolano, de origem transmontana, irá morrer em 1917 no norte de Moçambique na luta contra os alemães).
A partir de 1927, a CUF, através da sua filial, Casa Gouveia, passa a ter o monopólio, de facto, do comércio externo da Guiné. Um novo regime alfandegário, agravado em 1932, vem penalizar as trocas comerciais da Guiné com outros países que não fossem Portugal... E é já no início da década de 1960 que aparece, no nosso mercado, o Óleo Fula (à revelia dos pobres fulas...), marca registada da Sovena ligada ao Grupo CUF... (LG)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa em África (39): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte III) (Carlos Cordeiro)
(**) Exposição a não perder, todos os dias, das 10h00 às 18h00, até 1 de Dezembro de 2010, na Cordoaria Nacional, em Lisboa: Viva a República, 1910-2010
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