quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21407: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72) (1): Rissóis de marisco com arroz de tomate, na messe de oficiais do GACA2, Torres Novas


Guiné > Região de Binar > Bibar > Pel Art >  Obus 14 > O Carlos Arnaut a introduzir os elementos de pontaria, comn alguns serventes, do recrutamento local, a apreciar.

Foto (e legenda): © Carlos Arnaut (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Arnaut, Lisboa


1. Mensagem,  com data de 23/09/2020 à(s) 21:50, de Carlos Arnaut, o novo membro da Tabanca Grande, nº 817, ex-alf mil art, cmdt do 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72) (*):


Caro Luís,

Quero em primeiro lugar agradecer a gentileza dos votos pelo meu aniversário. (*ª)

No tocante à tua pergunta sobre o pelotão de artilharia de Binar, parece incrível mas não me recordo do número já que fiquei por ali pouco tempo.

Consegui descobrir uma foto (que junto em anexo) onde estou a introduzir os elementos de pontaria num Obus 14 com alguns serventes a apreciar.

Esta amnésia é provável que faça parte de um mecanismo de auto-protecção mental, bloqueando nomes, datas e outros detalhes, pois em Binar protagonizei uma acção que poderia ter tido um desfecho trágico, fruto sobretudo da minha "periquitice".

É provável que venha a dar conta do que se passou numa próxima ocasião.

Como tenho vindo a constatar, as histórias relatadas pela rapaziada cobrem os acontecimentos mais diversos, desde experiências traumáticas a farras de todo o género.

Assim sendo, vou começar por vos contar um episódio que se passou comigo, ainda Aspirante em Torres Novas, pouco antes de ser mobilizado.


Boa noite, Luís, outras histórias se seguirão se para tanto não me faltar inspiração e a vocês paciência para as lerem.

Abraçelo (Abraço com cotovelo)


2. Histórias... com abracelos > Rissóis de Marisco 

por Carlos Arnault

Finda a especialidade (PCT) e após o tirocínio em Vendas Novas, já Aspirante, fui colocado em Torres Novas no GACA 2.

Após a apresentação da praxe ao Comandante, foi-me atribuída a missão de zelar pelo parque das baterias de 4 cm, o que desde logo me levou a concluir que o meu destino estava traçado.

Aquele material para mim eram fisgas quando comparadas com os obuses de Vendas Novas, pelo que fiz um acordo com a secção ali destacada:

 − Cabo, equipamentos e instalações sempre limpas, eu nunca estou ausente, ando por aí, e podem ir levantar todas as tardes à cantina uma garrafa de Lagosta (...lembram-se ?!) para o lanche.

Assim foi, fazia as contas semanalmente na cantina, era a felicidade suprema, com namorada já arregimentada nos convívios dos cafés chiques de Vendas Novas, até que, não há bem que sempre dure, tocou-me a gerência da messe de oficiais.

Após um período inicial, de estudo aturado da gestão hoteleira castrense, entendi ser criativo e fugir aos carapaus fritos, à massa guisada e às diversas iguarias com base no frango.

Convoquei o cozinheiro e seus ajudantes, começando por lhe perguntar se sabia fazer croquetes. O alarve respondeu-me que não percebia nada de estrangeiro, ainda hoje estou para saber se o sacana estava a gozar, e decidi-me então avançar para rissóis de marisco, sendo que o marisco se limitava ao berbigão.

Foram comprados de manhã na praça, antes do almoço, tendo eu tido o cuidado de estudar no livro de culinária que existia na cozinha quais os ingredientes necessários, e em que quantidades. As receitas eram para 10 pessoas, uma simples conta de multiplicar por 4 definiu quantidades, pelo que passei o receituário ao cozinheiro com as devidas instruções:

 − Isto, mais isto, mais aquilo, bem misturado, dá uma massa. Isto,  mais isto,  mais aquilo, dá um creme, a que juntas o berbigão. Estendes a massa com o rolo...

 − Não temos rolo,  meu Aspirante.
 
−  Usa uma garrafa, porra !, deitas uma colher cheia do recheio, dobras e cortas em meia lua.

 − Então,  corto como ? 

 − Usa um copo,  minha aventesma. Depois passas o pastel por ovo batido, a seguir pelo pão ralado e toca a fritar. Entendeste ???

 − Sim,  meu Aspirante, vá descansado que não há problema.

Montei a operação com todo o cuidado, até porque a Unidade entrou de prevenção e toda a oficialagem estaria presente, Comandante incluído, pelo que esperava brilhar com aquela ementa diferente de tudo o que era habitual.

A pressão era grande, a criatividade por vezes tem custos, pelo que a meio da tarde fui à cozinha para me certificar do andamento da receita. A massa já estava pronta, com bom aspecto, o recheio na fase terminal, tudo parecia rolar sobre esferas.

 − Vejam  lá,  não me lixem, está cá toda a gente, isto tem que correr às mil maravilhas.

Voltei costas, mesmo assim não completamente descansado, sem garantias que o meu atrevimento culinário fosse bem interpretado por malta que nem sabia (?) o que era um croquete.

Cerca das 19h30 voltei à cozinha para fiscalizar a última fase da operação "rissóis com arroz de tomate", a frigideira XXL fervilhava e eu ia tendo um colapso.

 − Então,  mas o que é isto,  seus sacanas ? Como diabo é que,  em vez dos pastéis que eu vos ensinei a fazer, passo a passo, vocês conseguiram parir estas bolas de ténis ?

De facto, ao olhar para o produto final, o que tínhamos era uma bola onde aqui e ali despontava uma ponta de berbigão, sabor não testado.

A explicação que se seguiu foi de que não tinham arranjado uma garrafa, como se tal fosse possível num quartel, e vai daí misturaram tudo, massa, recheio, ovos batidos, pão ralado, e toca a fritar.

Saí porta fora brindando-os com ameaças num vernáculo que não me atrevo a reproduzir, garantindo-lhes que aquilo que me viesse a acontecer reverteria para eles multiplicado por 10.

Fui jantar fora, fugi, incapaz de enfrentar a turba decerto esfomeada que estaria a pedir a minha cabeça.

Como dormia fora, em casa de umas velhotas que me tratavam com todo o carinho, só na manhã seguinte voltei ao quartel, qual Egas Moniz de baraço ao pescoço, quando,  para minha grande surpresa,  percebi que nem sequer se tinha levantado qualquer celeuma.

A ordem de prevenção tinha sido levantada, toda a gente se tinha pirado para o fim de semana, tendo ficado na unidade apenas aqueles que com famílias muito distantes se viam obrigados a ficar confinados ao quartel, pelo que o jantar só foi servido a meia dúzia de gatos, um dos quais ainda por cima elogiou a ementa, dizendo nunca ter visto tal petisco mas que era bem bom.

A sorte protege os audazes.

Carlos Arnaut
_________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21351: Tabanca Grande (502): Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72): senta-se, no lugar nº 817, à sombra do nosso poilão 

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos, parabéns... História bem "esgalhada"... Vê-se que tens gosto, jeito, sentido de humor e talento para contar histórias... Venham daí mais...

Criámos esta série para ti, "histórias... com abracelos"... Tens que garantir pelo menos um meia dúzia de histórias... Achei piada à "buzzword": abracelo, contracção de abraço + cotovelo... Vamos ver se pega... O falante da língua portuguesa é criativo...

E entre as muitas anedotas que por correm, achei piada a esta:

Uma conclusão é certa: ter coronavírus é igual a ter um par de cornos, dizem os epidemiologistas, virologistas, sexologistas e sociólogos:

(i) uns já têm;

(ii) outros vão ter;

(iii) e muitos mais nunca irão saber que tiveram.

DRobalo disse...

Olá meus caros, amigos, camaradas.

Lembro-me perfeitamente do Alferes Arnaut, na nossa Unidade em Bissau.

Era já eu um veterano e o Alferes Arnaut,como "periquito" apresenta-se na Artilharia em Bissau conjuntamente com outros Alferes e Furriéis. Eram os nossos "piras".

Lembro-me de alguns terem sido prachados, com a tradicional troca de divisas e galões para confundir os periquitos.

O Arnaut, esteve algum tempo em Bissau a aguardar colocação no comando de um pelotão de artilharia, no TO.

Já não me lembro onde foi colocado, mas estes conjunto de alferes e furrieis, vieram substituir outros tantos alferes, furrieis e sargentos, oriundos dos pelotões de morteiros, a quem eu tinha dado instrução de artilharia para operarem com os obuses 10,50 cm que tinhamos recebido da Metrópole, mas sem o correspondente reforço de pessoal. Da Metrópole, disseram ao Spínola; aqui vão mais obuses, mas o pessoal tem de ser "arregimentado" na Provincia, e assim foi.

O Alferes Arnaut, lembrar-se-á do Alferes Mendes de Almeida (2º Comandante da Unidade, do Alferes Caetano, do Alferes Mesquita ?????. O Comandante da Unidade era, ainda, o Capitão Moura Soares, hoje Coronel na reforma.

Na altura, eu estava na !sala de operações e informações da unidade, acumulando com instrução de artilharia a soldados locais e a fazer parte nas operações no TO que envolvessem artilharia.

Certamente que teremos oportunidade de nos encontrar nos encontros em Algés, que já tardam.

Este virus que nos obriga a confinamento, está a impedir que esta "velhice" tenha um pouco mais de encanto.

Abraços, ou melhor, abracelos

Domingos Robalo

Valdemar Silva disse...

Carlos Arnault.
Essa da resposta dos croquetes 'não saber fazer comida estrangeira' e o final dos riçóis é para fazer parte das boas histórias com piada cá do blogue.
Voltando à questão de não me recordar ter havido artilharia em Dara, esta cabeça já não é de confiança, é, também, por outra razão de não a certeza. Eu vim pra peluda em Dez/1970.
Embora Dara estivesse num local estratégico, junto à estrada a meio caminho Nova Lamego-Piche, até estava convencido que a tabanca teria sido abandona tal eram os constantes ataques de noite e dia.
E quanto à artilharia, provavelmente teria sido instalada no segundo trimestre de 1970, a minha CART11 já estava em Paunca, penso eu que assim fosse por no dia 05/04/1970 Nova Lamego ter sido atacada com foguetões 122 e julgo não ter havido resposta da NT. Soube-se que as rampas de lançamento dos foguetões 122 estariam colocadas em Campanta junto à estrada para Cabuca, nesse caso a artilharia em Dara, mais próximo, teria alcance de tiro suficiente para bater aquela zona e julgo que tal não aconteceu e ser essa a razão de não ter certeza haver artilharia em Dara.
É pá, como diria o outro, essa já se passou há 50 anos, agora vamos estar atentos é aos ataques do covid19 com espoleta retardada e alcance de 2 metros.

Então vá um abracelo e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Aderito Silva disse...

Caro Companheiro. Vários colegas que estiveram em Cabuca C.Caç. 2680 1970/1971 gostariam de saber o contacto do Ex Alferes Carlos Arnaut. Os meus cumprimentos. Adérito Silva

Unknown disse...

EU ESTIVE EM CABUCA 1970 -71 C,CAÇ 2680 ME RECORDO BEM DO ALFERES CARLOS ARNAUT A MUITO TEMPO QUE PESQUISAVA POR ESTE CAMARADA FELIZMENTE ACABO DE ENCONTRAR FORTE ABRAÇO CASTRO DA C CÇA 2680

MEI EMAil e o seguinte concharme1947@hotmail.com