segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21399: Efemérides (335): Cumpre-se hoje 28 de Setembro, 53 anos da minha chegada à Guiné no HC-54 Skymaster 7504. Uma memória com mais de meio século (Mário Santos, ex-1.º Cabo MMA)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69) com data de 22 de Agosto de 2020:


UMA MEMÓRIA COM MAIS DE MEIO SÉCULO!

Cumpre-se hoje 28 de Setembro, 53 anos da minha chegada à Guiné no HC-54 Skymaster 7504.
Guardei para sempre a recordação da abertura da porta de cabine dos passageiros e da baforada de ar quente rançoso e húmido, proveniente de águas paradas e dos muitos rios lodosos existentes no território.
Esta foi a antevisão desagradável do que nos esperava: um clima doentio e que marcaria indelevelmente para sempre as nossas vidas.

Para além de muitos outros de quem não guardo memória, chegaram no mesmo voo os Tenentes Pil./ Aviadores José Nico e Rui Balacó.
Com eles convivi na Esquadra de Fiat's até ao fim da comissão.

Foram cerca de 22 meses em que interagimos diariamente na Esquadra de Tigres, eu como Mecânico na Linha da frente e eles Pil./Aviadores.
Pragmaticamente todos aceitámos o drama de guerra, irregular, assimétrica e mortífera que enfrentaríamos no futuro imediato, lutando para tentar preservar um legado deixado pelos nossos antepassados. A guerra na Guiné teve características muito diferentes da que se travava em Angola e Moçambique.
A elevada organização da guerrilha e a forma como a sua luta se iniciou, através de acções de combate e não com massacres como em Angola, eram reveladores das dificuldades que as FA iriam ter neste território. O movimento de gerrilheiros contra o qual iríamos lutar, era o Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC).

Na Guiné, não só os factores históricos e a hostilidade da geografia e do clima tornaram difícil a actuação das FA.

Para piorar a situação militar portuguesa, em termos de apoio aéreo, fundamental para a nossa defesa, devido a pressões exercidas pelos EUA, a FAP foi obrigada a retirar da Guiné os oito F-86F, a principal arma de ataque aéreo de que dispunha. Desde a retirada destes, em finais de Outubro de 1964, e a chegada dos seus substitutos, os novos caças FIAT G-91 R4 adquiridos à Alemanha Ocidental. As missões de apoio aéreo próximo às forças no terreno foram entretanto garantidas pelas aeronaves T-6G. Este era um avião que estava longe de possuir o mesmo poder de fogo do anterior F-86F ou do posterior FIAT G-91 R4.

Aqui deixo o meu abraço de grande estima ao General J. Nico e ao Coronel R. Balacó (que felizmente ainda se encontram entre nós) assim como a todos os companheiros de todas as Esquadras e que contribuíram com o seu esforço e as suas vidas para Portugal poder ter orgulho nos seus filhos que lutaram com honra e dignidade para preservar o que nos tinha sido legado!

Um abraço,
Mário Santos

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21295: Efemérides (334): O Dia do Combatente Limiano, em 24 de agosto de 2020, foi partilhado com um "anjo da guarda", Rosa Serra (Mário Leitão)

2 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mário Santos
'...devido a pressões exercidas pelos EUA..'
Foram bem conhecidas as razões da exigência do EUA da retirada dos F-86F da Guiné, por se tratar de aviões do Military Assistence Program, a nível da NATO, que não poderiam ser desviados para ações militares em África.
Foram muito interessantes os argumentos apresentados por Franco Nogueira ao Embaixador do EUA em Lisboa, ou melhor dizendo uns argumentos daqueles 'evitar a entrada de movimentos subversivos vindos dos países vizinhos', argumentando o Embaixador 'e por isso mesmo não fazer parte das acções da NATO'. E tiveram que ser mesmo retirados sendo substituídos pelos
FIATs.
De resto, é verdade: já passou mais de meio século que muitos milhares como nós estiveram na guerra da Guiné.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz











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José Botelho Colaço disse...

Eu em Janeiro e Fevereiro de 1964 operação tridente na Ilha do Como aind fui apoiado pelos aviões F-86 só que os nossos rádios nesse tempo não davam para comunicar com os F-86 até acontecia um caso caricato quando eles faziam vou razante cortavam as ondas a emissão e recepção, o rádio ficava totalmente mudo.