domingo, 17 de outubro de 2010

Guiné 63/74 – P7139: Controvérsias (105): Sensatez e rigor no nosso blogue (Mário Gualter Rodrigues Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 16 de Outubro passado:

Camaradas,
Pensei maduramente antes de comentar o poste P7117, da autoria do nosso camarada José Dinis, face ao tema que aborda, que a meu ver tem muita pertinência e muita matéria para alguma polémica e discussão.
SENSATEZ E RIGOR NO NOSSO BLOGUE (POSTE P7117)


Foram invocados pelo José Diniz no poste P7117, termos como SENSATEZ, RIGOR, CONHECIMENTO, SABER, SABEDORIA e INTELECTUAL, na introdução das nossas narrações ou comentários no Blogue.

Julgo que todos nós já atingimos a idade da maturação sensata e rigorosa dos nossos actos, e afirmações, embora às vezes com a irreverência e o calor dos temas, em que nos transcendemos nas análises e comentários.

Na maior parte das vezes baseados na nossa experiência de vida e na observação dos factos de que, ao longo das nossas vidas, temos sido intérpretes.

Conhecimentos e alguma sabedoria básica todos nós temos (uns mais outros menos como é evidente), lembro-me dos anciões da minha terra que os possuíam em doses enormes e poucos eram letrados. Muitos até o seu nome tinham dificuldade em escrever, mas não deixavam de narrar verbalmente os acontecimentos e factos por eles vividos e as experiências de vida por eles vividas na 1.ª Guerra Mundial, em França, e na Guerra Civil Espanhola, mais tarde.

Todos eles demonstravam aos nossos olhos, na altura, um conhecimento que nos deixavam extasiados.

Sabedoria profunda, meus caros, é um pouco mais complicado pois só os mais eleitos e as mentes mais iluminadas podem dar-se a esse luxo.

No entanto nós, os Tertulianos deste Blogue, que narramos e comentamos as nossas aventuras e desventuras de um período das nossas vidas temos o dever e obrigação de escrever de modo a que todos nos entendam, deixando de parte as filosofias intelectuais, que são formas de expressão mais elaboradas, sujeitas as mais variadas e engenhosas interpretações por vezes prenhes de má fé, distorcidas e depreciativas dos reais objectivos das peças escritas.

Meu caro José Dinis, invocaste no teu texto o livro Elites Militares, do nosso camarada Manuel Rebocho, que muita polémica tem dado entre alguns de nós.

Sendo o livro uma pesquisa, para uma tese do Autor, e que uma das finalidades é o estudo estatístico do empenho dos Militares do QP e dos Milicianos, o mesmo lança-nos dados e pistas importantes, ao longo do seu livro, para que cada um tire as análises e as ilações que entender. Não basta ler alguns extractos o livro para adquirir noções e conhecimentos para se retirar uma análise concisa deste polémico e discutido tema. É necessário lê-lo na íntegra!

Segundo me disse o Manuel Rebocho, não foi levianamente que retirou e concluiu as matérias e conclusões a que chegou e narrou na sua publicação, mas sim fruto de variadíssimos, fundados e meticulosos estudos e investigações.

De entre a bibliografia consultada, lembro-me de me ter citado, por exemplo, a seguinte literatura:

África, Vitória Traída - Joaquim da Luz Cunha
A Psicologia da Incompetência dos Militares - Norman Dixon
O Exército na Guerra Subversiva - EME (1963) 3 volumes
Resenha Histórico - Militar das campanhas da Guiné 61-74
Notas Sobre os Postos do Exército Português -Gastão Melo Matos
Porque Perdemos a Guerra - Manuel Pereira Crespo
Guerra na Guiné - Hélio Felgas (1967)
O Comportamento Político dos Militares - Medeiros Ferreira

Assim, o nosso referido camarada leu, analisou, adquiriu e reuniu os conhecimentos que lhe permitiram interpretar e compreender as diferenças entre os desempenhos dos Militares do QP e Milicianos.

Também outros livros, que tenho na memória, ajudam a perceber melhor esta controvérsia, tais como: Rumo a Fulacunda, Peão das Nicas e Uma Diligência Adiada, que me levam a concluir que têm fundamento e plena aceitação as filosofias do seu livro.

Não pretendo, com estas minhas palavras, crucificar os Militares do QP, pois, como em tudo na vida, houveram inúmeras excepções, que muito digna e honrosamente honraram as nossas Forças Armadas e o nosso país, mas sim fazer uma análise de desempenho de quem cumpriu e de quem não o soube, ou não quis fazer, mas tinha escolhido a carreira militar como profissão e, assim, assumido compromissos de dever e honra em nome dessas mesmas supremas instituições.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

2 comentários:

Anónimo disse...

Tomei nota

"No entanto nós, os Tertulianos deste Blogue, que narramos e comentamos as nossas aventuras e desventuras de um período das nossas vidas temos o dever e obrigação de escrever de modo a que todos nos entendam, deixando de parte as filosofias intelectuais, que são formas de expressão mais elaboradas, sujeitas as mais variadas e engenhosas interpretações por vezes prenhes de má fé, distorcidas e depreciativas dos reais objectivos das peças escritas."
José Brás

Anónimo disse...

Precisamente,Caro Camarada;precisamente! A frase dos nossos clássicos,repetida,mas pouco apreendida :"Ne sutor ultra crepidam"(sapateiro näo passes do chinelo) seria aplicável a muitas das "filosofias intelectuais" referidas. Um abraco.