terça-feira, 16 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2182: Blogoterapia (35): Programa da RTP1, Prós e Contras: Éramos todos bons rapazes (David Guimarães)

RTP1 > 2ª feira, 15 de Outubro de 2007 > Prós e contras, um programa de Fátima Campos Ferreira



1. Mensagem do David Guimarães, o nosso querido tertuliano nº 3, que foi Fur Mil / At Artilharia e Minas e Armadilhas, CART 2716 / BART 2917 (Xitole / Bambadinca , 1970/72). Trabalha no Porto, no Centro Regional de Segurança Social do Porto, e vive em Espinho. Toca viola, desde pelo menos a recruta nas Caldas da Rainha!... Ainda não tivemos o privilégio de o ouvir. Quando ía a Bambadinca, metia a viola no saco... No próximo encontro da nossa caserna, tertúlia ou tabanca grande (é ao gosto do freguês), vamos reunir todas violas e guitarras perdidas mestes útimos cinco séculos de andanças dos tugas pelo mundo, de Alcácer Quibir ao Xitole. Combinado ? (LG).


AMIGOS: parece que vale a pena dizer - estive a ver o programa de Fátima Campos Ferreira.

Estive ontem com muita atenção a ver aquele grande encontro que se deu na Televisão - um debate, uma troca de ideias... Não costumo ser muito dado com os olhos pregados na Televisão pois por norma adormeço - ontem não, não adormeci, estava à espera do resultado, num encontro de gente séria... nisso acredito... NÃO ADORMECI.

E lembrava-me da nossa caserna - mas que lindo termo a nossa caserna, onde andamos há uns tempinhos a dizer muito mais do que aquilo que ontem por lá se disse... Houve um aflorar pela rama da guerra do Ultramar (Colonial, de África), enfim aqueles termos que lhe quiseram chamar... Lembro do termo que as gentes boas da minha aldeia usava: guerra da nossa África.

Não creio que qualquer jovem miliciano ou até Oficial e Sargento do quadro de então desse conotações políticas aos termos usados pelo nosso povo ou pelos políticos de então... Com raras excepções (e sabemos que existiram)... Assim uma coisa ficava bem vincada na nossa cabeça: Guerra...(depois, em África, nas nossas Colónias, Províncias Ultramarinas e finalmente Ultramar, um termo mais genérico).

Afloraram ontem como é que se podia ter evitado a guerra, a inevitabilidade da guerra e até a autenticidade da guerra, ou melhor, o nós tínhamos razão... e hoje ainda lá poderíamos andar... Era mais morto menos morto, porque afinal aquilo era Portugal e na guerra há feridos e mortos... E foram generais, coronéis e um douto Professor que ali se juntaram todos para falarem. E eu fiquei a saber que um era de direita e outro já carregado não sei de que mal - ressaibiado... Por certo um daqueles que ainda pensa em ir conquistar Olivença (não seria ideia inédita!) e que falava à boa maneira da Antiga Assembleia Nacional... Não sei como conseguiu ir até Tenente Coronel... mas foi e deve ser bom homem... pois eu também não sou mau rapaz... e no mundo só há gente boa embora tenham todos o direito de pensar...

E como pensei então no nosso querido Blogue - a nossa casa afinal de discussão que toma o nome de novesforanada... Foi exactamente isso que pensei ontem: novesforanada na base 10 - porque do que se disse ontem sobrou pouco mais que nada, um senhor tenente coronel que cumprimento efusivamente e com respeito, não porque pense como ele, mas porque foi exactamente ele que me manteve acordado... Porque uma das coisas que gosto é de ouvir discursos inflamados e patrióticos [ou patrioteiros ?] como esse - e por ele então NÃO ADORMECI.

Um abraço, David Guimarães

PS - Bom vamos ver o que nos reserva hoje o 1º episódio do documentário sobre A Guerra que parece que está muito bem feito... Um trabalho de Joaquim Furtado... Não me acreditava que não o estivesse, dada a qualidade do jornalista...

2. Comentário de L.G.:

Não vi o programa, nem simpatizo com o modelo, que tem algo de circense. O pão e circo para o povo, do tempo dos romanos, transformou-se nas nossas ciberdemocracias em pão e televisão para o povo. Não alimento a luta de galos nem quem os promove... Este tipo de programas enferma, a meu ver, de um vício metodológico: sem informação e formação, sem investigação e conhecimento não se pode realizar debates sérios... É miserável que o jornalismo de investigação e de arquivo sobre a guerra do ultramar, guerra colonial ou guerra de libertação (ao gosto do freguês) só chegue à televisão pública 46 anos depois do 15 de Março de 1961 (no norte de Angola) e 33 anos depois dos últimos mortos e feridos em combate, de um lado e de outro, em 27 de Abril de 1974, na zona de Canquelifá (Zona Leste, Guiné)... Justamente quando a geração da guerra do ultramar, guerra colonial ou guerra de libertação (novamente ao gosto do freguês) está bater a bota, em Angola, em Moçambique, na Guiné, em Portugal... Ou já morreu, ou está a morrer, ou está a ver morrer os camaradas mais velhos, ou já se retirou da vida activa, ou anda a passear a sua solidão pelos bancos dos jardins das nossas tristes cidades, ou chora a perda dos verdes anos, ou anda deprimida e não sabe porquê... Quiseram matar a nossa memória, quiseram matar-nos em vida, simbolicamente, pelo silêncio, pelo esquecimento, pela segregação, pela vergonha, pela culpa, pelo medo...

Se temos alguma dívida ainda por saldar não é com a Pátria, é connosco e com os nossos filhos e netos, e essa dívida é a nossa obrigação de contar aos nossos contemporâneos e aos nossos vindouros que houve uma guerra, de 13 anos, muito longe da Pátria, em três territórios de África sob domínio português, e que NÓS ESTIVEMOS LÁ... E que como todas as guerras teve um princípio, meio e fim. E que a leitura dos acontecimentos não é nem nunca será pacífica. E que provavelmente nunca chegaremos a saber quem foram os vencidos e os vencedores, se é que alguém alguma vez ganhou uma guerra... Bom sono e bons sonhos, camarada David, que hoje tens que recuperar o sono perdido. L.G.

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Nota dos editores:

(1) Vd. página da RTP1 > Programa Prós e Contras, de Fátima Campos Ferreira.

Quarenta e seis anos depois do início da guerra…o debate!
Guerra Colonial!
Guerra do Ultramar!
Guerra de Libertação!
Diferentes olhares sobre o mesmo acontecimento!
O maior debate da televisão reúne testemunhos civis e militares.
Até que ponto a guerra mudou a sociedade portuguesa?
Que sequelas deixou?
O que significou ontem?
E hoje?
Prós e Contras, segunda-feira à noite, na RTP


Fonte: RTP (2007) (com a devida vénia...)

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