José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381 (Ingoré,
Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); cap inf ref, jurista, criador de renas,
autor da série "Da Suécia com Saudadr";
vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da
Tabanca da Lapónia; tem 170 referências
no nosso blogue
1. Mensagem de José Belo:
Date: sexta, 2/10/2020 à(s) 15:12
Subject: Pragmatismos Escandinavos
Caro Luís
Já decorreu mais de uma década e, curioso, procurei saber como teria decorrido o projeto.
Ingenuamente considerei que o mesmo tivesse sido abandonado devido a "explosão" de abaixo assinados opondo-se ao mesmo. A economia, a técnica, os pragmatismos políticos demonstram mais uma vez serem mais fortes que outros valores... secundários.
Solução económica utilizada por algumas Comunas (nome dado aqui às Câmaras Municipais) na sua busca de diminuir os elevados custos do aquecimento central, gratuito para o cidadão mas, tendo em conta os prolongados invernos com temperaturas bem negativas, extremamente onerosos para o Estado.
A Comuna da cidade de Halmstad, entre outras, apresentou como solução económica o aproveitamento das elevadas temperaturas produzidas aquando do uso dos crematórios.
Esta energia é enviada diretamente para as redes centrais do aquecimento das cidades que, deste modo, economizam avultadas somas, tendo em conta ser a cremação a forma de funeral mais utilizado na Escandinávia.
O cidadão, confortavelmente instalado no seu sofá frente a uma TV, com temperatura caseira (gratuita) de 22 graus centígrados, deveria ser levado a meditar que tal bem-estar mais não é que o resultante da cremação da avó, pai, irmão, filho ou neto, amigo ou conhecido.
Mais do que macabro na sua simplicidade económico-funcional será o facto de seres humanos serem mais ou menos usados como "lenha" complementar.
Como seria de esperar, tanto os especialistas técnicos das redes de aquecimento como os responsáveis pela cremação, garantem que a energia reenviada desde os crematórios para a rede central mais não é que o calor resultante das altas temperaturas necessárias sendo a "comparticipação" dos corpos queimados não porcentualmente representativa.
E, muito modernamente, acabam os esclarecimentos com a indispensável referência a quanto de positivo é para o meio ambiente o aproveitamento total deste tipo de energia, diminuindo a necessidade de utilização de complementares poluentes .
Economicamente recomendável!
Tecnicamente recomendável!
Ambientalmente recomendável!
Será exagero sentir um certo "desconforto moral" quanto ao tipo de lenha secundária usada?
Um abraço do J. Belo
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Nota do editor:
Último poste da série > 12 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21247: Da Suécia com Saudade (80): Um país "neutral" há mais de 200 anos, desde os tempos de Napoleão (José Belo)
7 comentários:
Caros Amigos
Fiquei um pouco enojado com a hipótese descrita no texto, gostaria de confirmar a sua veracidade. Será que a Suécia, país tão desenvolvido, optou por esses caminhos?
A ser verdade pouco faltará para virmos a comer o “Soylent Green”, conforme explicado no filme de 1973, com o Charlton Heston.
Abraço.
AMM
Caro José Belo,
Uma técnica muito eficiente que corresponde, também, a uma sociedade muito "avançada" e despida de dogmas religiosos.
Tenho um vizinho, antigo emigrante em Portugal, que regressou definitivamente, porque, segundo ele, não queria ser desposado dos seus órgãos internos depois da sua morte. As razões de fundo, a crença na ressurreição após a morte. Diz-me ele:
- No dia da grande chamada, em que estaremos diante do Senhor, não quero apresentar-me deficiente, incompleto, compreendes? Claro que eu o compreendia. O que compreendo menos é a mentalidade do ocidental que, todos os 100 anos muda de filosofia de vida.
Com um abraço,
Cherno Baldé
Pelos vistos, na Suécia, a teoria de Lavoisier é ainda mais extensiva: tudo se consome.
Que me desculpem a graçola, tivesse a Suécia os milhares de mortos como os EUA ou o Brasil, devido à pandemia covid, com o aproveitamento das cremações haveria 'energia' para dar e vender em exportação.
Por se tratar do culto dos mortos, com certeza que este assunto é melindroso e poder ofender princípios religiosos de milhões de pessoas. Outros milhões, p.ex. os hindus, aceitam e praticam religiosamente a cremação dos mortos, e não falando em outras antigas práticas de encarnação.
Por cá, até já tivemos uma revolta que deu numa guerra civil, por causa da obrigatoriedade dos mortos serem enterrados em cemitérios de campo aberto em vez de dentro ou nos adros das igrejas.
É pá, o que é que isto tem a ver com a guerra na Guiné? Dos mortos por paludismo e outras maleitas ninguém fala, até das bajudas de mama firme seria conversa bem mais interessante. !!!!! (mais esta pra cartilha do populismo)
Nestes tempos de pandemia, vai calhando estas lembranças.
Abracelos e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Caro António Martins de Matos
Por formação (ou deformação) professional de longas décadas feita,sou sempre extremamente cuidadoso com o que escrevo.
Nos nossos blogues existem Amigos e Camaradas.
Infelizmente em português estas palavras não são sinónimos.
Quase como diria o genial Presidente Trump há “verdades verdadeiras “ e “verdades menos verdadeiras “.
Esta “história” incrível quanto a crematórios pertence às...verdades verdadeiras.
Em língua portuguesa recomendam-se as leituras (já antigas) do jornal Expresso de 27/12/2008.
Artigo com o título “Cidade usa calor do crematório para aquecer população “
ou do jornal brasileiro Globo.com-mundo/meio ambiente, de 17/12/2008 citando artigos e programas da BBC.
Na Suécia recomendam-se artigos sobre o assunto dos dois jornais de maior tiragem,Dagens Nyhetter e Svenska Dagbladet.
Tanto de 2008 como de 2010.
Um abraço
J.Belo
Parafraseando o escritor romano Publio Terencio, o Africano (c. 195 / 185 a- C- c. 159 a. C:). na sua comédia "Heautontimorumenos" (O inimigo de si mesmno), do ano de 165 a.C., podemos dizer_"Homo sum, humani nihil a me alienum puto" («Sou humano, e nada do que é humano me é estranho»).
https://es.wikipedia.org/wiki/Homo_sum,_humani_nihil_a_me_alienum_puto
E se calhar nada mais humano do que a nossa condição mortal, a morte e o culto dos mortos... O assunto é tão delicado que continua a mexer connosco, antigos combatentes: os nossos mortos insepultos (, que desapareceraam nas águas lodosas dos rios e braços de mar da Guiné), os nossos mortos inumados em cemitérios locais, por vezes nos próprios locais onde morreram (Cheche / Rio Corubal, Guidaje...), os nossos mortos pulverisados por minas e fornilhos...
De acordo com as nossas regras editoriais, só há tres "temas" que são tabus: a política (partidária), a religião (proselitista) e o futebol (clubístico)... Como diz um amigo meu, isso é tramado, porque se calhar representa, com a conversa da treta, a fofoquice, etxc., 99% das nossas conversas do dia a dia... Restar-nos-ia 1% para falar aqui no blogue... E o problema é que a maior parte da malta já não quer mesmo falar da "guerra da Guiné", de há mais de meio século (1961-1974)...
Quando o último se calar, vu ter que ponderar fechar o blogue... Mas antes temos de fazer uma festa de despedida e nomear uma comissão liquidatária...
Aliás, o blogue já se começou a desfazer: estranhamente esta amnhã desapareceu a coluna estática do lado esquerdo... Mau augúrio ou um simples "bug" informático, uma anomalia temporária ?...
A verdade é que se eu clicar em postes anteriores a coluna reaparece:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/08/guine-6174-p21247-da-suecia-com-saudade.html
Desculpem lá qualquer coisinha, mas "homo sum"..., o que dizer: os pobres dos editores que fazem este blogue não são heróis, muito menos deuses... LG
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