1. O nosso amigo e tertuliano Luís Gonçalves Vaz, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do
Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos mais uma mensagem dando
continuidade ao trabalho documental iniciado no poste
P9639, que é a Parte I - Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos,
realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel General do Comando-Chefe das Forças
Armadas da Guiné.
Camarigos:
Aqui vai a PARTE II, sobre a
"Reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973"
PARTE II
Reunião de
Comandos, em 15 de Maio de 1973, “Ata da Reunião"
“Em 15 de Maio
de 1973, pelas 10H30, no Quartel-general do Comando-Chefe das Forças Armadas da
Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General
Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual
participaram os comandantes-adjuntos respectivamente, Comodoro António Horta
Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné, Brigadeiro
Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné,
Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional e
Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné …”
General Comandante-Chefe, General António de Spínola
“… Dou a
palavra ao Comandantes - Adjuntos …”
- Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques
- Brigadeiro Alberto da Silva Banazol
- Coronel Gualdino Moura Pinto
" E não havendo mais nada a tratar,
o General Comandante-chefe encerrou pelas 11h 30 a reunião, que eu Hugo
Rodrigues da Silva, Coronel do CEM e Chefe do -Estado-Maior do
Quartel-General do Comando-Chefe, relatei e assino "
Bissau, 15 de Maio de 1973
(Continua)
Luís Beleza Vaz
(Tabanqueiro 530)
___________
Nota de MR:
Vd. também a Parte I no poste do mesmo autor em:
12 comentários:
Dois meses depois de ter sido elaborado, este relatório peca por inexactidão e sobrevalorização do poder do IN.
Seis meses depois de ter sido elaborado, a continuação da guerra, com os meios aéreos a funcionar, (com naturais limitações, ninguém é suicida!) provam que este relatório esquece a dignidade de todos nós, 1972/1974, e sobrevaloriza outra vez o poderio militar do IN.
Trinta e oito depois, este relatório é uma interessante mas frouxa e displicente peça de museu.
Abraço,
António Graça de Abreu
Ao rejeitar-se sistematicamente todos os relatórios,tipos de informacäo,e opiniões, (mesmo os dos mais altos responsáveis militares pela conduta da guerra),por estes não coincidirem com as nossas verdades observadas de locais e conhecimentos "profissionais" bem limitados,cai-se numa situacäo de análise,pelo menos, muito subjectiva.Todos teremos o direito de acreditar no que mais desejamos.Sem tal "FÉ" pessoal como se explicariam tantas e tão contraditarias "Religiões" por esse mundo fora? Um abraço.
Não acredito que o meu Comandante,o Cor Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea, tenha dito o que vem escrito da "acta. A razão é simples, a maior parte do que lá está descrito não se verificou, nunca foi posto em prática, as aeronaves não passaram a actuar no mínimo em parelhas, o transporte dos aviões médios restringidos a 4 pistas já era assim desde sempre, culpa das pistas, não houve reduções da capacidade de carga, apenas 4 pistas foram interditadas aos DO-27.
Quanto a aeronaves civis poderem ser abatidas pelos Strelas, francamente, o míssil ía até 3.000 metros de altitude e esses aviões passavam a ...11.000.
Como explico então o que vem escrito nesta "acta"?
Vontade de dramatizar de quem a escreveu?
´A não ser verdadeira,será de facto pertinente a pergunta colocada por Martins de Matos:"Como explico o que vem escrito nesta acta?".Quanto aos aviões civis,recordo que em 1970,quando em conversa com o então Major Fabiäo e alguns Alferes, frente à messe de oficiais em Buba,fomos sobrevoados por um avião comercial bimotor com marcas nas asas para nós desconhecidas.A altitude näo seria definitivamente 11.000 metros.Fabiäo contactou Bissau,e ao jantar informou tratar-se de um avião das carreiras comerciais francesas da África Ocidental que ligava semanalmente o Senegal à Guiné-Conakri e que se teria desviado da rota..Foi,pelo menos,esta a informacäo transmitida aos curiosos Alferes ano de 1970. Verídica? Um abraço.
António
Conheci pessoalmente o teu Cmdt e não creio que este documento não seja da sua autoria. Não o vejo a permitir quer se "escrevesse" algo em seu nome.
Por outro lado, o Gen. não permitiria "manipulações de informação". Sempre soube bem o que se passava e, se houvesse alguém que se atrevesse a ser menos exacto ou consistente na informação que lhe era veiculada, seria devidamente denegrido, em público e, talvez, "apatinado". Tratando-se de uma Rn de informações, na qual doutrinariamente devem ser levantadas as M/A do In, haveria que ser coerente e fundamentar as afirmações feitas. É abusivo admitirmos, sequer, a possibilidade de que, com a conivência do seu EM, estivesse ele mesmo a manipular informação para os políticos "cá do bairro".
Estes eram imbecis (muito), mas não eram estúpidos (nada).
Subscrevo, por inteiro, a avaliação do Cor. Moura Pinto. Parte dela, em relação às possibilidades do In, debati como TCor Almeida e Brito, que era mais céptico do que eu. Por mim, sempre pensei mais numa operação "à Jaime Bunda", uma coisa atamancada, enquanto ele admitia a possibilidade de algo mais elaborado.
Quanto ás opiniões do Adjt Op. (FT) também não me causam espanto e parece-me que são realistas. Propunha medidas numa perspectiva de que vale mais prevenir do que remediar, o que está totalmente adequado às suas funções. Eu estava em Mansabá nessa altura e o panorama era mau, como se veio a verificar-se.
A defesa anti-aérea (não o apoio aéreo) do "TO daquela PU" também tem que se lhe diga... É capaz da haver mais documentos sobre este assunto.
Não sei avaliar o incidente com o avião civil. Sei que, se fosse em rota, o míssil nem o identificava. Mas se se tratou de uma aproximação para uma escala, o caso seria diferente. De qualquer modo era uma hipótese a considerar.
Um Ab.
António J. P. Costa
Vamos ao contraditório
Aquilo que diz o camarada A.M.Matos,contradiz o relatório e quem melhor do que ele, que na altura era pilav da nossa F.A.,para saber o que se passava.
Neste ponto acho que não se trata de "fé" mas sim de factos concretos.
Confirmo que a Gadamael não iam DOs nem Helis, mas os Fiats sim, e despejavam "ameixas" que provocavam terramotos para aí de grau 5 na escala de Richter.
Em relação ao restante conteúdo do relatório,como toda a gente sabe, as chefias sabiam aquilo que lhes era transmitido por nós que estávamos no terreno.
Ridículo, apesar de compreender,é,por exemplo, ler o n.º de granadas caídas nas flagelações..!!,é que ninguém as contava..
Á noite, lembro-me de ouvir, às vezes, a passagem de aviões,tanto a jacto como a motor a hélice, mas sempre a grande altitude e num rumo certo, seriam certamente aviões civis..se Bissau sabia ou controlava esses voos..isso já não sei.
C.Martins
A Força Aérea em Angola tinha umas instruções que dava aos bombardeiros quando levantavam para as missões de guerra.
Era-lhes dito que se vissem um grupo em movimento que descarregassem porque eram turras de certeza, mas se estivessem parados que não largassem as bombas porque era a Junta Autónoma de Estradas a trabalhar.
Nunca corri perigo em 10 anos de estradas.
Mas este relatório faz-me lembrar esta piada da minha guerra, tantas são as "suposições".
Penso que os oficiais de Ten. Coronel para cima deviam ter uma trabalheira enorme para preencher o tempo.
Hoje ainda deve ser mais difícil.
O C. Martins já explicou:
"Acho que não se trata de "fé" mas sim de factos concretos".
E A. Martins de Matos que estava lá
e quase todos os dias voava nos céus da Guiné, não por Fé mas porque era o seu quotidiano de piloto, também comentou:
"A maior parte do que lá está descrito (no relatório muito secreto) não se verificou, nunca foi posto em prática."
Mas tu, Zé Belo colocas as questões em termos de Fé, cada um acredita no que acha que deve acreditar.
Em termos de Fé, com certeza.
Mas estamos a falar da nossa guerra da Guiné, da nossa História,
dos factos reais e objectivos.
Custa-me a entender porque é que tantos camaradas no blogue não conseguem aceitar a verdade histórica, a verdade dos factos.
Creio que será por Fé política de alguns que passados tantos anos continuam a acreditar no inacreditável.
A Deus o que é de Deus, aos homens o que é dos homens.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caros amigos, permitam-me alguns comentários aos comentários:
Ao JB
Penso que não será questão de fé mas mais de "fezada".
O bimotor que fala deve ter sido um que andava perdido "por África" e acabou por aterrar em Aldeia Formosa.
Os outros, os que cruzavam os céus da Guiné passavam acima dos 10.000 metros.
Ao APC
O trabalho que estes relatórios deveriam levar a fazer, máquina escrever, químico, 4 cópias de cada vez, um verdadeiro trabalho de Estado Maior em tempo de guerra.
Duas perguntas de algibeira:
Quanto tempo levavam a ser feitos? Serviam para quê?
Claro que o documento não é da autoria do Cor Moura Pinto, mas sim de algum "secretário" que foi tirando umas notazitas durante a reunião.
Depois fez uma compilação e acabou por parir um texto "à sua maneira", nunca os intervenientes o viram ou aprovaram (suspeito que também já ninguém o terá lido).
Ao CM
Obrigado pela comparação das bombardas com tremores de terra escala5 de Richter, um outro amigo também já aqui disse que "até os c------ tremiam".
A coisa está a melhorar, ainda que continue a haver pessoal que não se lembre dos voos da FAP. (Surdos?)
Confesso que, por vezes, leio alguns comentários e quase não quero acreditar no que estou a ler.
É o caso presente.
Segundo algumas opiniões aqui expressas, ficamos então a saber que, nas reuniões dos Altos Comandos, onde se discutia a actualidade e o futuro da guerra, estava por lá um indivíduo que ia tomando algumas notas sobre o que os outros iam dizendo.
No fim, ia tudo embora.
Não se sabe quanto tempo depois, o homem lembrava-se que tinha que escrever uma acta.
E então, talvez na messe de oficiais, matando a sede com algumas cervejas (digo eu), baralhava aquelas informações todas e escrevia um relatório à sua maneira, sem grandes preocupações com o que tinha sido dito nem por quem.
E para quê ralar-se, se ele sabia que os relatórios que chegavam do mato era tudo aldrabado e as NT, com a aviação a voar em pleno e para todo o lado, dominavam tudo e vivia tudo na Santa Paz do Senhor?
E mais, parece que eram relatórios que depois ninguém lia, nem assinava...!
Pergunto-me: como é possível que até os relatórios oficiais e secretos dos Altos Comandos (estes até escritos muito antes do PREC), sejam sempre assim desvirtuados e postos em causa?
Alguém acredita que Spínola ou Bettencourt Rodrigues e os seus Estados Maiores iam deixar passar um chorrilho de mentiras?
Afinal, que verdade histórica queremos que seja escrita?
A VERDADEIRA ou... a de cada um?
Um abraço para todos
José Vermelho
CCAÇ 3520 - Cacine
CCAÇ 6 - Bedanda
CIM - Bolama
"A Deus o que é de Deus,aos homens o que é dos homens".... Sem qualquer falta de respeito,felizmente que Deus não comenta em blogs.A fazê-lo teria grandes dificuldades em apresentar opiniões divergentes das tuas certezas absolutas.E,meu Caríssimo Camarada,não será por acreditar no inacreditável que o homem tem vindo a progredir?Não será por acreditarmos no inacreditável que Tu e eu,hoje, trocamos as nossas opiniões amigas? Um abraço.
Todos os que lá estávamos com alguma atenção sabíamos porque era público e notório, especialmente entre os oficiais, senti e vivi isso na Ccaç 12, deve haver um registo sobre este assunto na Ccaç 12, e especialmente no CIM durante o período de instrução, uma vontade de desacreditar a nossa capacidade de manter as nossas posições. Era uma atitude nitidamente política. Ao ler este relatório percebemos que acima dos motivos militares, que estavam em equação, havia ambições políticas de alguns militares do quadro, algumas antagónicas como é óbvio. Nesta acta constatamos os servilismo que é apanágio dos subordinados ao chefe, a bajulação o endeusamento. É verdade que ouve constrangimentos no apoio aéreo, recordo que a última viagem que fiz de avião no Dakota, Bafatá-Bissau em junho de 1973, voamos a baixa altitude aos “eses” sobre o leito do rio. Resumindo sabemos que a situação se poderia quase eternizar. Também sabemos que seria uma burrice fazê-lo. Também sabemos que não contávamos para nada, nem fazíamos parte da equação. A prova é que nem os restos mortais dos nossos camaradas foram respeitados e entregues às suas famílias. Amochámos, amochamos… nada mudou! Recordo que em Bolama depois do 25 abril o major Lima autorizou (sugeriu) que fossemos a uma manifestação do PAIGC, eu não fui.
Joao silva ex-furriel mil inf. Cac 3404, Ccaç 12, CIM. Março de 1972 a Maio de 1974
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