domingo, 14 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

do co-editor vb:
Com a vénia que é devida a Jorge Magalhães, reproduzimos uma pequena nota sobre um artista da Guiné. Para muitos de nós um desconhecido, Augusto Trigo retrata, a óleo e a aguarela, as gentes, os animais e as paisagens da sua terra.
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Etnias da Guiné. Quadro no Ministério do Comércio. Pintor: Augusto Trigo. Rui Fernandes foi o autor da foto, que a cedeu à AD (Pepito Schwartz). Com a vénia devida.

Augusto Trigo > Um caso de Talento

Augusto Fausto Rodrigues Trigo nasceu em Bolama (Guiné-Bissau), a 17 de Outubro de 1938. Aos 7 anos, devido à morte do pai num acidente de caça, ele e dois dos seus irmãos vieram para Portugal, ficando a mãe a residir na Guiné, com o filho mais novo.

Aluno da Casa Pia, não se destacou pelo aproveitamento nas disciplinas mais clássicas, mas suscitou a admiração dos professores ao fazer uma escultura em madeira representando as figuras do Presépio, que lhe valeu o 1º prémio num concurso organizado entre vários estabelecimentos de ensino.
Foi a partir daí que os mestres, adivinhando as suas aptidões artísticas, o encaminharam no rumo certo, transferindo-o para a Secção de Pina Manique, onde frequentou o curso de entalhador e escultor, sob a orientação do conceituado professor Martins Correia.

Em 1957, com 19 anos, saiu da Casa Pia, obtendo o primeiro emprego como pintor de publicidade. Mas, sempre insatisfeito, sonhando com os horizontes e as vivências da sua infância, não tardou a regressar à Guiné para rever a mãe e os irmãos, acabando por arranjar colocação como desenhador cartográfico.

Cedo, porém, deu provas de não estar grandemente talhado para essas funções demasiado técnicas. E ei-lo a aproveitar todos os momentos livres para pintar quadros a óleo e aguarela sobre temas da sua terra natal.


Painel que representa o Porto de Bissau. Em exposição na Casa do Estivador, junto ao Forte de Amura. Trabalho de Augusto Trigo. Autor da foto: Rui Fernandes. Imagem cedida à AD (Acção para o Desenvolvimento, Pepito Schwartz). Os nossos agradecimentos, com a devida vénia.

Em 1964, realizou a sua primeira exposição de Pintura, que lhe valeu a encomenda de uma série de pinturas e painéis por parte do governo dessa (na altura) província ultramarina portuguesa.


Painel de 1977. Autor: Augusto Trigo. Encontra-se na sala de reuniões do BCAO (Banco). Foto de Rui Fernandes, cedida à AD.

No ano seguinte, executou um painel de grandes dimensões para o novo edifício do Centro de Informação e Turismo, inaugurando-se aí a sua 2ª exposição de Pintura.


Luta felupe, de Augusto Trigo. Encontra-se numa parede de um ex restaurante/café em Varela. Foto de Rui Fernandes, cedida à AD.

Em Abril de 1966, realizou nova exposição, dessa feita no Palácio Foz, em Lisboa, que obteve grande êxito, chamando a atenção do público e da crítica para um talento emergente no cenário das artes plásticas portuguesas.

Repartindo a sua actividade especialmente pela Pintura, a Ilustração e a Escultura, Trigo foi também professor de Trabalhos Manuais e de Desenho. Além dessa prática docente, ilustrou livros didácticos para a 1ª e a 2ª classes.

Após a independência da Guiné, em 1975, foi convidado pelos novos governantes a dirigir o Departamento do Artesanato Nacional, estruturando o artesanato em moldes definitivos e recolhendo algumas peças valiosas do património do seu país.

Para o Banco Nacional da Guiné executou um quadro a óleo de grandes dimensões, que seria posteriormente reproduzido numa das faces da nota de mil pesos, emitida pelo novo governo.


Paisagem, de Augusto Trigo. Em exposição no hall do Banco (BCAO). Com a devida vénia ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD (que detém a imagem no site da AD.

Mas, em 1979, Augusto Trigo decidiu regressar definitivamente a Portugal, fixando residência com a família, também de origem guineense, numa localidade perto de Lisboa.

Foi então que optou por uma nova forma de expressão artística, retomando uma experiência iniciada aos 19 anos com uma história aos quadradinhos intitulada O Visitante Maldito, que assinalaria a sua estreia como autor de BD ao ser publicada em Fevereiro/Março de 1980 no Mundo de Aventuras.

A partir dessa data, graças a um intenso labor repartido por quase todas as revistas da especialidade existentes em Portugal, suplementos de jornais, livros didácticos, álbuns e outras publicações, o talento de Augusto Trigo impôs-se à admiração dos leitores, da crítica e dos seus pares, granjeando-lhe um lugar de relevo no panorama da BD portuguesa dos anos 80 e 90. Dotado de um preciosismo estético invulgar, na linha da grande tradição de BD Clássica - com especial relevo para os artistas que mais o influenciaram: Harold Foster, Eduardo Teixeira Coelho e Vitor Péon -, o estilo de Augusto Trigo pode definir-se como hiper-realista, assentando num intenso (quase mimético) poder de observação e numa concepção gráfica e narrativa que o aproxima de autores mais modernos como Hermann, Derib ou Blanc-Dumont, sobretudo nas histórias de ambiente "western".

Excelente desenhador naturalista, particularmente do reino animal, é nas criações de temática africana, como Kumalo - A Vingança do Elefante (onde Trigo segue o apelo das suas próprias raízes), que se espelham de forma mais evidente as qualidades que o distinguem como artista de Banda Desenhada - predestinadamente, o seu meio de expressão mais genuíno, síntese e confluência de todas as vocações anteriores.

Distinguido com vários prémios de prestígio, ao longo de 20 anos de carreira, Augusto Trigo continua a produzir BD, embora num ritmo mais moderado, colaborando regularmente, com histórias de índole humorística, nas selecções BD e no Clube Tio Pelicas, do Montepio Geral."

Texto de Jorge Magalhães

Vd. Mais trabalhos de Augusto Trigo

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