terça-feira, 17 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9765: Documentos (24): Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte III (Luís Vaz Gonçalves)

1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos mais uma mensagem dando continuidade ao trabalho documental iniciado nos postes P9639, P9748 e P9755, respeitantes à Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Camarigos:

O que prometo cumpro, como tal aí vai a PARTE III, sobre a "Reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973"





 PARTE III

Reunião de Comandos, em 15 de Maio de 1973, “Ata da Reunião"

“Em 15 de Maio de 1973, pelas 10H30, no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos respectivamente, Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné, Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné, Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné …”


General Comandante-Chefe, General António de Spínola

“… Dou a palavra ao Comandantes - Adjuntos …”

- Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques
- Brigadeiro Alberto da Silva Banazol
- Coronel Gualdino Moura Pinto

"E não havendo mais nada a tratar, o General Comandante-chefe encerrou pelas 11h 30 a reunião, que eu Hugo Rodrigues da Silva, Coronel do CEM e Chefe do -Estado-Maior do Quartel-General do Comando-Chefe, relatei e assino "

Bissau, 15 de Maio de 1973














Luís Beleza Vaz
(Tabanqueiro 530)
___________

Notas de MR:

* Independentemente de estar de acordo ou não, com o teor textual deste relatório “Muito Secreto”, quero expressar aqui, em meu nome e de todos aqueles que gostam de conhecer e enriquecer os seus conhecimentos pessoais, e, como no meu caso, engrandecer os seus arquivos com documentação histórica desta qualidade e “calibre”, o meu melhor agradecimento ao Luís Gonçalves Vaz todo o trabalho e prestação que ofereceu ao nosso blogue.

Muito obrigado Luís!

Vd. também sobre esta matéria os seguintes postes do mesmo autor, em: 






34 comentários:

Manuel Joaquim disse...

Não estou impressionado com o conteúdo desta acta. Quase tudo o que nela se diz não é novidade nenhuma nos meandros politico-militares.
Este documento, sendo o que é e vindo de quem vem, é uma fonte histórica de grande valor. É um documento produzido e autenticado pelo comando militar supremo de um TO, o da Guiné neste caso.
Tenho de admitir que esta análise resulta da triagem de opiniões e informações recolhidas, devidamente creditadas e sintetizadas de forma a serem veiculadas para o Governo Central. Opina-se sobre o que se teria de fazer para garantir a não possibilidade de derrota futura, já que a vitória, nos termos em que era oficialmente reclamada pelo poder politico-militar de "Lisboa", seria impossível.
Não é sério, intelectualmente, desvalorizar o seu teor, mesmo que as previsões mais pessimistas se não tenham concretizado no curto tempo de guerra que se seguiu (um ano). Ninguém sabe o que iria suceder se a guerra não tivesse terminado naquela altura. Provavelmente, Portugal pediria negociações de paz mas em condições humilhantes.
Não menosprezo a coragem, a entrega, o espírito de sacrifício e a capacidade de resistência das nossas tropas nem sobrestimo as capacidades e força militar do PAIGC. Mas não se fazem omeletes sem ovos.
Para além do aumento em flecha dos custos da guerra e das crescentes dificuldades no recrutamento militar, circunstâncias e ventos políticos da época, tanto nacionais como internacionais, não favoreciam qualquer solução que não passasse pela independência da Guiné.

Não vejo neste documento qualquer análise que "ofendesse" a verdade da situação. Com tudo o que fui ouvindo ou lendo sobre o assunto, acho as análises corretas quanto às hipóteses de agravamento rápido da situação militar.
Aliás, algo que aqui se faz notar é um "subterrâneo" temor, uma latente angústia que perpassa pelos intervenientes perante o futuro previsível, isto se não se reforçassem os efetivos, tanto em homens como em material. E não me estou a referir a medo físico mas ao medo de um possível desastre militar que viesse a desprestigiar as Forças Armadas.


(continua)

Manuel Joaquim disse...

Olhando retrospetivamente para o ano de 1973, percebe-se muito bem o caminho de Portugal em África, a começar na Guiné. Não há hoje dúvidas sobre o que iria acontecer. Ninguém poderia suster aquela onda da História que transportava as independências dos territórios sobre administração portuguesa.
Olhando para a acta desta reunião do com.chefe e seus sub-comandos e olhando para o resultado imediato dos pedidos de reforço em homens e material, a sua satisfação não correu por aí além.
Porquê, por problemas económicos? Ou por impossibilidade de aquisição motivada pelas recusas generalizadas da maior parte dos chamados países amigos?
Podemos até pensar que "Lisboa" tinha outras prioridades no fornecimento de material de guerra mais moderno, prioridades que não contemplavam a Guiné. Seria um desperdício perante o previsível agravamento da luta. Os esforços passaram a ser mínimos, estava-se numa posição de aguentar até onde fosse possível com os fracos meios existentes.
A este propósito,e julgo ter sido pelos finais de 1973, lembro-me de ter ouvido Marcelo Caetano numa das suas televisivas Conversas em Família, referindo -se à situação na Guiné, dizer que "se Portugal entregasse a Guiné, como às vezes se ouve por aí, como é que depois mantinha as suas posições políticas em relação a Angola e a Moçambique?" As palavras não terão sido bem estas mas o seu sentido estava explícito.O futuro da Guiné, para o seu governo, estava traçado: não a negociações, resistir até ao fim, até à derrota se fosse necessário, para não se perder a face e para manter o princípio constitucional do "País uno e indivisível do Minho a Timor". Mas esta motivação era uma capa. A razão principal era a manutenção do poder em Angola e Moçambique durante o mais tempo possível. A opção já tomada, ou a tomar, era repetir as orientações politico-militares dadas por Salazar para os comandos em Goa Damão e Diu, aquando da sua invasão pela União Indiana.
A não concretização de um agravamento geral dos combates no espaço de tempo que se seguiu até ao 25/abril/74 pode ter resultado da estratégia do PAIGC, voluntária ou forçada, após as suas fortes ações atacantes surgidas nos tempos imediatos a esta reunião, as quais não terão dado os resultados esperados e também por uma desejada acalmia para se dedicar à "encenação" da proclamação unilateral da independência (23/09/73) e explorar os resultados políticos advindos deste facto.
Mais cedo ou mais tarde, as forças armadas portuguesas teriam de abandonar o território da Guiné. A lei do mais forte iria cumprir-se. E, neste caso, nem me refiro à possível força do PAIGC. A força estava nos chamados ventos da História que, usados em seu apoio, não deixavam outra alternativa a Portugal.

Jorge Narciso disse...

Carissimo Manuel Joaquim

Frutuosa "noitada" que ainda bem não resististe a empreender na construção deste teu, julgo, futuro Post, por enquanto "apenas" comentário.
Sobre nenhum assunto alguem poderá jamais afirmar que está tudo dito.
Mas, depois deste teu, diria apenas, abrangentemente extraordinário texto, apetece-me sinceramente afirmá-lo de facto.

Sábado te darei o abraço que aqui virtualmente te deixo
Jorge Narciso

Anónimo disse...

Caro Manuel Joaquim.Um abrangente e interessante comentário que ultrapassa alguns dos habituais "tiros desde a anca".Irão os Editores considerar a publicacäo do mesmo como um poste? Um abraço.

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Manuel Joaquim

Dizes:

"Não vejo neste documento qualquer análise que "ofendesse" a verdade da situação. Com tudo o que fui ouvindo ou lendo sobre o assunto, acho as análises corretas quanto às hipóteses de agravamento rápido da situação militar.
Aliás, algo que aqui se faz notar é um "subterrâneo" temor, uma latente angústia que perpassa pelos intervenientes perante o futuro previsível, isto se não se reforçassem os efetivos, tanto em homens como em material. E não me estou a referir a medo físico mas ao medo de um possível desastre militar que viesse a desprestigiar as Forças Armadas."

Primeiro, ao político o que é político, ao militar o que é militar. O teu inteligente texto mistura tudo e entende-se, será bom recordar que a guerra é a continuação do político, por outros meios, o velho general Clausewitz disse.

Agora afirmas tu, Manuel Joaquim:

"Não vejo neste documento qualquer análise que "ofendesse" a verdade da situação".

Estes relatórios, para além das mil suposições e éne "ses", estão recheados de inverdades. Leio no relatório:

"O CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) depende totalmente de meios navais para o apoio da zona sul e não o poderá manter de aqueles meios de revelaram insuficientes".

Três semanas depois depois de isto ter ser escrito (Maio de 1973), os militares do CAOP 1 chegavam a Cufar nos aviões Nortatlas,(depois com o material pesado por mar nas LDG) e, até Abril de 1974, os meios aéreos, e também os navais, jamais falharam no apoio ao sul.

Isto quer dizer que o relatório ofende a verdade da situação, ou será que a mentira é que é a verdade?

Dizes depois, meu caro Manuel Joaquim:

"Acho as análises corretas quanto às hipóteses de agravamento rápido da situação militar."

Como sabes, pós Strela, não houve um agravamento rápido, nem lento da situação militar. O PAIGC não teve força militar para concretizar
as suas duras investidas de Abril/Maio de 1973. Então se não houve um agravamento da situação militar, as tuas e as dos senhores de Bissau "análises correctas" estão incorrectas.

(continua)

antonio graça de abreu disse...

Vamos então continuar, e concluir.

Dizes:

"Algo que aqui se faz notar é um "subterrâneo" temor, uma latente angústia que perpassa pelos intervenientes perante o futuro previsível."

Aqui tens razão. Esse pessoal das altas esferas de Bissau estava acagaçado. Em 73/74 vínhamos, pobres alferes milicianos, do mato para o Biafra, para o Clube de Oficiais de Santa de Luzia, e o que é que ouvíamos? Histórias de espantar sobre a derrocada militar.
Vínhamos do mato, onde aguentávamos
e sofríamos (aquilo era mesmo uma guerra!) e esses senhores de Bissau que nunca tinham passado de Bissalanca vinham-nos explicar o "débâcle", a queda, a derrocada das NT acontecida ou a acontecer nos nossos aquartelamentos. Os rapazes, alferes, capitães, majores é que tinham acesso a estes relatório elaborados em Bissau e que nós não conhecíamos nem batiam certo com as nossas vidas em Pirada, em Fulacunda, em Aldeia Formosa, em Cufar.

Para terminar e quanto ao medo que referes "de um possível desastre militar que viesse a desprestigiar as Forças Armadas.", como sabes não houve nenhum desastre militar, nem nenhuma derrota militar, nem nenhum colapso militar. O PAIGC, também exausto por anos e anos de guerra inclusiva, não tinha força militar para derrotar as Forças Armadas Portuguesas, nem as milícias, nem os Comandos Africanos.

Estamos a falar do confronto militar.
Politicamente, a guerra estava perdida desde o primeiro dia.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Este relatório apenas fala em supostas previsões.

Em relação a situações concretas,nomeadamente no sul e especificamente em Gadamael,nunca foram interrompidos os reabastecimentos que eram feitos por batelões civis e LDPs da marinha.
A única coisa que deixou de ser feita foi a ida de DOs e Hélis.
As evacuações eram feitas através de sintex ou zebros para Cacine, que quando aí chegavam na grande maioria das vezes já aí se encontrava um Héli ou uma DO, para a respectiva evacuação para Bissau.
Bem diferente foi a situação de Guilege em que provavelmente a morte de um militar se deveu à não evacuação por meios aéreos,tendo contribuído decisivamente para a desmoralização das NTs com a consequente retirada.

Com todo o respeito este relatório não acrescenta nada aos pressupostos já conhecidos,servindo apenas para alertar as autoridades centrais do que poderia acontecer se não fossem tomadas medidas.
Algumas foram tomadas, como o já exposto pelo camarada General A.Matos no que diz respeito à F.A.P.,e muitos não saberão, mas as granadas de artilharia eram made in U.S.A.,assim como se iniciou um reforço de meios humanos em graduados de artilharia (furrieis e alferes)oriundos da artilharia de costa que foram mobilizados para a Guiné para serem reconvertidos em artilheiros de campanha.
Já mais de uma vez aqui referi que o material de guerra do Paigc era comprado e não oferecido como muitos possam pensar, e que pagaram com "língua de palmo" no pós independência.

Constatei em contactos com elementos do Paigc, durante as conversações, que também eles estavam exaustos com dificuldades de recrutamento e com graves divergências internas.
Apenas falo de factos por mim vividos.
Cada um que tire as conclusões que quiser.

C.Martins

Manuel Joaquim disse...

Meu caro e ilustre A. Graça de Abreu:

Respeito as tuas opiniões. Desprezo os que me ofendem por causa das minhas ideias e opiniões mas, normalmente, gosto daqueles que as contestam e se prestam a contradizê-las e/ou se esforçam para o efeito, ainda por cima. Os resultados deste esforço ficam com terceiros, não me preocupam para além de me obrigarem a correções se verifico ser caso disso.

Pois é, AGA, mal vai uma sociedade quando todos pensam ou são obrigados a pensar da mesma maneira. Ando há 50 anos, e deverei morrer, a pensar assim.

Referes a minha atitude de misturar "o" político com "o" militar. Como poderia ser de outra forma se, na Guiné, o Governo e o Comando-Chefe estavam nas mãos da mesma pessoa? Esta acta também é, e muito, um documento político. Basta atentar no teor da intervenção do Governador e Comandante-chefe. Até me surpreendeu o seu "timbre ideológico". Julgava que o Spínola político já não pensaria assim, naquela altura.

Explanei um pouco do que penso sobre este documento e sobre a situação que provocou o seu teor. A tua respeitável opinião não alterou a minha, que não considero "ne varietur" mas simplesmente a minha opinião atual, tão simples quanto isto. Se alterou a de algum dos nossos leitores, não me preocupa nada.

Meu caro AGA, só mais uma coisa. Quanto te referes a "possível desastre militar que viesse a desprestigiar as Forças Armadas" (do meu texto) não é com certeza para contestares a minha opinião já que eu penso exatamente como tu: "(...)não houve desastre militar, (:::)derrota militar, (:::) colapso militar". É verdade, AGA, absoluta! Mas ...

Mas se as condições políticas (25abril74) não tivessem sido alteradas, estarias hoje, ou pouco tempo depois daquela data, a opinar assim?
Desculpa, AGA, mas esta nem é de fé: não acredito.

Desculpa o acrónimo usado, é afetivo.

Abraço

Antº Rosinha disse...

Mas quando se ouvirá dizer que Portugal jamais teve poderio militar para se impôr?

Que não foi pelas armas que Portugal resistiu 13 anos a PAIGC/MPLA/FRELIMO/CUBA/URSS/CHINA/ SUÉCIA-VATICANO-ONU e outros em cima do muro a assistir?

Será que ao fim de 37 anos com todas as evidências demonstradas até à exaustão, desde a falta de armas até à natural inaptidão de grande parte de comandantes com 40 anos de país sem guerra(1918-1960), as mauser e G3 não passavam de armas de "legítima defesa" pessoal?

As nossas grandes armas, foram os africanos que acreditavam mais em nós que nos movimentos de libertação.

Claro que falo sem complexos, porque durante 13 anos vivi em "zonas libertadas" do MPLA, UNITA e FNLA.

Mas ao fim de 37 anos, já está na hora de perguntar porque não se preparou o 25 de Abril de 1969 a partir de Setembro de 1968.

Claro que pessoalmente, como colonialista, retornado e português acho que fizemos algo extraordinário até ao dia 26 de Abril de 1974, a partir daí fizemos o "habitual".

Cumprimentos

Anónimo disse...

Meu caro Rosinha

"colonialista","retornado" e "tuga" e tudo.
Meu caro não é preciso ser tão "masoquista",apesar de te não conhecer pessoalmente, penso que simplesmente és um "tuga" de quatro costados.

Eu diria mais, porque é que esse tal de "botas" não deu a independência às nossas colónias, quando todas as potências coloniais o fizeram.
De certeza que se evitava tanto sofrimento e morte durante a guerra e pós independências.

Um a.b.

C.Martins

Anónimo disse...

Caro Camarada António Rosinha.Muitas coisas se vão lendo "de passagem".Mas a frase que escreves-te:"AS NOSSAS GRANDES ARMAS FORAM OS AFRICANOS QUE ACREDITAVAM MAIS EM NÓS QUE NOS MOVIMENTOS DE LIBERTACÄO" é uma frase que,por tudo o que de consciência inclui,dá para parar e pensar. Um grande abraço.

Antº Rosinha disse...

C. Martins, penso que se o "botas" tem dado as independências quando a inglaterra e a frança e os belgas o fizeram, imaginas os mapas cor de rosa que iam surgir imediatamente?

Poupava-se muita dôr de cabeça e sangue e sacrifícios é verdade.

Lembras-te de Ramalho Eanes ir de Barco a Timor e nós em Lisboa acender velas? vê só o combustivel e a cêra que tínhamos poupado.

E a Vasco da Gama tambem já tinha poupava umas viagens um pouco mais curtas.

E até talvez a FLAMA na Mdeira fôsse avante.

Mas, talvez quando Salazar caíu da cadeira, e visto a esta distância, talvez já fosse tempo "de emalar a trouxa", pois já estaria a missão cumprida.

Pois amigo José Belo, é melhor pensarmos mas sem parar, e vamos continuar a manter uns tantos tabús, politicamente correctos, pois ainda vai demorar uns anos a escrever-se a história, da África e da triste Europa, daquele e deste tempo.

Anónimo disse...

"A guerra é o domínio da incerteza; três quartas partes das coisas sobre as quais a acção na guerra deve ser calculada escondem-se, umas mais, outras menos, em núvens de grande incerteza." - C. von Clausewitz, Du Guerra.

Aos generais compete prever, em função dos meios, das informações e do conhecimento adquirido sobre o adversário; delinear e sistematisar estratégias e táticas, sugeitá-las ao poder político (em regimes democráticos), tanto para avançar, no sentido de alcançar rapidamente a vitória, com o mínimo de efeitos colaterais, e o máximo de economia; como para retirar e evitar a hecatombe em conformidade com aquelas premissas.
Aos alferes milicianos na Guiné competia executar, com maior ou menor grau de criatividade, quando para isso tinham oportunidade, autónoma, ou enquadrada.
"Só na guerra do Vietname, os EU forneceram à Indochina energia suficiente para deslocar 3,4 biliões de jardas cúbicas de terra - dez vezes a quantidade escavada para os canais de Suez e Panamá - e suficiente matéria-prima sob a forma de combustíveis, metais e outros produtos químicos para manterem em funcionamento, por longos anos, algumas grandes industrias. Efectivamente, à parte uma pequena acção de limpeza de bairros de lata, esta abundância de energia foi desperdiçada - gasta na abertura de 26 milhões de crateras, na devastação de 20.000 quilómetros de área florestal e na destruição de colheitas suficientes para alimentar dois milhões de pessoas no espaço de um ano".
Citado em "A Psicologia da Incompetência dos Militares", de Norman Dixon, D. Quixote,pg.34
Alerta a mesma obra citada para o seguinte: "Quanto maior o impacto da informação nova, tanto mais energicamente se lhe resiste".
Noutro passo, a pg.208,refere: "outro aspecto do que parece ser incompetência intelectual - a ânsia de pontificar". Parece plasmar-se naquele individuo, que colocado numa unidade, mas sem qualquer intervenção, quer em combate, quer no planeamento, qual turista diletante, vem por tudo e por nada gritar que "estive lá", do que resulta, que tanta teimosia pode compaginar incompetência para apreciação e análise, sobretudo de dados desconhecidos e de substimação do inimigo, em manifestações de neurose obsessiva-compulsiva. "Uma característica fundamental de tais sintomas é serem repetitivos, estereotipados, e verificarem sem que se consiga compreender as suas origens", pg.230.
Posto isto, volto a agradecer ao Luís Vaz ter trazido ao blogue tão raras e importantes informações.
Abraços fraternos
JD

Luís Dias disse...

Caro António Rosinha

Nós para aqui há meses, anos, neste diálogo, por vezes ameno, por vezes mais ríspido, entre os que afirmam que a guerra estava militarmente perdida e outros (onde, por sinal me incluo)que afirmam o exactamente o contrário, quando sais com a frase:
"As nossas grandes armas, foram os africanos que acreditavam mais em nós que nos movimentos de libertação."
É como refere J.Belo, dá mesmo para pensar.
De facto essa seria, efectivamente, a nossa melhor arma. A maioria das populações acreditavam nos portugueses!
Obrigado caro amigo, elevaste a fasquia e o conceito e vais-nos por a pensar.
Um abraço.
Luís Dias

antonio graça de abreu disse...

José Dinis, camarada de armas

Existem de facto no blogue pessoas que sofrem de "neurose obsessiva-compulsiva". E como muito diz o tal Norman Dixon: "Uma característica fundamental de tais sintomas é serem repetitivos, estereotipados, e verificarem-se sem que se consiga compreender as suas origens."

Desejo-te muita saúde.

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caros Amigos e Camaradas. A entrarmos por esses caminhos de interessantes(?)"neuroses obsessivas-compulsivas" lá tive que ir consultar a minha "especialista"(que bem julgo conhecer depois de 35 anos conjugais!)de profissão Professora de Psiquiatria.Segundo ela,o reconhecimento dos sintomas de base por parte do paciente é um bom caminho na difícil recuperacäo.Há portanto (felizmente!) esperança nestes casos. Um abraço.

Anónimo disse...

Caro Manuel Joaquim

Que trabalho excelente!

Fazes uma verdadeira, serena e realista análise do documento em questão.

Importante a ligação que fazes ao contexto histórico que se vivia na altura, quer a nível nacional quer a nível internacional.

Também o José Dinis (JD), no seu comentário, diz coisas que talvez mereçam da nossa parte uma maior reflexão do que...outras.

Pela minha parte, agradeço ao Luís Gonçalves Vaz, o ter trazido estes documentos ao nosso conhecimento.
Eles também fazem parte do puzzle que foi a guerra da Guiné.
Goste-se ou não, muita gente ficará mais elucidada sobre aquilo que foram os últimos tempos daquela guerra.

Confesso que nunca fui grande admirador dos Altos Comandos de Bissau.
Através destes relatórios, senti que tinha que rever um pouco a minha posição, pelo menos nalguns aspectos.

Já agora, não eram os CAOPS que faziam os relatórios das suas zonas de actuação e que os enviavam para Bissau???

E não era com a informação contida neles (falsa, segundo alguns), que o Comando Chefe tinha que discutir o presente e o futuro da guerra naquelas reuniões???

Um abraço para todos

José Vermelho

Anónimo disse...

Meus Caros Camarigos;
Quando estou um ou dois dias sem visitar este blog, fico completamente desactualizado. No entanto, para esta matéria dos últimos tempos da Guiné Portuguesa, não posso deixar de meter a "colherada".

Naturalmente que agradeço, tal como muitos outros Camaradas, ao Camarigo Luís Gonçalves Vaz, a publicação destes relatórios, que sempre leio com alguma atenção, e digo com alguma atenção, porque por vezes a fixão é para mim de tal modo evidente que não posso deixar de considerar que se trata de autênticas inverdades. E depois estas coisas tiram-me o sono e tenho dificuldade em digerir tudo quanto nesses relatórios se diz.

Seja-me permitido dizer que estes relatórios são equivalentes aos que o SIS actualmente prepara, assim como outros departamentos da nossa Administração Pública, sempre tendo em vista que os seus dirigentes e outros funcionários não venham a perder o tacho e acabem bem reformados e ainda condecorados.

No mais, com a devida vénia aos meus/nossos Alferos AGA e C Martins, subscrevo na íntegra tudo quanto supra referem.

Até Sábado e uma Abraço Camarigo para todos vós, do

Joaquim Sabido
Évora

Anónimo disse...

Pois é Meus Camarigos;
Grande calinada amandei no Português, queria escrever FICÇÂO (sem o acordo ortográfico) e saiu fixão. É o que dá o nervoso miudinho que ainda vou tendo ao escrever sob a grande tensão que esta vida de militar na Guiné ainda me dá.

As minhas desculpas e mais grande Abraço para todos.

Joaquim Sabido
Évora

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Parabéns ao Manuel Joaquim, pela sua análise inteligente e resposta aos "Vencedores". Porém, para além do facto de cada um poder ter a sua opinião é mau andarmos sempre a procurar justificar o injustificável.
Agora até há quem diga que o Gen. promoveu reuniões para "pressionar" o Poder de Lisboa... pelo exagero no dramatismo da situação que se vivia.
Admitamos que sim. Com que finalidade, senão a de acabar com a guerra? Haveria outra?
Há, por fim uma outra causa para a perda inevitável da guerra: a escassez de recursos de toda a ordem. Financeiros, materiais e até humanos que são "os mais fáceis de substituir, mas que só podem ser substituídos por outros iguais. Ou alguém dúvida?
Os meus agradecimentos pela divulgação.
Um Ab. do
António J. P. Costa
Um

Anónimo disse...

A ALMA NÃO TEM SEGREDO QUE O COMPORTAMENTO NÃO REVELE.

(Frases e Pensamentos de Lao-Tsé , filosofo CHINÊS que "teria" nascido cerca de 600 anos A.C.)

Como português e plebeu, prefiro a frase "já os conheço de ginJeira".

Que pena eu tenho de em 1972, quando então fui mobilizado para a Guiné, ter sido desviado para Angola, porquê? porque já andava tudo com as calças na mão, cada vez era mais dificil arranjar pessoal para render aqueles que tinham acabado as respectivas comissões. Quando digo que tenho pena de não ter ido parar à Guiné, lógicamente que não era para ir gozar férias (embora houve-se quem arranja-se uns tachos nas secretarias, apesar de terem especialidade de operacionais), era sim para poder participar com direito próprio neste espaço.

Já agora também sou dos que pensam, que a guerra estava perdida, era só saber quanto tempo mais aguentaría-mos. E como "vencido" curvo-me perante os VENCEDORES (NT).

Cumprimentos aos vencidos e aos vencedores.

A. Almeida

antonio graça de abreu disse...

Aos camaradas vermelhos, côr-de-rosa, laranja, azuis, amarelos, e até verdes.

Trouxe comigo de Cufar, em Abril de 1974, uns tantos relatórios. Quatro Relatórios Mensais do CAOP 1, o primeiro de Teixeira Pinto, Novembro de 1972, o segundo de Mansoa, Março 1973, ambos assinados pelo coronel Rafael Durão e pelo major João Pimentel da Fonseca e os dois últimos de Cufar, Junho de 1973 e Janeiro de 1974, assinados pelo coronel páraquedista João Curado Leitão e pelos majores Mário Malaquias e Nelson de Matos, todos meus chefes e camaradas de guerra no CAOP 1.
Militares que não viveram o dia a dia da guerra da Guiné no ar condicionado em Bissau.
Os relatórios são muito interessantes. Vou levá-los para Monte Real no próximo sábado e quem estiver interessado pode fotocopiá-los.

O relatório mais interessante de todos os que tenho comigo e está à disposição de quem o quiser ler e estudar é o
INTSUM referido a 31 de Maio de 1973, assinado pelo brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques e pelo tenente coronel Artur Baptista Beirão, exactamente os mesmos que assinam o relatório muito secreto dado agora à estampa no blogue.
Este que se intitula "Sumário de Informações de Ordem de Batalha",
tem só a classificação de "secreto"
e fala só do IN, da composição, dispositivo e manobra, potencial de combate, instrução, táctica, logística, eficiência de combate, etc. dos guerrilheiros do PAIGC. O discurso, quinze dias depois da reunião dos Comandos em Bissau, embora destaque a gravidade da situação, que era real, já não parte dos mesmos pressupostos.

Um exemplo apenas:
Lê-se na pag. 20:

"Presume-se que após a morte de Amílcar Cabral a nova direcção provisória do PARTIDO, já ordenou depurações que ultrapassam a meia centena de elementos implicados no assassinato do antigo leader, em que a maior percentagem incluia os que se opunham à supremacia cabo-verdeana nos destinos do PAIGC:"

É um documento a ler sem paixões coloridas,a procurar entender no contexto ainda spinolista dos tempos conturbados de Abril/Maio de 1973. Mas essa será tarefa de historiadores isentos, sérios e rigorosos. É com estes que se faz a História.
Que terão também de ler os outros relatórios dos fins de 1973 e primeiros meses de 1974, para tentar conhecer não a parte, mas o todo da fase final da guerra.
O Luís Gonçalves Vaz não tem mais relatórios de Janeiro, Fevereiro,
Março de 1974, por exemplo?

Estas coisas existem ou não existem todas no Arquivo Histórico Militar? E podem ou não ser consultadas? Creio que sim.

Abraço aos camaradas de todas as cores.

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

Para concluir de vez este arrazoado, a propósito da gracinha dos Vencedores.

Quando as pessoas acreditam (são os factos) que naquela guerra não houve nenhum desastre militar, nem nenhuma derrota militar, nem nenhum colapso militar (até o Manuel Joaquim concorda!)isto não significa que vencemos ou que íamos vencer. Vencedores?!...
Naquela guerra perdemos todos, nós e os povos da Guiné.
Mas há a dignidade e a honra de todos quantos vivemos o período final da guerra. Nenhum de nós ia vencer, mas nenhum de nós, nos melhores anos da nossa juventude,
foi derrotado ou saiu vencido. Deixámos a Guiné de cabeça levantada.
Se uns tantos participantes deste blogue não parecem saber o que é isso de dignidade e honra, o problema é deles.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Dever-se-há excluir dos conceitos universais da honra e dignidade os que não pensam exactamente como nós? Alguns sentirão como uma latente insegurança a necessidade agressiva de sempre excluir os "outros".Lá seríamos obrigados a rapidamente criar "outros-outros" se os históricos extermínios de "diferentes" tivessem resultado.Mas,em verdade,o problema é...deles. Um grande abraço fraterno.

Unknown disse...

Caros amigos, o obscurantismo, a falta de honestidade intelectual, a indução de ideologias que os povos através da história rejeitaram e combateram, é o mal de ainda muita gente, que de forma moribunda pretende manter.
Os mesmos que contra os que opinavam sobre o percurso da guerra e seu desfecho, fundamentados ou não em documentos, em literatura, em análise pessoal, são que agora enfiam os pés pelas mãos, procuram dar outro cariz às provas apresentadas.
(E há mais documentos, que até podem descer de escalão e chegar ao patamar de um simples alferes).
Os mesmo que punham em cheque os comentários e opiniões de alguns outros ex-combatentes apelidando-os com vários epítetos, e tendo como argumento derradeiro, a falta de provas (leia-se documentos) .
Agora que as provas são apresentadas, chegam à desfaçatez de colocar em cheque as pessoas outurgantes, desde a suas qualidades militares, até à idoneidade moral dentro das Forças Militares, na guerra colonial.
Só são verdadeiros num ponto. A capacidade maior ou menor de dividir o povo da GBissau, por via do étnismo, tribalismo, falsas promessas, etç. que corresponde à grande verdade (sem dúvida) à grande arma do exército colonial, que era a alguma adesão das populações à soberania portuguesa. Mas que falhou redondamente no chamados ‘congressos do povo’ promovidos pela ‘guiné melhor’.
Por último todos se estão a esquecer convenientemente do “Portugal e Futuro”.
Resta-me apresentar a minha admiração ao trabalho à correcção do Vaz , e a todos os que de forma honesta, mesmo discordando num ou outro ponto, o fazem de forma clara e honesta, quer como ex-camaradas de uma guerra que já acabou para nós, quer como supostos amigos.
Sinceramente estou farto de lêr comentários perniciosos, desonestos e de má fé com segundos sentidos etç. É triste e lamentável.
Ou seja ainda continua o estrebuchar daquilo que tanto fez sofrer o povo português e os seu filhos e claro outros povos também.

Um abraço para todos e para cada um.

Carlos Filipe
ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro/71

Anónimo disse...

roma

Luís Gonçalves Vaz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

..."chefes e camaradas de guerra no CAOP-1"; "Militares que viveram o dia-a-dia da guerra da Guiné no ar-condicionado em Bissau"; "É com estes que se faz a História" - citações.
1 - Mais colagem, muita colagem, como expressão surreal da época, própria de quem não tinha competência para mais;
2 - Suscita-se a dúvida: um major que passava o dia-a-dia num gabinete de operações em Cufar, fazia mais a guerra do que outro major, que passava o dia-a-dia num gabinete de operações em Bissau? E um alferes que passava o dia-a-dia em Cufar, que não ia para o mato e era responsável por uma despensa, fazia mais a guerra do que outro alferes com as mesmas funções, mas em Bissau?
Ahh! a diferença estaria no ar-condicionado;
3 - Pode concluir-se: sobre as verdadeiras fontes da História não há que enganar, é só perguntar ao individuo;
4 - Conclusão com música da época: let it be.
JD

Luís Gonçalves Vaz disse...

Camarigo Graça de Abreu:

Já procurei muito ... mas não aparecem (mais) "Relatórios dos fins de 1973 e primeiros meses de 1974, para tentar conhecer não a parte, mas o todo da fase final da guerra.", mas tenho A "Exposição do CEM/CTIG da altura, coronel Henrique Gonçalves Vaz, ao CEME General Paiva Brandão", onde no dia 26 de Janeiro do ano de 1974, durante a sua exposição ao Chefe do Estado Maior do Exército, diz: "... Em resumo direi que o Exército da Guiné só necessita para bem continuar e ainda melhorar, o cumprimento da sua missão, que da Metrópole lhe enviem as armas, as munições e os víveres, com a maior regularidade e suficiente abundância ...", bem como realça a Fidelidade com que os militares e milícias Guineenses servem no Exército Português..... e que todo esse potencial se poderia aproveitar em maior escala. Enfim, trata-se de uma exposição direta para o maior responsável do Exército na altura, na sala de operações do QG/CTIG, em que depois passou a palavra aos vários chefes das repartições, mas a ideia com que se fica é que o Exército da Guiné, precisa de APOIO LOGÍSTICO DIVERSO EM MAIOR ABUNDÂNCIA, mas subentende-se que os militares estariam com o "MORAL" em patamares elevados, principalmente os Militares Guineenses e as Milícias, que estariam a ter um papel deveras importante no TO da Guiné, e segundo o coronel Henrique Gonçalves Vaz, afirma mesmo na sua exposição que "...a prova disso, além de todas as outras (como por exemplo o grande nº de candidatos de guineenses para ingressar nas nossas fileiras), estão a evidenciá-lo as centenas de mortos em combate, quer de soldados africanos, quer de Milícias ..."
Mas a seu tempo irei realizar um artigo sobre esta última visita ao TO da Guiné Portuguesa, do CEME general Paiva Brandão e a exposição/Briefing do CEM/CTIG coronel Henrique G. Vaz. Enfim, pelo menos não vislumbrei nesta “exposição”, o "Fatalismo” (fundamentado) do Relatório da Reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973, oito meses antes e reunião onde o coronel Henrique Vaz não presenciou, pois só chegou á Guiné no início de Junho de 1973. Por outro lado, este Briefing também teve um objectivo um pouco diferente, pois relacionava-se especificamente com a “Missão do CTIG”; “Características Gerais do TO”; “Condicionamentos Gerais do TO” e “Meios ao dispor do QG/CTIG”, e não debater propriamente o Equilíbrio/Desequilíbrio do conflito, numa visão da “manobra táctica”, essa foi no Comando Chefe, no dia 28 de Janeiro de 1974, tendo esse Briefing decorrido só depois de uma visita da parte da manhã a Bambandinca, onde o general Paiva Brandão voou num Dornier 28 dos TAGP, e onde o coronel Henrique Gonçalves Vaz não deixou de estar presente, mas desse Briefing só indo ao Arquivo Militar .......
De qualquer forma, o discurso/exposição do coronel Henrique Vaz, talvez fosse diferente… cerca de um mês depois, em 22 de Fevereiro de 1974, quando lhe colocaram uma bomba no WC ao lado do Gabinete dele no QG, (onde se estivesse teria morrido imediatamente, mas a sorte é que estava no gabinete do Comandante do CTIG ) mesmo assim, ainda sofreu algumas escoriações, ao contrário do 2º Comandante (que levou com a projeção de uma porta na cabeça) que foi levado para o Hospital de Bissau, visto sangrar bastante de uma ferida na parte posterior da cabeça. Mas este IN não foi o PAIGC, como é do conhecimento público, mas ajudou-o muito na altura. Como se poderá constatar o IN que enfrentávamos na altura neste TO, não era só o PAIGC (com cubanos, com ou sem Russos…), eram também as “Brigadas do PRP” e a Comunidade Internacional, enfim estava-mos “ORGULHOSAMENTE SÓS”, mas havia ainda muita determinação e “muito para dar”, eu próprio já me via lá no futuro………….
E hoje mais não tenho para dizer.

Grande abraço e "Boa Festa" para todos, em Monte Real

Anónimo disse...

Isto está bonito

Diagnósticos,adjectivações,insinuações,e até ofensas..sim sim ofensas,quando não têm argumentos,vindos quase sempre dos mesmos..e sem querer ferir susceptibilidades,muitos que, na altura, fruto da sua patente militar não sabiam o que se passava e nem tinham obrigação de saber..mas hoje debitam "bitaites" consoante as conveniências da sua ideologia,legítima aliás.
Tudo o que aqui se diz por alguns que viveram "in loco",onde me incluo,e que tinham e vieram a ter conhecimentos adquiridos no terreno e também fruto da situação privilegiada em que se encontravam,não só pela patente,mesmo sendo simples alferes,como alguém diz..não conta para nada.
Não li no relatório que se estava perante um colapso militar, mas sim que a situação não era boa, e era verdade..e apontava para que se tomassem medidas para a situação não se, eventualmente, agravar...é tão somente e em resumo o que pretendia este relatório.
Alguns persistem até à exaustão insinuar que nós éramos uns "merdas", e que os guerrilheiros do Paigc só não nos apanhavam com as "alças na mão" porque não queriam, confundindo o "cu com as calças", isto é, pelo simples facto de a razão estar do lado do oponente,(direito à Independência).
Dignidade e honra não são sentimentos obsoletos.
Cada "macaco no seu galho",não há neuroses obsessivo-compulsivas,mas sim psicoses.
Determinados comportamentos compulsivos é que são neuroses.

Adeus até amanhã "oh cambada"

C.Martins

Anónimo disse...

Camarada JD

Confesso que não resisto a perguntar-te ,se sabes, claro.
Quanta energia gastou a U.R.R.S.no Afeganistão ?
Info que não sou pró-nada, no caso de pensares que sou pró-americano.

Um alfa bravo
C.Martins

antonio graça de abreu disse...

Obrigado Luís, pelo esclarecimento do pensamento do teu bom pai, em Janeiro de 1974.
Somos pessoas civilizadas, estamos ambos abertos a todos os diálogos.
Como é claro nas poucas palavras que transcreves, e na tua própria opinião, existem outros entendimentos, agora diferentes do fatalismo da reunião dos comandos
de Maio de 1973.
Faltavam meios, é verdade. E o teu pai reconhece em Janeiro de 1974: "O Exército da Guiné só necessita para bem continuar e ainda melhorar o cumprimento da sua missão, que da Metrópole lhe enviem as armas, as munições e os víveres, com a maior regularidade e suficiente abundância ...", Pois, e se viessem mesmo esses meios e se chegassem os Mirages, etc?
A História não se faz com os "ses".
Não fomos militarmente derrotados, não houve colapso,não houve nenhuma guerra perdida em termos militares. O conflito podia prolongar-se por mais uns bons pares de anos, mas Portugal estava cansado de tanta guerra na Guiné. Com Marcelo Caetano não havia solução
para o problema que provocava tanto sofrimento e morte a portugueses e africanos. Para quê continuar aquela guerra? Para quê a impossível defesa política da nossa Pátria, que se estenderia do Minho a Timor? A minha Pátria vai do Minho ao Algarve, mais Açores e Madeira. Tudo o mais eram redundantes utopias de direita, com raízes na nossa História,é verdade, mas utopias. O mundo havia mudado. As novas independências (prematuras sabemos hoje) eram um facto.
Por isso, houve o 25 de Abril, para abrir o país ao mundo e acabar com a guerra. O que veio a seguir, com a dolorosa descolonização e as dilacerantes utopias de esquerda, não conta para a nossa guerra.
Já me estás a conhecer melhor?

Abraço para ti Luís, também para o C. Martins, homem honesto e vertical, para quem a dignidade e a honra valem mesmo.

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caro C. Martins,
Antes do mais vamos tratar da nossa divergência:
"Não há neuroses obsessivo-compulsivas, mas sim psicoses", referiu.
Ora, de acordo com teorias psico-analíticas, as neuroses podem ter raízes em mecanismos de defesa do ego.
Ao contrário, a psicose, ou psicopatia, será a designação geral das doenças mentais mais graves.
Assim, são designações que radicam em sentidos completamente diferentes. E, já agora, não costumo debater com graves doentes mentais, os que serão facilmente identificáveis.
Quanto à questão que me coloca, sem me furtar à resposta, adianto que não vejo o mundo conforme as divisões politíco-ideológicas, apenas as identifico, mporque o mundo, esse, é de mais importante para mim, e causa-me muita preocupação, independentemente das ideologias geográficas.
Agora a resposta, que nem considero importante, porque, se eu fosse selectivo nas ideologias, nas religiões, nas clubites, provavelmente, já não contaria com os meus amigos desde a infância. Seria um errante. Agora, digo-lhe que serei anarca, no sentido utópico da mais elevada expressão da ordem, mas, como dizia o poeta,pelo sonho é que vamos. Portanto, nunca descontei para algum partido, nem voto neles há muitos anos, nem nunca fui sindicalizado. Espero que, esclarecido, possa ficar tranquilo.
Cumprimentos
JD

Anónimo disse...

Caro JD

Info que "estar tranquilo" é desde há bastante tempo a minha filosofia de vida.
Apesar de estar fora do contexto deste blog,não resisto a contra-argumentar sobre psicoses e neuroses.
Muitas das teorias psico-analíticas têm vindo a ser contestadas nos últimos tempos,nomeadamente no que diz respeito a classificações sobre doenças mentais.
Na minha área (medicina) e especificamente psiquiatria as novas teorias divergem substancialmente com a área da psicologia e especificamente com a psicologia clínica.
Nós médicos somos mais pragmáticos interessa-nos mais o "soma" que a "psico"...apesar de estarem interligados.

Um abraço

C.Martins