domingo, 27 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas



O Presidente da direção nacional da ADFA, José Eduardo Gaspar Arruda, na alocução natalícia de 19/12/2014, desejando "votos de um Natal com generosidade, tolerância, paz, saúde e muita força e empenho para continuarmos a nossa luta pela dignidade de TODOS e em especial pela plena inclusão das pessoas portadoras de deficiência".

José Arruda nasceu em Moçambique em 10 de março de 1949, desenvolveu uma carreira de atleta até integrar o serviço militar obrigatório e foi ferido, em 1971, durante a guerra colonial, num acidente do qual resultou a cegueira e a amputação o membro superior esquerdo. Em 1973, durante a permanência no Hospital Militar Principal, participou no movimento de apoio à criação do estatuto do deficiente das Forças Armadas, tendo posteriormente, em 1974, participado na primeira assembleia Geral da recém-criada Associação dos Deficientes das Forças Armadas, que surgiu na sequência da Revolução do 25 de Abril.

Foto; Cortesia do sítio da ADFA



Lisboa > ADFA > 21 de janeiro de 2019 > Conferência Evocativa do 43º Aniversário da Publicação do DL n.º 43/76, de 20 de janeiro de 1976, no âmbito do 45º aniversário da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A sessão solene de encerramento presidida  pelo Ministro da Defesa Nacional, Professor Doutor João Gomes Cravinho. Este terá sido o último ou um dos últimos atos públicos a que assistiu o José Arruda, presidente da ADFA, aqui na foto do lado direito.

O diploma de 20 de janeiro de 1976 veio garantir aos deficientes das Forças Armadas a reparação moral e material a que tinha direito, depois de terem prestado Serviço Militar Obrigatório na Guerra Colonial e dela terem regressado feridos e marcados para toda a vida. O DL 43/76,  de 20 de janeiro, surgiu na sequência  da luta histórica dos deficientes militares pelos seus direitos (que ganhou, por exemplo, grande visiibilidade mediátrica com a manifestação de 20 de setembro de 1975).

Foto: cortesia da ADFA


1. O presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), José Arruda, morreu, sábado à tarde, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa,  na sequência de uma intervenção cirúrgica. Tinha 68 anos.

Em comunicado, a ADFA manifesta "enorme mágoa e profunda consternação" pelo "falecimento inesperado" do comendador José Eduardo Gaspar Arruda.

A ADFA salienta que José Arruda se entregou "abnegadamente à causa da dignidade" dos deficientes das Forças Armadas e dos deficientes portugueses em geral, servindo a República "com a elevação e a responsabilidade de um cidadão íntegro, dedicado e exemplar".

"Sublinhamos e homenageamos o homem de Abril, que viveu na plenitude os valores da democracia, em liberdade e solidariedade", lê-se no comunicado.

A notícia é da LUSA, publicada nos jornais de ontem e de hoje.

No nosso blogue há 40 referências à ADFA. Conheciamo-nos pessoalmente e tínhamos um estima especial mútua: o José Arruda foi, durante muitos anos, "meu vizinho" na Av Padre Cruz, um dos seus filhos foi inclusive meu aluno, na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa... E aquela casa, a sede da ADFA,  esteve sempre aberta a iniciativas da Tabanca Grande ou dos nossos grã-tabanqueiros. Recordo-me de lá ter ido em diversas sessões de lançamentos de livros de camaradas nossos.

Para a  esposa, os filhos e demais família, os amigos e camaradas da ADFA, vai aqui todo o nosso apreço e solidariedade na dor por esta perda.  prematura,  de um grande ser humano, cidadão  e português, em nosso nome e em nome de toda a Tabanca Grande. Luís Graça, fundador, administrador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


2. Reproduzimos aqui, com a devida vénia, a notícia dada hoje, 27 do corrente, no sítio oficial da ADFA:

É com enorme mágoa e profunda consternação que comunicamos o falecimento inesperado, esta tarde [, sábado], no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, do Senhor Comendador José Eduardo Gaspar Arruda, Presidente da Direção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas [ADFA].

Nesta hora difícil para todos os deficientes militares, a ADFA salienta e recorda o Comendador José Arruda, que se entregou abnegadamente à causa da dignidade dos deficientes das Forças Armadas e dos deficientes portugueses em geral, servindo a República com a elevação e a responsabilidade de um cidadão íntegro, dedicado e exemplar.

Ao longo da sua vida, José Arruda impôs-se, pelas suas qualidades, numa Cidadania ativa, como lutador intrépido na defesa intransigente do direito à Reabilitação e Reintegração de todas as pessoas portadoras de deficiência.

Sublinhamos e homenageamos o Homem de Abril, que viveu na plenitude os valores da Democracia, em Liberdade e Solidariedade.

A Forma como colocou o seu saber e capacidades ao serviço da causa das pessoas com deficiência é um legado que fica indelevelmente marcado na ADFA, na República e na Sociedade Portuguesa.
A ADFA está a acompanhar a Família do Comendador José Arruda e logo que disponha de pormenores das últimas homenagens dos mesmos dará conhecimento à Comunicação Social.



3. Nota biográfica constante do sítio oficial da ADFA:

José Eduardo Gaspar Arruda nasceu em Movene (Moçambique), em 10 de Março de 1949.

Realizou o Curso Comercial na Escola Comercial de Lourenço Marques, actual Maputo,  capital da República de Moçambique (ex-colónia portuguesa), cidade onde viria a integrar a Equipa de Basquetebol, no Grupo Desportivo, onde desenvolveu uma promissora carreira de atleta, até 1971, altura em que foi obrigado a integrar o serviço militar obrigatório, até 1974.

Foi ferido em 1971, no decorrer da Guerra Colonial que se desenrolou entre 1961-1975, acidente do qual resultou a cegueira e a amputação do membro superior esquerdo.

Em 1973, durante a sua permanência no Anexo do Hospital Militar Principal [, em Lisboa], participou no movimento de apoio à criação do estatuto do deficiente das Forças Armadas, tendo posteriormente, em 1974, participado na 1ª Assembleia Geral da recente criada Associação dos Deficientes das Forças Armadas – ADFA, que surgiu na sequência da Revolução do 25 de Abril e que restituiu a Portugal a democracia, promoveu a descolonização e criou as bases do desenvolvimento do país à sua integração na União Europeia.

Fez a sua reabilitação na Fundação [Raquel e] Martin Sain [, em Lisboa,]   onde aprendeu competências de autonomia, apoio psicológico e social, referências fundamentais que moldaram a sua consciência e formação social, política e cívica, e marcaram de forma indelével todo o seu percurso e atitude como homem, como cidadão, como deficiente e como dirigente associativo.

Retornou a Moçambique, tendo regressado definitivamente a Portugal no início dos anos 80, período a partir do qual se envolveu terminantemente no movimento das pessoas com deficiência, nomeadamente na luta pelos direitos humanos, em organizações como a ADFA, a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal – ACAPO, a Federação de Desporto para Deficientes, a Associação de Apoio aos ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra – APOIAR e na Associação de Jovens Deficientes – AJOV. O seu percurso por estas instituições pautou-se pelo exercício da cidadania, na promoção da inclusão e justiça social das pessoas com deficiência.

No âmbito do seu percurso por estas instituições destacam-se as seguintes acções:

Entre Junho de 1981 e 1986 integrou Direcção Nacional da ADFA;

Em 1981 representou a ADFA na Comissão Nacional para o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência declarado pela ONU.

Entre 1982 e 1983 presidiu a Comissão Instaladora da Federação de Desporto para Deficientes;

De 1987 a 1995 preside a Direcção Nacional da ADFA;

Entre 1989 e 1994 foi Presidente da Comissão Permanente para os Assuntos Europeus – CPAE, da Federação Mundial de Antigos Combatentes e Vítimas de Guerra – FMAC;

Em 1990 participou na organização da 1ª Conferência de Antigos Combatentes de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Portugal, que se realizou em Lisboa, incrementando uma política de cooperação;

Em 1991, enquanto Presidente da ADFA, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas foi condecorada pela Cruz Vermelha Portuguesa com as suas, Cruz Vermelha de Benemerência e Cruz Vermelha de Mérito, pelo importante papel desempenhado na defesa, na reabilitação e na reintegração das vítimas de guerra;

Em 1994 integrou o Comité Preparatório da 6ª Conferência sobre Legislação, da FMAC, realizada em Lisboa;

De 1986 a 1994 participou em dois ciclos olímpicos, como Presidente da Mesa da Assembleia da Federação de Desporto para Deficientes;

Entre 1999 e 2004 presidiu aos destinos da ACAPO, tendo impulsionado novas medidas que foram determinantes para o terminus do sorteio, de cariz caritativo, que durante muitos anos predominou nesta organização, permitindo a assunção da integração de políticas sociais, aspecto essencial na defesa dos Direitos Humanos das pessoas com deficiência em Portugal;

Em 2004 foi distinguido pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, com a Ordem de Mérito, Grau de Comendador, pelo trabalho desenvolvido no âmbito da defesa dos direitos das pessoas com deficiência, na sequência do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência;

Entre 2005 e 2007 foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APOIAR;

Entre 2007 e 2015 presidiu novamente aos destinos da Direcção Nacional da ADFA, com a sua equipa dos Órgãos Sociais Nacionais, desenvolvendo um trabalho árduo da defesa dos direitos dos deficientes militares, tendo recuperado direitos anteriormente perdidos na área da assistência médica e medicamentosa e na isenção de impostos, tendo conseguido que as pensões dos deficientes militares fossem consideradas como indemnização;

Em 2008, enquanto Presidente da ADFA, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas foi condecorada pelo Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva, como membro da Ordem da Liberdade, pelos relevantes serviços prestados “na permanente defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do ser humano, da justiça social e da promoção da liberdade”, tendo também afirmado que “a dívida de gratidão e o preito de homenagem para aqueles que ficaram deficientes ao serviço da nação impõe prioridade no tratamento que lhe deve ser dispensado”;

Foi agraciado, na 26ª Assembleia Geral de 19-23 outubro de 2009, com a medalha de prata da FMAC pelos 20 anos de serviço da paz e cooperação internacional;

Coordena desde 2011 o Grupo de Trabalho da Europa do Sul, que integra os seguintes países: Albânia, Bósnia-Herzegovina; Bulgária, Croácia, Chipre, Eslovénia, Espanha, Grécia, Israel, Itália, Kosovo, Macedónia, Montenegro, Palestina, Portugal, Sérvia, e Turquia (22ª CPAE, realizada em Kiev, na Ucrânia, de 26 a 28 de maio 2011);

Em 14 de maio de 2014 foi condecorado a medalha da Defesa Nacional pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. Aguiar Branco.

No período de 1981 a 2015 manteve-se sempre ligado às actividades internas da ADFA e acompanhou e participou em diversas ações desenvolvidas pela FMAC.

Em 24 de fevereiro de 2016 foi agraciado por Sua Excelência o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

[Revisão e fixação de texto: LG]

3. Informação de última hora da página do Facebook da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas 

(...) Informamos que o corpo do presidente da ADFA, José Arruda, espera ser autopsiado amanhã 2ª feira. 28/01. 

Se a autópsia se concretizar amanhã, como está previsto, o corpo será colocado em Câmara Ardente no salão nobre da Sede Nacional da ADFA, na Av Padre Cruz ao Lumiar, Lisboa. 

Quando nos for comunicado a hora e dia do funeral, publicaremos nesta página e enviaremos nota informativa à Imprensa. Farinho Lopes. (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19415: In Memoriam (333): Auá Seidi (c.1935-2018), viúva do comerciante de Bambinca (c. 1925-2011), Rodrigo Rendeiro, natural da Murtosa, já falecido em 2011 (Leopoldo Correia, amigo da família, ex-fur mil, CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65).

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